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Unidade II – As correntes teóricas A abordagem comportamentalista

O PERÍODO DAS HABILITAÇÕES NO REGIME SEMESTRAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (1978-1986)

O processo de federalização da UFU, em que a Universidade de Uberlândia (UnU), desde 1969, torna-se a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a partir de 1978, caracteriza-se como um desencadeamento importante para a compreensão das alterações de ementa, conteúdo programático e referencial bibliográfico da disciplina Psicologia da Educação, pois coincide com a mudança do regime anual do Curso de Pedagogia, o qual vigorava desde 1960, para o regime semestral a partir daquele momento. Nesse sentido, a definição da organização do curso no formato de habilitações específicas, decorrente do parecer 252/69, apresenta uma configuração específica da presença da Psicologia como conhecimento, mantendo a Psicologia da Educação como disciplina principal nessa área de conhecimento.

4.1 – A presença da Psicologia no período da consolidação das habilitações: o Curso de Pedagogia no regime semestral da UFU

Nos anos de 1970, surgiram outras nomenclaturas para as disciplinas relacionadas à Psicologia. A influência da proposta de criação de um curso de Pedagogia com diversas habilitações, a partir do parecer 252/69, tornou-se evidente a partir dos programas eletrônicos de 1971, em que aparecem disciplinas como Psicologia da Personalidade, Psicologia do Desenvolvimento, Prática de Ensino de Psicologia, Elementos de Psicopatologia e Estudos de Problemas de Aprendizagem. A nomenclatura Psicologia da Educação prevalecia, porém já aparecia a divisão em Psicologia da Educação I, II e III.

O processo 04/81, requerido pelo Centro de Ciências Humanas e Artes em relação ao Curso de Pedagogia, culminou no parecer 04/81 do Conselheiro Evandro

Guimarães de Sousa do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (PROCESSO 04/81 DO CURSO DE PEDAGOGIA, 1981). Neste processo, encontra-se a aprovação do Currículo Pleno do Curso de Pedagogia, licenciatura, com habilitação em cinco subáreas: Administração Escolar, Supervisão Escolar, Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º grau, Inspeção Escolar e Orientação Educacional. Assim, o novo regime semestral apresentava uma caracterização mais clara da disciplina Psicologia da Educação e sua presença no currículo do curso38.

Nos dois primeiros anos do curso, divididos em quatro semestres, encontrava-se um currículo padrão, em que os conteúdos de Psicologia eram divididos em quatro disciplinas de 60 horas/aula: Psicologia Geral, Psicologia da Educação I, Psicologia da Educação II e Psicologia da Educação III, respectivamente. Enquanto a Psicologia Geral enfatizava conteúdos relacionados ao conceito, à história, à metodologia e às temáticas da Psicologia científica em geral, a Psicologia da Educação I referia-se aos conteúdos de Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia da Educação II à Psicologia da Aprendizagem, e a Psicologia da Educação III à Psicologia da Personalidade39, o que pode ser observado no Quadro 12. Esse núcleo comum era oferecido a todas as habilitações como conteúdo obrigatório durante os dois primeiros anos do curso.

38 E deve-se ressaltar que, o Curso de Psicologia começou como licenciatura em 1976 e como formação

de psicólogo em 1979, o que pode ter influenciado em mudanças curriculares com a contratação, inclusive, de novos professores.

39 Essa conclusão também é encontrada na dissertação de LIMA (2004) e confirmada nos depoimentos

Quadro 15: Quadro comparativo quanto aos conteúdos das ementas das disciplinas de

Psicologia da Educação do currículo básico no período das habilitações específicas (1978-1981) segundo o parecer e processo do Curso de Pedagogia (1981).

Semestre Disciplina CH* Ementa

1º Psicologia Geral 60 h Bases históricas e metodológicas da Psicologia. Bases biológicas e fatores Sócio-culturais. Fenômenos psicológicos. 2º Psicologia da Educação I 60 h Conceitos e princípios do

desenvolvimento humano. Metodologia científica aplicada à Psicologia do Desenvolvimento. Bases da infância e características: desenvolvimento físico e motor, intelectual, emocional e social. Adolescência. Desenvolvimento Físico emocional, intelectual e social.

3º Psicologia da Educação II 60 h Introdução ao estudo da Aprendizagem. Tendências atuais dos processos educativos. Fatores que interferem na

Aprendizagem. Teorias da

Aprendizagem.

4º Psicologia da Educação III 60 h Noções básicas de Psicologia da Personalidade. Fatores determinantes (biológicos e sociais). Diferenciação entre personalidade, caráter e temperamento. As tipologias. Teorias da Personalidade. Aspectos do Ajustamento Humano. Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

*Carga Horária da disciplina

A partir do terceiro ano, as disciplinas eram específicas conforme a habilitação escolhida pelo discente e havia matérias relacionadas à Psicologia apenas para os que escolhiam Orientação Educacional e Magistério das matérias de 2º grau. No caso da habilitação em Magistério das matérias pedagógicas de 2º grau, os alunos tinham a disciplina Psicologia da Educação IV (60 h/a) e Estudo de Problemas de Aprendizagem I (60 h/a). Na habilitação de Orientação Educacional, os alunos faziam diversas disciplinas relacionadas à Psicologia: Psicologia da Educação IV (60 h/a), Elementos de Psicopatologia (60 h/a), Psicologia Social da Educação (60 h/a), Psicologia da Motivação (60 h/a), Orientação Vocacional I e II (60 h/a), Estudos de Problemas de Aprendizagem I (60 h/a) e II (45 h/a) e Psicomotricidade (45 h/a). A habilitação em Orientação Escolar oferecia uma carga horária muito extensa em relação às demais40.

Quanto a essa nova organização curricular no início da década de 1980, dois aspectos fundamentais devem ser destacados. Primeiro, nesta década, dados dos

40 Um pedagogo que se formava no início dos anos de 1980 com habilitação em Orientação Educacional

programas curriculares das disciplinas com definição de Psicologia da Educação (I, II, III e IV) podem ser encontrados por meio da dissertação de Lima (2004). E segundo, a presença de um programa com a nomenclatura Psicologia Social da Educação, o que representava algo incomum para os conteúdos que sempre prevaleceram na disciplina Psicologia da Educação.

No caso da dissertação de Lima, ela analisou três planos de curso de 1981 (Psicologia da Educação I, II e III), quatro de 1984 (Psicologia da Educação I, II, III e IV), um de 1985 (Psicologia da Educação III), um de 1986 (Psicologia da Educação I) e três de 1990 (Psicologia da Educação I/II, I e II). Lima considera que, na década de 80, houve uma fragmentação do currículo, oscilando entre desenvolvimento e aprendizagem da criança e do adolescente. Destaca-se também o interesse pela Psicanálise, que segundo Goulart (2003), seria uma tendência teórica dominante no ensino da disciplina no período em questão. Assim, Lima chama a atenção para que as interpretações dos processos educacionais não se centralizassem no indivíduo, o que poderia incorrer em uma visão psicologizante ou clínica dos fenômenos, minimizando a importância das dimensões sociais e políticas.

Quanto à presença da disciplina Psicologia Social da Educação, é importante lembrar que Coll (1999) discorre a respeito da história da Psicologia da Educação, considerando a existência de dois grupos de autores: os que entendem que essa disciplina é o resultado da seleção de princípios e explicações de diferentes conhecimentos específicos de Psicologia, representando um campo de aplicação da mesma; e outros que compartilham da ideia de que a Psicologia da Educação consistiria na criação de um campo específico para o entendimento dos processos educativos. Ao destacar o primeiro grupo, ele cita a Psicologia Social como uma das áreas ou especialidades da Psicologia.

(...) há autores que entendem que a psicologia da educação é o resultado da seleção, entre o conjunto de princípios e explicações que as diferentes áreas ou especialidades da psicologia (psicologia do desenvolvimento, da aprendizagem, social¹, da personalidade, das diferenças individuais, etc) proporcionam, os aspectos especialmente relevantes e pertinentes para a educação e para o ensino (COLL, 1999, p.18). Grifo nosso

Nota-se que a Psicologia Social aparece em sequência aos dois pilares da Psicologia da Educação, a Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, o que remete ao questionamento sobre a importância desta área de conhecimento para a

aplicação prática dos conhecimentos psicológicos na formação de professores e pedagogos.

Soligo (2002) também ressalta sobre as contribuições dos estudos científicos da Psicologia Social para a formação do professor, ao abordar conceitos como representações sociais, atitudes, preconceitos e estereótipos. A autora acrescenta que vários estudos relacionados a estes temas são importantes para o processo de reflexão do profissional da educação, ao possibilitar um questionamento de suas crenças, valores e parâmetros de conduta.

Longe de recorrermos à Psicologia como estratégia de mudança de atitudes, através da modificação de conduta, intento já superado na década de 1950, acreditamos que a psicologia pode contribuir para a formação do professor na medida em que propõe o desvendamento e compreensão crítica dos preconceitos, estereótipos e crenças arraigados, mas escondidos, camuflados no imaginário do professor (como da sociedade em geral), que norteiam de forma silenciosa sua ação no cotidiano da escola (SOLIGO, 2002, 154).

É possível perceber que os conteúdos da Psicologia Social representam uma possibilidade de relacionar esta área à Psicologia da Educação. Porém, os seus principais construtos não se encontram nos conteúdos prescritos preponderantes da disciplina Psicologia da Educação.

Ao procurar entender a presença da disciplina Psicologia Social da Educação no contexto dos anos de 1980 e das habilitações, foi possível encontrar dois programas curriculares prescritos dessa disciplina. O primeiro constava no processo 04/81 do Currículo do Curso de Pedagogia de 1981, cedida pela FACED-UFU, enquanto o segundo tratava-se de uma cópia digitalizada em arquivo eletrônico datado em 1988, cedido pela DIRAC (Diretoria de Administração e Controle Acadêmico) da UFU. A comparação entre os programas permitiu uma análise e reflexão ao identificar a grande diferença dos conteúdos prescritos e da referência bibliográfica entre as duas propostas. O Quadro 16 a seguir permite identificar as diferenças.

Quadro 16 – Comparação entre programas prescritos de Psicologia Social da Educação do

Curso de Pedagogia da UFU nos anos de 1981 e 1988. Disciplina Psicologia Social da Educação

(1981)

Psicologia Social da Educação* (1988)

Carga horária

60 60

Ementa Classes sociais e consciência de classe; Identidade Social e Ideologia; A Socialização e a Escolarização; A formação de Grupos e a Escolarização. O Estudante e a transformação da realidade.

O que é Psicologia Social; Percepção Social; Processos grupais; Atitudes e Conflitos.

Objetivo Geral

Não consta Caracterizar o campo de estudo da

Psicologia Social e a aplicação desse conhecimento à situação escolar e ao processo de ensino-aprendizagem. Bibliografia

Básica

BERGER, P. Lucknamn (sic): A Construção Social da Realidade, Ed. Vozes.

CIAMPA, A. C. Relações entre a Identidade Social e a Ideologia – Tese de mestrado em Psicologia Social (disponível no CNPQ)

FORACHI, Marialice. O Estudante e a transformação da realidade. Ed. Civilização Brasileira.

RIVIERE, Pichon. Grupos Sociais (Volumes I e II) Ed. Arte Nueva B. Aires.

DELA COLETA, J. A. Atribuição de Causalidade: Teoria e Pesquisa. RJ: FGV, 1982.

GOLDSTEIN, J. H. Psicologia Social. RJ.: Guanabara, 1983.

RODRIGUES, A. Aplicações da Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 1981.

RODRIGUES, A. Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 1977, 6ª edição.

Fonte: Elaborado pelo autor (2014) a partir dados da FACED-UFU e da DIRAC-UFU.

*No caso da ficha de disciplina de 1988, consta uma descrição do programa com um detalhamento dos tópicos da ementa.

As diferenças remetem a um dos três problemas41 do estudo das disciplinas escolares apontados por Chervel (1990): a gênese. Quais os agentes ou fatores que influenciaram na origem dessas propostas de programa diferentes e com a bibliografia tão divergente?42 Essa questão, para ser respondida, precisa considerar contexto e atores envolvidos. Outro aspecto interessante consiste na evolução da qualidade da descrição da Bibliografia Básica, em que, no ano de 1988, já se encontrava o nome da cidade e o ano da obra.

41 Os três problemas das disciplinas escolares apontados por Chervel (1990) são: a gênese, a função e o

funcionamento da disciplina.

42 A possível explicação remete à possibilidade de escolha dos conteúdos programáticos por parte dos

docentes responsáveis pela disciplina. Como se trata de uma disciplina atípica para o Curso de Pedagogia da UFU, havia uma grande possibilidade de que o docente responsável em 1981 ter uma formação teórico-científica bem diferente daquele que assumiu em 1988.

4.2 – História e memória de docentes e discentes quanto às disciplinas Psicologia Geral e Psicologia da Educação I, II e III

As entrevistas com a professora Lúcia Helena Borges de Carvalho e o professor Dárcio Tadeu Lisboa Oliveira, docentes da UFU nos anos de 1980, e a professora Noemi Mendes Alves Lemes, discente do Curso de Pedagogia de 1983 a 1987, permitiram entender como se ministrava a disciplina Psicologia da Educação n

o regime semestral do curso no contexto da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

A professora Lúcia Helena relatou ter sido docente em todos os níveis de 1961 até a sua aposentadoria, no início da década de 1990. Ela começou sua carreira como professora para crianças em processo de alfabetização, nas séries iniciais, o que era conhecido como Ensino Primário43. Depois, lecionou no Curso Clássico ou Científico, o que corresponderia ao Ensino Médio atual. Como era formada em Pedagogia na primeira turma da FFCLU, em 1963, ela também atuou como supervisora escolar e diretora de uma escola estadual da cidade de Uberlândia. Ela começou a lecionar como docente do curso de Psicologia e ministrar aulas no Curso de Pedagogia da UFU a partir de 1977.

O professor Dárcio Tadeu formou-se em Psicologia em Uberaba-MG, na antiga FIUBE e atual UNIUBE no final de 1977. Após fazer uma especialização, enviou um currículo e começou a lecionar na UFU no primeiro semestre de 1979, oficializando seu contrato como docente no segundo semestre daquele ano. Começou a ministrar aulas em disciplinas relacionadas à Educação nos cursos de Pedagogia e de Educação Artística no período de 1979 a 1981.

A professora Noemi Mendes, mestre em Educação e assessora educacional da Prefeitura Municipal de Uberlândia, iniciou sua formação em Pedagogia pela UFU em 1983, concluindo a graduação em 1987. Por estudar no período de regime semestral das habilitações, escolheu a Supervisão Escolar. Portanto, lembrou-se de estudar as disciplinas de Psicologia do ciclo básico.

Quando à divisão das disciplinas no período das habilitações, a professora Lúcia Helena e o professor Dárcio Tadeu confirmaram a distribuição dos conteúdos conforme análise dos conteúdos prescritos já realizada, em que aparecia o currículo básico do

43 Atualmente, os quatro anos que formavam o Ensino Primário correspondem ao segundo, terceiro,

regime semestral. O professor lembrou-se mais dos conteúdos básicos da disciplina Psicologia Geral, a qual ele foi responsável durante toda a sua trajetória, tanto no âmbito do Curso de Pedagogia quanto no Curso de Psicologia.

Eu sempre trabalhei no ciclo básico. Inclusive, essa Psicologia Geral, tinha uma boa demanda aqui (no Curso de Pedagogia) em função dos concursos públicos na área de Educação; cobravam conteúdos das diversas correntes psicológicas: associacionismo, estruturalismo, behaviorismo... a psicanálise, um pouco menos, mas, as que tinham uma ênfase em modelos educacionais, também: as temáticas que apareciam mais nos concursos. E era preciso reunir em alguns momentos, aqui, o pessoal da educação, em alguns cursos extras, das teorias da Psicologia, para ex-alunos da Pedagogia que iam prestar concurso e queriam “dar uma reciclada”. E nós fazíamos umas reuniões aqui para discutir esse conteúdo, para repassar esse conteúdo com eles. Então, por isso é a justificativa do “por quê” dessa Psicologia Geral no curso de Pedagogia (OLIVEIRA, 2014).

Apesar de predominar as denominações das disciplinas do ciclo básico (Psicologia Geral e as Psicologia da Educação I, II e III), a professora Lúcia Helena lembrava das nomenclaturas do período anterior, o que foi corroborado pelos planos prescritos, em que a disciplina de Psicologia ainda recebia denominações específicas, como Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia da Aprendizagem.

Na época, a disciplina não era denominada Psicologia da Educação. Havia três matérias no currículo de Pedagogia, e eram ministradas três matérias de Psicologia: no primeiro ano, Psicologia Geral, no segundo ano, Psicologia do Desenvolvimento, e no terceiro, era a Psicologia da Aprendizagem. O curso era semestral ainda. Não era regime anual. E Psicologia da Motivação, mais tarde, foi incluída no final, no último semestre (CARVALHO, 2014).

Ela associou as nomenclaturas das disciplinas aos conteúdos ministrados, pois as mesmas haviam sido oferecidas com denominação específica e, posteriormente, com a definição de Psicologia da Educação, mas com os conteúdos relacionados à Psicologia do Desenvolvimento (no caso da Psicologia da Educação I) e à Psicologia da Aprendizagem (Psicologia da Educação II). E ainda ressaltou a disciplina Psicologia da Motivação44, a qual era oferecida apenas aos alunos que escolhiam a habilitação em Orientação Educacional. O professor Dárcio Tardeu recordou a caracterização típica do período semestral.

44 A professora lembrou-se de alguns conhecimentos transmitidos na disciplina específica de Psicologia

da Motivação, a qual era oferecida apenas para os discentes que escolhiam fazer a habilitação em Orientação Educacional: “Quando eu lecionei, tinha ainda as habilidades. Eu lecionei Psicologia da Motivação, mas era mais para dar experiência aos alunos. Apesar de que, nessa matéria, a ementa era muito teórica. Então eu trabalhei as teorias de novo, como ‘o que é motivação’ na visão freudiana, nessa área hedonista... Freud e outros, visão comportamental, visão cognitiva...” (CARVALHO, 2014).

A Pedagogia, pelo relacionamento com a Psicologia, era mais pessoal que técnico, então, havia no curso de Pedagogia: a Psicologia da Educação I, II... não, havia a Psicologia Geral, depois a Psicologia da Educação I, II e III. Nós íamos até o quarto período, com o conteúdo de Psicologia. Essa Psicologia Geral, que eu me lembre, por muitos anos, fui eu que dei aqui e lá no Curso de Psicologia. E depois, essa Psicologia I, II e III, eu transitei provavelmente por todas. A I era a parte do Desenvolvimento Humano, a II, Aprendizagem, e a III, da Personalidade, com essas características (OLIVEIRA, 2014).

Tanto os planos de ensino quanto o depoimento da professora Lúcia Helena destacam sua docência nos conteúdos de Psicologia do Desenvolvimento (em disciplina com essa mesma definição ou na disciplina Psicologia da Educação I) no curso de Pedagogia no início dos anos de 1980. Quanto aos conteúdos ministrados, os conhecimentos da teoria piagetiana, oferecidos na Psicologia da Educação II, ficaram evidentes.

Nos últimos anos, eu levei o tema da escrita: por que a criança escreve silabicamente, ou então, com letra invertida. (...) E depois da Emília Ferreiro, depois do Piaget, eu discutia sobre essas letras invertidas. Assim, eu achei várias pesquisas, não só piagetianas, mas de outros pesquisadores a respeito disso. Então nós discutíamos muito a respeito desse tema (CARVALHO, 2014).

O depoimento de Noemi Mendes também destacou a ênfase dos conhecimentos da Psicologia do Desenvolvimento baseados na teoria piagetiana. Assim como a professora Lúcia Helena havia destacado a vertente piagetiana, e reconhecido a ausência dos conteúdos da Psicologia Histórico-cultural de Vigotski, a ex-discente confirmou essa realidade na época.

-E, nós trabalhamos bastante também a questão do desenvolvimento humano. Só que naquela época, era o enfoque bem categorizado mesmo. Não tinha aquela vertente das diferenças. Então, por exemplo, o aluno está nessa etapa do desenvolvimento, então ele tem que apresentar essa, essa e essa característica. Hoje a gente vê que isso é mais, a gente reconhece as diferenças, não é! Mas naquela época era bem assim. Também vimos um pouco da perspectiva piagetiana.

- Sua época era bem Piaget? - Exatamente! Bem Piaget!

- Você estudou entre 1983 e 1987. Vigotski não tinha chegado? - Não, nem se falava.

- Na sua época, era Piaget!

- Era Piaget. A gente trabalhou nessa vertente de Piaget (LEMES, 2015).

O conteúdo relacionado à teoria de Jean Piaget é evidente no contexto dos anos de 1980. Porém, outros conteúdos foram lembrados com alguma ênfase ao serem

questionados, como no caso da teoria psicanalítica de Freud e a teoria behaviorista de Skinner; outros nem despertaram lembranças claras nos depoentes, como a teoria humanista de Rogers.

- Você lembra de outros autores, como Freud, por exemplo? - Freud, sim. Na questão da Personalidade, ela trouxe sim. (...)

- Você lembra behaviorismo, Skinner?

- Ah, sim. Trabalhamos muito sobre essa teoria também. - Rogers, você lembra, Humanismo?

- Não, não. Acho que trabalhamos mais na questão... da Filosofia? - Ah, talvez, você viu algo de Rogers na Filosofia...

- É, mas na Psicologia... acho que não. Agora, essa questão do Skinner, sim (LEMES, 2015).

A professora Lucia Helena mencionou o behaviorismo também em sua fala, quando afirmou que “pedagogicamente, a gente fazia explicações sobre desenvolvimento social, sobre desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento behaviorista, comportamental etc” (CARVALHO, 2014). Entretanto, seu depoimento permitiu entender que a mesma alternava as lembranças das disciplinas ministradas no Curso de Pedagogia com as disciplinas do Curso de Psicologia, por ter sido docente nos dois cursos. Neste sentido, foi possível encontrar uma diferença na oferta de atividades práticas entre os dois cursos, por se tratar de cargas horárias e perfis discentes diferentes.

Mas, infelizmente, no início, eu não trabalhava muito partes práticas, como analisar outras formas de aprendizagem. Fazer diagnóstico em sala de aula... Mas no final, quando dei aula de Psicologia do Desenvolvimento, no Curso de Psicologia, isto era comum; os alunos traziam as crianças, pequenas, um pouco maiores, para fazer um diagnóstico de alfabetização (CARVALHO, 2014).

Assim, no caso das provas piagetianas, as mesmas não eram demonstradas em