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Unidade II – As correntes teóricas A abordagem comportamentalista

Anos 70 Planos de Cursos/Fichas de disciplinas com ementas e programas

1971 Psicologia da Educação (1971-4º ano); Psicologia da Educação (1971-3º ano); Psicologia da Personalidade (1971-4º ano); Psicologia da Educação (1971-2º ano); Psicologia da Educação (1971-2º ano-1º sem).

1972 Psicologia Geral (1972-1º ano); Psicologia da Educação-Aprendizagem (1972-3º ano); Psicologia da Educação (1972-2º ano).

1973 Psicologia da Educação III (1973-4º ano); Psicologia do Desenvolvimento (1973-2º ano); Prática de Ensino-Psicologia (1973-4º ano); Psicologia da Educação (1973-2º ano).

1974 Psicologia da Educação I (1974); Psicologia da Personalidade (1974-4º ano). 1975 Prática de Ensino de Psicologia (1974-1975).

1976 Psicologia da Educação (1976).

1977 Psicologia da Aprendizagem (1977-3º ano); Psicologia da Personalidade (1977-4º ano); Psicologia Geral (1977-1º ano).

Alguns programas eletrônicos investigados com datas do início dos anos de 1970 ainda trazem a influência do parecer anterior (251/62), em que algumas disciplinas aparecem com a nomenclatura de Psicologia da Personalidade (1971), Psicologia da Educação/Aprendizagem (1972) e Prática de Ensino-Psicologia (1973).

3.3.1 - História e memória de docentes e discentes na fase inicial das habilitações

As entrevistas com a professora Mariù Cerchi Borges, docente da FFCLU nos anos de 1960 e 1970, e a professora Ana Maria Ferolla da Silva Nunes, discente do Curso de Pedagogia de 1972 a 1975, permitiram entender melhor como se ministrava a disciplina Psicologia da Educação na década de 1970 no contexto da Universidade de Uberlândia (UnU).

A professora Ana Maria Ferolla da Silva Nunes, docente aposentada, iniciou sua formação em Pedagogia pela UnU em 1972, concluindo a graduação em 1975. Especializou-se em Didática do Magistério do Terceiro Grau pela Universidade de Franca (1986) e fez o mestrado em Educação pela UFU (2002). Ela foi diretora da Escola Superior de Educação Básica (ESEBA) e Coordenadora de Avaliação e Monitoramento de Extensão Universitária da UFU. Exerceu a docência em Ensino Superior na União Educacional Minas Gerais (UNIMINAS) e foi diretora da Escola da Criança (instituição privada de Ensino Fundamental) na cidade de Uberlândia.

O histórico escolar de Ana Maria Ferolla permitiu identificar as disciplinas específicas estudadas em sua formação, assim como a carga horária das disciplinas de Psicologia. Constatou-se a presença da disciplina Psicologia Geral, no primeiro ano de curso com carga horária de 120 h/a, e Psicologia da Educação I no segundo ano, com 90 h/a. Nos dois anos seguintes, foram oferecidas as disciplinas de Psicologia da Educação, com 90 h/a, cada, totalizando 390 h/a de conhecimentos relacionados à Psicologia em disciplinas específicas da área. Esse número de horas representava uma diminuição de 180 h/a na primeira metade da década de 1970 em relação à segunda metade da década anterior. O documento também permite identificar as duas habilitações em que ela se especializou por meio de disciplinas de estágios: Estágio em Administração Escolar – 1º e 2º graus, e Estágio em Supervisão Escolar - 1º e 2º graus, ambos com carga horária de 120 horas. Seu histórico é apresentado nas figuras 9 e 10 a seguir.

Figura 9 – Frente do Histórico Escolar do Curso de Pedagogia da FFCLU cedido pela ex-

discente Ana Maria Ferolla da Silva Nunes no período de 1972 a 1975.

Figura 10 – Verso do Histórico Escolar do Curso de Pedagogia da FFCLU cedido pela ex-

discente Ana Maria Ferolla da Silva Nunes no período de 1972 a 1975.

Na busca de entendimento dos conteúdos de Psicologia no início dos anos de 1970, a contextualização do momento de impacto da legislação foi importante para compreender o cenário em que os estudantes de Pedagogia estavam vivenciando com a implantação da Lei 5692/71, a qual fixava diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus.

- Quanto ao ingresso da senhora na faculdade, o que vem a lembrança? - Olha, eu me lembro da faculdade. Era uma faculdade bem conceituada, na cidade, na região. Na época, havia poucas opções. Muita gente aqui da região vinha para Uberlândia, para estudar. As turmas eram “lotadas”. Eu me lembro quando entrei; formaram duas turmas. Passaram cem alunos: tinha uma turma no período da manhã e outra no período da noite. Eu sei que a demanda foi superior à oferta, porque realmente era concorrido. Não era todo mundo que passava no vestibular, que conseguia entrar. E foi interessante, a minha turma, porque ela foi logo que... Nós fizemos o vestibular logo que a lei de diretrizes básicas, a 5692, foi aprovada. Então, o pessoal da área de Educação que trabalhava, as diretoras de escola, o pessoal que trabalhava na superintendência de ensino, que não tinha curso superior, e era um grupo grande, foram para a faculdade, fazer Pedagogia. Então, a minha turma era uma turma espetacular. Tanto a turma da noite como a turma da manhã (NUNES, 2015).

Mesmo que a legislação não estivesse causando mudanças específicas no desenvolvimento da disciplina, ela inseria uma necessidade para os profissionais da Educação de se qualificarem, o que geraria uma característica específica no perfil discente dos cursos de Pedagogia: a presença de alunos jovens e em idade comum ao processo de entrada no Ensino Superior, e alunos mais maduros e experientes, os quais já estavam atuando no mercado de trabalho30.

30 Mais adiante, durante a entrevista, Ana Maria fez um comentário interessante sobre o perfil de sua

turma: “A nossa turma era interessante. Normalmente, tinha três grupos. Havia o grupo dos diretores da escola, da superintendência, dos cargos altos: esse grupo! Havia um grupo formado por um pessoal um pouco mais velho, de quarenta anos para frente. E havia um grupo de mocinhas, pessoas mais jovens, as quais já estavam nas escolas, e que foram fazer a faculdade; turma de dezoito, dezenove anos, que estavam começando a ser professores, esse ingresso normal que tem no curso por idade. E havia um pessoal que era meio “misturado”, um pessoal que entrou na Pedagogia e não sabia bem porque entrou na Pedagogia; e que ficava assim meio “perdido” na sala. Há pouco tempo, eu encontrei uma amiga e estávamos nos lembrando disso. Essa turma desses últimos que citei era de cinco ou seis alunos, apenas. Então, era muito interessante essa turma de gente mais nova, que entrou dentro do período normal de se entrar na faculdade: era uma “guerra” com a turma mais velha. Porque a turma mais velha queria se destacar, porque era mais experiente e ocupava os cargos, e assim lutava por nota, para ser melhor que as outras. E a turma das mocinhas, as mais jovens, era muito ‘light’ e, às vezes, as mais velhas ficavam com raiva dessa turma porque elas (as mais velhas) estudavam muito, faziam aqueles trabalhos maravilhosos, e de repente, a turma mais nova tirava notas melhores. Porque a gente tinha, eu lembro uma disciplina, Estatística, era muito difícil, e para quem havia estudado há mais tempo, como era a condição dessa turma mais velha, a matemática era muito “pesada”. Eu me lembro, o meu marido fazia Engenharia Civil, e eu fazia Pedagogia. Eu e meu marido estudávamos, e o professor era o mesmo. O professor da Engenharia era o mesmo que o nosso da Pedagogia. Então, era difícil a disciplina. E então era uma disputa, sabe!”(NUNES, 2015).

Ana Maria Ferolla lembrou-se que fez disciplinas relacionadas à Psicologia com duas professoras mencionadas em planos de curso do período: a professora Mariù Cerchi e a professora Quinha Luíza de Oliveira31. Ela também mencionou nomes de outros docentes em outras disciplinas. Quanto aos conteúdos ministrados, ela relatou que os conteúdos eram muito voltados para a puericultura (conhecimentos e cuidados com o desenvolvimento físico, psíquico e social da criança até a puberdade) e muito “pontuais” no sentido de transmitir as teorias dos autores clássicos e depois avaliar o domínio desse conhecimento em provas (avaliações).

Eu lembro que, inicialmente, a gente estudava os clássicos da Psicologia. Isso era básico, era o que a gente estudava. E era assim, o estudo teórico mesmo. Porque hoje você estuda os clássicos e tenta fazer a correlação com os autores atuais, os pesquisadores atuais, as pesquisas, o que tem ainda, do que eles pensavam que tem a ver com o que estão pensando hoje, e como isso caminhou. Naquela época, era muito pontual. Era uma coisa meio de devolução, eles pensaram em determinadas ideias, você vai estudá-las; e depois faria uma prova. Então, não tinha muito essa correlação, essa relação com o que se faz hoje, com o que se pensa. Era uma coisa assim bem pontual. E depois, nós fomos estudar Psicologia da Aprendizagem. Então, acho que tinhaI, II... acho que as disciplinas de Psicologia se dividiam em I, II e III.

Eu não me lembro bem, eu até queria ter pegado meu histórico escolar pra dar uma olhada (NUNES, 2015).

Quando indagada a respeito das teorias psicológicas, ela mencionou como primeira lembrança, a Psicanálise de Sigmund Freud. Ela citou, inclusive, conceitos relacionados à teoria freudiana ensinados nas disciplinas. Lembrou-se também do Behaviorismo de Skinner, citando alguns conteúdos estudados. E no final de suas memórias sobre as teorias, destacou o nome de Jean Piaget, ainda mencionando alguns seus seguidores que seriam estudados posteriormente. Ao ser indagada sobre Rogers e o Humanismo, comentou que lembrava muito pouco.

- Trabalhava-se muito Freud. Freud! A questão do complexo, o Complexo de Édipo, Complexo de Electra, trabalhava-se muito. Naquele tempo, não se falava muito em Vigotski, Wallon... Eu lembro muito do Freud.

- A senhora lembra se falavam muito de Behaviorismo, Skinner?

- Demais! Tinha muito Behaviorismo, Skinner. Em Psicologia, a gente falava condicionamento operante, condicionamento... Tinha aquela questão do labirinto, dos “ratinhos”, a gente até chegou... Eu lembro dessa experiência dos ratinhos porque a gente fez essa experiência, tentou reproduzir alguma coisa, e foi um alvoroço por causa desses ratos, e tudo, demais, tinha muito disso.

31 Foram encontrados e investigados dois planos de curso com o nome da Profa. Quinha como

responsável pelas disciplinas. Um plano de Psicologia da Personalidade, de 1974, para a 4ª série, e outro, de Psicologia Geral, de 1975, para a 1ª série. O nome da docente também consta como uma das primeiras professoras do Curso de Psicologia da UFU.

- Durante a graduação?

- Durante a graduação! A questão do cachorrinho, o sino, salivar. - Pavlov?

- Pavlov, não é? Tinha o Skinner, Pavlov, Piaget, Freud... Havia muito conteúdo de Piaget, muito Piaget. Quando começou o estudo das faixas do desenvolvimento, o Piaget era o “carro-chefe”.

- O Humanismo, Rogers, eu não me lembro de encontrar nos planos de curso. A senhora lembra?

- Alguma coisa. Era muito superficial. Ficava muito com o Freud, e o Piaget. Nessa época, era Piaget, Piaget e Piaget.

- Vigotski e Wallon vieram no final dos anos de 1980 para os 1990...

- É, esses autores foram discutidos mais adiante. Emília Ferreiro, Ana Teberosky, Sonia Kramer... (NUNES, 2015).

Analisando a fala da professora em relação ao seu período como discente em Pedagogia, e discorrendo sobre as lembranças referentes ao conteúdo de Psicologia no curso, percebe-se que Freud foi destacado como primeira lembrança, e com certa ênfase. Mas, ao final de sua fala, o nome de Piaget é bastante ressaltado. E em todas as lembranças, aparecem conceitos relacionados adequadamente: Freud e os complexos, como o Complexo de Édipo; Skinner e o Condicionamento operante, com referência à pesquisas com ratos em laboratório; Pavlov e o estudo da salivação dos cães (Condicionamento clássico); e Piaget e as faixas do desenvolvimento infantil. Outros nomes citados como Emília Ferrero, Ana Teberosky, Sonia Kramer, Freinet, e Orly Zucatto apareceram com menor relevância.

Em relação às práticas pedagógicas em sala de aula, foi possível perceber uma ênfase em técnicas de didática aplicadas durante as aulas. Apesar das referências às aulas expositivas, modelo característico do período anterior e que vai permanecer nos anos posteriores, a presença de uma diversidade de técnicas é destacada: GV-GO (Grupo de Verbalização-Grupo de Observação)32, Estudo dirigido33 e Júri Simulado34.

32

No Grupo de verbalização-grupo de observação (GV-GO), “uma parte da classe forma um círculo central (GV) para discutir um tema, enquanto os demais formam um círculo em volta, para observar (GO). O GO deve observar, por exemplo, se os conceitos empregados na discussão são corretos, se os colegas estão sabendo ligar a matéria nova com a matéria velha, se todos estão participando etc. Depois, os grupos são trocados na mesma ou em outra aula” (LIBÂNEO, 1994, p.171).

33 O Estudo Dirigido é desenvolvido com o suporte de roteiros previamente elaborados pelo professor. A

partir a leitura de um ou mais textos escolhidos pelo docente, os estudantes, individualmente ou em grupo, irão trabalhar ativamente na interpretação e análise dos conteúdos. Segundo Libâneo (1994), o estudo dirigido se cumpre por meio de duas funções: realização de exercícios e tarefas de reprodução de conhecimentos após explicação do professor, e elaboração individual de novos conhecimentos advindos das discussões em sala.

34 A técnica do Júri Simulado tem grande aplicabilidade como recurso didático e assume grande

importância a partir do momento em que aborda assuntos polêmicos, levando os estudantes ao envolvimento de múltiplas discussões. Há uma distribuição da classe em grupos específicos, tais como: juízes, promotores, advogados de defesa, jurados, testemunhas, e consultores, com a definição dos papeis de cada elemento do grupo. O julgamento é conduzido pelo Juiz, que delega a palavra, conforme a ordem e solicitações. Na conclusão, os jurados efetuam a votação, apresentando o resultado final das discussões.

Porém, não fica evidente se essa variedade de técnicas era muito utilizada em aulas de Psicologia. Segundo o depoimento, essa diversidade era comum ao Curso de Pedagogia. E as lembranças das aulas de Psicologia remetem mais a aulas teóricas, com a predominância das aulas expositivas.

- E a senhora lembra das práticas pedagógicas? A senhora lembrou da Profa. Quinha e da Profa. Mariú. A senhora lembra como elas davam aula?

- Expositivas. Sempre expositivas. Naquele tempo, foi um tempo de tecnicismo. Então tinha o GV-GO, Grupo de verbalização e Grupo de observação, tinha muito estudo dirigido, tinha muito júri simulado. A professora colocava, às vezes, uma situação-problema, em uma determinada escola, envolvendo aluno, família, e professor. Ela apresentava uma situação, e a gente fazia a atividade, organizava os grupos, fazia o julgamento. Eu te falo que a nossa turma foi muito interessante, porque tinha muita experiência e isso era muito rico. Então, como foi um período tecnicista, não só aprendemos as técnicas, mas como alguns professores utilizaram dessas técnicas em sala de aula para abordar alguns conteúdos. A Mariú era uma professora muito interessante, ela era assim jovem, entusiasmada, então ela trazia muita coisa assim diferente, sabe, para os alunos! Era bem interessante. A Quinha era uma professora mais acadêmica, muito conhecimento, uma bagagem muito grande, então, ou seja, cada professor tem seu estilo próprio, sua metodologia, mas muitos utilizavam essas técnicas para motivar a turma. - Mas a senhora consegue lembrar, e essa é uma preocupação minha: essas técnicas eram usadas no curso em geral? Ou era específico nas aulas de Psicologia?

- As professoras de Psicologia usavam menos. As aulas eram mais teóricas (NUNES, 2015).

Na sequência da entrevista, ao ser indagada sobre as aulas expositivas e o uso do quadro e giz, Ana Maria Ferolla confirmou o uso desses recursos, e destacou a lembrança do uso de álbuns seriados35. Quanto ao questionamento do uso do retro- projetor, ela mencionou não consistir em um recurso técnico muito usado, pois os professores recorriam mais aos “slides”.

Quanto à relação entre o conteúdo prescrito e a realidade pedagógica, a depoente mencionou que os professores costumavam ser tradicionais e seguiam os temas presentes nas ementas ou conteúdos programáticos. Ela, inclusive, admitiu perceber mais liberdade e autonomia dos docentes universitários nos dias atuais.

- A senhora consegue lembrar, no caso da Psicologia, se o plano de curso era seguido à risca, qual o grau de liberdade que o professor tinha, e se algum momento ele optava por algo mais interessante?

35 O Álbum Seriado é um recurso didático que auxilia o professor numa perspectiva de uma aula bem

organizada; compreende uma coleção de folhas organizadas com gravuras, textos, gráficos etc. Possibilita abordar diversas temáticas, divididas em partes, enriquecendo a aula expositiva ao apresentar dados organizados em sequência para sistematizar o assunto.

- Sabe, eu observava naquela época que os planos de curso eram mais rígidos. Normalmente, o professor seguia bem aquele ‘script’. Era bem mais rígido. Eu vejo hoje, fui professora universitária, o que a gente faz; acho que a gente tem mais liberdade, pra você fazer alguns recortes, apesar de você apresentar um plano. Eu sinto que, naquela época, era bem linear, bem seguido dentro daquele roteiro. Eu não sei se é por que, foi um período mais tradicional... Então, eu não sei se exigia, se existia uma cobrança das instâncias superiores maiores, uma fiscalização. Eu não sei te dizer porque eu não era professora, mas como aluna o sentimento que eu tenho, é que os professores eram bem assim dentro daquele padrão. Até porque eu acho que hoje o pessoal estuda mais, eu acho que tem mais informação, tem muita publicação, tem muita revista, então o professor acaba tendo mais recursos. Ele tem mais fácil acesso a outras fontes. Então, naquele tempo, tinha um livro, uma bibliografia, havia um livro que era seguido. A maioria das minhas disciplinas tinha um livro que era seguido. E seguia conforme os capítulos... (NUNES, 2015).

No caso das disciplinas de Psicologia, especificamente, ela enfatizou a preocupação das docentes em seguir os conteúdos programáticos, lembrando de que a oferta desses conhecimentos era cumprida, inclusive, fazendo a distinção em relação a outro docente em outra disciplina. Ela também reconheceu que era comum um professor ter preferências por determinados temas, mas as docentes de Psicologia ofereciam o conteúdo em sua totalidade.

- A senhora não lembra, por exemplo, suponhamos que um roteiro trouxesse a proposta de um mês dos conteúdos do Freud, um de Piaget e um de Skinner, e às vezes, o professor, por gostar mais da Psicanálise, ficar quase o curso inteiro com o Freud, e no final, lecionasse rapidamente o Piaget e o Skinner?

- O pessoal da Psicologia, com os quais eu assisti aula, elas eram bem assim... não metódicas, mas elas seguiam bem o ‘script’. Eu tive um professor de “X”* (outra disciplina), que gostava de fazer um tipo de trabalho, e ele ficava só em cima daquilo. Eu lembro da gente dizer: “Professor, e este conteúdo, a gente não vai aprendê-lo?” E ele continuava naquele conteúdo. Sabe, essas coisas são marcantes, a gente lembra. A gente lembra bem do que acontecia. É, mas na Psicologia, eu lembro que as professoras seguiam bem o programa. Embora, elas tivessem preferência, e logicamente, quando se tratava dos temas preferidos, elas conseguiam fazer um trabalho que encantava mais a gente, acabava que você tinha mais simpatia por x ou y. Mas eu sinto que, em termos de informação, elas ministraram todo o conteúdo previsto. Acho que não ficou faltando. Hoje, às vezes, o professor faz um tipo de pesquisa, e foca muito a disciplina dentro daquilo que ele está pesquisando. E às vezes, alguma coisa, você não vê. Eu sinto que no meu tempo, a gente tinha uma visão do todo. A gente não ficava sem a informação não. Apesar de, logicamente, ter preferência, mas eles seguiam bem aquele programa (NUNES, 2015).

*Grifo do autor: optou-se por um código, X, para não identificar a disciplina e o provável professor.

Ao responder a respeito das formas de avaliação da aprendizagem, Ana Maria Ferolla ressaltou o modelo tradicional utilizado, recorrendo às provas. As provas eram

centradas nas teorias e apresentavam tanto questões de múltipla escolha como questões discursivas.

- A senhora se lembra da forma de avaliação da aprendizagem utilizada pelos professores de Psicologia?

- Ah, era avaliação formal. Era avaliação somativa mesmo, prova. A faculdade tinha um período de provas, e essas provas eram dadas dentro desse período. As professoras de Psicologia não davam muitos trabalhos em grupo. Outras disciplinas davam. Eram mais essas provas...

- Bem teóricas?

- Bem teóricas. Naquela época, já havia algumas provas com questões de múltipla escolha; não usavam apenas questões discursivas. As provas de Psicologia sempre apresentavam algumas questões discursivas, a maioria das questões era discursiva. Mas havia algumas questões objetivas.

- Além das provas, havia outras avaliações, pontuavam outras atividades? Participação do aluno, outras atividades em sala...

- Não. Era pontual: prova (NUNES, 2015).

Quanto à influência de normas e regulamentações curriculares, ela ressaltou o impacto da Lei 5692/71 em relação às metodologias, a preparação das aulas e a preocupação com o ensino profissionalizante; mas sem interferir significativamente nos conteúdos prescritos, o que pode ser confirmado nos próprios programas. Ela afirmou que “foi muito na área mais profissionalizante. (...) No sentido da Psicologia, eu sinto