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O campo de domínio científico do conhecimento psicológico caracteriza-se por sua diversidade de saberes. O próprio processo histórico de consolidação da Psicologia enquanto ciência encontrou dificuldades quanto a seu objeto de estudo e metodologia de pesquisa, inclusive, sua atuação profissional. A diferença do objeto de estudo, metodologia e atuação profissional entre behavioristas e psicanalistas, por exemplo, é uma amostra dessa diversidade de investigação e compreensão do comportamento humano e os fenômenos psíquicos envolvidos.

1.1– Psicologia e seus múltiplos saberes

A etimologia da palavra Psicologia consiste na união dos radicais gregos ‘psyche’ (alma) e ‘logos’ (razão). Seu objeto de estudo pode considerar o comportamento humano observável, diferenciando-se da etologia que estuda o comportamento animal; pode compreender os fenômenos psíquicos interiores e seus impactos no comportamento, assim como as condições sócio-políticas, econômicas e culturais em que o indivíduo se insere na construção de sua subjetividade. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), a matéria-prima de estudo para a Psicologia é

o homem em todas as suas expressões, as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o homem-corpo, homem- pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008, p. 23).

A procura por uma melhor compreensão da Psicologia pode ser possível a partir do conhecimento de sua história. Sendo a história um campo de estudos das práticas

sociais em um tempo e espaço definidos, o estudo da história da Psicologia implica em entender melhor os diversos conhecimentos teóricos e práticos na construção dessa área de conhecimento. Os especialistas na área parecem ter clareza quanto à importância de se estudar a história do conhecimento psicológico. Neste sentido, Schultz e Schultz (2009) iniciam sua obra sobre a história da Psicologia moderna, com algumas das seguintes indagações: “Por que os professores do departamento de psicologia acreditam que é importante para os alunos estudarem a história de sua área?” e “qual a possível relevância que o passado tem para se entender o presente?” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p.1).

Esses autores destacam a necessidade de dar relevância a essa área de estudo. Eles comentam a respeito da história da Psicologia como área de pesquisa, buscando ressaltar a valorização da historicidade para os psicólogos em relação a outras ciências, assim como a importância da área de história no interior da própria ciência psicológica, que formalizou este campo de pesquisa.

Entre todas as ciências, a psicologia é sem igual quanto a esse aspecto. A maioria dos departamentos de ciências não faz tais exigências e nem mesmo dá um curso de história específico de sua área. O interesse dos psicólogos em sua história levou à formalização desta como uma área de estudo. Assim como há psicólogos que se especializam em problemas sociais, psicofarmacologia, ou desenvolvimento da adolescência, também há aqueles que se especializam em história da psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 1).

O estudo da história da Psicologia representa uma aproximação entre historiadores e psicólogos, abrindo a possibilidade de interação entre áreas específicas de pesquisa teórica e empírica, resgatando o sentido do passado para o entendimento de uma ciência atual e presente em diversos campos de conhecimento acadêmico e atuação profissional.

1.2 – História da Psicologia no contexto internacional

A Grécia Antiga compreende o palco onde se contemplou o início do pensamento racional no ocidente e os filósofos gregos também construíram teorias psicológicas, ainda sem conotação científica. Os primeiros filósofos se ocuparam do estudo da natureza e do cosmos (universo) e ficaram conhecidos como pré-socráticos. Eles procuraram definir a relação do homem com o mundo por meio da percepção. Ao

discutirem se o mundo existe porque o homem o vê ou se este mundo existe anteriormente ao homem, geraram uma oposição entre idealistas (em que as ideias dariam sentido à realidade concreta) e materialistas (em que a matéria seria anterior ao homem pensante). Neste sentido, o estudo psicológico ainda se restringia à forma de pensar do homem (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008).

A partir do período clássico, os filósofos passaram a se preocupar com as questões morais e políticas, destacando três dos filósofos mais importantes da história: Sócrates de Atenas (469-399 a.C.), Platão de Atenas (427-347 a.C.) e Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.). Sócrates, ao diferenciar o homem dos outros animais, elegeu a razão como principal característica humana. Enquanto ser racional, o ser humano poderia ir além dos comportamentos meramente instintivos. Platão defendia a existência de um dualismo psicofísico, objeto também de intensa discussão na Psicologia, em que haveria uma alma (compreendendo a razão) e um corpo (puramente material) como entidades distintas. E Aristóteles discordava de filosofia platônica ao contestar a separação alma e corpo, pois ele considerava a psyché como princípio ativo, a qual cresce, alimenta, reproduz e morre.

Ao considerar a Filosofia Medieval, a razão também representou o objeto de estudo de filósofos como Agostinho de Hipona (354-430) e Tomás de Aquino (1225- 1274), porém, como todo conhecimento durante esse período, manteve uma submissão aos preceitos religiosos do Cristianismo. Santo Agostinho, influenciado pela teoria de Platão, defendia o dualismo psicofísico. Porém, a alma não representava apenas a sede da razão, mas uma manifestação divina do homem, constituindo o que ficou conhecido como a “doutrina da iluminação divina”. Esta alma seria imortal e possibilitaria a ligação entre o homem e Deus. Neste sentido, a Igreja passava a se preocupar com a compreensão desta alma, sede do pensamento. São Tomás de Aquino também precisou conciliar a razão e a fé, pois viveu em um período de muitos questionamentos sobre a doutrina cristã. Ele se baseou na teoria de Aristóteles, buscando a distinção entre essência e existência (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008). O filósofo medieval utilizava de argumentos racionais para assegurar a crença nos dogmas religiosos e manter a Igreja como responsável pelo estudo do psiquismo.

A partir da Idade Moderna, uma teoria foi importante na construção do conhecimento da Psicologia: a filosofia cartesiana. René Descartes (1596-1650) defendia a dicotomia mente-corpo a partir da separação entre a res cogitans (coisa pensante) e a res extensa (coisa extensa/material).

Para Descartes, no interior do espírito é possível estabelecer uma distinção entre uma razão de origem divina enquanto cerne de toda inteligibilidade e consciência, onde o faz a sua morada, e uma região fronteiriça desse espírito, situada na interseção com o corpo: as paixões. Se na primeira região encontramos a fonte do conhecimento, na segunda encontra-se a raiz de todos os nossos equívocos, de todas as nossas ilusões produzidas por nossos sentidos. Nesse mesmo movimento constitui-se, portanto, uma cisão fundamental entre alma e corpo (este, a causa de nossos enganos), distinção que, ao contrário do que se pensa, não remonta a uma cristandade medieval. Nesse momento, espírito e corpo são compreendidos como portando duas substâncias de naturezas diversas: a extensa (o corpo) e a inextensa (a alma). A princípio, o corpo se constitui como objeto de exame, retificação e controle por parte do espírito. Mais tarde, no século XIX, o próprio espírito irá se constituir em objeto de exame, conhecimento e disciplina (FERREIRA, 2007, p. 20).

Neste sentido, o dualismo psicofísico cartesiano propõe que o estudo psicológico utilize de uma metodologia diferenciada em relação ao estudo do corpo. Como a Psicologia enquanto ciência ainda não existia, caberia à filosofia entender a mente e seus processos (atenção, memória, raciocínio), enquanto as ciências naturais estudariam o corpo (enquanto massa, movimento, extensão) segundo as leis da física e mecânica. Neste caso, os processos mentais (recordar, raciocinar, conhecer e querer), por não terem extensão no espaço, não poderiam ser submetidos às leis físicas, dificultando a concretização da Psicologia enquanto ciência.

O método experimental no campo científico se estabeleceu a partir da Idade Moderna, destacando-se a física como ciência particular conforme as pesquisas de Galileu Galilei (1564-1642), em que o método compunha-se de quatro etapas: observação, hipótese, experimentação e generalização. Este pressuposto dificultaria a consolidação da Psicologia como ciência ao considerar-se o modelo cartesiano, já que para Descartes a mente não se submetia a este processo típico das ciências naturais. Mas, a Psicologia enquanto conhecimento aproximaria definitivamente do reconhecimento de sua cientificidade a partir dos estudos do alemão Wilhelm Wundt (1832-1926).

Wundt recebeu formação para ser médico e lecionou fisiologia na Universidade Heidelberg, na Alemanha. Como a Psicologia ainda não era reconhecida como ciência, seu conteúdo se inseria no ramo da filosofia (DAVIDOFF, 2001). O pesquisador alemão estudou os fenômenos mentais sob o pressuposto que eles corresponderiam a fenômenos orgânicos, aproveitando de estudos da fisiologia, neuroanatomia e neurofisiologia. Sua grande contribuição para o avanço da Psicologia ao status de

ciência é a criação do primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig em 1879. Por esse fato e outras contribuições teóricas na área, ele é considerado o pai da Psicologia moderna ou científica.

É importante contextualizar este momento em que a Psicologia começou a ser reconhecida como ciência. No final do século XIX, o Positivismo sintetizava o momento de grande desenvolvimento científico e industrial na Europa. A teoria da Lei dos três estados5 de Auguste Comte (1798-1857) fundamentava o auge do conhecimento racional, positivo e científico, como evolução do pensamento mítico e metafísico, coroando o método das ciências naturais como capaz de prever os acontecimentos, propor intervenções e solucionar todos os anseios da humanidade. Consistia no princípio de “ciência, daí previdência; previdência daí ação” de Comte. Neste sentido, ao criar um laboratório, a Psicologia se aproximava do método hegemônico daquele momento histórico. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), a Psicologia só alcançaria seu reconhecimento de ciência a partir do momento em que estabelecesse um objeto de estudo, delimitasse um campo de estudo que a diferenciasse de outras áreas, formulasse métodos de pesquisa e estudo sobre seu objeto e elaborasse teorias enquanto corpo de conhecimento.

Apesar de seu despertar na Alemanha, o crescimento rápido da Psicologia aconteceu nos Estados Unidos por meio das seguintes abordagens: o Funcionalismo, o Estruturalismo e o Associacionismo. No Funcionalismo, destacou-se William James (1842-1910), o qual possuía uma visãopragmática típica do espírito americano, e queria entender “o que os homens fazem” e “por que o fazem” como forma de entender o uso da consciência na adaptação do homem ao meio (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008). No Estruturalismo, sobressaía Edward Titchener (1867-1927) ao utilizar do método introspectivo e acreditar que a Psicologia deveria identificar estes elementos estruturais e mostrar como eles podiam ser combinados e integrados. E no Associacionismo, Edward Lee Thorndike (1874-1949) apresentou contribuições importantes para a teoria da aprendizagem na Psicologia. O termo associacionismo decorre da tese de que aprendizagem depende de uma associação de idéias que vão das mais simples para as mais complexas. Estas abordagens predominaram no final do

5 Segundo Comte, a humanidade havia passado por três estágios de desenvolvimento do conhecimento:

no estágio teológico, as explicações eram dadas por meio de deuses e do sobrenatural; no estágio metafísico, de entidades abstratas; e no positivo (ou científico), por meio de fatos observados e comprovados empiricamente.

século XIX e início do século XX. Porém, o século XX teria como as correntes teóricas predominantes: o Behaviorismo, a Gestalt, a Psicanálise e o Humanismo.

O Behaviorismo, também conhecido como comportamentalismo (behavior, do inglês, significa comportamento em português), surgiu nos Estados Unidos, tendo como principais representantes John Watson (1878-1958) e Buhrrous Frederick Skinner (1904-1990). Seus princípios básicos iniciais decorrem do associacionismo e têm como pressuposto fundamental a relação entre estímulo e resposta. Nesse sentido, os primeiros pesquisadores procuraram entender a relação percebida, tanto por animais como seres humanos, entre um determinado estímulo e a resposta apresentada em forma de comportamento. Destes estudos, originou-se a noção de condicionamento, destacando-se o comportamento respondente (ou clássico) e o operante. O comportamento respondente teve como pioneiro o pesquisador russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936). O condicionamento operante foi elaborado pelo americano B. F. Skinner.

A Gestalt também ficou conhecida como Psicologia da forma e teve a Alemanha como sede principal de seus estudos. A base dessa teoria teve como representantes Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), os quais relacionaram a forma e sua percepção. Nesse sentido, os gestaltistas procuraram estudar a percepção e a sensação do movimento. A Gestalt confrontou-se com o Behaviorismo por considerar que este se preocupava demasiadamente com a objetividade, enquanto os adeptos da vertente alemã estariam mais atentos à subjetividade, à percepção individual em relação ao meio. Uma lei importante da Gestalt é a da Pregnância, ou boa forma, a qual leva em conta a relação figura-fundo, considerando aspectos como regularidade, simetria e homogeneidade.

A Psicanálise surgiu no final do século XIX a partir dos estudos do médico vienense Sigmund Freud (1856-1939) e consolidou-se durante o século XX. Foi uma das principais áreas de fundamentação da Psicologia Clínica e do Tratamento Psicoterápico. O conhecimento construído por Freud compreende ao mesmo tempo uma teoria da personalidade, um método de investigação e uma forma de psicoterapia. Dentre suas principais descobertas, destacam-se a hipótese de existência do inconsciente e a teoria da sexualidade infantil.

O Humanismo fez críticas significativas em relação às abordagens behaviorista e psicanalítica preponderantes na primeira metade do século XX. Em oposição a essas vertentes, a proposta humanista-fenomenológica de Carl Rogers (1902-1987) apresenta

uma visão com mais esperança e otimismo. Rogers desenvolve uma teoria em defesa da busca constante do homem pela sua autorealização. Ele acredita na capacidade da pessoa de se autodirigir. Nesse sentido, defende uma pedagogia não diretiva, em que cada pessoa é capaz de alcançar seu próprio crescimento pessoal (BARROS, 2007).

1.3 - A Psicologia na História da Educação e da Pedagogia

A Educação consiste em um campo de complexidade e de grande interesse nas sociedades humanas. É difícil pensar em alguma cultura que não tenha desenvolvido alguma forma de processo educativo na constituição de seus indivíduos em sua história particular. Nas sociedades ocidentais, o “como educar” é tema recorrente nas propostas governamentais. Como afirma Martínez-Otero (2012), “sempre que se quer dar solução aos grandes problemas de nosso tempo, recorre-se à educação” (p. 21-22).

Ao constituir-se como processo significativo na formação dos seres humanos, a Educação passou a ter uma relação estreita com áreas importantes do conhecimento, como por exemplo, a Filosofia. Ao final do século XIX e ao longo do século XX, outras áreas de fundamentos da Educação passaram a ser reconhecidas, como a Sociologia, a Antropologia, a História e a Psicologia.

Ao pensar na História da Educação e da Pedagogia no contexto europeu e americano, autores como Mário Manacorda e Franco Cambi, em suas obras História da Educação (2006) e História da Pedagogia (1999), respectivamente, apresentam uma trajetória para os conhecimentos relacionados à Educação, na qual a Psicologia é mencionada em capítulos e tópicos específicos. A Psicologia apareceu no século XIX e destacou-se a partir do século XX. Apesar das contribuições de Pestalozzi, Froebel e Herbart no campo psicopedagógico, uma das primeiras abordagens a merecer destaque foi o behaviorismo, com base no positivismo. Porém, essa abordagem recebeu críticas significativas por parte da pedagogia não-diretiva de Carl Rogers. Como as contribuições de Rogers baseavam-se em um modelo de educação centrada no aluno, sua psicologia humanista não admitia a visão pedagógica mecanicista e tecnicista defendida por educadores comportamentalistas.

O pragmatismo e o funcionalismo também consistiram em vertentes preocupadas com a utilização da Psicologia no campo pedagógico, destacando autores como William James e John Dewey, em que o segundo teria grande influência para o movimento da Escola Nova.

E avançando no percurso das contribuições da Psicologia no campo da Educação, surgiram as teorias construtivistas, com teóricos como Jean Piaget, Emília Ferreiro, Lev Vigotski, Alexis Leontiev, Alexander Luria e Henri Wallon. Esses autores ainda possuem grande significado no contexto atual, aparecendo nos conteúdos programáticos de matérias de cunho psicológico em cursos de formação de professores. Manacorda (2006) apresenta a questão da Psicologia no cenário da educação em um capítulo intitulado O confronto da pesquisa psicológica. Nesta discussão, chama a atenção para as primeiras correntes de pensamento psicológico, ressaltando os diversos ‘ismos’ das várias correntes e escolas.

Seria difícil esgotar aqui os intermináveis ‘ismos’ que definem as várias correntes e escolas (associacionismo, introspeccionismo, intencionalismo, funcionalismo, comportamentalismo, gestaltismo, operacionalismo, cognitivismo, estruturalismo etc), e os adjetivos, prefixos ou sufixos que indicam os diferentes campos da pesquisa (pesquisa geral, individual ou diferencial, genética ou evolutiva, social, comparada, aplicada, industrial e, naturalmente, pedagógica; e, em seguida, psicologia, psiquiatria, psicanálise, psicodinâmica ou psicologia do profundo, psicofísica, psicofisiologia, psicotécnica, psicometria, psicolingüística etc.) (...) (MANACORDA, 2006, p. 322).

Neste sentido, o autor se refere, inicialmente, às primeiras correntes no final do século XIX, citando nomes como Herbart, Wundt, Thorndike, Secenov, Pavlov, James, Dewey e Angell. Essa diversidade de nomenclatura relacionada à Psicologia evidenciaria a ideia de múltiplos saberes.

Ao discutir a Psicologia na América, Manacorda destaca o aparecimento do Behaviorismo com Watson. Em sequência, faz referência a Freud e à Psicanálise, porém sem dar muito crédito a esta última no contexto da educação, ao ressaltar o surgimento de “Freud, com a sua psicanálise, destinada a influenciar profundamente toda a cultura do século, mas muito pouco a pedagogia” (MANACORDA, 2006, p.323). O autor segue sua narrativa sobre a Psicologia a partir da teoria da “forma”, a Gestalt. Ele cita pesquisadores como Wertheimer e Kohler e seus estudos sobre as leis das percepções.

Após o relato sobre estes autores e suas linhas de pesquisa, Manacorda acaba por dar uma atenção especial às teorias de Jean Piaget e Lév Vigotski. O autor apresenta conceitos importantes da teoria de Vigotski como signos, instrumentos, “zona de desenvolvimento potencial”, assim como princípios básicos de Piaget: visão construtivista, fases do desenvolvimento (sensório-motor, pré-operatório, operações

concretas e operações formais). E ao final do capítulo, Manacorda ainda cita, de forma bastante econômica, Jerome Bruner.

Cambi (1999), ao apresentar a História da Pedagogia, também dedica um capítulo destacando pesquisas em psicopedagogia, intitulando-o de A pedagogia cognitiva: primado da instrução e tecnologias educativas. Cambi não menciona a ciência psicologia inicialmente, mas se refere a uma psicopedagogia.

Se os grandes intérpretes dessa virada psicopedagógica foram, sobretudo, Piaget, Vigotski e Bruner, no terreno da didática foram, porém, a Conferência de Woods Hole de 1959 e os “teóricos do currículo”, de Kerr a Nicholls, depois o advento das “novas tecnologias educativas (desde o quadro luminoso até o computador), que operaram uma renovação radical e capilar da pedagogia, redescrevendo-a no sentido científico-operativo e submetendo- a a um processo de reelaboração em chave técnica, que está ainda hoje no centro do debate pedagógico e da pesquisa educativa (CAMBI, 1999, p.609).

Em seguida, o autor apresenta uma síntese das contribuições dos três pesquisadores citados acima: a epistemologia genética de Jean Piaget, a abordagem crítica de Lév Vigotski, e a teoria da instrução de Jerome Bruner. Ao final do capítulo, Cambi cita as novas tecnologias educativas e faz menção ao neocomportamentalismo de Skinner, assim como pesquisas de Bloom, Guildorf e Gagné.

Quanto à História da Educação e da Pedagogia no Brasil, Ghiraldelli Jr (2009) apresenta três tópicos sobre a Psicologia no contexto da educação brasileira em um capítulo que discute as leituras em Educação nas décadas de 1970 e 1980. Os autores destacados são Jean Piaget e sua influência no trabalho de Lauro de Oliveira Lima, o Não-diretivismo de Carl Rogers e a experiência com a escola “Summerhill”, e o trabalho do psicanalista Rubem Alves. Em capítulo posterior, ao discutir os rumos da literatura pedagógica no final do século XX, cita a Filosofia da educação, a psicopedagogia e as teorias educacionais, dando destaque a nomes como os de Piaget, Skinner, Freud e Vigotski. Ele faz uma consideração importante ao afirmar que:

O debate em filosofia da educação no cruzamento com a psicologia da educação, em relação a Piaget, passou por uma alteração na década de 1990, se comparado com o tempo das obras de Lauro de Oliveira Lima. Os debates “Rogers versus Piaget” e “Skinner versus Piaget” foram substituídos pelos debates “Vygotsky versus Piaget”. Aliás, esta não foi uma tendência específica de nosso país, pois já vinha ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos nos anos de 1980. Por isso, Mario A. Manacorda, historiador marxista, reproduziu este debate no livro História da Educação de 1989, também bastante aceito em nosso país como um manual de história da educação e da pedagogia (GHIRALDELLI JR, 2009. p.180).

É interessante notar que as correntes de pensamento psicológico já estabeleciam debates nos meios acadêmicos, persistindo com discussões até os dias atuais. Em sequência, Ghiraldelli Jr discute questões que entrelaçam a Filosofia da Educação e as