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5 A DINÂMICA DA AGRICULTURA DE FREDERICO WESTPHALEN

5.2 O ZONEAMENTO AGRÍCOLA DE FREDERICO WESTPHALEN

5.3.3 Período de 1950 a 1970: o colonial moderno

No documento datado de 02 de outubro de 1953, produzido pelo Técnico Agrícola Flodoaldo da Cruz Neto, auxiliar de agronomia regional da 23ª Regional Agrícola do Estado do Rio Grande do Sul, encontra-se um relato sobre as dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento da agricultura em Frederico Westphalen, a partir de meados da década de 1950. Segundo Ferigollo (2014, p. 170), o documento afirma que o grande problema enfrentado “está em fazer com que os produtores abandonem os processos rotineiros de cultivo, herdados de seus pais e avós, e adotem sistemas técnicos de conservação dos solos, combate a erosão, cultivo e defesa das plantações”.

Diante deste cenário, um grupo de agricultores, incentivado pela Igreja Católica, criou a União dos Agricultores e Criadores (UNAC), no início de 1951. O próprio vigário da época relata este fato.

Constatava tudo isto com meus olhos nas minhas contínuas andanças pelo interior, em visita às capelas, e ouvia os clamores do povo. Eis, por que em 8 de dezembro de 1950, reuni um grupo de destacados homens da terra [...] com o fim de combinar uma visita aos principais núcleos do interior, para tomar contato direto com tais problemas, e, depois, deliberar da organização de uma sociedade capaz de congregar os agricultores e criadores, e promover, por todos os meios ao alcance, as soluções adequadas (BATTISTELLA, 1969, p. 156).

É neste momento que o processo de modernização da agricultura com as tecnologias do pós-guerra começa a chegar ao município. Inicia-se a introdução da mecanização, a compra de motores estacionários para trilhadoras, a melhoria genética dos cultivos e criações e a utilização de insumos químicos. O cultivo do trigo para o mercado se intensifica com o apoio governamental. Nos tratos culturais ainda predominava a tração animal com juntas de bois, poucos tratores foram introduzidos até a década de 1980. Nem todos os agricultores conseguiam comprar os novos insumos e equipamentos, aumentando a diferenciação que já ocorria nas décadas anteriores.

Neste sentido, as políticas do Ministério da Agricultura visavam à modernização agrícola, objetivando avançar na produção de trigo, com aplicação de novas tecnologias

financiadas pelo Banco do Brasil de Palmeira das Missões. No ano de 1956, o governo Federal preocupado com o armazenamento do trigo produzido, construiu silos e armazéns em diversos municípios gaúchos, dentre eles, Frederico Westphalen. Para a administração destes silos foi incentivada a criação de cooperativas tritícolas. Assim, logo após a conclusão das obras do silo, funcionários do Ministério da Agricultura com a participação de algumas lideranças locais formataram o estatuto social e fundaram, em 10 de novembro de 1957, a Cooperativa Tritícola de Frederico Westphalen Ltda. A COTRIFRED foi uma grande promotora da modernização agrícola no município e região.

No ano de 1959 o processo de modernização da agricultura local ganhou apoio de outro importante instrumento, quando da implantação do escritório da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (ASCAR), apenas quarto anos após ser criada no Estado. A ASCAR tinha por objetivo a difusão de técnicas e práticas modernas para melhorar a produção agropecuária, através da assistência técnica e o incremento do crédito rural.

O sistema de produção de trigo (grãos) é o que absorveu as novas tecnologias da modernização da agricultura neste período. Gerando grande diferenciação entre os agricultores, principalmente relacionada às condições de relevo, avançando nas áreas que possibilitavam a mecanização do cultivo.

Ocorreram transformações no tradicional sistema de produção de porco banha. As raças de suíno tipo carne começam a ser usadas, com a entrada do duroc, que possuía aptidão para banha e carne. A criação, que no período anterior era feita em piquetes no chão (encerras), passa a ser realizada em instalações de madeira (chiqueiros), mas ainda sem grande investimento de capital. A comercialização é realizada no frigorifico local.

Outro fato histórico, que marca este período, é a construção da Catedral (1950 a 1960), e só foi possível pela força e a dinâmica da agricultura colonial e os esforços dos habitantes do distrito. Não há dúvida que esta mobilização da comunidade e a própria construção ajudaram no processo de emancipação em 1955, e, posteriormente, na criação da Diocese (1961). Assim, o novo município consolidou-se como centro (católico) de uma grande região, posteriormente assumindo também a centralidade econômica e política.

Este período é muito fértil em relação às mobilizações sociais no Brasil. Em âmbito local, a própria Igreja Católica promove a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (1968), numa ação com a Frente Agrária Gaúcha (FAG,) tentando impedir o avanço de organizações e movimentos considerados comunistas, que objetivavam a implantação da reforma agrária no Brasil. A FAG possuía uma orientação reformista conservadora, transmitindo ao STR local uma função historicamente assistencialista. Segundo Dalla Nora

(2002, p. 4) “a prática sindical no município gravitou em torno do assistencialismo com a instituição do FUNRURAL, somando-se a atividades reivindicativas de assistência técnica, cursos de capacitação e aposentadoria ao trabalhador rural”. Não se encontram registros da pauta da reforma agrária nas ações do sindicalismo rural local. Debates sobre o tema irão surgir no final da década de 1990 com os programas de crédito fundiário.

A dificuldade do acesso à terra no município obrigou várias famílias, que queriam permanecer como agricultores, a migrarem para outras regiões de fronteira agrícola. Também, o êxodo rural intensificou-se a partir deste período (início dos anos 1970).

A modernização conservadora ganha força, no final deste período, com o aumento da utilização do crédito para financiamento de novas tecnologias, que é potencializado com a abertura da agência do Banco do Brasil no município, no ano de 1968. A introdução do cultivo da soja marca a entrada de um novo período na dinâmica da agricultura local, e a introdução de um sistema de produção com o uso mais intenso de tecnologias modernas, como a mecanização, a quimificação e o melhoramento genético nos cultivos e criações.