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5 A DINÂMICA DA AGRICULTURA DE FREDERICO WESTPHALEN

5.2 O ZONEAMENTO AGRÍCOLA DE FREDERICO WESTPHALEN

5.3.2 Zona agrícola descapitalizada

Está situada na parte central do município, dispondo-se longitudinalmente, seguindo desde a extremidade sul, na divisa com Seberi, até o norte, na divisa com Caiçara. É a maior zona agrícola do município, com área de 11.970 hectares (45,6%), abrangendo as comunidades do Alto Alegre, Pedras Brancas, São Bráz, Vila Encruzilhada, Linha Santos Anjos, Vilinha, Barra Grande, Querubim e Ponte do Pardo e parte das comunidades da Linha Progresso e Vila Carmo.

Caracteriza-se por apresentar as maiores declividades, com um relevo escarpado formado, predominantemente, por encostas íngremes com grande gradiente de declividade, com altitudes variando de 500 até 300 metros. Segundo Cunha et al (2011) esta zona é composta pela borda dos espigões e os vales íngremes, profundos e estreitos, apresentando-se em forma de “V”. A maioria dos declives ultrapassa o gradiente de quarenta e cinco graus que, de acordo com o Código Florestal Brasileiro (Lei Federal 12.651/2012), são áreas de preservação permanente (BRASIL, 2012). Nos vales as áreas de várzeas são estreitas, caracterizando uma zona agrícola com dificuldades de cultivo mecanizado.

Nas áreas de relevo fortemente ondulado predominam os solos da associação ciríaco/charrua, classificados como neossolo litólico eutrófico, da unidade de mapeamento charrua. Nos vales predomina o cambissolo háplico ta eutrófico, da unidade de mapeamento ciríaco. Os fatores limitantes ás práticas agrícolas, além da forte declividade, estão relacionados a pouca profundidade e a grande ocorrência de fragmentos de rocha (MISSIO, 2003; CUNHA et al, 2011).

De acordo com o sistema de aptidão agrícola, estas áreas de terras são classificadas por Cunha et al. (2011, p. 14), como:

“regular” para pequenos produtores por serem muito férteis (produzem, onde é possível cultivar, boas colheitas sem adição suplementar de nutrientes) e, “restrita” a médios produtores pelas dificuldades impostas ao uso em lavouras mais amplas (pedras, rochas e declives). No geral, essas terras férteis não devem responder à adubação para as médias colheitas de uma agricultura familiar. A água é o fator limitante dos cultivos de verão. Estas terras comportariam alguns cultivos perenes

específicos e silvicultura, em uma agricultura não tecnificada (classe VII-1se de capacidade de uso das terras). A situação vigente, que tende a se perpetuar, é a de uma agricultura de pequenos camponeses, onde cultivos perenes pouco a pouco poderão ser introduzidos, além dos cultivos anuais necessários à sobrevivência das famílias.

Desta forma, a recomendação técnica para esta zona, quanto ao uso agrícola, é a implantação de pastagens cultivadas ou cultivos perenes, como silvicultura e/ou cultivos de frutas, que devido às condições climáticas, pode ser frutas tropicais. Já que os problemas com a erosão limitam o cultivo e preparo do solo, necessitando práticas permanentes de conservação do solo. Observam-se problemas de desgaste e erosão do solo, principalmente, nas áreas de culturas anuais. Mesmo não sendo zona agrícola própria para culturas anuais, durante várias décadas foi realizado o cultivo do solo com tração animal e, em algumas UPFs, com tração mecanizada.

Hoje, o cultivo de culturas anuais ocorre, predominantemente, nas áreas mais planas e em lavouras sistematizadas (com retirada de fragmento de rocha) em pequenas áreas descontinuas que permitem a mecanização, diminuindo a utilização da tração animal. Por outro lado, devido à sua alta fertilidade natural, a regeneração da vegetação nativa é rápida nas áreas “abandonadas” que não são mais usadas para a produção agropecuária. Atualmente, predominam áreas com vegetação de capoeira muito vigorosa, tornando esta a zona agrícola com maior cobertura vegetal, com matas nativas e regeneradas em plena sucessão vegetal.

Outra característica é a diversificação dos sistemas de produção (Figura 8). São encontrados sistemas de produção de leite, fumo, bovinocultura de corte, grãos e diversificado (olericultura, fruticultura e agroindústria familiar).

Na última década, percebe-se um movimento de entrada dos sistemas de produção de suínos e aves, integrados ao complexo agroindustrial, com grande montante de capital construindo instalações de larga escala de produção, realizados por agricultores patronais e investidores capitalistas. Isto se deve pelo preço menor das terras em relação às outras duas zonas agrícolas, principalmente, por não ser a zona preferencial para a produção de grãos e expansão da zona urbana.

Outros dois movimentos, observados nesta zona são a ampliação das áreas de reflorestamento comercial e a introdução de sítios e chácaras de lazer. As UPFs são desativadas da produção agrícola buscando aproveitar a oportunidade apresentada pelo mercado de terras, onde investidores residentes na zona urbana, principalmente, comerciantes, industriais e funcionários públicos, buscam comprar terra para implantar áreas de lazer e, em alguns casos, produzir seus alimentos, a maioria de forma orgânica.

Nesta zona agrícola predomina a categoria dos agricultores familiares, observando, na última década, a ampliação do número de moradores, de investidores capitalistas e, consequentemente, de trabalhadores rurais.

Figura 8 – Paisagem predominante da região descapitalizada e a diversificação da produção

Fonte: Arquivo do autor.

Configura-se numa zona agrícola descapitalizada, fruto da dinâmica histórica da agricultura, condicionada por diversos fatores. Dentre estes, o relevo com maior declividade confere UPFs com menor SAU e impossibilita a mecanização, dificultando, até mesmo, práticas com tração animal. O cultivo de culturas anuais em áreas com fortes restrições, no decorrer de anos, ocasionou a degradação e diminuição da fertilidade do solo, diminuindo os rendimentos das culturas agrícolas e da renda agrícola. Assim, a maioria das UPFs, apresenta menor infraestrutura social e produtiva, determinado o nível de descapitalização. Coincidentemente, a zona agrícola que apresenta grandes restrições naturais às práticas agrícolas é a mesma que predominam agricultores descapitalizados. Estas restrições, ao longo do tempo, levaram a uma diferenciação dos agricultores dentro da zona agrícola e com os agricultores das outras zonas agrícolas, que conseguiram se capitalizar.