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4. Resultados e discussões

4.10. Percepções do Professor Sugestões

Nesse capítulo, que finaliza as entrevistas dos docentes, foi solicitado sugestões para melhorias no curso Técnico Integrado em Agropecuária. Notou-se, em concordância aos autores que ampararam essa dissertação, a necessidade de valorização dos saberes prévios e da própria

história do educando como ponto de partida para a educação formal e, ainda, no cumprimento de sua função social, a educação não deve estabelecer o caminho a ser tomado para o estudante, mas auxiliá-lo com instrumentos que permitam seu desenvolvimento e consequentemente, suas escolhas:

Tentar ao máximo possível o conhecimento que a gente tem passar pra eles poderem utilizar lá, mas principalmente, uma coisa que eu sinto falta aqui, é saber a origem que eles já sabem mais ou menos. O que acontece é que a gente testa o que ele aprendeu aqui dentro, não sabe direito o que eles vêm lá de fora. Então falta, por exemplo, aquele seminário, semana de química, semana de ciências, que a gente tinha no ensino médio. E você mostra a ciência pro menino e ele vai buscar o que aprendeu lá na agricultura, o que ele tem lá de fora ele vai trazer pra agregar, oh, professor, eu vi isso aqui lá fora e isso tem muito a ver com que você tá ensinando, você tá aprendendo com o aluno o que ele sabe de origem, as feiras de ciências mostram muito isso. E o aluno às vezes tem a ideia e você vai ver se o aluno é produtivo ou não, pra que caminho ele vai ou não e você consegue acessar a cabeça do aluno. (Docente B)

A escola poderia utilizar, com os alunos de uma maneira geral, algumas metodologias, que eu não tenho aprofundamento em relação a ela, mas eu sei que existe. Por exemplo, o pessoal da educação do campo, eles fazem o resgate da história do estudante, a história de vida, como é que eles chegaram aqui com o propósito até de valorizar o reconhecimento deles, etc., de vários saberes, de vários aspectos, do aspecto social, do aspecto

econômico, até político mesmo, que às vezes a gente percebe que esses alunos, muitos deles pela sua simplicidade, vindo de família humilde, eles recebem um choque quando chegam aqui e infelizmente a gente não tem uma formação no sentido de recepcioná-los adequadamente, de conversar, acolher, situá-los no mundo. Olha, você tá aqui, como é que é a sua história enquanto agricultor? Não é só você que está assim, outros agricultores também estão, existe uma história de revolução verde e aconteceu isso e isso. Eles têm isso na disciplina de agroecologia, mas talvez eles não se vejam naquilo que o professor fala, porque é uma aula e uma aula obrigação e ele não sente parte, apesar do professor falar aquilo. Às vezes a gente, por uma dinâmica da escola não tem como inseri-los nesse contexto, e de uma maneira geral, não só pro nosso estudante que vem do meio rural, mas de uma maneira geral eu acho que a gente poderia, essa carência que eles trazem enquanto deficiência de formação, acho que a escola deveria ter obrigação de ter um planejamento especial para os estudantes em relação a isso. E que não ficasse a cargo de um professor que vai fazer a revisão, mas todos os professores daquele ano, do primeiro ano do ensino integrado deveriam tar envolvidos nesse processo. (Docente C)

Eu acredito que a função social não é que a gente tenha, na escola, determinar o que o estudante vai querer fazer ao longo da vida dele. Não, quem somos nós pra isso? Pra chegar e determinar assim? Mas também a gente que possibilitar já que o sujeito tem origem no campo, ou em qualquer outra lógica ali no ambiente periurbano, até porque eu tenho desconstruído muito essa coisa da dicotomia de campo/cidade, onde é que acaba o campo e começa a cidade. Existe um erro censitário dos 5.400 municípios que nós temos

no Brasil 4.600 tem menos de 20.000 habitantes, então a nossa grande maioria é agrícola, mesmo numa cidade dessa como Planaltina, nós não produzimos nada mais além do que alimento. Não tem outra produção de nada, ou serviço ou alimento. É a base da economia aqui: serviço e alimento, e a maioria do dinheiro é supermercado, sacolão, restaurante tudo ligado a uma cadeia produtiva de alimento. Então não tem como você chegar num sujeito desse aqui e falar e que ele tem que sair da roça, que quilo não dá futuro pra ninguém, que aquilo é tudo atrasado, o povo que vive na roça não conhece nada. Isso tá muito superado pra mim. Você tem que resgatar tudo aquilo que fez reproduzir aquele sujeito lá durante séculos naquela época deles e melhorar a situação de vida deles, desenvolver tecnologia que seja apropriada pra que melhore a situação dele e ele permaneça naquele lugar. Não é ele sair de lá que ele vai encontrar algo melhor em outro canto. Porque bom não é o lugar o bom são as pessoas, é elas estarem satisfeitas com a qualidade de vida delas. Então, pra que fomentar esse negócio? Se tu é um técnico agrícola e gosta de produzir alimento, então vamos produzir de uma maneira que seja legal, sustentável que atenda a necessidade de outras pessoas. Então, eu acho que a escola técnica é nesse sentido. E na nossa arrogância de achar que o que é melhor para o sujeito é esse modelo de vida, a gente não tem que apresentar um modelo de vida, primeiro vamos investigar e fazer uma coisa participativa e você pode ter certeza que ao final desse processo você vai verificar que a qualidade da construção do conhecimento vai ser muito maior, porque ele vai sair de um todo, ele vai sair de uma empresa multidimensional e vai mexer com a realidade das pessoas. Eu acho que a educação cumpre seu papel social dessa forma. (Docente D)

Foi relatado por um docente a importância de uma relação mais próxima entre professor e estudante. Aqui fez-se inferência que no passado essa proximidade era mais presente no cotidiano escolar e registrado de maneira positiva e determinante no processo ensino- aprendizagem:

Eu vejo hoje que a dificuldade desse acolhimento, me parece que tem uma distância de aluno professor, eu acho que quando eu estudava aqui a gente era muito mais próximo do professor, aquele professor que era responsável pelo setor, que estava no campo, que tem o técnico responsável, mas além do técnico tinha um professor que estava com o técnico lá, e os alunos eram mais próximos. Então acho que é uma aproximação mesmo. Não tem outro caminho. (Docente A)

E, por fim, relatou-se a carência de retroalimentação do sistema; isto é, o diálogo com egressos do curso com a finalidade de aperfeiçoar o curso nas demandas não atendidas e aproximar-se das tendências de mercado cada vez mais dinâmicas:

Esse feedback, eu acho que se nós tivéssemos um acompanhamento melhor de nossos egressos de inclusive melhorar nosso atendimento aos discentes pra que eles não sofressem certos traumas após a conclusão do curso, agora de que forma esse acompanhamento de egresso poderia ser feito, eu não parei ainda pra analisar mais profundamente o caso. (Docente E)