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4. Resultados e discussões

4.6. Relato do Professor Diálogo sobre o percurso pessoal, escolar e familiar

O campus Planaltina destaca-se por inúmeras diversidades em comparação a outras instituições de ensino. A começar pelo curso técnico em agropecuária integrado ao ensino médio, a residência na própria escola de quase metade dos estudantes, a diversidade de idades, cidade de

origem, capital social, capital econômico, capital cultural e também por ter em seu corpo docente número significativo de ex-estudantes do campus no Curso Técnico Integrado em Agropecuária. Tal como vimos na Metodologia, foram entrevistados cinco professores, três com experiência em docência superior a 20 anos e dois com experiência menor que esse período. Dentre eles, têm-se três agrônomos, um químico e um licenciado em ciências, agropecuária e zootecnia. Três dos entrevistados cursaram ensino fundamental na modalidade regular, um de forma integral (dois turnos) e um cursou o ensino fundamental após os dezessete anos, na modalidade supletivo. Três docentes fizeram o ensino médio e técnico no próprio campus Planaltina e os outros dois, ensino médio tradicional. Aos ex-alunos do campus, na época denominado Colégio Agrícola de Brasília nota-se o relato do esforço individual para conseguir estudar:

Foi técnico, e fiz aqui no Instituto Federal que na época chama Colégio Agrícola de Brasília. De 1997 a 1999. Saí de casa para estudar, quando cheguei achei que tinha vaga de residente, mas não tinha, e eu tive que me virar para achar lugar para ficar. Durante todo o período do curso, e principalmente durante o primeiro ano, eu tive apoio de professores, de pessoas conhecidas, colegas, que eu passava tempo nas casas e ia revezando, né. No segundo ano eu já consegui um estágio e já consegui pagar um aluguel de um quartinho, e foi aí que fui conseguindo melhorar. (Docente A)

Não. Eu mudei do interior para Belo Horizonte e lá eu fiz até a 4ª série. Quando eu completei 17 anos eu vim sozinho pra Brasília e aqui eu comecei a trabalhar no comércio e o SESC que dá assistência aos comerciários abriu o supletivo na época, 1977, e eu trabalhava durante o dia para o sustento, pagava aluguel e a noite eu estava cursando o supletivo. Aí com um ano e meio eu conclui o primeiro grau e foi quando tomei conhecimento do Colégio Agrícola de Brasília. Aí tinha umas provas de seleção, participei do processo seletivo e consegui vir para a escola. Em princípio eu não tive condições de vir no primeiro momento porque eu não consegui a residência, que na época era internato, e era diurno e eu não tinha condição de trabalhar noturno para manter o aluguel, aí eu esperei mais um período, quando mais uma vez eu consegui passar e juntar as duas coisas: a residência e o internato e fiz o curso, entrei em 1980 e conclui em 1982 o curso técnico. (Docente E)

Após a graduação todos continuaram os estudos, tendo entre os entrevistados três Doutores, um deles em educação do campo; um Mestre e um Especialista. Três dos entrevistados tiveram influência do meio rural de origem:

Com certeza. Eu achava maravilhoso todos os dias ir pra roça, ajudar os meus pais e coisa, na hora de ir para escola sair da troça, passar no riachinho tomar um banho e voltar, encontrar com o irmão que estava vindo para trocarmos o uniforme porque só tinha um uniforme, eles voltavam pra roça e eu ia para a escola. Então isso eu achava muito bom. E via uma condição de fartura, não nos faltavam muita coisa. Depois que

voltamos pra favela, fomos morar dentro da metrópole, ah, gente, a coisa foi muito difícil. Eu sempre quis voltar às origens e quando tomei conhecimento do colégio Agrícola de Brasília e vim conhecer aí a coisa parece que voltou no tempo. Um sonho, né? Eu vi na formação profissional uma chance e a oportunidade de voltar ao meio rural e de melhorar a qualidade de vida minha e dos meus familiares. Isso foi decisivo na minha vida. (Docente E)

Todos relatam experiências positivas vivenciadas enquanto estudantes do ensino básico e mantidas na atividade docente atual.

Com certeza. Por exemplo, a questão da praticidade. Tem coisa que eu falo na teoria, mas se eu não fizer a gente esquece. Então eu lembro assim: com meu professor a gente fazia isso, a gente ia lá no campo, a gente fazia assim, então é legal. Por exemplo: Eu tenho uma aula de coleta de solo, então tem toda uma teoria, a gente vai lá no campo e faz a coleta pra eles verem que tem todo um preparo, não é só ir lá e pegar o solo, a gente tem que cotar direitinho pra não contaminar a amostra, a gente tem que fazer a amostra e ver o que que tem de nutriente nele, e se a gente contaminar a gente vai tá contaminando a amostra e vai dar um resultado que não é aquilo que a gente esperava. Vai dar um resultado falso e a gente vai estar considerando como verdadeiro. (Docente A)

Um ponto forte no meu ensino médio é que os professores explicavam muito o que sai no vestibular. Eles pegavam de vestibular e utilizavam isso tanto nos exercícios quanto

em provas. Acho isso um ponto forte porque te adequa a fazer vestibular, tanto é que uso isso hoje nas minhas aulas, eu só uso questões do ENEM, questão de vestibular ferrado, Universidade Federais, Estaduais, porque isso ajuda o aluno a ter conhecimento pra fazer qualquer prova. Foi exatamente isso, que eu uso até hoje esse método e funciona muito bem. (Docente B)

É difícil. Porque às vezes a gente faz as coisas sem pensar...eu não sei se eu repito a aula em si, mas assim, o aspecto relacionado é que não existiu uma distância grande entre professor e aluno, de ter uma separação hierárquica muito grande, apesar de ser um período ditatorial, não existia essa separação e talvez eu tenha trazido essa proximidade, apesar de eu ser uma pessoa tímida e arredia eu nunca tratei o aluno de uma maneira hierárquica e distante, nunca procurei isso, talvez eu tenha trazido isso. Como na época as curriculares que eu trabalho não eram tão evidentes aí fica difícil relacionar né. Não guardo muita coisa não. (Docente C)

Talvez essa lembrança da época da minha escola primária que tinha aquele cuidado. Nós tínhamos uma professora que era professora, diretora, coordenadora, enfermeira, era tudo em todas as séries. Era uma pessoa só que cuidava de nós todos. Ela dava conta de dar aula de todo o primário e diariamente ela tomava lição, acompanhava o aprendizado, ela não liberava ninguém no final do dia se não tomasse a lição e colocava no caderno um confeito, um 10 na prova era um chocolate e tinha dia do mês pra pagar. Então era uma pessoa muito cuidadosa, muito humana e muito família. Se eu for pegar uma experiência

positiva eu me remeto à dona Luzia. Ela se preocupava com o aprendizado e como encaminhar o aprendizado do sujeito. (Docente D)

São várias: meus professores, principalmente meus professores do Colégio Agrícola, são meus ídolos, ao quem eu procuro ao máximo me aproximar da forma que eles trabalhavam, com a responsabilidade, com o respeito, o compromisso com que eles desenvolveram as atividades docentes deles em benefício a minha formação. Foi maravilhoso, e como eu adorei eu procuro aproximar ao máximo desse exemplo que foi colocado a mim. (Docente E)

4.7. Relato do Professor - Da chegada ao campus e as percepções sobre o ambiente de