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De acordo com revisões sistemáticas recentes sobre os resultados de efetividade de programas preventivos ao uso de drogas (Faggiano et al., 2008; Foxcroft & Tsertsvadze; 2012), programas que possuem metodologias interativas, como a utilização de diferentes dinâmicas e atividades lúdicas na sua execução, possuem maior grau de efetividade

em resultados na diminuição ou redução nos padrões de uso de drogas. Segundo a revisão sistemática de Foxcroft e Tsertsvadze (2012), o programa Unplugged, juntamente com Life Skills Program e o Good Behavior Games, são todos compostos por metodologias interativas e atualmente possuem os melhores indicadores de resultados entre programas preventivos voltados para crianças e adolescentes.

No entanto, com objetivo de obter informações relevantes que pudessem indicar a aceitabilidade do programa preventivo diante do público-alvo, parte da pesquisa avaliativa sobre a satisfação dos educandos buscou identificar as percepções positivas e negativas dos educandos participantes a respeito do modo de execução e das diferentes metodologias utilizadas pelo programa. Para obter estas informações, duas estratégias foram utilizadas para indicar os aspectos positivos e negativos a respeito da metodologia: a satisfação dos educandos em relação a determinadas aulas avaliadas positivamente ou negativamente e a discussão com os educandos nos grupos focais a respeito das potencialidades e fragilidades no modo de execução das aulas.

De acordo com os dados quantitativos levantados pela pesquisa avaliativa, foi possível aferir que as aulas que os educandos participantes menos gostaram foram a aula 1 (Abertura do Unplugged) e a aula 2 (Fazer parte ou não de um grupo) com as respectivas frequências de 23% e 8,3%. Estas mesmas aulas foram destacadas pelos educandos participantes como as que mais gostaram, com frequências de 13,2% e 12%.

Ambas as perguntas no questionário de satisfação EU-Dap obtiveram um missing das respostas muito alto, sendo de 31,8% para as aulas que mais gostaram e 29,4% para aulas que menos gostaram do total de questionários. É possível que o instrumento tenha encontrado limites de efetivamente captar as dimensões positivas ou negativas referentes ao interesse ou atratatividade das aulas do programa na perspectiva dos educandos participantes.

De acordo com os dados qualitativos emergentes do questionário, houve também uma variabilidade de respostas para as aulas avaliadas positivamente e negativamente, não permitindo indicar as razões pelas quais os educandos elencaram estas aulas. Nos grupos focais, foi possível perceber que os educandos não explicitavam as aulas especificamente pelo título da unidade e sim pelo tipo de atividade desenvolvida em sala de aula. Por exemplo, na aula 2 (Fazer parte ou não de um grupo), o professor solicitava que dois educandos se retirassem da sala de aula enquanto organizava com o restante da turma determinadas consignas que seriam necessárias para entrar ou não em

um grupo. Nos grupos focais, a categoria 3.1.1. buscou expressar como esta atividade foi descrita e avaliada positivamente por todos os grupos.

Da mesma forma, a aula 5 (Fumando a droga cigarro – informe- se) não foi descrita pelo seu título, mas foi avaliada positivamente por quase todos os grupos focais realizados na pesquisa, devido a atividade de encenação de um tribunal. A partir do engajamento numa discussão de prós e contras entre os educandos, a aula foi avaliada positivamente como uma forma interessante e diferente de aprender sobre a prevenção ao uso do cigarro.

Portanto, um dos pontos importantes a serem discutidos nesta análise dos resultados sobre as aulas foram os limites do questionário de satisfação EU-Dap em efetivamente aferir os dados, já que os grupos focais permitiram indicar que os educandos destacam o tipo de atividade realizada em sala de aula. Há limites também para discutir os dados encontrados sobre as aulas, já que não foram encontrados artigos, publicações ou relatórios que expressassem o grau de interesse dos educandos em relação às aulas em outros contextos.

Porém, em relação as atividades desenvolvidas pelo programa, a metodologia foi um dos pontos fortes na implementação do Unplugged na perspectiva dos educandos. De acordo com os dados qualitativos do questionário EU-Dap, a segunda categoria mais expressiva, com 126 respostas, foi „Metodologia de dinâmicas‟. Esta categoria sintetizou as opiniões positivas dos educandos em relação ao modo interessante e divertido das atividades desenvolvidas em sala de aula pelo programa, como uma forma diferente de aprender os conteúdos.

Da mesma forma, a partir dos grupos focais emergiram categorias que reiteravam as potencialidades da metodologia do programa na perspectiva dos educandos. Os elementos temáticos 2.1.1. Aprender através de dinâmicas, 2.1.2. Interatividade na sala de aula e 2.1.3. Construção de objetivos e metas, expressaram as opiniões positivas dos educandos em relação às aulas do programa.

Em relação aos pontos negativos na perspectiva dos educandos sobre a metodologia, as críticas consistiram nas dificuldades dos professores executarem as aulas diante da bagunça em sala de aula (elemento temático 2.2.1.) e a duração curta das aulas (elemento temático 2.2.2.). Apenas uma crítica em relação à metodologia foi diretamente ao tipo de atividade desenvolvida, de acordo com o elemento temático 2.2.3., que expressava a dificuldade de alguns educandos em se sentirem a vontade para participar das dinâmicas.

A bagunça em sala de aula também apareceu como um dos aspectos negativos do programa na dimensão qualitativa do questionário

de satisfação EU-Dap, como a segunda categoria mais expressiva. Segundo Caria et al. (2013), um dos dificultadores no processo de implementação de programas com metodologias interativas como Unplugged são as dificuldades de cooperação dos educandos e o manejo em sala de aula do professor na implementação das práticas, o que deve compor necessariamente o quadro de técnicas e habilidades a serem desenvolvidas nas formações com os professores aplicadores.

Esta parece ter sido a experiência do GF72, de acordo com as reflexões suscitadas com os educandos. Em diversos momentos da discussão com este grupo, foi destacada as dificuldades da professora em conseguir manejar a bagunça em sala de aula e a colaboração dos educandos durante a implementação do programa. Isto parece ter repercutido na compreensão das atividades e na participação da turma, já que os educandos não identificaram mudanças significativas durante a implementação do programa e também relataram não compreender boa parte das atividades realizadas pela professora.

Isso parece destacar a importância de identificar as habilidades necessárias do professor que possa mediar as atividades do programa, já que as dificuldades no manejo da sala de aula podem interferir na implementação do programa em determinadas turmas. Além disso, as experiências de outros grupos focais que não tiveram problemas com a colaboração dos colegas no decorrer da implementação do programa parece indicar que as relações estabelecidas entre o professor aplicador e os educandos pode ser um importante indicador na implementação de programas como o Unplugged.

O próximo objetivo da pesquisa avaliativa foi identificar as percepções dos educandos em relação do professor enquanto mediador do programa. A síntese e discussão dos resultados serão explodaros a seguir.

6.4 Percepções dos educandos em relação a atuação do professor