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Esta pesquisa teve por objetivo geral compreender as experiências sociais das professoras que trabalham com crianças de 4 e 5 anos de idade em uma Escola Municipal de Educação Infantil – EMEI da Rede Municipal de Educação do Município de Belo Horizonte – MG. Neste Capítulo, no qual apresentaremos o percurso que vai da escolha metodológica à construção e análise dos dados desta pesquisa, abordaremos: o processo de expansão da EI na Rede Municipal de Educação – RME na qual realizamos o estudo; a instituição pesquisada em seu funcionamento e espaços; as salas das duas turmas acompanhadas; as participantes; as duas turmas: uma de crianças de 4 anos e outras de 5 anos de idade; e por último, o período da observação participante e realização das entrevistas durante o ano de 2017.

Realizamos uma pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) e o trabalho empírico teve como principais instrumentos metodológicos a observação participante registrada em Diário de Campo e as entrevistas narrativas (TEIXEIRA; PÁDUA, 2006). O trabalho em campo – realizado de março a dezembro de 2017 – consta com o registro de 244 horas de observações em duas turmas: uma turma de crianças de 4 anos e outra de crianças de 5 anos de idade. Junto ao período da observação participante realizamos 19 horas e 35 minutos de entrevistas narrativas com 5 professoras: as 2 professoras participantes do estudo; duas professoras que, também, exerciam docência nas duas turmas acompanhadas; e a Coordenadora Pedagógica da EMEI. O roteiro para as entrevistas narrativas (APÊNDICE C) considerou os objetivos da pesquisa e os temas que sobressaíram no período de observações.

Antecedendo a realização das entrevistas, elaboramos uma ficha para obtermos informações relativas aos dados pessoais, profissionais, acadêmicos, formativos e condições de trabalho de cada professora (APÊNDICE D). Esta ficha, preenchida anteriormente pelas entrevistadas – com seus dados factuais – favoreceu o desenvolvimento do roteiro que tinha como foco apreender os pontos de vista e percepções das participantes sobre o desenvolvimento do trabalho e as interações com as crianças nas duas turmas observadas.

Apesar do roteiro ter sido elaborado previamente, as nossas conversas seguiram o fluxo discursivo das professoras, com pouca interferência da pesquisadora. A modalidade de entrevista narrativa foi escolhida por considerarmos que estas poderiam “[…] representar

possibilidades interessantes de conhecer os modos como os sujeitos reconhecem a si mesmos e aos outros [...]” (TEIXEIRA; PÁDUA, 2006, p. 11). Esta modalidade de entrevista foi instrumento privilegiado neste estudo, pois os relatos dos caminhos percorridos pelas professoras participantes, as relações que estabeleceram entre suas vidas e o contexto histórico e sociocultural, nos possibilitaram perceber nuances que, envolvidas em suas histórias pessoais, evidenciavam também seus processos de formação. Esta modalidade de entrevista – juntamente à observação participante – se revelou adequada na conversação sobre os processos de subjetivação que emergiam em nossas interações com as professoras.

A entrevista narrativa, assim como as diversas outras formas de entrevistas que coexistem, se configura como uma situação de encontro entre duas pessoas (pesquisador e pesquisado) com “diferentes histórias, expectativas e com diferentes disposições afetivas” (SZYMANSKI, ALMEIDA, 2010, p. 87). Para Souza (2006), mesmo que o pesquisador dirija a conversa de maneira sutil, é o entrevistado quem determina o que contar de sua história. Cabe a ele decidir o que deve ou não ser contado, não importando a cronologia dos acontecimentos e sim o percurso vivido. Teixeira e Pádua (2006) corroboram essa perspectiva e vão além, enfatizando que cabe ao/à pesquisador/a diminuir a tensão proveniente das diferentes expectativas e disposições afetivas que se intercruzam no processo de conversação.

Antes de tudo, a entrevista é um encontro sócio-antropológico, é uma relação intersubjetiva entre sujeitos que falam e ouvem, que sentem, que pensam, unindo afeto, razão e emoção. Nesta relação, cabe ao/a pesquisador/a a busca da informalidade, da espontaneidade e da confiança dos sujeitos que lhe emprestam suas vidas e histórias; pessoas que ao longo de suas narrativas lhes confiam suas lembranças, seus sentimentos, seus pensamentos; suas dificuldades, seus sonhos e quimeras. Quiçá, sua intimidade. Trata-se de um encontro entre sujeitos, com diferentes registros culturais, que exige do/a pesquisador/a uma fina escuta, para que seja um sensível e fecundo encontro. Neste sentido, é preciso haver da parte do/a entrevistador/a, uma sempre e renovada delicadeza no cuidado e zelo com o/a entrevistado/a. Sim, a delicadeza é bem maior e a exigência primeira das chamadas entrevistas em todas as suas modalidades (TEIXEIRA; PÁDUA, 2006, p. 6).

As reflexões das autoras nos dizem das diferentes expectativas e disposições afetivas dos envolvidos e, nestas situações de conversação que tem por base a confiança e a delicadeza e o cuidado com o outro. Nesse processo, Teixeira e Pádua (2006) consideram alguns pontos essenciais como formas de evitar uma comunicação atravessada pelas relações de poder, entre eles: o respeito ao tempo de ambos os atores envolvidos no processo de entrevista

(tempo do entrevistado e do entrevistador); a preocupação por parte de quem entrevista em perceber os ditos, os não ditos, os interditos e contraditos; a escuta sensível e a construção de um ambiente de cumplicidade entre pesquisador e pesquisados. Trata-se de evitar a comunicação violenta, o que pressupõe a diminuição das relações de poder, envoltas na interação conversacional entre o entrevistador/a e o entrevistado/a (BORDIEU, 2001).

Durante o período em campo, ano de 2017, especialmente o processo das entrevistas nos exigiu uma escuta sensível, própria ao lugar do ouvinte durante uma narração das lembranças advindas de experiências – um mergulho no âmago das experiências – as quais foram narradas pelas professoras. Não desconsiderando os limites de uma situação discursiva, esta metodologia de investigação tem como proposta a escuta atenta dos sujeitos, que:

[…] generosamente, emprestam e confiam suas vidas aos/as entrevistadores/as, que delas recolhem não somente os fatos, mas os sentidos, os sentimentos, os significados e interpretações que tais sujeitos lhes conferem. Seja para que suas vidas, identidades e histórias possam ser conhecidas, interrogadas, registradas e (e) laboradas, seja para discutir temáticas e questões da vida humana, das sociedades e das culturas, a partir da compreensão de seus próprios protagonistas, seja para que possam ser reveladas, celebradas e, posteriormente, guardadas, ou melhor, veladas, nos acervos históricos, como fonte documental (TEIXEIRA; PÁDUA, 2006, p. 2).

Em nossa pesquisa com as professoras na EI, assim como Teixeira (2007, p. 427), foi necessário “[...] tocar na docência. Seja tentando alcançá-la à procura da matéria de que é feita; seja observando-a com um olhar de estranhamento, como quem a vê pela primeira vez; seja tentando sentir sua textura e decifrar seu texto [...]”. Foi nesse caminho que buscamos compreender as experiências sociais das participantes a partir de suas histórias de vida. Assim como Teixeira e Pádua (2006), compreendemos que a entrevista narrativa é um emaranhado de fios, pontos e planos cujas conexões devem ser percebidas pelo/a investigador/a. Nessa relação, os silêncios presentes nas falas das narradoras tornam-se tão importantes quanto quaisquer outros indícios, desde que registrados, contextualizados e interrogados.

Diante disso, nossos esforços foram no sentido de construir um quadro teórico- metodológico capaz de evidenciar experiências sociais das professoras na EI, não só por meio das falas das professoras, mas também pelas observações de suas práticas que foram registradas em Diário de Campo de modo bem detalhado. Durante a entrada e permanência em campo, todas as nossas ações foram cuidadosamente preparadas para além dos aspectos formais da legislação sobre ética em pesquisa. Estivemos atentas à nossa postura de diálogo e

de respeito com as professoras e crianças. Assim, alguns registros – em Diário de Campo – foram realizados após a saída da instituição a fim de evitar constrangimentos para os sujeitos do estudo, conforme nos orientam Bogdan e Biklen (1994).

Estes registros constam descrições do período de observações – março a dezembro de 2017 – das impressões e também do que, por vezes se configurou como evidências das interpretações que as professoras atribuíam à determinados acontecimentos. Também escrevemos sobre a dinâmica do funcionamento da EMEI e formas de organização do trabalho das professoras. Os dados construídos foram interpretados por meio da análise de conteúdo do tipo categorial com o uso da técnica temática (BARDIN, 2011), o que nos permitiu identificar e delimitar aspectos significativos das narrativas das participantes, informações consideradas por nós relevantes.

Com base nas indicações de Bardin (2011), os passos de análise são: organização do material (pré-análise); leitura repetida de todo o material de modo a possibilitar a apreensão das várias mensagens e reflexões apresentadas; escolha de documentos; levantamento dos temas presentes, com a identificação dos mais frequentes; e, categorização. De acordo com Bardin (2011), tal procedimento não se trata de uma única técnica ou instrumento, mas de um conjunto de técnicas para análise das comunicações, ou seja, o tratamento das informações e elementos presentes nas mensagens. Utilizamos a categorização semântica, agrupando temas que remetem a uma mesma temática, conforme a seguir.

QUADRO 3 – Categorização e análise dos dados