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CAPÍTULO I Línguas e Culturas nas Comunicações de Exportação

5. A Situação Portuguesa

5.2. Perfil da exportação portuguesa

Em 2001, a maioria das exportações portuguesas teve por destino os outros países da União Europeia (75,1% em 2001, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística): à Alemanha, com 19,1%, seguia-se, quase em paridade, a Espanha (19%) e, depois, a França (12,6%) e o Reino Unido (10,3%).

A Figura 2, traduz a mudança ocorrida num ano e indicia uma certa tendência para a diversificação das exportações portuguesas para outros países, exteriores à União Europeia.

Figura 2 - Exportações Portuguesas

1999 2000

Essa tendência não parece manter-se, se tivermos em conta os mais recentes dados referentes a 2003, igualmente apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo os quais as exportações portuguesas para países da UE atingiram os 80,4% do total, corrigindo para 80% em 2004.

Presentemente, os principais clientes de Portugal são parceiros da UE, destacando-se, em 2004, a Espanha (25,5%), a França (13,8%), a Alemanha (13,4%) e o Reino Unido (9,5%).

Se tivermos em conta dados referentes ao período que medeia 1999 e 2000 (Figura 2), e os dados de 2003 e 2004, poderá concluir-se que a natural diversificação de mercados se está a processar em c onsonância com as tendências de globalização também verificados noutros países.

Esta tendência coloca-nos perante a forte possibilidade de contactos com um leque mais alargado de línguas e culturas, situação que, naturalmente, potencia mais obstáculos ao desenvolvimento dos negócios.

No entanto, mesmo tendo em atenção os nossos principais mercados- alvo, o castelhano e o alemão representam, no seu conjunto, 38,9% com 25,5%, um quarto do total, só para o espanhol, enquanto que o inglês e o francês – as opções da escolaridade – representam 23%.

Se considerarmos que, no quadro do comércio interno, as importações de Espanha representam um valor ainda mais alto, 30%, como podemos deixar de interpretar a realidade do ensino desta língua no sistema de ensino?

Segundo o Expresso, em 2003 existiam "11 Universidades portuguesas com departamentos de espanhol, onde trabalham cerca de 70 leitores, e 8 institutos superiores com cursos nessa área. E as escolas secundárias, em especial nas zonas de maior proximidade, como é o caso do Algarve, já incluem como segunda língua o espanhol. Existem ainda 105 institutos de língua privados que mobilizam 150 professores." (Expresso, 2003:1).

Como temos vindo a referir, tem havido alguma tendência para encarar a generalização da aprendizagem do inglês como resposta para todas as necessidades da internacionalização.

Já vimos anteriormente como vários países anglófonos reagem a esse pressuposto. Mas em Portugal, a dicotomia inglês - espanhol também é

"O inglês ainda é a língua universal dos negócios mas, para nós, portugueses, a aprendizagem do castelhano pode significar a diferença entre conseguir um emprego ou ficar sem ele. Numa escala mais acima, pode mesmo querer dizer que se soubermos «hablar» aquela língua faremos bons negócios, e se não a dominarmos podemos não os conseguir." E citando Fernando Ulrich, vice-presidente do BPI, numa conferência realizada na primeira quinzena de Maio de 2003 em Lisboa, referindo-se ao castelhano: "Se dominarmos a língua deles, talvez possamos dominar alguns negócios ibéricos". (Andrade, 2003).

Temos estado a falar do universo de países que constituem 62,2% do total das nossas exportações. Mas os restantes destinos das nossas exportações, 37,8%, não são negligenciáveis.

Existem diversas declarações públicas, quer de responsáveis políticos, quer empresariais, que apontam outros mercados-alvo, considerando-os objectivos estratégicos; exemplo dos países da OPEP, no Médio Oriente, que representavam em 2003 0,7% e, 0,8% em 2004, ou ainda Marrocos, que só por si, é destino de 5% das nossas exportações nesse período.

Aponte-se igualmente, os mercados asiáticos, 2,7% em 2003, 2,9% em 2004, com a China, que é sempre apresentado como um mercado tão apetecível, tendo, porém, as nossas exportações diminuído de 0,5% em 2003, para 0,3% em 2004.

Existem em Portugal competências para satisfazer as necessidades das empresas portuguesas nas exportações para a Arábia Saudita ou a China?

Tomemos este último exemplo e vejamos o depoimento dum membro da comunidade chinesa residente em Portugal:

"Somos uma comunidade bastante fechada", reconhece Y Ping Chow, ao apontar a língua como o principal entrave à integração. (...) O comerciante preocupa-se também com a falta de escolas que ensinem mandarim aos filhos da comunidade chinesa. Por isso, Susana irá estudar numa escola portuguesa, mas, nas férias, deverá rumar a casa de uma tia, na China, para exercitar a língua dos pais." (M. Oliveira, 2004:30).

Como se pode ver, mesmo na comunidade expatriada do mercado em questão, portanto teoricamente disponíveis, não existem acessos adequados à língua da comunidade onde residem, o que dificulta a sua integração em

empresas portuguesas, nem existem acessos adequados à sua língua materna, a qual constitui um recurso fundamental para o potencial desenvolvimento de relações comerciais com a China.

Temos estado a enumerar diversos aspectos da generalidade da exportação portuguesa, na tentativa de lhe traçar um perfil. Este não poderia ficar completo sem tentar perceber o pólo fundamental que é a empresa.

De acordo com uma publicação da Direcção Geral de Estudos, Estatística e Planeamento do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, em 2000, 83,1% das empresas portuguesas tinham de 0 a 9 trabalhadores, 14,4% dispunham de 10 a 49 trabalhadores, 1,5% de 50 a 100 trabalhadores e apenas 1% conta com mais de 100 trabalhadores. (Ministério da Segurança Social e do Trabalho, 2000:30).

Um dos factores fundamentais a ter em conta é então a dimensão da empresa. Esse factor é identificado nas PME de todo o mundo:

"Most small and many medium firms regard the setting up of even minimal in-house language resources as something quite beyond their scope and budget." (Simpkin & Jones, 1976:97).

Um outro aspecto caracterizador pode ser encontrado na análise da forma como as empresas portuguesas abordam a exportação:

“Ainda que muitas empresas portuguesas sejam exportadoras, fazem-no muitas vezes recorrendo à produção em massa de produtos indiferenciados. Ou seja, os aumentos de produtividade foram alcançados sobretudo através de acréscimos de escala operacional, e ainda das políticas de desvalorização competitiva do então escudo português." (Freitas, 2005:87).