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5.2 Identificação dos Grupos Eficiente e Ineficiente

5.2.1 Perfil dos Produtores Eficientes e Ineficientes

Separados os grupos eficiente e ineficiente, de acordo com os resultados obtidos no modelo DEA, eles são agora caracterizados segundo os recursos disponíveis e fatores socioculturais e tecnológicos para a identificação de possíveis causas da ineficiência. Foram selecionadas variáveis consideradas relevantes e que exercem influência nos resultados da atividade e/ou refletem o nível tecnológico praticado na unidade de produção.

O número total de vacas dos produtores eficientes é aproximadamente 62% superior aos produtores ineficientes, média de 41,3 contra 25,5 cabeças (TABELA 12). Considerando as vacas em lactação, a diferença também é maior para os produtores eficientes, com uma diferença percentual de 57%, equivalente a 26 e 16,5 cabeças. A área média disponível para os produtores eficientes é de 235,5 hectares, 21% superior à área dos produtores ineficientes, que dispõem, em média, de 194,3 hectares, o que indica que os produtores ineficientes têm uma exploração mais extensiva.

TABELA 12 – Área disponível, rebanho total de vacas e vacas em lactação dos produtores do Município de Sobral, Ceará.

Recursos Disponíveis Unidade Eficientes Ineficientes Eficiente/Ineficiente (%)

Área Hectare 235,54 194,32 21,00

N° total de vacas Ud 41,31 25,52 62,00

N° vacas lactação (VL) Ud 26,00 16,56 57,00

Em relação ao local de moradia constata-se que 80% dos produtores da amostra total moram na fazenda, ao passo que a análise dos grupos demonstra que dos 13 produtores eficientes 9 residem na propriedade, enquanto dentre os 27 produtores ineficientes 23 fizeram essa opção (TABELA 13). Esse resultado é compatível com a pesquisa realizada por Noronha et al (2001), realizada com 30 produtores do Estado de Goiás, que detectou a freqüência de 76,2% dos produtores residindo na fazenda. No entanto, os resultados obtidos são superiores àqueles apresentados no estudo desenvolvido pelo Banco do Nordeste (2001) com 1.231 produtores da Região Nordeste, em que 52% dos produtores não residiam na propriedade rural.

A residência na propriedade deveria influenciar positivamente a obtenção da eficiência técnica, inclusive pelo maior aproveitamento da mão-de-obra familiar. Entretanto, esta variável influenciou mais fortemente os produtores ineficientes. Este resultado pode indicar a maior socialização e acesso à informação por parte dos produtores que residem na cidade vis-à-vis aos não residentes, possibilitando maior escolaridade, maior oportunidade de capacitação, participação em organizações de classes e acesso à assistência técnica.

Assim, observa-se maior participação dos produtores eficientes nessas entidades, visto que, neste grupo, apenas 5 produtores (38,4%) declararam não pertencer a alguma associação, enquanto a maior parte dos produtores ineficientes (16 produtores) não está associada a nenhuma entidade, o que equivale a 59% do grupo (TABELA 13). No entanto, o associativismo entre os produtores, em geral, é pouco freqüente, visto que 52,5% da amostra total não estão vinculados a nenhuma associação e/ou sindicato de classe, sendo que daqueles associados apenas 12,5% declararam utilizar algum serviço prestado por essas organizações.

Resultados semelhantes foram observados na pesquisa realizada na região Nordeste, onde 49,5% dos produtores não são credenciados junto a entidades representativas, o que revela que “o baixo nível de participação em associações e sindicatos de classe é indicativo de desorganização e desarticulação dos produtores de leite na região Nordeste”.

Segundo este estudo, tal cenário demonstra o “estágio incipiente em que a administração profissional ainda se encontra” no Nordeste, o que é ratificado quando se verifica que 40% dos produtores da amostra total não recebem assistência técnica, principalmente se for levado em consideração que este valor ainda pode estar subestimado, visto que alguns produtores que declararam receber assistência técnica, recebem-na eventualmente ou não a recebem efetivamente.

Ainda assim, a tendência encontrada entre os grupos eficientes e ineficientes mostra-se coerente, pois a maioria dos produtores eficientes, 9 produtores ou 69,2%,

declararam receber assistência, enquanto entre os produtores ineficientes este valor é reduzido para 55,5%, o que equivale a 15 produtores. Estes valores são semelhantes à média do Nordeste, onde 36% dos produtores não recebem assistência técnica e 35,2% a recebem só ocasionalmente.

TABELA 13 – Local de moradia, participação dos produtores em associações e entidades de classe e assistência técnica

Amostra Produtores Eficientes Produtores Ineficientes

Variáveis N°

produtores % N° produtores % N° produtores %

Local de moradia Fazenda 32 80 09 69,23 23 85,19 Cidade 08 20 04 30,77 04 14,81 Participação em entidade de classe 19 47,5 08 61,54 11 40,74 Assistência técnica 24 60 09 69,23 15 55,56

FONTE: Dados da pesquisa.

Quanto ao nível de escolaridade (TABELA 14), observa-se que, da amostra total, 50% não chegaram a concluir o ensino fundamental e 15% dos produtores são analfabetos, ao passo que apenas 10% têm nível superior completo ou incompleto. Ao se analisar os grupos separadamente, percebe-se que o grupo dos produtores eficientes apresenta a mesma tendência da amostra global, visto que o maior percentual de produtores tem o ensino fundamental incompleto; no entanto, neste grupo nota-se uma maior distribuição dentro das faixas de escolaridade mais elevadas. Assim se observa, entre os produtores eficientes, 1 produtor analfabeto e 2 produtores com nível superior completo ou incompleto; os demais 5 produtores estão entre o ensino fundamental completo e o ensino médio completo.

Entre os produtores ineficientes observa-se que a maioria, 15 produtores, equivalente a 55,5%, não concluiram o ensino fundamental, além disso, este grupo apresenta o maior percentual de analfabetismo, 18,5%, equivalente a 5 produtores, contra apenas 2 produtores (7,4%) com nível superior completo ou incompleto.

Os produtores eficientes apresentam-se mais bem distribuídos nos estratos que indicam maior escolaridade, enquanto os produtores ineficientes estão mais concentrados nas faixas de menor escolaridade, notando-se que 74% destes são analfabetos ou não concluíram

o ensino fundamental, enquanto isto é verdade para apenas 46% dos produtores eficientes. Isso indica uma nítida influência da escolarização no nível de eficiência.

Os resultados obtidos neste estudo indicam níveis de educação formal bem abaixo daqueles detectados na pesquisa realizada com produtores de Goiás, onde se observou que 38% dos produtores têm nível superior; inferiores também aos dados da região Nordeste, que apresentou 20,6% dos produtores com nível universitário e apenas 5,4% de analfabetos.

TABELA 14 – Nível de escolaridade da amostra, considerando os grupos eficientes e ineficientes.

Amostra Total Produtores Eficientes Produtores Ineficientes

Nível de Escolaridade n° prod. % n° prod. % n° prod. %

Analfabeto 06 15,00 1 7,70 5 18,50

Ensino Fundamental Incompleto 20 50,00 5 38,4 15 55,60

Ensino Fundamental Completo 5 12,50 2 15,40 3 11,10

Ensino Médio Incompleto 2 5,00 1 7,70 1 3,70

Ensino Médio Completo 3 7,50 2 15,40 1 3,70

Ensino Superior Completo ou

Incompleto 4 10,00 2 15,40 2 7,40

Total 40 100,00 13 100,00 27 100,00

FONTE: Dados da pesquisa.

A administração da propriedade é exercida individualmente por cerca de 37% dos produtores da amostra total, enquanto 55% dos produtores o fazem em conjunto com a família e apenas 8% administram juntamente com mão-de-obra extrafamiliar no papel de gerente. Os produtores eficientes apresentaram a mesma tendência da amostra total, visto que 4 produtores administram individualmente, 8 o fazem com a família e 1 em conjunto com administrador externo; enquanto dos 27 produtores ineficientes, 11 administram individualmente, 14 fazem-no juntamente com a família e 2 se utilizam de administradores externos (TABELA 15). Assim percebe-se que a participação da família tem influência positiva nos níveis de eficiência das propriedades.

TABELA 15 – Forma de administração da propriedade dos produtores de leite

Eficientes Ineficientes

Variáveis n° produtores % n° produtores %

Administração da propriedade Proprietário individual 04 30,77 11 40,74 Proprietário e família 08 61,54 14 51,85 Administrador - - - - Proprietário e administrador 01 7,69 02 7,41 Família e administrador - - - -

FONTE: Dados da pesquisa.

Os resultados são semelhantes aos encontrados na região Nordeste, onde 82% das propriedades são administradas pelo proprietário e/ou por seus familiares, enquanto para o estudo realizado em Goiás o percentual de produtores que administram individualmente a fazenda foi bem superior, 90,5%, contra 9,5% que administram em conjunto com a família.

Analisando-se a TABELA 16, quanto ao número médio de filhos que trabalham na propriedade, os resultados indicam que a participação média da mão-de-obra dos filhos na propriedade é da ordem de 0,93 para a amostra total, o que indica o pequeno envolvimento dos filhos no processo produtivo. Os valores são praticamente os mesmos quando se analisa separadamente os grupos eficientes e ineficientes, os quais apresentam médias de 0,92 e 0,93, respectivamente. Esses resultados são semelhantes ao que foi detectado para o Nordeste, onde se verificou que 56% das propriedades não utilizam mão-de-obra familiar nas atividades não administrativas, mesmo entre os pequenos produtores.

TABELA 16 – Participação de filhos na mão-de-obra da propriedade

Amostra total Produtores Eficientes Produtores Ineficientes N° filhos na

propriedade n° produtores (%) n° produtores (%) n° produtores (%)

1-2 13 32,50 05 38,50 08 29,60

3-4 04 10,00 02 15,40 02 7,40

> 4 01 2,50 00 0,00 01 3,70

Média 0,93 0,92 0,93

Quanto ao nível tecnológico observa-se que a ordenha manual é praticada por todos os produtores da amostra, sendo que 67,5% o fazem apenas 1 vez por dia, enquanto os demais utilizam 2 ordenhas diárias, e apenas 1 produtor (2,5%) utiliza sistema de resfriamento para o leite (TABELA 17). Portanto, não se verifica diferença quanto ao tipo de ordenha entre os eficientes e ineficientes, porém, a ocorrência de produtores que utilizam 2 ordenhas é maior no grupo de produtores eficientes, 38,4 contra 29,6%, enquanto o único registro de uso de resfriamento do leite pertence ao grupo eficiente.

Os dados obtidos seguem a tendência apresentada no Nordeste, onde 55% dos produtores efetuam apenas uma ordenha por dia e apenas 11% possuem sistema de resfriamento na propriedade. No entanto, a pesquisa realizada em Goiás revelou o mesmo percentual de produtores que utilizam ordenha manual e mecânica (48%), enquanto 85% realizam duas ordenhas diárias.

O baixo nível tecnológico no manejo reprodutivo também é percebido ao se observar que somente 5% de toda a amostra utilizam inseminação artificial, 97,5% adotam monta natural a campo e 90% dispõem de reprodutores mestiços. Quanto à análise dos grupos constata-se que um produtor em cada grupo utiliza inseminação artificial, mas a ocorrência de utilização de reprodutor mestiço foi maior entre os produtores ineficientes, 26 produtores, ou 96,3%, do que entre os produtores eficientes, 10 produtores, ou 76,9%. Considerando-se o tipo de monta, foi visto que a única ocorrência de utilização de monta controlada foi registrada no grupo dos produtores eficientes.

No Nordeste observou-se um percentual mais elevado da utilização de inseminação artificial (13,3%), sendo ainda muito inferior ao que foi verificado na amostra do estudo de Goiás, onde 81% dos produtores utilizam este manejo.

TABELA 17 – Tipo e número de ordenhas, resfriamento do leite e utilização de inseminação artificial pelos produtores

Amostra Total Produtores Eficientes Produtores Ineficientes Manejo utilizado n° produtores % n° produtores % n° produtores %

Ordenha Manual 40 100 13 100 27 100 N° de ordenhas 01 27 67,5 08 61,5 19 70,4 02 13 32,5 05 38,5 08 29,6 Resfriamento do leite 01 2,5 01 7,7 - 0,0 Inseminação artificial 02 5,0 01 7,7 01 3,7

FONTE: Dados da pesquisa.

O baixo nível tecnológico pode ser observado também pelos dados sobre manejo do solo, produção de forragem e manejo alimentar, dado que apenas 7,5% da amostra total fazem análise e correção do solo, sendo que 52,5% dos produtores utilizam irrigação, contrastando com o percentual de 90%, que têm capineira.

Entre os produtores eficientes apenas um produtor (7,7%) faz análise e correção do solo, sendo que todos têm capineira, mas a irrigação é adotada somente por oito produtores (61,5%). No grupo de produtores ineficientes, dois fazem análise e correção do solo, enquanto a utilização de capineira é feita por 23 produtores (85,2%), enquanto 13 não fazem uso de irrigação, o que representa 48,1% (TABELA 18).

Quanto ao manejo alimentar, 95% dos produtores da amostra total não adotam reserva estratégica de alimentos para o período seco, seja feno ou silagem. Entretanto, 75% fornecem ração balanceada e 60% suplementam o rebanho com sal mineral, contra 37,5% que utilizam apenas sal comum.

Entre os produtores eficientes, observa-se que apenas dois produtores, o equivalente a 15,4%, fazem reserva de alimentos para os períodos adversos, sendo que sete utilizam ração balanceada, o que equivale a 53,8%, e a maioria, oito produtores, ou 61,5%, utiliza sal mineral para suplementar o rebanho, enquanto os demais fornecem apenas sal comum. Entre os produtores ineficientes foi visto que nenhum faz reserva de alimentos, sendo que destes, 23 produtores (85,2%) utilizam ração balanceada e 16 produtores (59,3%) servem

sal mineral ao rebanho, ao passo que 10 produtores (37%) fornecem apenas sal comum e 1 não faz suplementação mineral.

Dessa forma, a produção de massa verde fica bastante comprometida no período seco, visto que, sem irrigação, a simples existência de capineiras não garante o suprimento de forragem, aumentando a necessidade do fornecimento de ração balanceada, que é um dos principais itens do custo de produção. Por outro lado, a mineralização do rebanho, que representa um custo relativamente baixo no custo de produção, tem importância fundamental para o desempenho produtivo e reprodutivo. Daí constata-se que a reserva alimentar e a mineralização do rebanho têm influência positiva na eficiência dos produtores.

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Amostra Total Produtores Eficientes Produtores Ineficientes

Manejo Adotado N° produtores % N° produtores % N° produtores %

Análise/correção do solo 03 7,5 01 7,7 02 7,4 Irrigação de pastagem 21 52,5 08 61,5 13 48,1 Capineira 36 90,0 13 100,0 23 85,2 Reserva alimentar 02 5,0 02 15,4 - 0,0 Ração balanceada 30 75,0 07 53,8 23 85,2 Mineralização do Rebanho Sal Mineral 24 60,0 08 61,5 16 59,3 Sal Comum 15 37,5 05 38,5 10 37,0 Não faz 01 2,5 - 0,0 01 3,7

Quanto aos aspectos operacionais e comerciais, observa-se que a pecuária leiteira, em média, é responsável por 38,3% da renda do produtor, sendo que 52,5% da amostra total produzem algum tipo de derivado, e o leite é comercializado com intermediários por 57,5% deles (TABELA 19). Ademais, 97,5% dos produtores não fazem nenhum controle de custo de produção e recebem, em média, R$ 0,58 pelo litro de leite.

Para os produtores eficientes verifica-se que a pecuária leiteira é responsável por 35,2% da renda do produtor, em média, sendo que 69,2%, o equivalente a 9 produtores, produzem algum derivado do leite, o mesmo percentual que comercializa o leite com intermediários. Neste grupo somente um produtor (7,7%) utiliza controle de custo de produção, e o valor médio da venda do litro de leite é de R$ 0,57.

Por outro lado, a pecuária leiteira é responsável, em média, por 39,8% da renda entre os produtores ineficientes, sendo que 12 deles (44,4%) produzem algum tipo de derivado, e a comercialização do leite é feita com intermediários por 51,8% dos produtores ineficientes. O controle de custo de produção não é realizado por nenhum produtor deste grupo, e o preço médio da venda do litro de leite é de R$ 0,59.

O menor preço de venda observado para os eficientes pode ser explicado pela grande proporção dos produtores que comercializam com intermediários, e a menor participação da atividade leiteira na composição da renda indica maior diversificação de atividades. A produção de derivados contribui para o melhor aproveitamento da produção e maior agregação de valor ao produto, o que deve compensar o menor preço de venda ao intermediário.

TABELA 19 – Comercialização, produção de derivados e utilização de controle de custo de produção pelos produtores de leite

Amostra Total Produtores Eficientes Produtores Ineficientes Variável produtoresn° % produtoresn° % produtoresn° %

Comercialização do leite

Intermediários 23 57,5 09 69,23 14 51,85

Direto ao consumidor 18 45 06 46,15 12 44,44

Produção de derivado 21 52,5 09 69,23 12 44,44

Participação da renda da atividade

leiteira na renda total 38,33 35,23 39,81

Controle do custo de produção 01 2,5 01 7,69 - 0,0

Os resultados são superiores aos apresentados no estudo da região Nordeste, onde 66% dos produtores reconheceram não saber o custo de produção do litro de leite e, segundo o mesmo estudo, o maior preço pago ao produtor está mais diretamente vinculado à oferta do produto, o que justifica o patamar elevado dos preços praticados no Estado do Ceará.

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