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O percurso teórico acima descrito foi parte do caminho que segui em busca de referentes conceituais que me ajudassem a pensar meu objeto de estudo. Fora do debate semântico e subjetivo que me parecia pertinente ressaltar, também estava a necessidade de contar com um campo de estudo com enfoques conceituais e metodológicos que me permitissem dialogar com os dados de minha pesquisa. Mas, como foi visto até aqui, tanto o enfoque dos meios de luta quanto o do contexto da guerra eram olhares que terminavam sendo reducionistas por duas razões fundamentais: de um lado, porque se centravam num só aspecto analítico, seja no uso da violência ou na própria dinâmica da guerra; e de outro, porque se configuravam sobre metáforas que tendiam a amplificar o caráter apologético da guerra ou a dramatizar seus efeitos sob uma ótica moralista.

O próprio trabalho de campo foi me abrindo o panorama de indagação, mostrando que, para além das aparências e daquilo que mais causa impacto às pessoas alheias a esse mundo da guerra – uso de armas, rituais marciais, códigos de clandestinidade – havia todo um universo social de relações, de tensões, de jogos de poder, de simbologias etc. O campo temático dos movimentos sociais que eu havia começado a explorar, pareceu-me muito mais amplo em possibilidades interpretativas para abordar meu objeto de estudo, partindo de seu sentido etimológico, que focaliza a atenção na idéia de “movimento” como dinâmica geradora da ação e no “social”, entendido como o universo onde se tece o conjunto de interações, numa perspectiva holística. E, igualmente, por sua importante produção acadêmica dos últimos tempos que, embora esteja longe de ser um corpus compacto e sincrético, apresenta múltiplos enfoques e debates que enriquecem este estudo e as opções de interlocução, em especial, na área de interesse da presente pesquisa: o âmbito do simbólico-cultural, que, desde os anos 1980, tem tido um significativo desenvolvimento em termos de pesquisas e de aportes conceituais.

Não obstante as distintas acepções existentes em torno da categoria de movimentos sociais e do precário consenso sobre o assunto (LARAÑA, 1999), há alguns elementos que têm aceitação geral, tais como: (a) a noção de que os movimentos sociais são formas de ação coletiva que surgem fora do marco institucional (apesar de muitos terminarem sendo isso); (b) a existência de tensões ou conflitos que motivam processos de agrupação e mobilização

social; (c) o desenvolvimento de formas e meios de organização variáveis com certa continuidade no tempo. O ELN se ajusta a tais características gerais, por ser uma organização de ação coletiva que surge dentre certas condições de conflito social e político da Colômbia e que tem tido uma significativa duração e continuidade no tempo. Ora, dada a singularidade da estrutura organizativa e os objetivos de luta desse grupo, poder-se-ia pensar em enquadrá-lo em vários níveis explicativos, de acordo com a capacidade de abrangência e ingerência social da qual se faça referência. Assim, haveria um primeiro nível macro, que seria o setor dos movimentos sociais, entendido como:

The social movement sector is the configuration of social movements, the structure of antagonistic, competing and/or cooperating movements which in turn is part of a larger structure of action (political action, in a very broad sense) that include parties, states bureaucracies, the media pressure groups, churches, and a variety of other organizational factors in a society. Configuration refers both to the amount and structural relations of social movement activity and the orientation, or goals, of action (GARNER & ZALD, 1981: 1-2).

O segundo nível, médio, seria formado pelos movimentos sociais de esquerda, portadores de algumas características comuns como, por exemplo, a confrontação ao regime capitalista, sua identidade ideológica em torno do paradigma marxista-leninista, suas pretensões “revolucionárias” (ou de significativas reformas sociais) e certas simbologias e rituais como hinos, imagens, ícones, entre outros. E haveria ainda o terceiro nível, o micro, constituído pelas organizações clandestinas de esquerda, que recorrem às armas como um de seus principais meios de luta. Aí se localizaria o ELN, sendo expressão social e política (específica) desse tipo de ações coletivas entendidas na perspectiva dos “movimentos sociais”.

Claro que essa não foi uma decisão fácil, porque seria ir, de alguma maneira, à contramão, pelo fato que, embora esse campo conceitual não fosse, conforme se assinalou acima, incompatível, as novas propostas interpretativas se mostravam reticentes e/ou contra a inclusão desse tipo de objetos de estudo (guerrilhas revolucionárias) nessa perspectiva analítica. Desde os anos 1980-1990, os grupos guerrilheiros passaram a ser considerados uma expressão “à parte”, “diferenciada” e, de alguma maneira, “deslegitimados” em relação aos considerados movimentos sociais e políticos de oposição. É curioso esse trânsito conceitual, pois, na época de seu apogeu na América Latina, nas décadas de 1960-1970, eram reconhecidos como atores políticos de oposição e academicamente eram abordados como tais,

como “movimentos armados ou insurgentes”. É o que afirma, por exemplo, Eduardo Pizarro, ao referir-se à queda da guerrilha nos anos 1970: “En efecto, el movimiento inurgente de la ‘primera generación (FARC, EPL e ELN) no fue ajeno a la grave crisis que afectó a todos los grupos armados del continente en ese periodo” (1996: 95, grifo meu). Ou, como interpreta Mauricio Archila em sua análise sobre a oposição política durante o período do Frente Nacional (1958-1974) na Colômbia:

Aunque hay muchas definiciones de los movimientos sociales nosotros nos inclinamos por la siguiente: aquellas acciones sociales colectivas, más o menos permanentes, orientadas a enfrentar injusticias, desigualdades o exclusiones […], la categoría de oposición política sólo es compleja cuando se trata de precisar los movimientos o partidos que incluye. En términos operativos podemos ubicar tres tipos de oposición que se hace dentro del Frente Nacional y comprende aquellas fracciones de los partidos tradicionales que aceptan el pacto pero difieren por cuotas de poder […] la que se ejerce por fuera del Frente Nacional pero dentro de la institucionalidad; y finalmente la oposición extrainstitucional que abarca a la izquierda en general pero con énfasis a las organizaciones que proclamaban la lucha armada (ARCHILA, 1992: 26)

O mesmo autor, num recente estudo sobre os movimentos sociais na Colômbia, afirma que as organizações armadas devem ser excluídas desse campo de estudo em razão de que “los movimientos se inscriben en la dinámica de construcción de consenso y no de imposición por la fuerza. La acción armada es externa a la social, no tanto porque persiga fines políticos, sino por los medios violentos de los que hace” (ARCHILA, 2003: 74). Note-se que, além do giro conceitual feito, sua argumentação é discutível, pois, primeiro, estabelece a priori uma direcionalidade à dinâmica dos movimentos sociais: “a construção do consenso”, limitando outras possibilidades de desenvolvimento desses grupos; segundo, acaba delimitando a categoria do social em razão do uso de determinados meios (violentos ou não), quando se sabe que a violência tem significações relativas, não exclusivas ao uso de armas, além do que as atividades humanas (quaisquer sejam) são manifestações construídas no e desde o social.

Nesse tipo de questionamento, deve ser incluído também o novo marco conceitual que classifica os movimentos sociais entre “velhos” e “novos”. De acordo com essa perspectiva, defendida por notáveis teóricos desse campo, como Alberto Melucci (2001), Alain Touraine (1997) e Clauss Offe (1988), após os anos 1970, vive-se uma “profunda transformação da sociedade moderna” que levou ao abandono definitivo de seu estado de desenvolvimento industrial para converter-se numa sociedade pós-industrial (pós-moderna), salto qualitativo que, segundo esses autores, trouxe consigo uma nova dinâmica da ação coletiva e da

mobilização social. Essas novas formas são denominadas os Novos Movimentos Sociais (NMS), nos quais se incluem, como exemplos emblemáticos, o feminismo, o ecologismo e o pacifismo, como expressões substancialmente diferentes dos movimentos sociais catalogados como “velhos”. O que caracteriza essas novas formas de mobilização coletiva, segundo esses autores, é seu distanciamento em relação às lutas “classistas”; sua nova orientação fundamentada numa “forte conotação cultural”, aspecto que “os diferencia sempre mais claramente dos atores políticos ou das organizações formais” (MELUCCI, 2001: 23). Nessa direção, entre os movimentos sociais vistos como “velhos” e já superados, estaria o movimento operário, elevado à categoria de “viejo movimiento social prototípico” (MESS, 1998: 307), e, nessa mesma direção, os movimentos de esquerda que defendiam distintas formas de luta “revolucionária” e “classista”.

Frente a essa rígida separação entre os novos e velhos movimentos sociais, cabe perguntar: quão novos e diferentes são, na verdade, os novos movimentos sociais? Será que o elemento cultural e de identidade coletiva esteve ausente nas manifestações sociais anteriores e somente agora eclode? Segundo parece, os defensores dessa teoria, na busca de realçar os aspectos identitários que foram relegados nas análises tradicionais dos movimentos sociais e, em particular, do movimento operário, caíram na armadilha de sublimar o caráter cultural desses movimentos, quando, na realidade, como afirma Escobar (2000), os movimentos sociais, quaisquer que sejam suas origens (operária, camponesa, indígena, estudantil etc), estão necessariamente ligados à cultura:

Seria tentador restringir o conceito de política cultural àqueles movimentos que são mais claramente culturais. Nos anos 80, essa restrição resultou numa divisão entre movimentos sociais “novos” e “velhos”. Os novos eram aqueles para os quais a identidade era importante, aqueles engajados em “novas formas de fazer política” e os que contribuíam para formas novas de sociabilidade. Ao contrário os movimentos urbanos, camponeses, operários e de bairro, entre outros, eram vistos como lutas mais convencionais por necessidades ou recursos [mas eles] também põem em movimento forças culturais (ESCOBAR, 2000: 23).

Igualmente, é oportuno perguntar se efetivamente o “conflito de classes” está superado e se a problemática econômica está completamente relegada das agendas dos movimentos sociais atuais. Provavelmente, esse conflito e/ou problemática deixou de ser uma dinâmica determinante e exclusiva da ação coletiva, mas isso não significa que tenha sido ultrapassada ou que tenha perdido completamente sua relevância social, ainda menos em sociedades como

as latino-americanas, onde as diferenças econômicas seguem sendo significativas e geradoras de conflitos e de identidades sociais, conforme sublinha Archila para o caso colombiano:

La diferencia entre “nuevos” y “viejos” movimientos, tan común en los países del centro, se puede aceptar con una intención pedagógica. Pero si la contraposición se refiere a diferencias de fondo para anular cualquier análisis de clase sería inaceptable para sociedades como la nuestra, en donde todavía lo económico crea identidades o afecta las que se construyen desde otras esferas (ARCHILA, 2003: 79).

Certamente, essa distinção entre o novo e o velho na caracterização dos movimentos sociais parece carecer de valor analítico pelas razões acima citadas, às quais haveria de acrescentar também a crítica feita por Ludger Mess em relação ao valor do “novo” na história, quando afirma que “todos los movimientos sociales en su tiempo son nuevos y viejos a la vez. Reaccionan ante un nuevo contexto, e aprenden también de la experiencia de los movimientos previos, adoptando muchos elementos de su repertorio coercitivo, de su ideología, de sus formas de organización” (1998: 317).

Em virtude dessas considerações e na ausência de argumentos que realmente invalidassem o uso desse foco de análise no caso dos GAR, e contando, também, com o fato de que esse campo de estudo oferece maiores possibilidades de interpretação e de interlocução acadêmica multidisciplinar, decidi-me pelo caminho conceitual dos movimentos sociais para abordar a presente pesquisa.

Os movimentos sociais como objeto de estudo

Os movimentos sociais não são fenômenos novos na história, como indica o historiador Eric Hobsbawn (2001) em seu estudo sobre o que ele chama “as formas arcaicas dos movimentos sociais nos séculos XIX e XX”. Tais manifestações sociais coletivas tiveram uma presença relevante no devir social e político das sociedades modernas. Não obstante, a constituição de um campo de estudo especializado na problemática dos movimentos sociais é relativamente recente. Apenas nas últimas três décadas começaram a surgir importantes elaborações teóricas em torno desse fenômeno, sendo sua evolução bastante rápida e vertiginosa, ao ponto de ter se convertido, como afirma Melucci (2001:11), num “setor autônomo da teoria e da investigação nas ciências sociais”. Nessa linha interpretativa, pode-se incluir reconhecidos autores, como o

sociólogo francês Touraine (1997), que propõe sejam os movimentos sociais considerados como o objeto de estudo da Sociologia, pois, em seu critério, representam “os mais importantes comportamentos coletivos porque são maneiras permanentes no coração da vida social [...], são a trama social” (TOURAINE, 1997: 90).

A relevância desse fenômeno social, seja em menor ou maior escala, é um aspecto sobre o qual os estudiosos dessa matéria coincidem. O problema se apresenta na forma de concebê-lo, na explicação de suas características, de seus componentes, de seus princípios, etc, diante dos quais não existe consenso. Pelo contrário, há uma diversidade de enfoques e perspectivas, muitas das quais opostas entre si, o que torna difícil o estabelecimento de critérios comuns de análise:

[...] el desarrollo del marco analítico desde el que se estudian los movimientos sociales se ha producido a la zaga de los acontecimientos. La debilidad de ese marco explica la diversidad de acepciones que tiene la expresión “movimiento social”, que es fruto de sucesivas generalizaciones empíricas e constituye un concepto sensibilizador [...]. Al igual que sucede con otros conceptos sociológicos [...] no existe un consenso sobre el significado e éste varía en función de la perspectiva teórica del analista (LARAÑA, 1999: 13-14).

Essa aparente anarquia teórica no estudo dos movimentos sociais não é uma particularidade dessa temática. Na verdade, as ciências humanas se debatem numa variedade de universos de conceitualizações e paradigmas, cujos enfoques, na maioria dos casos, conduzem a caminhos distintos de interpretação. A situação reflete bem a crítica aos princípios do conhecimento, de entender que hoje em dia se está longe da ilusão positivista do alvorecer das Ciências Sociais, quando se acreditava poder apreender a “verdade” sobre o mundo. Agora, tais certezas são postas em dúvida e é possível conceber que os processos de conhecimento estão mediados por interpretações, carregados tanto de doses de subjetividade como de condicionamentos aos contextos sociais e históricos em que são produzidos.

Nesse sentido, é importante revisar os principais debates e linhas conceituais, sem pretensões de encontrar a “teoria” que resolva os interrogantes formulados, mas, dentre as distintas opções analíticas, retomar algumas noções conceituais relevantes para a presente pesquisa, assim como também tentar construir uma ponte de interlocução com as distintas óticas interdisciplinares, especialmente com a Sociologia, que conta com uma importante produção acadêmica nesse campo de estudo.

Perspectivas sociológicas

As primeiras fontes de conceitualização dos movimentos sociais provêm da teoria das condutas coletivas que prevaleceu nos Estados Unidos entre os anos 1950 e 1960. Essa teoria deu origem a dois enfoques principais: o primeiro, seguido por Herbert Blumer, que se orientou pelas noções do interacionismo simbólico, fundamentado no princípio segundo o qual “el comportamiento colectivo no obedece a impulsos instintivos sino que es el resultado de la interacción social” (JAVALOY, 2001: 68). De modo que o sujeito passou a ser considerado como um ator consciente que atuava com base em representações simbólicas sobre si e sobre a situação social na qual agia. O outro enfoque é desenvolvido por Neil Smesler (1989), que propõe uma explicação das condutas coletivas com base na teoria do funcionalismo simbólico (Talcott Parsons e Robert Merton). Para ele, os movimentos sociais são vistos como comportamentos disfuncionais ou anomalias do sistema social vigente, pois “la noción de equilibrio social hacia muy difícil entender en forma positiva la aparición de actores sociales no institucionales” (ARCHILA, 2003: 38).

Como resposta a essa concepção de corte funcionalista, que destacava o caráter emocional e desorganizado dos movimentos sociais, surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1970, o enfoque conhecido como “mobilização dos recursos” (Mayer Zald, John McCarthy), fundamentado numa perspectiva racionalista, pela qual se entende os movimentos sociais como “grupos racionalmente organizados que persiguen determinados fines y cuyo surgimiento depende de los recursos organizativos de que disponen” (LARAÑA, 1999: 15). Nessa mesma linha interpretativa encontra-se o enfoque das “oportunidades políticas” (Charles Tilly; Sidney Tarrow; Doug McAdam), que centra a atenção nas condições do entorno político que “ofrecen incentivos para que la gente participe en acciones colectivas al afectar sus expectativas de éxito o fracaso” (TARROW, 1997: 155).

Por outro lado, na Europa, nos anos 1980, ganhou força um novo enfoque interpretativo desse fenômeno que questionava as perspectivas anteriores. Segundo essa ótica, nem os recursos de mobilização nem a estrutura de oportunidades políticas respondem a “realidades objetivas”, que são interpretadas e avaliadas por parte dos atores e que ali é onde se começa a construir a ação social coletiva (MELUCCI, 2001). Esse enfoque dá ênfase aos denominados Novos Movimentos Sociais - NMS (Alan Touraine; Alberto Melucci; Clauss Offe), entendendo-os como esforços pela produção de sentidos e pela constituição de novas identidades culturais (CANEL, 2004). Assim, rebate as visões tradicionais que prevaleciam na Europa em torno da

luta de classes sociais, e a idéia de que esse era o único conflito real e estrutural da sociedade, e outorga importância aos conflitos relacionados ao gênero, à etnicidade, ao meio ambiente e à paz, entre outros. A preocupação não residiria, então, nas questões econômicas, mas no controle coletivo do processo de produção simbólica e a re-definição dos papeis sociais (LARAÑA, 1999; CANEL, 2004).

Nas últimas duas décadas, o enfoque Racionalista e o dos Novos Movimentos Sociais dominaram as análises acerca dos movimentos sociais, sendo que, tal como se pode ver, estão sustentados sobre ênfases opostas. O enfoque europeu dá prioridade à ação do sujeito e à configuração de sua subjetividade, pela perspectiva da identidade, enquanto o enfoque norte- americano centra-se nos aspectos racionais da ação, na parte “objetiva” das estruturas sociais. Aqui está claramente expresso um dos grandes debates que tem acompanhado o desenvolvimento das Ciências Humanas: a orientação da análise pelo pólo do subjetivismo e suas categorias próximas do sujeito, do simbólico, do cultural, do ideológico, em contraposição ao outro pólo, do objetivismo à prioridade que este concede às condições materiais, às estruturas, à organização social.

Ante os vazios gerados por essa por essa dicotomia, nos últimos anos iniciaram-se alguns diálogos e aproximações entre essas duas linhas conceituais com o propósito de tentar superar os termos excludentes. Nessa busca por novas sínteses, vários pesquisadores propõem vias alternativas e/ou de integração conceitual. Entre esses estão, por exemplo, Eduardo Canel que, embora tenha assumido serem “sus premisas teóricas incompatibles,” afirma que “cada teoria examina diferentes niveles que pueden complementarse” (2004: 2). Ou Benjamin Tejerina, que salienta a necessidade de integrar distintos aspectos de cada um desses enfoques, considerados imprescindíveis para a compreensão da trajetória dos movimentos sociais, entre os quais estariam os seguintes elementos básicos: “las oportunidades políticas, las estructuras de mobilización y los procesos sociales de interpretación de la realidad y la producción de significado (1998: 111).

(Dentro) Nessas novas tendências conceituais cabe destacar duas que são de singular interesse para a presente pesquisa: O Marco de Análises Interpretativo (David Snow; Robert Benford; Burke Rochford), uma metodologia de análise fundamentada no conceito de “marco de análise” de Erving Goffman que indica “esquema de interpretação” e que faculta aos indivíduos “to locate, percive, identify, and label ocurrence within their life space and the world at large” (SNOW et al, 1985: 464). Com base nessa noção, esses autores postulam que

o alinhamento dos marcos de análise é condição fundamental para lograr a adesão e a participação dos indivíduos nos movimentos sociais. E que, nessa direção, é importante reconhecer as estratégias de comunicação persuasiva das organizações de um movimento social para tentar compreender a forma em que os interesses, valores e crenças dos indivíduos se tornam congruentes com as atividades, metas e ideologias das organizações (RIVAS, 1998: 194). Assim sendo, os referidos autores propõem quatro tipos de processos interativos de alinhamento de marcos: (a) conexão de marcos, como a união de dois marcos ideologicamente congruentes, mas estruturalmente desconectados em relação a um problema