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III. EVOLUÇÃO DOS PARADIGMAS DAS ORGANIZAÇÕES E DA ADMINISTRAÇÃO

3.3. A perspectiva integrativa

A teoria integrativa trata de fazer a integração das duas perspectivas anteriores e

compreende três escolas de gestão, designadamente a escola sociotécnica a teoria dos sistemas e a teoria contingencial.

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3.3.1- Escola sociotécnica

Esta escola defende que as relações humanas e os comportamentos de grupo são influenciados pelo sistema técnico em que as pessoas trabalham. Através de uma investigação, Trist e os companheiros concluíram que a implementação de nova tecnologia deve ser acompanhada de especialização do pessoal.

3.3.2. Teoria dos sistemas

Daniel Katz e Robert Kahn consideram uma organização como um sistema aberto. A teoria dos sistemas baseia-se nalguns princípios básicos: o primeiro é que um sistema é composto por um conjunto de subsistemas, com suas especificidades mas em interacção; as organizações são abertas, dinâmicas e interagem com outros sistemas dos quais recebem energias e feedback para se desenvolverem e corrigirem os desvios; as organizações têm objectivos, cuja consecução exige o emprego de meios, que podem estar no seio da organização ou exteriores a ela.

Na abordagem sistémica da organização, a empresa é encarada como um organismo vivo, cuja inércia o impele para o desaparecimento e a morte. Mesmo na sua fase de ascensão, suas energias, idealmente, são despendidas para garantir-lhe a sobrevivência. Daí que a ideia de intervenção na organização acabou por associar-se a uma tentativa de desvendar a crise permanente que acompanha a organização desde o seu surgimento.

À luz desta abordagem, emergem terias sobre o Desenvolvimento das Organizações no sentido de as mesmas conseguirem realizar as mudanças, diagnosticar o seu desempenho e formular um programa de renovação. Abrem-se, assim, portas aos agentes de mudanças, que actuem como um "facilitadores" das mudanças necessárias. Essa figura é a dos consultores. Existem dois tipos de consultorias: a consultoria de recursos e a de procedimentos. No primeiro caso, o consultor é contratado para resolver um problema específico e nisso empenha seus conhecimentos técnicos requeridos para aquele fim. O consultor de procedimentos assume o papel de “educador” imbuído da missão de levar a empresa do cliente a tornar-se capaz de autodiagnosticar-se e a pôr em prática, por si mesma, as mudanças esperadas.

Em 1956, um biólogo alemão chamado Ludwig von Bertalanffy publicou um livro com o nome de Teoria Geral dos Sistemas, publicado, em língua portuguesa, pela editora Vozes em

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197511. Pretendia mostrar que um determinado modelo de funcionamento dos sistemas poderia ser aplicado universalmente às ciências em geral, da física às humanidades. Essa teoria logo estendeu suas influências para as diversas áreas do conhecimento, até mesmo para a Administração.

Apesar da multidisciplinaridade inerente à acção da empresa, esta era vista até então como um sistema fechado, com as atenções da gerência voltando-se para ela mesma. Com a teoria geral dos sistemas, percebe-se que a empresa é um sistema aberto, que faz parte de um ambiente em mudança, constituído de outros sistemas, e que ela, a empresa, constitui-se de subsistemas. O matemático Norbert Wiener (1894-1963) foi quem formulou o conceito daquilo que seria a principal ferramenta da visão holística das ciências: a cibernética. Seu propósito é a busca das propriedades globais de um sistema, resultantes do facto de tratar-se de um conjunto estruturado que ultrapassa a simples soma de suas partes (sinergia).

Um sistema mantém-se em funcionamento enquanto é capaz de processar entradas, produzindo saídas. Para isso, deve ser capaz de utilizar os resultados de seu próprio desempenho como informação auto-reguladora, ajustando a si mesmo como parte do processo em andamento. Essa capacidade, ou habilidade, foi chamada por Wiener de feedback e, cedo, seu uso foi disseminado em várias áreas de actividade.

Uma ideia que intrigava Wiener era a semelhança na maneira como funciona tanto um animal quanto uma máquina auto-regulável. Ambos, vistos como um sistema, precisam de entradas,

processam estas entradas, transformando-as em saídas como produtos. Nesse processo auto-

regulam suas partes quando uma disfunção começa a surgir. Essa capacidade de perceber uma disfunção e eliminá-la, para a cibernética, é a informação12.

Como esse modelo de funcionamento se aplica também para organizações sociais, a difusão do uso do computador na empresa leva à ocorrência de um fenómeno já contemplado pela cibernética: em que instâncias o homem, depois (ou antes) de controlar o computador é por ele controlado?

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Cf., igualmente, edição francesa: Théorie Général des systèmes, Paris, Dunod, 1973

12 Cf. WIENER, Norbert (1952). Cybernetics and Society. The Human Use of Human Beeings,, Garden City,

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Em princípio, a missão do computador seria poupar o homem de elevados volumes de trabalho. Mas isso não é simples assim. O homem sempre interagiu com a natureza percebendo as suas infinitas gradações e subtilezas. Mas o computador nega ao homem essas séries contínuas. O homem cria máquinas para que estas lhe permitam alcançar diversos objectivos, mas o custo disso é que ele, na sua integralidade, vê-se obrigado a adaptar-se a elas.

A Administração encontra na Informática o seu principal meio de difusão e, mais que isso, o meio de operar esse processo de interacção "do homem para a máquina" mas não da "máquina para o homem". “Esse fenómeno não teria importância maior se o computador não tivesse se tornado uma entidade meio divinizada depois de seu uso ter sido difundido a um nível massivo. Em outros tempos, a mercadoria, a máquina, o automóvel tornaram-se fetiches. Agora é a vez do computador” (Raymundo, 1992 p. 45).

3.3.3. Teoria contingencial

Verifica-se nas diversas escolas ou teorias administrativas, desde as propostas apresentadas por Taylor, uma evolução para modelos mais elaborados, na busca de conceitos que contemplem a organização em toda a sua complexidade. A teoria dos sistemas, trazendo em seu interior a cibernética, representa um passo decisivo nesse sentido. A caminhada não parou por aí. A partir dos primeiros anos da década de 50 começaram a surgir estudos que resultaram na teoria da contingência, que é uma espécie de estado a arte actual da Administração.

Teóricos deste paradigma distinguem dois tipos de gestão: sistema mecanicista caracterizado por uma rígida estrutura; sistema orgânico, muito mais flexível, menos estruturado, permitindo uma maior influencia dos trabalhadores na tomada de decisão.

Um desses teóricos, Mintzberg (2000), compara os gestores aos actores, os quais utilizam dez papéis diferentes, apresentados em três grandes grupos: Interpessoal – figurativo, de líder e relacional; Informacional – receptor, disseminador e transmissor; Decisional – empreendedor, solucionador de distúrbios, distribuidor de recursos e negociador