• Nenhum resultado encontrado

6.7 Uso e avaliação do WhatsApp pelos professores do Ensino Superior

6.7.1 As perspectivas dos professores sobre o uso do WhatsApp

Inicialmente, para avaliar a contribuição do WhatsApp no processo de ensino-aprendizagem no Ensino Superior, foi indagado aos professores qual a opinião deles sobre o uso do celular em sala de aula. Estes dispositivos móveis permitem que nos comuniquemos com outros que estão distantes de nós enquanto nos movemos – ainda que nem sempre em tempo real, tornando essa uma marca da comunicabilidade no mundo contemporâneo (Aragão, 2017). Através dele podemos ter, num único aparelho, convergência de imagem, som e texto escrito com conectividade sem fio à internet, gerando informação e comunicação multimodal contínua, em qualquer hora e qualquer lugar. Isso redefine a forma como interagimos, nos comportamos e pensamos, pois o conforto de escolher onde usar e a facilidade de se deslocar no espaço físico e mantendo a conectividade parecem representar novas formas de se informar e se comunicar (Pina et al. 2016).

Foi necessário compreender a visão dos professores referente ao uso do celular e como ele influencia seu trabalho como docente porque o WhatsApp é um aplicativo que depende necessariamente de um smartphone para funcionar. Existe a possibilidade de uso em um computador, mas o aplicativo precisa estar funcionando no celular também ao mesmo tempo.

Além disso, entender a opinião dos professores sobre o uso do celular foi interessante porque causou um contraponto ao que eles entendiam por m-learning. Considerando que esta é uma forma de

132

aprendizagem que utiliza dispositivos móveis, ou seja, celulares, e redes móveis, foi verificado novamente que falta conhecimento sobre este termo, já que em sua maioria os professores utilizam o celular em sala de aula e permitem inclusive seu uso, mesmo que anteriormente apenas 2 professores tenham afirmado que utilizavam o m-learning em suas aulas.

Mais especificamente, dos 18 professores que responderam ao questionário, apenas 1 considerou que o uso do celular é ruim em sala de aula. 2 professores afirmaram que ainda não possuem uma opinião formada sobre o assunto, enquanto 3 acreditam que o celular é necessário mas deve ser utilizado com muita cautela, com planejamento e com intenções bem específicas, para não existir distrações. Os 12 professores restantes, ou seja, 66,66%, defendem que utilizar celular pode trazer muitos benefícios para o processo de ensino-aprendizagem, auxiliando-os na busca e compartilhamento de conteúdos, como meio de comunicação entre docente e discentes em relação às atividades referentes às disciplinas. Entretanto, mesmo achando o uso positivo, na opinião de 3 deles os alunos não fazem uso adequado da ferramenta em sala de aula, utilizando para conversas em redes sociais e não como instrumento de pesquisa e ampliação de aprendizagem, precisando que sejam “culturalmente educados para tal” (trecho do questionário).

Em seguida, a questão feita foi se o uso do celular facilitava ou dificultava o trabalho do professor. 2 não responderam a esta questão e 6 professores (33,33%) afirmaram que o trabalho é dificultado. Esses professores estão acima dos 45 anos de idade, possuem título de mestrado ou doutorado e ministram aula há mais de 15 anos – com exceção de um professor que está baixo dos 30 anos, possui apenas graduação e ministra aula a menos de 10 anos. Os principais argumentos dos professores eram de que não se sentiam confortáveis porque os alunos utilizavam o celular para outros assuntos que não estavam sendo tratados em aula, ocorrendo muitas distrações e, especialmente, durante as avaliações o uso era muito prejudicial, podendo ocorrer plágio, cópia de informações da internet e troca de material com os colegas. Por sua vez, 10 (55,55%) professores viam o processo de ensino-aprendizagem facilitado com o uso do celular, auxiliando na comunicação entre professores e alunos e entre os próprios alunos, facilitando a transmissão de conteúdos, material didático, vídeos, artigos entre outros e permitindo pesquisas rápidas em sala de aula.

A fim de avaliar o uso do WhatsApp pelos professores no Ensino Superior, uma outra questão feita aos docentes foi referente ao uso que eles faziam desse aplicativo no dia a dia, seja na vida pessoal ou profissional. Essa questão permitiu descobrir o grau de intimidade com o aplicativo e reconhecimento da importância dele.

133

Apenas 1 professor afirmou que não faz uso do WhatsApp em seu dia a dia. Esse mesmo professor é aquele que possui uma visão negativa sobre as TIC no processo de ensino-aprendizagem e que não utiliza m-learning nem Facebook. Os outros professores utilizam o WhatsApp no dia a dia para troca de mensagens com familiares, amigos e também para trabalho, como é possível verificar em alguns trechos selecionados no Quadro 13 abaixo:

Quadro 13- Uso do WhatsApp pelos professores

Trechos das respostas dos professores Categoria

“Conversar com a administração do instituto, conversas pessoais e trabalhos externos”

“Comunicação nos grupos de trabalho específicos que participo”

“Acesso a grupos de trabalho...”

“Comunicação e socialização de informações sociais, culturais, acadêmicas com alunos, colegas de trabalho e colegas de profissão”

“Para trabalho”

“Utilizo para comunicação e solução de problemas no trabalho”

Utiliza para trabalho (de modo geral)

“No processo de informação e comunicação com os estudantes”

“Criando grupos de trabalhos que focalizam as ações, divulgando, convocando, socializando informações importantes e significantes para os alunos e comunidade

acadêmica de modo geral”

“Grupos de whatsapp das turmas dos alunos”

“Envio de artigos, exercícios, lembrete de provas”

“Repassar informações acadêmicas para os alunos, tipo: envio de arquivos em pdf para leituras, orientações para elaboração de trabalhos acadêmicos, marcar e convocar

reuniões, etc”

Utiliza para interagir com alunos

134 “...para interagir com a família e amigos”

“Comunicação entre familiares, colegas de trabalho e amigos”

“Comunicação com os familiares...”

“Falar com amigos”

“Contato familiar e pessoal”

“Comunicação familiar e amigos”

“...interação com amigos e familiares distantes e acesso a imagens, textos, áudios e vídeos”

Comunicação e interação com amigos e familiares

“Na interação e comunicação diária, além da facilidade de transmissão e de compartilhamento de conteúdos, informação, vídeos, artigos, entre outros”

“Comunicação de ideias”

“Para comunicação”

Comunicação de modo geral, sem especificar com quem

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Os principais termos que apareceram nas respostas dos professores é que o WhatsApp é utilizado para “comunicação” e “interação”. Ele é usado cotidianamente no trabalho e também com amigos e familiares. 5 professores falaram especificamente que usam com os alunos, demonstrando que este aplicativo é muito importante na vida deles não só pessoal, mas que se estende também para o âmbito profissional, dada a facilidade de comunicação que ele permite bem como a troca de material e informações.

Aprofundando o uso do WhatsApp pelos professores, foi também questionado se eles utilizavam este aplicativo em sala de aula. Através desta pergunta, 7 professores responderam que utilizavam, conforme Tabela 18 e Gráfico 17 abaixo.

135

Tabela 18- Utilização do WhatsApp em sala de aula

Utiliza o WhatsApp em sala de aula Sim Não

Número de professores 7 11

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Gráfico 17- Utilização do WhatsApp em sala de aula

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Entre os professores que responderam que não utilizam o WhatsApp em sala de aula, 3 justificaram o motivo: o primeiro ainda não sentiu necessidade do uso; o segundo afirmou que ainda não encontrou um meio de utilizá-lo; e o terceiro acredita que dispersa o aluno, que perde “o controle no processo de ensino-aprendizagem. Os alunos usam o WhatsApp com finalidades que não de aprendizagens” (Trecho do questionário). Estas mesmas justificativas foram encontradas em relação ao uso do Facebook.

Uma das explicações existentes sobre não adotar o uso do WhatsApp em sala de aula é a mesma que foi encontrada em relação às TIC, ao m-learning e ao Facebook: durante o processo de formação, os professores praticamente têm pouco contato com estas tecnologias. Dessa forma, ao adentrarem no Ensino Superior como professores, continuam a seguir o método tradicional de ensino, sem utilizar as novas tecnologias ou aplicativos que vêm sendo desenvolvidos e que criam novas maneiras de comunicação e de interação entre professores e alunos, inclusive redefinindo seus papéis. E isso não necessariamente é uma negação em usar estas tecnologias, mas falta de conhecimento do que seja ou de maneiras de utilizá-las.

O perfil dos professores que utilizam o WhatsApp em sala de aula pode ser verificado no Quadro 14 abaixo. Eles foram denominados de professores A, B, C, D, E, F, G para evitar qualquer tipo de identificação.

7 39% 11

61%

Utiliza o WhatsApp em sala de aula

Sim

136

Quadro 14 - Perfil dos professores que utilizam o WhatsApp

Professores Sexo Idade acadêmica Formação formação Área de

Tempo desde a última formação Tempo que ministra aula Quantidade de disciplinas Quantidade de alunos por turma

A Masculino 26 Graduação Não informou 4 3 4 30

B Masculino 37 Mestrado Humanas 4 9 8 35

C Masculino 42 Mestrado Exatas 4 10 2 45

D Masculino 37 Doutorado Biológicas 6 9 5 35

E Feminino 28 Graduação Humanas 7 6 13 50

F Feminino 42 Mestrado Humanas 2 14 4 50

G Masculino 44 Graduação Humanas 16 16 26 45

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Com exceção de 2 professores que estão entre 25 e 30 anos, os outros 5 estão próximos aos 40 anos (2 com 37, 2 com 42 e 1 com 44 anos). Isso demonstra que não são apenas professores mais jovens que utilizam o WhatsApp no Ensino Superior. Somente 1 professor possui o título de doutorado (sendo que na amostra havia 6 professores com esse nível de formação), sendo 3 com Mestrado e 3 com Graduação. Ou seja, possuir maior nível de formação acadêmica também não significa utilizar mais as TIC em sala de aula.

O tempo desde a última formação desses professores é em torno de 4 a 7 anos, tendo um deles obtido o título há dois anos e outro há dezesseis anos. Ou seja, neste último caso, que corresponde a um tempo de formação maior, não necessariamente foi preciso ter contato com o WhatsApp ou com outra TIC no processo de formação para que sua adoção fosse feita no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, dos 15 professores que não tiveram contato com o WhatsApp no processo de formação (Tabela 19 e no Gráfico 18), 6 utilizam hoje em sala de aula. Dentro do universo da pesquisa, isso corresponde a 33,33% dos professores. Entretanto, todos eles utilizam bastante em sua vida pessoal, e esse uso fez com que o aplicativo fosse estendido ao uso profissional.

Tabela 19- Utilização do WhatsApp no processo de formação

Utilizou o WhatsApp durante a formação Sim Não Não respondeu

Número de professores 2 15 1

137

Gráfico 18- Utilização do WhatsApp no processo de formação

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Apenas 2 professores utilizaram em algum momento o WhatsApp no processo de formação, sendo que um deles utilizou em seu doutorado como recurso para coletar informações por meio de entrevistas com gravações em áudio; e o segundo através da criação de grupos para troca de informações e de comunicação. Entretanto, nenhum dos dois tiveram uma disciplina específica sobre o uso deste tipo de tecnologia ou de aplicativos. O que fez uso no doutorado não utiliza atualmente em sala de aula – e não ofereceu nenhuma justificativa para não usar – e o que fez uso através de grupos utiliza hoje com seus alunos exatamente da mesma maneira.

Apenas 1 professor (professor B) que utiliza o WhatsApp sabe o que significa m-learning e afirmou utilizá-lo em sala de aula. Os outros desconhecem esse conceito e não tiveram acesso durante o processo de formação. E 1 outro professor (professor A), mais jovem, formado há 4 anos e dando aula há 3 anos, utiliza também o Facebook.

A quantidade de disciplinas também não influencia na adoção do uso do WhatsApp, porque tem professores com duas disciplinas que o utilizam e também professor com treze e até com dezesseis disciplinas. A quantidade de alunos por turma também não levou a um maior uso do WhatsApp. Entretanto, como o uso deste aplicativo facilita interação e a comunicação entre professores e alunos, poderia ser uma possibilidade a mais para melhorar o processo de ensino-aprendizagem – desde que o professor saiba conduzir a turma em seu uso, estabelecendo regras claras de participação para todos.

2 11% 15 83% 1 6%

Utilizou o WhatsApp durante a formação

Sim Não Não respondeu

138