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PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

SUMÁRIO

4 RELAÇÕES SOCIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DIMENSÕES ÉTNICO-RACIAIS, CORPORAIS E DE GÊNERO

2.5 PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

A partir da constituição de 198818 todos/as os/as brasileiros/as são

considerados/as iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Nesse mesmo ano, a legislação brasileira passou a considerar a prática de racismo um crime imprescritível e inafiançável, como forma de combater a discriminação racial.

No entanto, sabemos que essas determinações não ocasionaram mudanças efetivas nas desigualdades existentes contra a população negra. Com o objetivo de transformar essa situação, o Movimento Negro e as associações de defesa dos direitos civis e humanos, vêm resistindo e manifestando-se contra ações discriminatórias e racistas, em

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Ver http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 18 de setembro de 2012.

busca da criação de políticas públicas capazes de reparar a “dívida” que a sociedade possui com esse grupo, em virtude dos efeitos causados pela escravidão e pelo abandono estatal no pós-emancipação.

A III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação

Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância19 realizada em

2001, em Durban, deu início a um grande debate político e à criação de estratégias que visam reparar os danos sofridos pela população negra. Nesse momento, o Brasil afirmou o compromisso de criar políticas públicas de ações afirmativas capazes de transformar o panorama de desigualdades sociais que afrodescendentes enfrentavam, e ainda enfrentam, em diversas esferas sociais.

No âmbito da educação foi criado pelo Governo Federal o Programa Nacional de Políticas Afirmativas, que dentre as medidas adotadas, incluiu a temática Pluralidade Cultural como um dos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998. Essa iniciativa, de evidenciar e incluir nos currículos escolares a diversidade racial e cultural, é apreciada por Elisabeth Fernandes de Souza (2001) como um caleidoscópio de teorias que não ajudam a orientar e justificar as ações propostas.

Outro fator de grande importância para a discussão das relações raciais no Brasil foi a fundação da Secretaria de Políticas de Promoção

da Igualdade Racial20 (SEPPIR), criada em 2003, após empenhos do

Movimento Negro no Brasil e o reconhecimento do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo principal de formular, coordenar e articular políticas públicas de promoção da igualdade racial.

Nesse mesmo ano, a promulgação da Lei Federal 10.639/0321,

alterou a Lei 9.394/96, obrigando a inserção, nos currículos oficiais da Rede de Ensino, da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Africana" nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e particulares. A prescrição da referida lei, determina ainda, a

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Para maiores informações, ver Relatório Final da Conferência:

http://www.seppir.gov.br/publicacoes/documentofinal_conferenciadurban.pdf. Acesso em 18 de setembro de 2012.

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Maiores informações, consultar http://www.seppir.gov.br/. Acesso em 14 de setembro de 2012.

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Ver http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso em 20 de setembro de 2012.

inclusão do dia 20 de novembro nos calendários escolares como o “Dia Nacional da Consciência Negra”.

Para regulamentar essa legislação, o Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer CNE/CP 3/2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004), que entre seus objetivos, busca disseminar a produção de conhecimentos possibilitando a formação de “[...] cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática” (BRASIL, 2004, p. 10). Além disso, nesse mesmo ano o Ministério da Educação cria a SECAD - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, buscando enfrentar as injustiças e desigualdades existentes nos sistemas de educação do país, valorizando a formação da população brasileira e desenvolvendo programas de políticas públicas.

Anos depois, foi decretada a Lei Federal 11.645/0822 que alterou

a Lei de Diretrizes e Bases – LDB/1996 e complementou a Lei 10.639/03, incorporando no currículo escolar o conteúdo de história dos povos indígenas no Brasil e a importância destes grupos na formação da sociedade nacional.

Além dessas medidas, foram produzidos outros documentos visando orientar e subsidiar demandas da legislação, como o Plano de Ação para a Inserção das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, publicado em 2009. O Ministério da Educação produziu esse documento em parceria com movimentos sociais negros, com a SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação e UNDIME – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Este é um importante material na colaboração às determinações legais, através de metas e experiências que procuram “[...] enfrentar todas as formas de preconceito, racismo e

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Ver http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em 20 de setembro de 2012.

discriminação para garantir o direito de aprender e a equidade educacional a fim de promover uma sociedade mais justa e solidária” (BRASIL, 2009a, p. 27).

Como forma de reparar desigualdades existentes entre negros e brancos no campo da educação, as universidades e institutos públicas têm implantado ações afirmativas, principalmente no que se refere a reserva de vagas para estudantes negros/as e/ou aqueles que possuem renda familiar baixa. A respeito disso, acaba de ser sancionada pela

presidenta Dilma Rousseff a Lei Federal Nº 12.71123 que regulamenta o

sistema de cotas sociais e raciais em todas as universidades e institutos federais do país. Isso significa que a metade das vagas destinadas a cotas (50%) será dividida entre 25% para estudantes negros, pardos ou indígenas, segundo a proporção desses grupos em cada estado; e 25% para alunos/as que tenham feito todo o segundo grau em escolas públicas e cujas famílias tenham renda per capita de até um salário mínimo e meio.

Com base nisso, percebe-se a criação de instrumentos jurídico- normativos, buscando promover a igualdade racial em nosso país, especialmente para a esfera educacional, considerada umas das principais estratégias para a concretização do direito à igualdade entre os seres humanos. Por conseguinte, exibimos alguns documentos e programas de políticas públicas voltados para a diversidade e igualdade