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Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção

Sendo um dos principais objetivos desta investigação, desenvolver soluções e materiais para crianças com PHDA, passou-se ao estudo desta perturbação. Procurou-se conhecer as suas causas, os principais sintomas e como é efetuado o diagnóstico. Um dos tópicos de maior realce neste capítulo passou pela recolha e análise de dados relativamente às áreas do comportamento mais afetadas pela perturbação, assim como, que estratégias e intervenções são efetuadas para a amenização dos sintomas.

1 | Perturbação de Hiperatividade

e Défice de Atenção

“Attention- deficit/hyperactivity disorder, or ADHD, is a developmental disorder of self-control. It consists of obvious problems with attention span, impulse control, and activity level. The disorder is also reflected in impairment in will or the capacity to control the child’s own behavior relative to the passage of time, that is, to keep future goals and consequences in mind”2 (Barkley,

1995, p.19).

Tal como Barkley (1995) refere, é comum para a maior parte das pessoas descredibilizar a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), pois trata-se de uma perturbação que ao contrário de muitas outras, não apresenta sinais físicos exteriores de qualquer incapacidade. No entanto, sabe-se que existem alterações ao nível do sistema nervoso e cerebral destas crianças que afetam as zonas inerentes à concentração, impulsividade, controlo de movimentos, entre outros. Na verdade, o que distingue uma criança com PHDA das outras é a frequência e severidade destes comportamentos, que são demonstrados, e que podem levar a experienciar maior enfraquecimento em muitos domínios da vida.

Para além dos sintomas de hiperatividade, impulsividade e

desatenção, existem muitos outros, que estão associados e podem variar a sua intensidade de criança para criança, são eles: a memória de curto prazo, ou seja, apenas se lembram do que lhes foi pedido para fazer no momento; um cérebro muito ativo, o que significa que gostam de estar sempre ocupados; pouca paciência, ou seja, se têm de esperar durante algum tempo não conseguem estar quietos e interrompem quando as outras pessoas estão a falar (Daley et al, 2010, p.16).

2 “A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, ou PHDA, consiste numa perturbação do desenvolvimento do autocontrolo. Consiste em problemas com atenção, impulsividade e nível de atividade. A perturbação também se reflete na deficiência ou na incapacidade da criança controlar o seu próprio comportamento, que afetam manter objetivos e metas futuras e as consequências dos seus atos em mente.” – T.L.

A disposição para altos níveis de atividade tende a dissipar-se à medida que as crianças vão crescendo, no entanto, os problemas com a atenção e concentração permanecem para a vida adulta. Desta forma, torna-se de extrema importância tomar medidas que ajudem a estimular estas competências desde muito cedo (Daley et al, 2010, p.18). Os sintomas acima referidos são detetados precocemente na vida das crianças, quer em ambiente familiar como escolar, no entanto, o que é realmente importante é reconhecer o problema e acompanha-lo devidamente.

Na verdade, a vida de uma criança na qual esta perturbação não é reconhecida, devidamente tratada e acompanhada pode trazer graves impactos negativos para o adolescente e adulto, pela maior probabilidade de insucesso escolar, profissional e social.

Segundo Barkley (1995) entre 30% a 50% destas crianças fica retida na escola pelo menos uma vez. Assim como 35% não completam o ensino secundário. Cerca de 50% destas crianças sofre de problemas relacionais e sociais, graças ao seu comportamento desafiador e de oposição que pode levar a mal-entendidos, ressentimentos, repreensão e punições frequentes que conduzem a um maior potencial de delinquência e abuso de substâncias ilícitas mais tarde. A falta de reconhecimento e tratamento desta perturbação pode levar a uma grande sensação de fracasso em muitos domínios da vida.

No entanto, Honos-Webb (2007) defende que ao trabalhar com diversas crianças com PHDA, foi possível denotar o desenvolvimento noutras competências e áreas como a criatividade, a inteligência emocional, intuição e uma maior disposição para a consciência ecológica e social.

1.1 | Etiologia

“A PHDA é a perturbação neuro-comportamental mais frequente na criança, cuja etiologia é multifatorial. Pensa-se que resulta de uma interação complexa de fatores genéticos/hereditários, neurobiológicos e ambientais” (Neto, 2014, p. 26).

Esta complexidade resulta numa grande variabilidade na expressão dos sintomas e na idade em que são reconhecidos, bem como na severidade, comorbilidades (patologias associadas), evolução e resposta ao tratamento.

Hughes & Cooper (2007, p.85) defendem que para além de um diagnóstico de PHDA existem, muitas das vezes, dificuldades comportamentais coexistentes com a PHDA, como o transtorno de oposição e desvio de conduta, entre outros. Cada criança que possui PHDA pode apresentar características diferentes e únicas, tornando- se de extrema importância tratar cada caso de forma individual. De acordo com Barkley (1995, p.83) uma das razões encontradas que possui um papel fundamental na causa e aparecimento da PHDA é a hereditariedade. Após vários estudos, foi possível saber que pais de crianças com PHDA têm normalmente mais problemas psicológicos como depressão, comportamento antissocial, má conduta, alcoolismo, bem como, PHDA.

Tal como Nascimento & Ferreira (2014, p.26) referem, cerca de 25% das crianças com PHDA têm um familiar próximo com o mesmo diagnóstico, verificando-se um risco aumentado entre irmãos de 30% a 40% e particularmente em gémeos monozigóticos com 90% de probabilidade.

Com o avanço das novas tecnologias e existência de novos meios, foi possível provar a existência da PHDA através de imagens da

estrutura e atividade cerebral em funcionamento de crianças e adultos com PHDA e compara-lo com aqueles que não possuem a perturbação (Barkley, 1995, p.72).

A partir dessas imagens, obtidas através de ressonâncias magnéticas, tal como Rief (2012) refere, têm sido identificadas, diferenças estruturais no cérebro das crianças com PHDA. Essas diferenças apresentam uma descida do nível de atividade e menores

níveis de metabolismo (maioritariamente na zona frontal e gânglios da base), menor metabolismo da glucose (fonte de energia do cérebro) na região frontal, uma diminuição do fluxo sanguíneo para certas regiões cerebrais, assim como certas estruturas cerebrais específicas menores do que em crianças que não possuem PHDA. De acordo com Nascimento & Ferreira (2014), essas zonas do cérebro são as principais responsáveis pelo controlo da atenção, organização, planeamento, motivação, cognição e controlo dos impulsos, assim como planeamento, raciocínio abstrato, flexibilidade mental e memória de trabalho.

Outro dos fatores associados à PHDA nas crianças é o consumo de álcool durante a gravidez. Segundo Barkley (1995), o consumo de álcool ou tabaco por parte da mãe durante a gravidez aumenta 2,5 vezes o risco do filho desenvolver PHDA que em relação aos restantes. De acordo com Nascimento & Ferreira (2014) a prematuridade e o baixo peso ao nascer podem ser outros fatores, assim como, infeções do sistema nervoso central e traumatismos cranianos, que são responsáveis por mudanças estruturais e funcionais do cérebro.

Existem ainda outros fatores que podem ser relevantes na PHDA, de natureza psicossocial/familiar e comportamental. O ambiente familiar, conflituoso, pouco estruturado, o baixo nível socioeconómico,

perturbações psiquiátricas e o abuso de substâncias nos prestadores de cuidados mostraram associação com o risco das crianças

desenvolverem e agravarem os sintomas de PHDA (Nascimento & Ferreira, 2014, p. 29).

De acordo com Jacobelli & Watson (2008, p.14) através de diversas pesquisas foi possível perceber que o cérebro de uma criança exposta a eventos traumáticos se desenvolve de forma diferente do normal. Essas experiências traumáticas causam diferenças no cérebro ao nível dos lobos frontais (responsáveis por resistir a impulsos cerebrais desregulados). Este desequilíbrio produz uma série de problemas neuropsiquiátricos e comportamentos violentos. O tipo de estilo parental adotado na educação da criança tem um impacto direto no comportamento da criança. O convívio com a violência e o abuso emocional em casa, mesmo que não seja direto para a criança, mas que faça parte do seu ambiente, relaciona-se

com um aumento dos problemas no comportamento da criança (Jacobelli & Watson, 2008, p. 23).

Em suma, a PHDA é descrita, de acordo com Nacimento & Ferreira (2014) como uma doença de base neurológica, estritamente vinculada com a genética e modulada pelo ambiente em que se desenvolve.