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O MAPA DA MINA: INTRODUÇÃO

Capítulo 2. O CORTE E A OUTRA GEMA: REFERENCIAIS METODOLÓGICOS E PARTICIPANTES DA PESQUISA

2.2 A PESQUISA QUALITATIVA

A abordagem mais adequada à problemática desse projeto é a abordagem qualitativa (BOGDAN & BIKLEN, 1998; CHIZZOTTI, 2006; DUFF, 2002; LAVILLE & DIONNE, 1999, LÜDKE & ANDRÉ, 1986), visto que nosso objeto de pesquisa se trata do estudo sobre fenômenos educacionais que são de natureza complexa e se simplificados, ou colocados em moldes de estudo linear, se descaracterizariam.

La Ville & Dionne (1999) fazendo uma retrospectiva sobre o desenvolvimento da ciência, descrevem que no século XIX ela expande seus domínios atingindo todas as atividades humanas. E na segunda metade do século XIX as ciências humanas se desenvolvem seguindo o modelo das ciências naturais. Devido à necessidade de conhecimentos confiáveis desenvolve-se a concepção da ciência chamada positivismo que se caracteriza por seguir o principio do empirismo, da objetividade, da experimentação, da validade e as leis da previsão.

Autores como Chizzotti (2006), Lüdke & André (1986) e La Ville & Dionne (1999) reconhecem que as ciências humanas têm como herança a perspectiva epistemológica das ciências naturais de espírito positivista. Essa perspectiva pretende reproduzir a lógica das ciências naturais, ou seja, encontrar as regras (leis) que regem o campo do ser humano.

Chizzotti (2006) esclarece que de acordo com algumas características estruturais temos diferentes concepções de se realizar pesquisa. Um termo que pode designar essas concepções é a noção de paradigma. Um paradigma pressupõe um conjunto de pressuposições que se refere ao que é a realidade, ao conhecimento que se pode ter dessa realidade e às formas particulares para se conhecer essa realidade. (CHIZZOTTI, 2006, p. 22)

Lüdke & André (1986) e La Ville & Dionne (1999) observam que o objeto das ciências naturais e humanas difere em muitos aspectos com o seu grau de complexidade, dificuldade de identificação e observação, o que causou um questionamento em relação ao

positivismo e seu procedimento de constituição de saberes. Lüdke & André (1986) completam que até bem pouco tempo as características típicas do positivismo predominavam na pesquisa educacional.

Segundo La Ville & Dionne (1999), podemos observar as diferenças entre o paradigma positivista ou quantitativo e o qualitativo em vários aspectos da pesquisa qualitativa como; o papel do pesquisador, a medida do verdadeiro, questões como a construção de leis ou teorias, objetividade ou subjetividade ou objetivação, multidisciplinaridade e o método usado na atualidade.

Se partirmos do paradigma das ciências humanas e de que nosso objeto de pesquisa não pode ser considerado uma ‘coisa’, já que age, reage e pensa, dentro deste mesmo paradigma o pesquisado é um ator social que pensa, tem seus preconceitos, experiências, juízo de valor e exerce influência durante a pesquisa. Assim, o pesquisador influência o objeto de pesquisa, que por sua vez é consciente e tem vontade própria, por conseguinte, nossa medida do verdadeiro admite que o saber, ainda que construído com prudência e método, pode variar. Assim, nossa medida do verdadeiro difere da obtida em ciências naturais (LA VILLE &.DIONNE, 1999; LÜDKE & ANDRÉ, 1986).

Dessa maneira, enquanto os resultados das ciências naturais podem levar à elaboração de leis, em ciências humanas podemos definir tendências, circunstâncias ou teorias que auxiliem em certos contextos ou se apliquem a um conjunto de situações semelhantes. Nessa lógica, uma vez que em ciências humanas todos os fatores que envolvem o olhar do pesquisador são levados em consideração, a objetividade está mais relacionada ao sujeito pesquisador e seu procedimento, do que ao objeto de pesquisa (LA VILLE &.DIONNE, 1999).

Reconhecemos em ciências humanas que a compreensão é relativa à perspectiva do observador, assim sendo, é sobre o principio da objetivação que fundamentamos a regra da prova e definimos a objetividade. Objetivação é a ação do pesquisador de trazer à consciência seus motivos e razões para interpretar os fatos, compartilhando e julgando os resultados de sua pesquisa (La Ville, C & Dione, 1999).

Lüdke & André (1986) e Chizzotti (2006) concordam que inicialmente as ciências humanas organizavam-se demarcando os domínios umas das outras. Atualmente o que se desenvolve é uma abordagem multidisciplinar, aquela que toma a compreensão global do problema e mobiliza as diversas disciplinas que pareçam úteis na sua resolução. Nesse

âmbito uma explicação simplificada da lógica externa do método usado atualmente poderia ser que o método parte de uma operação de objetivação, ou, em outras palavras, a partir da concentração em um problema, se elabora uma hipótese, se verifica essa hipótese e se chega a uma conclusão. Lüdke & André (1986) argumentam que para a realização da pesquisa é necessário confrontar dados, evidências, informações coletadas e todo o conhecimento teórico acumulado sobre o assunto. É importante ressaltar que a validação e credibilidade da pesquisa dependem da divulgação das condições em que os resultados foram obtidos.

Outra concepção dos autores sobre pesquisa é que ela se realiza sobre dois eixos: o da atividade momentânea de interesse imediato e o da atividade continuada que se insere numa corrente de pensamentos acumulados de caráter social. Devemos desmistificar o conceito de pesquisa como privilégio de poucos, dotados de poderes ou conhecimentos específicos, pois, a pesquisa na atualidade pode contribuir para transformar panoramas (LÜDKE & ANDRÉ, 1986).

A pesquisa educacional, como o próprio desenvolvimento da área de educação, foi crescendo e percebendo que poucos fenômenos nessa área podem ser analisados com base em fundamentos positivistas. Pois, na maioria das vezes, os fenômenos educacionais acontecem de forma tão inexplicável que inviabiliza o isolamento das variáveis envolvidas no problema. Para Chizzotti (2006), na atualidade o termo pesquisa qualitativa recobre um campo transdisciplinar que envolve as ciências humanas e sociais assumindo suas tradições multi- paradigmáticas de análise herdadas do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, entre outras. Sendo assim, a pesquisa evocada sobre o título qualitativo pode advir de variadas tradições, porém todas elas convergem por partilharem os mesmos paradigmas.