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Reconhecendo a importância do trabalho coletivo na definição de um pro- jeto de curso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394/1996, incorporou os princípios da gestão democrática e participa- tiva como elementos fundantes das ações educativas nas instituições de ensino, particularmente no que concerne ao processo de elaboração, exe- cução e avaliação do Projeto Político Pedagógico Institucional (PPPI).

Sendo uma das interfaces e um dos desdobramentos do PPPI, os Projetos Pedagógicos de Curso têm também por fundamento o princípio da constru- ção coletiva, como expressão da gestão democrática e da autonomia edu- cacional da Instituição.

A Resolução CNE/CEB nº 06/2012, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Técnica de Nível Médio, ratifica esse funda- mento ao definir, no Art. 16, que as instituições de ensino “devem formu- lar, coletiva e participativamente, nos termos dos Arts. 12, 13, 14 e 15 da LDB, seus projetos político-pedagógicos e planos de curso”. Coloca, assim, em relevo as incumbências das Instituições no que se refere à elaboração e implementação de sua proposta pedagógica e dos seus PPC, bem como a obrigatoriedade da participação dos docentes nesse processo.

As Diretrizes também remetem ao Art. 205 da Constituição Federal, segundo o qual o ensino deve ter como base o princípio, o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas:

Art. 15 O currículo, consubstanciado no plano de curso e com base no princípio do pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, é prerrogativa e responsa- bilidade de cada instituição educacional, nos termos de seu projeto político- -pedagógico, observada a legislação e o disposto nestas Diretrizes e no Catá- logo Nacional de Cursos Técnicos. (BRASIL, 2013)

A importância de observar o princípio da construção coletiva e participativa dos PPC, além de promover a consolidação da gestão democrática, favo- rece o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento da comu- nidade educacional com o projeto de formação, definido no documento, especialmente a partir dos consensos gerados a partir do Projeto Político Pedagógico. Mesmo que se observe um pluralismo de ideias e concepções pedagógicas divergentes, se identificar e se reconhecer no Projeto, contri- bui para que os diferentes atores sociais assumam a responsabilidade de sua concretização como expressão da coletividade.

Nessa direção, as Diretrizes evidenciam o direito e a responsabilidade das Instituições de Ensino e dos seus docentes no processo de construção do Projeto Pedagógico do Curso e do currículo nele consubstanciado, ressal- tando o compromisso ético com a concretização do perfil profissional.

Art. 17. O planejamento curricular fundamenta-se no compromisso ético da instituição educacional em relação à concretização do perfil profissional de conclusão do curso, o qual é definido pela explicitação dos conhecimentos, saberes e competências profissionais e pessoais, tanto aquelas que carac- terizam a preparação básica para o trabalho, quanto as comuns para o res- pectivo eixo tecnológico, bem como as específicas de cada habilitação profis- sional e das etapas de qualificação e de especialização profissional técnica que compõem o correspondente itinerário formativo (BRASIL, 2013 ag).

Para o cumprimento de tais prerrogativas, os ordenamentos legais vigentes sinalizam para a necessidade da compreensão mais ampla da Educação Pro- fissional Técnica de Nível Médio como uma das modalidades da Educação Básica, o que exige a observância da legislação pertinente à Educação Básica. Em decorrência, “especificamente em relação aos pressupostos e fundamen- tos para a oferta de um Ensino Médio de qualidade social, incluindo, tam- bém, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio”, os Projetos Pedagógi- cos de Curso (PPC) devem contemplar os aspectos referentes às “dimensões da formação humana de maneira integrada na organização curricular dos diversos cursos e programas educativos: trabalho, ciência, tecnologia e cul- tura”, previstas nas Diretrizes da Educação Básica e do Ensino Médio e legis- lações complementares correlatas (BRASIL, 2013ag, p.14).

Essa percepção aumenta o grau de complexidade do processo de elabora- ção dos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC) na medida em que exige um rigor na observância dos inumeráveis ordenamentos legais a serem con- templados no documento e na práxis pedagógica dos docentes e da Insti- tuição. Talvez, por isso mesmo, o legislador tenha contribuído, explicitando

orientações quanto aos passos a serem observados no planejamento da organização curricular dos cursos técnicos de nível médio, conforme Art. 22 da Resolução CNE/CEB nº 06/2012. São eles

“I - adequação e coerência do curso com o projeto político-pedagógico e com o regimento da instituição de ensino;

II - adequação à vocação regional e às tecnologias e avanços dos setores pro- dutivos pertinentes;

III - definição do perfil profissional de conclusão do curso, projetado na identifi- cação do itinerário formativo planejado pela instituição educacional, com base nos itinerários de profissionalização claramente identificados no mundo do trabalho, indicando as efetivas possibilidades de contínuo e articulado apro- veitamento de estudos;

IV - identificação de conhecimentos, saberes e competências pessoais e pro- fissionais definidoras do perfil profissional de conclusão proposto para o curso; V - organização curricular flexível, por disciplinas ou componentes curriculares, projetos, núcleos temáticos ou outros critérios ou formas de organização, desde que compatíveis com os princípios da interdisciplinaridade, da contextualização e da integração entre teoria e prática, no processo de ensino e aprendizagem; VI - definição de critérios e procedimentos de avaliação da aprendizagem; VII - identificação das reais condições técnicas, tecnológicas, físicas, financei- ras e de pessoal habilitado para implantar o curso proposto;

VIII - elaboração do plano de curso a ser submetido à aprovação dos órgãos competentes do respectivo sistema de ensino;

IX - inserção dos dados do plano de curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio, aprovado pelo respectivo sistema de ensino, no cadastro do Sis- tema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (SIS- TEC), mantido pelo Ministério da Educação, para fins de validade nacional dos certificados e diplomas emitidos;

Ainda de acordo com essas Diretrizes, o Projeto Pedagógico de Cursos Téc- nicos de Nível médio deve contemplar, obrigatoriamente, no mínimo:

1. identificação do curso;

2. justificativa e objetivos;

3. requisitos e formas de acesso;

4. perfil profissional de conclusão;

5. organização curricular;

6. critérios de aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores;

7. critérios e procedimentos de avaliação;

8. biblioteca, instalações e equipamentos;

9. perfil do pessoal docente e técnico;

10. certificados e diplomas.

Tais orientações produzem um impacto na estruturação dos PPC enquanto documento formal, ressaltando aspectos que devem ser destacados em cada item que compõe o documento, além de delinear todo o percurso a ser observado pelos seus elaboradores. Ademais, convém ressaltar que as singularidades de cada forma de oferta requerem especificações próprias, exigindo o cumprimento, inclusive, de legislações diferenciadas. Além disso, os cursos também podem ser ofertados na modalidade de Educação a Distância. A legislação define as seguintes formas de oferta

a) Articulada Integrada

• Integrada com o Ensino Médio regular;

• Integrada com o Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – EJA;

b) Articulada Concomitante

• Concomitante com o Ensino Médio regular;

• Concomitante com o Ensino Médio na modalidade de EJA;

c) Subsequente

• ofertada após a conclusão do Ensino Médio regular ou na moda- lidade de EJA.

Esses são os grandes marcos que a comissão de elaboração do PPC de cursos técnicos de nível médio atuam. Assim, não é por acaso que os resultados da pesquisa discutidos aqui sinalizam para a dificuldade de compreensão e apro- priação dos parâmetros legais exigidos. Acrescente-se a isso possíveis parame- trizações dos PPC a partir de processos de avaliação externa. Esse contexto indica, sem dúvida, a necessidade de um instrumento norteador para a elabo- ração do PPC. Como última etapa da metodologia assumida nesta pesquisa – a proposição – sugere-se um Protocolo de Referência acompanhado de sistema online para elaboração dos Projetos Pedagógicos de Cursos Técnicos.

O que é um “protocolo”: importância,