4. RELAÇÕES ENTRE GESTÃO DO CONHECIMENTO E TECHNOLOGY
4.6 PESQUISA-AÇÃO – CONTRIBUIÇÃO DA GESTÂO DO CONHECIMENTO COM
4.6.2 Planejamento do TRM
A realização do TRM exige que alguns fatores sejam avaliados em uma etapa prévia para que o processo tenha maiores chances de ser bem sucedido. Nesta fase preliminar, o objetivo é identificar e definir o conjunto de fatores que irão dar subsí- dios para o TRM. Esta fase é prevista nos métodos propostos por Phaal (2001) e Bray (1997), que a denominam, respectivamente, de “fase de planejamento” e “ativi- dades preliminares”.
Tanto Phaal como Bray entendem que neste momento algumas medidas de- vem ser tomadas para que a realização do TRM seja bem sucedida. Estas medidas, conforme Bray (1997) e Phaal (2001), estão relacionadas especialmente ao escopo, objetivos, equipe, recursos e cronograma do TRM. Especificamente em relação aos recursos, dada à natureza do projeto, houve uma maior preocupação com a defini- ção do ambiente e da forma com que as discussões deveriam ser conduzidas. Isso possibilitaria a realização do processo de planejamento em conjunto com os partici- pantes do projeto de forma a atender as expectativas da empresa e os objetivos do TRM.
Considerando os pontos propostos pelos autores, a seguir serão apresenta- dos os resultados obtidos nesta fase inicial que antecedeu a realização do TRM e que ocorreu no período de Janeiro a Fevereiro de 2010.
Objetivos
Os objetivos para realização do TRM estavam claramente apresentados e surgiram das principais necessidades, oportunidades e desafios internos e externos percebidos pela empresa. A abordagem Market Pull reflete o que Bray (1997) pro- põe como sendo a correta motivação, pois, segundo o autor, “o TRM deve ser orien- tado por uma necessidade e não por uma solução”.
Estes desafios, oportunidades e necessidades foram identificados principal- mente pelo relacionamento com o cliente, necessidades de negócio empresa e opor- tunidades identificadas no mercado, e são os seguintes:
Novos negócios. A empresa, antes de iniciar o projeto, havia percebido a ne- cessidade de diversificação das suas fontes de receita, pois verificou-se que elas estavam amplamente concentradas no seu material audiovisual.
Ciclo de vida do cliente curto. Pela natureza do negócio, o ciclo de vida do cli- ente com a empresa é curto. Neste sentido, a empresa percebeu a necessida- de de aumentar o tempo da relação cliente-empresa a fim de que isto resultas- se na sua fidelização e rentabilização;
Incremento das receitas do conteúdo audiovisual. Este é um objetivo constan- temente buscado pela empresa. A empresa vislumbra que, ainda nos próximos anos, a principal fonte de receita ainda será originada do seu conteúdo audiovi- sual. Por este motivo, dedica a maior parte dos seus esforços em incrementá- la.
A busca pelas soluções das questões apresentadas foi a principal motivação para a proposição do projeto e elaboração do seu PTe. Nesse sentido, as soluções encontradas pela empresa foram as seguintes:
Novos negócios. O caminho natural para solucionar este desafio, em virtude da experiência dos sócios e da natureza do negócio da empresa, é a diversifica- ção de produtos e serviços, principalmente relacionados ao desenvolvimento de software;
Ciclo de vida do cliente curto. Existe uma demanda percebida pela empresa, principalmente nos contatos realizados com os clientes, em relação a treina- mentos que consigam capacitar o participante a atuar de forma independente e que facilitem acesso ao mercado de trabalho. Para isso, o treinamento deveria ser mais longo e aprofundado, com duração de 18 a 24 meses, mantendo as
características de formato e abordagem dos treinamentos atuais;
Incremento das receitas provenientes do conteúdo audiovisual. Este é conside- rado o menor destes desafios, pois o crescimento na quantidade de treinamen- tos disponíveis, por si só, tem proporcionado aumento de receita.
Escopo
O escopo do TRM foi naturalmente delimitado pelos objetivos definidos para o projeto. Para isto, e por meio de discussão entre os sócios da empresa, diversas so- luções foram propostas, tais como: (i) produção de conteúdo para outras mídias, (ii) realização de treinamentos presenciais simultaneamente aos oferecidos à distância,
(iii) consultoria para o desenvolvimento de sistemas, (iv) desenvolvimento de um sis-
tema multiplataforma para automação comercial.
Os critérios determinantes para escolha da solução e definição do escopo do TRM foram: (i) o alinhamento, na medida do possível, com a atual estrutura de ne- gócios da empresa, de forma a incrementar as receitas dos negócios existentes, e
(ii) a geração de desdobramentos que levassem ao desenvolvimento de novos ne-
gócios.
Considerando estes critérios, a proposta selecionada foi o desenvolvimento de um sistema, inicialmente, de gestão de recursos das organizações (ERP) em pa- ralelo a um treinamento por meio de material audiovisual e de um ambiente de EAD (Moodle). Esta proposta, além de estar aderente com os objetivos de longo prazo da empresa (diversificação de produtos, incremento do relacionamento com o cliente e das receitas dos treinamentos) e manter o foco no seu principal negócio (a produção de treinamentos à distância), cria outras oportunidades de negócio relacionadas ao produto (ERP). Tais oportunidades podem ser exploradas no futuro na forma, por exemplo, de consultoria, treinamento, adaptação, manutenção, entre outras.
A solução encontrada materializou-se no projeto EmpresaTI ERP e o escopo do PTe abrange os principais produtos de tecnologia e o impacto deles nos objetivos de longo prazo da empresa.
Equipe
um sistema de ERP e pelos demais subprodutos do projeto estavam além do conhe- cimento e da experiência existentes dentro empresa. Assim, durante a fase inicial, houve a preocupação com a formação de um grupo de especialistas de TI e de ne- gócio com o objetivo de suprir estas lacunas. Por este motivo, a empresa identificou e convidou a participar do projeto pessoas que possuíssem formação ou experiência na área e estivessem interessadas em participar. Algumas destas pessoas, ao toma- rem conhecimento da iniciativa que estava sendo conduzida pela empresa, coloca- ram-se à disposição para contribuir na construção do plano bem como participar ati- vamente do projeto.
Antes de o projeto ser iniciado formalmente, havia uma estrutura de equipe composta dos seguintes atores:
Coordenadores. Composto pelos sócios da empresa, os coordenadores são os responsáveis pela condução do projeto. Entre suas atribuições estão a organi- zação e estruturação das atividades que serão realizadas pelos demais atores, a produção dos principais artefatos do projeto, a disponibilização do ambiente de EAD e a atuação como facilitadores nas discussões.
Especialistas em TI. Formado pelos sócios da empresa e mais um analista de TI selecionado para esta função, são os principais responsáveis pela execução do projeto, definições das tecnologias utilizadas, definição do processo de de- senvolvimento, produção do conteúdo do treinamento, entre outras atividades de natureza técnica.
Especialistas de negócio. Composto por três participantes com conhecimento, em parte ou na sua totalidade, do negócio ou das regras de negócio a serem incorporadas por um sistema de ERP. Possuem formação em administração de empresas ou ciências contábeis, ou têm experiência em gestão empresarial ou em consultoria.
Participantes. São aqueles que não fazem parte de nenhum dos outros grupos mas que têm interesse formal no projeto. É um grupo heterogêneo que partici- pa de grande parte das discussões e definições realizadas no decorrer do pro- jeto.
Para a definição desse grupo de atores, buscou-se trazer pessoas que contri- buíssem com a formação de conhecimentos qualificados, diversificados e que co- brissem parte significativa para as necessidades do projeto. De acordo com Bray (1997), a formação de equipes multidisciplinares, neste caso com pessoas internas e
externas a empresa, é uma das principais condições para a elaboração do TRM.
Cronograma
Uma vez definidos os principais elementos que compõem o projeto, os coor- denadores iniciaram a divulgação no site da empresa e, em paralelo, definiram o cronograma de planejamento do projeto. Por este cronograma, o mês de Março foi dedicado à atividade de planejamento e a primeira versão do Technology Roadmap foi construída a partir dos elementos produzidos nesta etapa.
Durante esta fase de planejamento foram definidos itens como: detalhamento dos objetivos, produtos a serem desenvolvidos e suas características, conhecimen- tos necessários, tecnologias e componentes utilizados, tecnologias e componentes a serem desenvolvidos e principais marcos.
Nas próximas seções, será apresentado como as decisões tomadas fornece- ram insumos para a construção de cada uma das camadas do TRM. Para isto, será apresentado a dinâmica das interações e o ambiente em que elas ocorreram e que proporcionaram a tomada de decisão em consenso pelos diversos atores.
Recursos
Para viabilizar as atividades requeridas pelo PTe, buscou-se uma ferramenta capaz de organizar e viabilizar as discussões com todos os atores do projeto. Consi- derando que a empresa é, por natureza, virtual, e os atores (coordenadores, especi- alista de negócio, especialistas de TI e participantes) estão distribuídos geografica- mente (no Brasil e no exterior), utilizou-se um ambiente de EAD já conhecido e am- plamente utilizado pela empresa.