• Nenhum resultado encontrado

Como terceira etapa da pesquisa, foi realizada a Oficina de Atuação para o Audiovisual, voltada para estudantes dos cursos de Teatro, Cinema, Rádio e Tv e Mídias Digitais, da UFPB, além de atores e atrizes em geral. Foram abordadas diversas técnicas de atuação para a câmera, a linguagem da televisão e procedimentos de criação.

Para esta oficina, foi priorizado o trabalho com a ideia do ator e da atriz enquanto compositores, pensantes, criadores, propositores, na busca por um tipo de composição inteligente, que, como diz Bonfitto (2001) transformasse materiais e mentalidades ao produzir sensibilização e ação.

Na busca por uma sistematização de práticas e técnicas de atuação para o audiovisual, em um contexto formativo, buscou-se abordar essa relação de diálogo entre os participantes da oficina, ao discutir os principais conceitos presentes na prática da atuação no audiovisual. Partindo-se do entendimento que cada participante já possuía sobre o universo audiovisual, partiu-se para um compartilhamento de experiências e concepções na área, seguindo então para uma abordagem sistematizada do conteúdo.

Foi ainda apresentada aos participantes uma introdução acerca dos pressupostos metodológicos que orientam esta prática. Em seguida, uma síntese dos principais aspectos acerca da atuação no audiovisual, considerados pela autora a partir de diferentes referências já apresentadas no Episódio I deste trabalho. Por fim, foram realizadas experiências de aplicação dos aspectos teóricos metodológicos defendidos.

A abordagem se deu principalmente sobre os conceitos e práticas de atuação para o audiovisual, a preparação do ator, a construção de personagens e o treinamento do intérprete. Para estruturar a oficina de Atuação para o Audiovisual foi necessária uma seleção, dentre as várias técnicas estudadas, no intuito de conduzir processos desde os mais tradicionais, como também as práticas mais contemporâneas, considerando o universo cinematográfico, televisivo e teatral. Porém, essa seleção não se deu de maneira rígida ou fixa. Foi delimitada uma nuvem de possibilidades, sem contornos definidos, de maneira que fosse lançada mão dos recursos disponíveis à medida que se apresentassem as necessidades no decorrer do curso. Araújo (1998, p. 16) afirma que “um processo educacional não se estrutura a partir de conteúdos estáticos e supostamente acabados, prontos para serem transmitidos”. Para ele, recorrer ao conhecimento sistematizado pela investigação artística e científica é um meio e não um fim. Assim, o conhecimento é um processo dinâmico, em constante transformação, produzido a partir da sistematização das diferentes especialidades da arte e da ciência.

A Oficina de Atuação para o Audiovisual não teve a pretensão de trabalhar o audiovisual em toda a sua amplitude, abarcando todos os seus aspectos. O objetivo primeiro desse curso de curta duração foi oferecer ferramentas aos participantes, mediante uma visão geral do universo audiovisual e do papel do ator nesse contexto.

As inscrições para a oficina foram feitas no período de 1º a 08 de agosto de 2016, por meio de formulário online. A divulgação foi realizada através de folder digital (Anexo A) nas redes sociais e no site da UFPB. Foram inscritas 51 pessoas, sendo que a quantidade de vagas eram apenas 23, as quais foram preenchidas da seguinte maneira: 10 estudantes de Teatro, 03 estudantes de Rádio e TV, 03 estudantes de Cinema, 01 estudante de Mídias Digitais, 06 atores e atrizes da cidade.

A grande procura pelo curso, mesmo com a divulgação limitada aos meios digitais, nas redes sociais e no portal da UFPB, confirmou que, de fato, existe uma demanda nesse sentido, o que apontou também para possíveis novas ofertas desse curso no futuro. Esta procura apenas corroborou a já identificada escassez de cursos voltados para a formação do ator nesta linguagem. As poucas oficinas oferecidas na cidade são, normalmente, com carga horária reduzida (no máximo 20 horas), a exemplo das oficinas das quais a pesquisadora participou, ministradas por Fátima Toledo, em 2008, e com Christian Durvoort, em 2012. Outros cursos foram oferecidos a preços elevados, muitas vezes com uma pequena participação de algum ator com notoriedade nacional, no sentido de angariar o maior número de participantes possível. Assim, viu-se que há uma lacuna na formação dos atores pessoenses, bem como se percebeu que abrir esse espaço de experimentação pode gerar interações interessantes, reflexões, descobertas e produtos diversos.

A primeira parte do curso foi realizada entre 10 de agosto a 01 de setembro, em 11 encontros de 3 horas de duração, sempre às segundas, quartas e quintas-feiras, das 19h às 22h, com a carga horária de 33 horas. De 05 de setembro a 07 de outubro foi realizada a segunda fase, referente aos ensaios e gravação do episódio piloto da segunda temporada do Ciência Aberta, em 9 encontros de 3 ou 4 horas de duração, em horários alternados, com carga horária de 33 horas, sendo que o total de horas das duas fases foi de 66 horas.

O espaço de realização dos encontros foi o estúdio de TV do Departamento de Comunicação, do Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA), localizado no Campus I da UFPB, em João Pessoa. A escolha do estúdio como local de realização da oficina deveu-se à possibilidade de proporcionar aos participantes o máximo de contato possível com o ambiente de gravação predominante na televisão, facilitando, assim, a sua familiarização com este contexto.

Os equipamentos utilizados para o registro da oficina, bem como para a gravação e exibição das cenas propostas como exercícios durante a oficina foram: duas câmeras Sony HVR-Z7, uma câmera Nikon D5300, um microfone Shotgun, um aparelho televisor LCD 40”, além de refletores, tripés, pedestais, vara de microfone e cartões de armazenamento. Parte dos equipamentos foram disponibilizados pela TV UFPB e outra parte pela Ícaro Produções, de propriedade da pesquisadora.

A oficina seguiu uma estrutura básica a partir de possibilidades criativas que foram surgindo a partir do trabalho com cinco fundamentos principais: 1. Percepção; 2. Presença; 3. Relação; 4. Desnudamento; 5. Composição. Não houve uma hierarquização ou sequencialidade entre estes, de maneira que trabalhamos ora isoladamente, ora de forma integrada, avançando e recuando de acordo com a demanda natural do grupo.

A etapa de percepção compreendeu basicamente atividades para reconhecer os elementos do universo audiovisual – sua linguagem, seu ambiente, equipamentos e formas de trabalho – bem como, se perceber enquanto agente nesse universo, de que maneira é possível colocar-se, que tipo de alterações ele provoca e que adaptações se percebem necessárias para dialogar da melhor maneira com esses elementos. A auto-observação foi uma das ferramentas principais nessa etapa.

A etapa da presença foi direcionada, principalmente, para a experimentação do “estar”, do se colocar a serviço do trabalho, do jogo consigo mesmo, primeiramente. Atividades com níveis de energia, controle físico e emocional, entrega e preenchimento interno foram predominantes para a busca desse fundamento.

Já na etapa da relação o foco recaiu na busca pelo estado de jogo, de atenção, de abertura e escuta do outro, do “dar e receber”, das tensões, do provocar e deixar-se ser provocado, da doação e da generosidade, além do desafio e da competição. O foco pousou sobre a relação com o outro, em busca de possibilidades de construções que partissem dessa troca.

Na etapa que foi denominada como desnudamento, o trabalho refletiu um pouco os conteúdos pessoais, com inquietações íntimas, com a autorrevelação, embora com uma camada de ficcionalização. A busca de como friccionar o vocabulário pessoal de vivências com o universo ficcional, a fim de criar narrativas cênicas. A composição final compreendeu o encadeamento desses diversos princípios trabalhados.

A pesquisa apresenta em seguida um detalhamento dos procedimentos propostos durante o curso, relacionando-os com os estudos teóricos e entrevistas já realizados nesta

pesquisa. Nos links distribuídos ao longo do texto e listados no Anexo D estão disponíveis os vídeos de registro da oficina41.

Apresentação e Reconhecimento

É relevante para esta pesquisa realizar uma narração do primeiro encontro de maneira mais detalhada porque nele está a exposição de um pensamento geral que guia todo o processo da oficina. Em seguida, explana-se sobre o curso de maneira mais geral, destacando- se apenas os principais pontos.

Como de praxe, a primeira atividade da oficina foi a apresentação: inicialmente, a apresentação da pesquisadora, e seguida a dos participantes. Porém, esta não foi feita à maneira convencional. Ao invés disso, foi preparado o set de gravação, juntamente com o apoio técnico do estudante de Rádio e TV, Guilherme Schmitt, e do estudante de Mídias Digitais, César Moura, com luzes, microfones e câmera posicionadas, como se fosse ser gravado um programa de televisão. Algumas imagens de registros foram feitas do lado de fora do estúdio, enquanto os participantes ainda aguardavam o início da aula, mas a presença da câmera, ainda que nesse contexto informal, já causava uma certa estranheza.

Chegada a hora de iniciar a oficina, todos entraram no estúdio, previamente preparado, sentaram-se nas cadeiras dispostas de frente para o cenário e aguardaram curiosos. Um dos apoiadores do projeto bateu a claquete e foi dado início à gravação, onde a pesquisadora se colocou na posição de apresentadora do Programa Ciência Aberta, dando o seguinte texto: “Olá! Eu sou Cely Farias e esse é o Ciência Aberta, um programa que integra o conhecimento científico e o saber popular a partir das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal da Paraíba. Hoje a gente vai mostrar um pouco da Oficina de Atuação para o Audiovisual, com alunos do curso de Teatro, de Cinema, Rádio e Tv e Mídias Digitais aqui da UFPB. A gente vai mostrar um pouquinho do por trás das câmeras, da cadeia de produção da televisão e dos processo criativos do ator”.

Em seguida, cada um dos atores foi convidado para ir até a cena e se apresentar, falando um pouco das suas experiências no audiovisual e das expectativas com relação ao curso (figura 13). Essa proposição já se deu no sentido de colocá-los em evidência diante das câmeras, para sentir qual o nível de intimidade que eles já tinham com esse tipo de trabalho, ou ainda identificar possíveis tensões nessa relação. Além, é claro, de proporcionar, desde o

41

Biblioteca de vídeos disponível em: <

primeiro instante, a convivência com esse objeto às vezes tão invasivo, estranho e, principalmente, revelador.

Figura 13: Oficina de Atuação para o Audiovisual - Apresentação

Adilson Santana e Júlia Cotrim

Fonte: Frame capturado de vídeo de registro

Também nesse exercício, foi pedido para que cada um batesse a claquete para o colega seguinte, como uma forma de eles adquirirem, gradualmente, o vocabulário da linguagem televisiva, e compreenderem como se dão os processos dos outros profissionais do audiovisual, conhecimento que contribui para o um melhor desempenho da função de ator.

Após a gravação/apresentação individual, foi feita uma roda de conversa (figura 14) onde se expôs a proposta da oficina, deixando claro que tratava-se de um pesquisa de mestrado, e que eles participariam de um processo investigativo, com espaço para testes, acertos e erros. A pesquisadora compartilhou a sua vontade de trabalhar colaborativamente desde o início e, por isso, estava sempre aberta às sugestões e críticas, destacando que tratava- se de um processo dinâmico, de descoberta, com muitas possibilidades a serem ou não executadas. Buscou-se saber quais as reais expectativas de cada um com relação à oficina, para que se pudesse planejar as aulas de forma democrática e estimulante para todos. Destacou-se, ainda, a necessidade da disciplina, pontualidade, assiduidade, dedicação aos estudos e leituras propostas, bem como aos exercícios práticos.

Figura 14: Roda de conversa

Participantes da Oficina de Atuação para o Audiovisual

Fonte: Frame capturado de vídeo de registro

Como última atividade deste primeiro encontro, assistiu-se aos vídeos das apresentações que foram gravadas no início das atividades, com o objetivo de possibilitar a familiarização dos participantes com sua própria imagem exposta na tela, uma vez que é recorrente as queixas quanto ao desconforto que há ao se assistir, pois o olhar para si mesmo é quase sempre carregado de muita autocrítica. Quando se acostuma à própria imagem na tela, é possível superar a estranheza de ver-se a si próprio, e se passa identificar com mais nitidez características importantes, bem como dificuldades a serem superadas. Após assistir-se a cada um dos vídeos de apresentação, foram realizados comentários destacando as características positivas e as negativas em cada um dos participantes, bem como foi possível identificar os elementos propícios para o meio audiovisual, a exemplo de naturalidade, postura, espontaneidade, foco no olhar, economia de gestos, etc., e também aqueles que foram incompatíveis com essa linguagem, como, por exemplo, voz muito impostada, gestos amplos, nervosismo, rigidez, etc.

Essa auto avaliação, embora rápida, ajudou a estabelecer para cada um dos participantes um panorama de seu estágio de desenvolvimento com relação à atuação no audiovisual, estabelecendo, assim, objetivos no que se refere à superação das dificuldades identificadas e do aperfeiçoamento das qualidades percebidas, servindo como uma espécie de meta a ser alcançada até o final do curso.

Como instrumento para auxiliar nesse processo de reflexão, aprendizado e experiência, distribuíram-se cadernos entre os participantes, os quais foram intitulados como de diários de bordo, onde seriam feitas anotações sobre cada aula assistida, bem como sobre outras reverberações que a oficina causasse (figura 15). O diário serviu como ponto de reflexão individual, com leitura e releituras regulares, bem como um auxiliar na organização do processo criativo final.

Figura 15: Diário de bordo

Fonte: Frame capturado de vídeo de registro

No final deste dia de oficina, foi pedido que selecionassem um monólogo que seria trabalhado na aula seguinte.

Despertar e Brincar

No início de cada encontro eram feitos exercícios de alongamento, de despertar o corpo, de trazê-lo para o estado de atenção voltada para o trabalho. Algumas vezes foram conduzidos pela pesquisadora, outras vezes cada ator e atriz trabalhou individualmente, de acordo com suas necessidades no momento e partindo de seu repertório pessoal de exercícios voltados para tal fim. Esses exercícios foram trazidos de diversas fontes, como teatro, Yoga, Bioenergética, massoterapia, dança, etc.

Esse momento inicial marcava a “chegada” do ator para o trabalho, uma instauração de um estado de concentração, disponibilização e preparação corporal para o trabalho que virá. Compreendia, basicamente, além do alongamento muscular, o trabalho com as articulações, desde as mais periféricas até as centrais, contribuindo ainda na consciência corporal, a partir de um trabalho segmentado.

A necessidade de se trabalhar o corpo, de se alongar, aquecer, treinar, exercitar a consciência corporal, o domínio, é para preparar o instrumento de trabalho de que dispõe o ator e a atriz. Salles (2009, p. 66) define matéria como “tudo aquilo a que o artista recorre para a concretização de sua obra, o que ele escolhe, manipula e transforma em nome de sua necessidade”.

Bonfitto (2001, p. XIX) afirma que “o ator que compõe, o ator-compositor, necessita de materiais para executar seu trabalho, os quais são classificados em três categorias – material primário: o corpo; secundário: as ações físicas; e terciário: os elementos constitutivos das ações físicas”.

A cada encontro, existiu um momento para que os participantes da oficina propusessem exercícios voltados ou para o momento inicial, do “despertar”, ou para o momento seguinte, referente ao aquecimento. Um exemplo foi o exercício do Samurai (figura 16) trazido por Bertrand Araújo, que teve como foco a atenção e o estado de prontidão do ator.

Figura 16: Exercício do Samurai

Participantes da Oficina de Atuação para o Audiovisual

Araújo (1998, p. 63) aponta para o fato de que, em geral, as pessoas que frequentam uma oficina não pertencem a um mesmo grupo social, salvo quando a oficina é solicitada por um grupo que já possui um espaço organizado de trabalho. Em função dessa heterogeneidade do grupo, faz-se necessário um cuidado redobrado com o aspecto da socialização uma vez que é preciso organizar o grupo e dar tempo para que os seus participantes possam se conhecer melhor, de maneira que o grupo possa encontrar sua própria dinâmica.

Como se tratou de uma turma bastante heterogênea, com alguns participantes com larga experiência no teatro e formação sólida na área, enquanto outros eram iniciantes, alguns fazendo seu primeiro curso de atuação, sentiu-se a necessidade de proporcionar um ambiente descontraído, onde as relações pudessem fluir de maneira natural, onde os participantes pudessem sentir-se à vontade uns com os outros, se desprendendo de vergonhas ou “travas”. Portanto, lançou-se mão de exercícios que trabalhassem com a ludicidade, de maneira a envolver os participantes de forma prazerosa, mas com o objetivo de promover a socialização e a integração entre eles. Atividades que trabalhavam muito o olhar e o tocar (figuras 17 e 18), sempre a partir de pequenos desafios a serem superados foram fundamentais neste momento da oficina.

Figura 17: Exercício de olhar e tocar

Joelton Barros, Eulina Barbosa, Jamila Facury, Saskia Lemos, Bertrand Araújo

Figura 18: Exercício de olhar e tocar

Eulina Barbosa, Berttony Nino, Jamila Facury e Philipe Meneses

Fonte: Frame capturado de vídeo de registro

De acordo com Araújo (1998, p. 45) o ator precisa desenvolver a sua capacidade para trabalhar coletivamente, “para conviver em grupo respeitando as diferenças de opinião, aprendendo a valorizar suas contribuições pessoais sem que para isso tenha que impor sua vontade ao grupo ou, simplesmente, deixando-se levar por ele”. Essa característica se desenvolve ao longo do processo de formação do ator.

O momento seguinte já foi voltado para a prática de exercícios que trabalhassem os fundamentos da atuação para o audiovisual. Utilizou-se para esta fase jogos e brincadeiras, num primeiro momento, e exercícios mais técnicos nos encontros posteriores. Um exemplo de jogo utilizado foi o “Batatinha frita 1, 2, 3” (figura 19), que, além de proporcionar a integração e socialização, trabalhou em background conceitos como o freio, a retomada, a prontidão, o controle corporal e velocidades, parâmetros recorrentes no trabalho de preparação do ator.

Figuras 19: Jogo Batatinha Frita 1 2 3

Participantes da Oficina de Atuação para o Audiovisual

Fonte: Frame capturado de vídeo de registro

Outro jogo utilizado, trazido como sugestão de um dos participantes, foi o nó humano (figura 20). Já era conhecido pela pesquisadora este jogo e considerado interessante a maneira com que ele trabalha a socialização, a noção de espaço, lateralidade e o pensamento colaborativo.

Figura 20: Jogo nó humano

Participantes da Oficina de Atuação para o Audiovisual

Araújo (1998, p. 45) destaca a importância do jogo enquanto instrumento pedagógico:

Quando ao longo dos ensaios são trabalhados jogos como Pega-pega, cabra- cega, entre outros, não se pretende que o ator se entregue apenas a sua dimensão lúdica, mas sim que perceba ludicamente que precisa descobrir as estratégias necessárias para atingir os objetivos que o jogo propõe, sem que para isso tenha que ficar constantemente questionando as regras do jogo. Ele ressalta ainda que a utilização do jogo como instrumento de preparação e formação de atores contribui para desenvolver algumas habilidades básicas que antecedem o conhecimento dos elementos que compõem as técnicas de representação do ator.

Embora se tenha experimentado, ao longo do curso, uma diversidade de exercícios e técnicas voltados para a consciência e sensibilização corporal, a percepção espacial, o equilíbrio, a percepção tátil, o ritmo, as dinâmicas vocais, entre outros, não foi o objetivo principal desenvolver plenamente essas ou outras habilidades, mas, sim, apontar a necessidade do ator de trabalhar continuamente o seu instrumento de trabalho, em todos os aspectos que o compõem.

Valeska Picado (2016) contou que utiliza o jogo como forma de “quebrar muito a gente enquanto adulto, que é cheio de preconceito e de preocupações”. Para ela, a brincadeira tira o foco de preocupações nocivas ao trabalho.

[...] por exemplo, se eu chegar e começar a fazer uma vivência com atores, pedir pra eles se tocarem, se perceber o rosto um do outro, a pele, pode, a princípio, se é um grupo que não se conhece, ter um certo constrangimento. Mas se eu falar “ó, gente, nós vamos fazer a dança da laranja, aquela do pescoço, a brincadeira da laranja, você vai botar as mãos pra trás, coloca a laranja no pescoço e você tem que passar pro outro a laranja, sem usar as

Documentos relacionados