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Sem aviso, abro braços e pernas ao mesmo tempo Nesse rompante assumo a posição de combate e defesa: pernas esticadas meu pé direito, apoiado sobre

Seqüência 02 Ângelo Madureira 55 :47 a 56 :15 movimento

5.3 A Demanda do Graal Dançado do grupo Grial: o criador e a poética do espetáculo.

5.3.4. Poética do espetáculo e utilização do frevo.

A versão a que tive acesso de A Demanda do Graal Dançado não é a da estréia. Nessa montagem posterior, Fernanda Lisboa foi substituída por Viviane Madureira, formada pelo Balé Popular do Recife, e Maria Imaculada, filha de Mestre Salustiano, integrou o elenco realizando algumas inserções nas cenas.

No espetáculo A Demanda do Graal Dançado, o frevo é o elemento central da coreografia que finaliza o espetáculo. A música é um frevo composto por Zoca Madureira, executado por flautas e clarinetes. É, portanto, um frevo com suavidade e sugestão de leveza. Apenas cinco dançarinos estão em cena e podem ser divididos em três tipos de ação coreográfica: duas dançarinas (Maria Paula e Valéria Medeiros) interpretam a música com pouca referência direta aos movimentos do frevo; um dançarino (Jaflis Nascimento) interpreta apenas movimentos de frevo; e uma dançarina (Viviane Madureira) se reveza

entre acompanhar a coreografia das dançarinas e dançar o frevo com o dançarino. Detalharei cada uma dessas partituras corporais e apontarei como elas interagem entre si.

Imagem 033

Jaflis Nascimento

Jaflis Nascimento

Jaflis Nascimento, assim como o restante do elenco, dança de forma que predomina o fluxo sustentado, pouco acelerado, e o peso ativo e leve. Somados à ênfase na zona de elevação, esses fatores do movimento tornam os movimentos do frevo suaves. Ele apresenta variedade de tipos de movimento de frevo mantendo, como elemento recorrente, o movimento passeio na pracinha, que se constitui como deslocamento acelerado através do cruzar de pernas alternadamente. O tempo de execução em geral acompanha o ritmo da música, no entanto, apresenta variações de aceleração e pausa total, durante toda a coreografia. Os movimentos do frevo que utiliza são:

Passeio na pracinha Trocadilho Queda na esquiva*87 Ginástica do passo Cumprimento Coice de burro Tesoura no ar Passo do grilo Ponta de pé calcanhar

Variação de muganga sem deslocamento* Pernada com giro

Descida com um pé no ar* Metrô subterrâneo

87

Os movimentos marcados com asterisco não possuem denominação catalogada, em geral são variações ou funcionam como elemento de conexão ou finalização de uma seqüência de movimentos, porém não são estranhos ao frevo.

Passo do Zé Passeio na pracinha Vôo da andorinha Pontinha de pé Cama de gato Abre alas

Plantando mandioca com giro

Percebe-se na variedade de movimentos de frevo utilizados a mistura de movimentos complexos, como saltos (“vôo da andorinha”, “pulo do grilo”, “tesoura no ar”, “coice de burro”) e movimentos agachados (“metrô subterrâneo”, “plantando mandioca com giro”), entremeados de movimentos simples e mais conhecidos do frevo como “pontinha de pé”, “abre alas”, “ponta de pé calcanhar”, “trocadilho” e “passeio na pracinha”, que compõem os trinta movimentos básicos na organização de Nascimento do Passo (Oliveira, 1993).

Na interpretação desses movimentos, Jaflis Nascimento enfatiza a articulação e gesticulação dos braços, que várias vezes acompanham as variações melódicas da música e não seguem necessariamente o padrão convencional, ensinado nas aulas. Acrescenta, portanto, ao frevo normalmente apresentado em palco, trejeitos de tronco, cabeça e braços, que não são as “misuras” do frevo, mas repercutem como elas, elementos musicais.

Há também a utilização de interpretação facial, que ratifica o sentido de alegria e descontração. Há predominância do tronco ereto, fixo e frontal, porém com flexão nos saltos e agachamentos. Ou seja, a relação frontal e o contato visual com o público são priorizados, mas não chegam a influir na execução dos movimentos agachados e nos saltos.

Na interpretação de Jaflis Nascimento vêem-se apenas movimentos de frevo, com exceção de dois movimentos do de dança de rua, incorporados pelo passista também em suas improvisações de frevo. Jaflis é um passista com características peculiares. Filho de Nascimento do Passo e, portanto, passista desde a infância, manteve contato com o Balé Popular do Recife, com a cena de artes cênicas da cidade e com o movimento de dança de rua, incorporando diversas informações que compõem a sua forma de dançar. A sua ênfase na suspensão do peso do corpo não o leva a saltitar (característica da interpretação do BPR) e sim a manter suavidade na execução dos seus movimentos.

As duas compreensões de frevo mais atuantes - a do Método Nascimento do Passo e a do Balé Popular do Recife - se cruzam na proposição do grupo Grial, através da performance de Jaflis Nascimento, que reinscreve mobilidade dinâmica na interpretação da música. Pois, ao contrário da marcação rítmica binária que o BPR segue, Jaflis, a exemplo

do seu pai, defende um diálogo com as mudanças dinâmicas e com a harmonia da música. A ênfase melódica é destacada também pela coreografia, que pontua os movimentos de frevo com pausas e respirações, em consonância com o estilo pregado por Nascimento do Passo, mas reorganizado pelo entendimento de composição da coreógrafa, que dialoga com elementos da dança moderna, como explicitarei na análise do conjunto do espetáculo.

Da mesma forma, Jaflis absorve a verticalização da coluna vertebral introduzida pelo BPR, mas a articula com trejeitos que ondulam o tronco, e não a incorpora quando manter a coluna ereta significa perder a conexão orgânica dos movimentos, o que é visível nos saltos e na maioria dos movimentos agachados.

A dupla: Maria Paula Costa Rego e Valéria Medeiros

As dançarinas dividem o centro do palco, no entanto suas atuações não são hierarquizadas como mais importantes na coreografia, pois elas ocupam o plano baixo e se colocam sentadas de costas, executando torções e rolamentos. No início, funcionam como “cenário” para as interpretações individuais de Jaflis Nascimento e Viviane Madureira.