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Poderes da Administração

CAPÍTULO 2 O ESTADO ADMINISTRADOR

2.2 A Administração Pública

2.2.1 Poderes da Administração

Para a consecução de seu fim, que é o bem estar generalizado, ou o denominado interesse público, através de gestão competente, a Administração Pública é ―dotada de poderes administrativos, conferidos pelo ordenamento jurídico, caracterizando- se como instrumentos para a realização de suas atividades públicas‖141.

Não se devem confundir os poderes do Estado, anteriormente estudados, a saber, Executivo, Legislativo e Judiciário, com os poderes administrativos. Estes se caracterizam por tratar-se de autorização142, ou ―prerrogativas de direito público que a

ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins‖143.

Ensina Hely Lopes Meirelles:

Os poderes administrativos nascem com a Administração e se apresentam diversificados segundo as exigências do serviço público, o interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem. Dentro dessa diversidade são classificados, consoante a liberdade da Administração, para a prática de seus atos, em poder vinculado e poder discricionário; segundo visem ao ordenamento da Administração ou à punição dos que a ela se vinculam, em poder hierárquico e

poder disciplinar; diante de sua finalidade normativa, em poder regulamentar; e,

tendo em vista seus objetivos de contenção dos direitos individuais, em poder de

polícia.(grifos do autor)144.

A palavra poder, ora em pauta, tem sentido de prerrogativas, aptidões, faculdades ou instrumentos para atendimento dos interesses coletivos. São inerentes à Administração de todos os entes estatais, na proporção e limites de suas competências institucionais, e podem ser utilizados, isolada ou cumulativamente, para a consecução de um mesmo ato145.

Maria Sylvia Zanella di Pietro indica que se trata, na verdade, de poder- dever, já que o sujeito favorecido é a coletividade, tutelada pela Administração. É dever, portanto, da Administração, através de tais poderes, assegurar a primazia do interesse público. A Administração não pode dispor de tais prerrogativas que lhe são inerentes,

141 TANAKA, Sonia Yuriko Kanashiro (Coord.). Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros. 2008, p. 112. 142 Op. cit.

143 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ibid., p. 39. 144 MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 108.

tampouco a elas renunciar. Importante lembrar que todo poder ou poder-dever só pode ser exercido nos limites legais146.

Contrapondo sutilmente a classificação enunciada por Hely Lopes Meirelles, a autora não considera poder vinculado e poder discricionário como autônomos, a exemplo do normativo (ou regulamentar), do hierárquico, do disciplinar, e o de polícia, tratando-se de atributos ou condições aplicadas a outros poderes147. Neste sentido, é de se destacar seu conceito:

O que ocorre é que as várias competências exercidas pela Administração com base nos poderes regulamentar, disciplinar, de polícia, serão vinculadas ou discricionárias, dependendo da liberdade, deixada ou não pelo legislador à Administração Pública148.

Sob este aspecto, poder vinculado significa que a Administração submete-se à lei, em todos os aspectos. É o ―poder‖ que obriga a Administração, caso presentes os requisitos legais. Há uma delimitação estabelecida e determinada dos atos da Administração. É o poder que a lei confere à Administração Pública para a prática de ato de sua competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua formalização 149.

Já o poder discricionário, ou discricionariedade, significa a liberdade a ser exercida pela Administração, nos limites fixados em lei. Há um limite da lei, mas há uma flexibilidade conferida à Administração para agir, conforme entender melhor, em nome do interesse público. De acordo com o caso concreto, o agente pode avaliar qual o melhor caminho a tomar.

Para Celso Antonio Bandeira de Mello, vinculação e discricionariedade são atos da Administração. A diferença entre eles é que, no vinculado, a ―Administração não dispõe de liberdade alguma, posto que a lei já regulou antecipadamente em todos os aspectos o comportamento a ser adotado‖, enquanto que o ato discricionário é praticado com ―certa margem de liberdade de avaliação ou decisão segundo os critérios de

146 Op. cit., p. 86. 147 Op. cit. 148 Op. cit.

conveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei reguladora da expedição deles”150.

Através da faculdade conferida pelo poder regulamentar, os chefes do Executivo (Federal, Estadual e Municipal) podem regulamentar a lei e suprir, com normas próprias, as omissões ou matérias incompletas da lei que estiverem em sua alçada. É verdade que surgem lacunas na lei, que reclamam, diante de circunstâncias fáticas, providências imediatas da Administração. Nessas situações, que não podem contrariar matérias disciplináveis por lei, mas complementá-las, pode o chefe do Executivo, através de decretos, expedir regulamentos151. Veja-se que, aqui, podem se mesclar condições de vinculação e discricionariedade. O poder é vinculado à lei, contudo a edição do decreto depende da vontade do chefe do Executivo, que possui liberdade de mensurar qual o regulamento adequado a determinada situação, e em que situação pode ser conferido.

Quanto ao poder hierárquico, é definido por Hely Lopes Meirelles como sendo ―aquele de que dispõe o Executivo para distribuir e escalonar as funções dos seus órgãos, ordenar e rever a atuação dos seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.‖ 152

A Administração necessita que todos os demais órgãos se harmonizem, para a concretização de seus objetivos. O Executivo, no comando da Administração Pública, distribui as tarefas a cada agente, a cada órgão, e de cada um se estendem ramificações, interligadas entre si, imperando uma hierarquia, na qual alguns, de acordo com o cargo que ocupam, comandam, controlam e coordenam os demais, para que possa haver organização. O poder hierárquico se refere à hierarquia, subordinação, cumprimento de ordens a serem executadas.

Quanto ao poder disciplinar, é justamente a faculdade de impor disciplina entre os agentes e órgãos. É a possibilidade de se aplicar punição àquele que deixa de cumprir seu trabalho a contento, através de pena disciplinar153.

150 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Op. cit., p. 410.

151 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 130. 152 Ibid., p.123.

153 A respeito dos poderes administrativos enumerados no texto é possível obter maior aprofundamento da

matéria em Hely Lopes Meirelles, Maria Sylvia Zanella di Pietro e José dos Santos Carvalho Filho. Não se pretende adentrar em detalhes, pois o tema central do presente trabalho é o Poder de Polícia, a ser

Finalmente, a partir do capítulo seguinte, será explorado o poder de polícia que, nos dizeres de Themistocles Brandão Cavalcante, ―é o poder administrativo por excelência‖154, bem como será avaliada quanta influência essa prerrogativa da

Administração exerce no seio da sociedade, quanto afeta o direito individual e de propriedade, e de que maneira o cidadão interage com esse poder.

explorado a partir do capítulo seguinte. Os demais poderes são revisados rapidamente, para uma pequena introdução ao respectivo estudo.