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Na década de 1970 a Prevenção Primária apresentava-se como uma área de pouca relevância para a política da toxicodependência. Ao longo dos tempos e com base na aquisição de novos conhecimentos o conceito de Prevenção tem evoluído na sua especificidade selectiva em relação ao uso e abuso de drogas, para uma concepção mais ampla e alargada: o da educação para a saúde.

Segundo Carvalho (1991), usualmente define-se Prevenção como um tipo de intervenção que se realiza no período pré-patogénese, quer através de medidas destinadas a promover o estado de saúde, quer mediante o estabelecimento de processos de protecção específica contra agentes patológicos.

Nos finais dos anos 1970, a nível internacional, o maior e prioritário investimento era feito na área da Prevenção Primária, através de medidas informativas, pedagógicas/formativas. Os programas de informação eram determinados pelas características do público-alvo, tendo presente a problemática concreta da

toxicodependência e comunidade de grupos considerados.

As actuações pedagógicas tendiam para programas de educação sobre drogas integrados no currículo escolar, programas de educação sanitária e programas sobre desenvolvimento psicossocial do indivíduo. A actuação comunitária pretendeu, sobretudo, aumentar na comunidade os conceitos sobre as diferentes drogas e consequências do seu consumo e abuso; sua relação com outras substâncias tais como álcool, tabaco e medicamentos; melhorar a comunicação interpessoal entre pais, filhos e professores; estimular actividades extra-curriculares que motivassem os jovens; bem como ajudar ao desenvolvimento sócio-económico e cultural da comunidade com a participação de todos.

Na continuidade de uma política de Prevenção das toxicodependências foi, a 24 de Abril de 1979, estabelecido com o apoio da UNESCO um acordo entre o Ministério da

Educação e Investigação Científica (MEIC) e o Gabinete Coordenador do Combate à Droga (GCCD), visando um Plano de Prevenção Primária das Toxicodependências no Meio Escolar (ensinos preparatório e secundário), mediante acções de formação e

informação.

Com o objectivo de dar uma resposta elaborada e programada a toda a problemática da

droga, a experiência piloto do Plano de Prevenção Primária das Toxicodependências em Meio Escolar pretendeu provocar a mudança de comportamento e atitude face ao

fenómeno da droga por via da formação/informação de Professores Mediadores que, por sua vez, actuariam junto dos restantes professores e de outras estruturas escolares (auxiliares, médico escolar e pais). Estes Professores Mediadores tinham por função estabelecer a ligação entre o CEPD e as escolas; analisar os casos e os pedidos oriundos do corpo docente; intervir em acções de informação, junto de outros professores e alunos, quando solicitadas; realizar actividades informativas/formativas no domínio da

toxicodependência; encaminhar casos em que se considerasse necessária uma

intervenção a nível da Prevenção Secundária e, eventualmente, Terciária e canalizar eventuais pedidos de esclarecimento ou de formação de pais, abordados conjuntamente com os técnicos do CEPD.

Segundo Dias [s/d] dada a curta existência do CEPD não foi possível estabelecer critérios rigorosos para uma avaliação satisfatória, sistemática e permanente às acções empreendidas em meio escolar, bem como de outras intervenções preventivas realizadas. As equipes de Prevenção Primária do CEPD, e não só, aparecem como tentativa, ainda incipiente, de sensibilizar e informar/formar a fim de se evitarem os fenómenos cada vez mais correntes de empolamento, especulação, dramatização, sensacionalismo e notória deturpação canalizadas a nível pessoal, grupal e dos mass- media.

Na década de oitenta do século passado, o conceito de Prevenção assumiu uma nova dimensão, definindo-se como todo o conjunto de acções que se destinam a intervir num estádio em que o indivíduo ainda não entrou em contacto com a droga, visando evitar que esse encontro se dê, ou ainda, em termos mais latos evitar que tendo havido esse contacto, o uso ocasional se torne regular e abusivo. A este propósito Melo (2002) defende a Prevenção da toxicodependência, mais do que evitar que um grupo alvo se inicie no percurso das drogas é, sobretudo, o questionar das razões que o levam a tal, e uma intervenção dirigida às questões de fundo que conduzem, mais do que à experimentação, à perpetuação do comportamento e à criação da relação psicológica com a(s) substância(s).

Com o Projecto Vida, a Prevenção Primária passou a ser considerada área prioritária e uma forma de abordagem precoce dos problemas junto dos grupos alvos específicos. As acções implementadas no âmbito da Prevenção Primária contemplaram, para além da comunidade escolar, toda a comunidade em geral e jovens não escolarizados. Neste sentido, o Gabinete do Alto Comissário, através da sua área operacional, entendeu promover programas integrados nas áreas da saúde, educação, família, juventude, comunidade e meio laboral, visando a redução do consumo de substâncias tóxicas;

estratégias de informação, educação e formação específica aos profissionais de saúde e outros agentes educativos.

Com carácter de continuidade dos programas preventivos de 1979, nomeadamente do

Programa de Professores Mediadores, o Ministério da Educação cria, nos anos 80,

conjuntamente com o Projecto Vida, o Programa Professores Operadores com o objectivo de dar apoio às escolas, no âmbito da informação/sensibilização/formação relativa à temática da Prevenção das Toxicodependências. Este programa era responsável pela execução dos Programas de Prevenção das Toxicodependências, ou seja, competia aos Professores Operadores diagnosticar as necessidades/problemas das comunidades educativas e identificar os recursos humanos e materiais existentes nas escolas e no meio envolvente. Competia-lhes ainda sensibilizar as estruturas das escolas para a inclusão de um Programa de Prevenção no seu Projecto Educativo, colaborar com as outras estruturas com objectivos confluentes, promover formação no âmbito da

Prevenção e avaliar todas as acções e programas de Prevenção desenvolvidos por outras

entidades e/ou serviços exteriores ao Ministério da Educação.

Ao longo da década de noventa e visando prosseguir os objectivos fixados pelo

Programa Nacional da Prevenção das Toxicodependências/Projecto Vida, foram

desenvolvidos em Portugal alguns programas de redução da procura. Tendo em conta a evolução dos problemas ligados à toxicodependência e à reestruturação do Projecto

Vida, o Ministério da Educação, através do despacho 96/ME/90, de 19 de Junho,

nomeia um responsável sectorial pelo Projecto Vida e constitui um Grupo de Trabalho que permitiu o lançamento do Projecto Piloto de Prevenção Primária não específica, relativo às toxicodependências em meio escolar – “Viva a Escola”.

O projecto “Viva a Escola”, criado em 1990, teve os seguintes objectivos: proporcionar condições controladas para a vivência de sentimentos de prazer, emoção e risco; desenvolver capacidades que permitam assumir a nível individual e colectivo os princípios de promoção da saúde; construir climas de escola cooperativos, dinâmicos e estimulantes; desenvolver comportamentos de autonomia, responsabilidade e sentido crítico.

Mais tarde, em 1993, o artigo 70.º do Decreto Lei n.º 15/93, de 22 de Janeiro, veio definir as competências do Ministério da Educação nas actividades de Prevenção

Primária ficando, desta forma, a coordenação de projectos de Prevenção do consumo

de álcool e substâncias psicotrópicas a nível escolar, com incidência específica na

Prevenção do consumo de drogas, sob a responsabilidade do Ministério da Educação,

através do “Programa de Promoção e Educação para a Saúde” (PPES). Este programa, teve por objectivos formar técnicos, avaliar o programa e representá-lo em reuniões nacionais e internacionais e organizar actividades nacionais. O programa descentralizado a nível das autoridades escolares regionais e locais, previa a adaptação das orientações centrais, em cada escola, de acordo com as suas necessidades e características. No âmbito da sua actuação prosseguiu com o Projecto “Viva a Escola” com o “Projecto de Férias”, desenvolveu o projecto-piloto de Prevenção Específica

das Toxicodependências e um Projecto de Prevenção da Infecção pelo HIV/SIDA na Comunidade Escolar – “Aprender a Prevenir”. Para além destes, desenvolveu um “Programa de Promoção de Competências Sociais” específico de Prevenção Primária

de comportamentos desajustados em meio escolar, dirigido a um grupo-alvo de crianças e adolescentes e um “Projecto de Animação Teatral e Expressões”.

Desde 1994 que o Ministério da Educação, em colaboração com o Ministério da Saúde, desenvolveu um projecto piloto de Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde

(RNEPS) integrando-se, em termos de pressupostos e objectivos, na Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde. Era seu objectivo motivar e capacitar técnicos e outros

agentes educativos para intervirem no âmbito da educação para a saúde, incentivar e criar condições de promoção da saúde dos jovens, considerando como áreas prioritárias a alimentação, a sexualidade, a saúde oral, a segurança, o uso e abuso de substâncias

lícitas e ilícitas, a SIDA, a vacinação e a hepatite B.

Para além do referenciado, foi também criado em 1993, no âmbito do Projecto Vida e em articulação com o Ministério da Educação/PPES, o “Projecto PATO” (Prevenção

Álcool, Tabaco e Outras), com intervenção em meio escolar e implementado nas

escolas do primeiro ciclo do ensino básico. Baseando a sua intervenção no modelo dos

ensinar as crianças a estabelecer relações adequadas com os outros; promover e manter o seu bem-estar e a protegerem-se face a comportamentos desadequados em geral e ao consumo de drogas em particular. Propunha-se, ainda, formar professores e educadores de infância em metodologias interactivas que permitissem desenvolver as capacidades individuais e as competências sociais das crianças.

Ainda, numa lógica de programas em meio escolar, a Polícia de Segurança Pública

(PSP) tem vindo a desenvolver um programa de acção concreta e preventiva da

criminalidade e delinquência, designado “Programa Escola Segura”, abrangendo desde o ensino básico ao ensino superior.

No sentido de reforçar as intervenções na área da Prevenção da toxicodependência, em 1988, foram criados dois serviços de linha telefónica de ajuda – Linha Aberta em Lisboa e no Porto que, posteriormente, se virão a designar de Linha Vida. A então Linha

Aberta surgiu como ponte entre o público em geral e as instituições que intervinham na

área da toxicodependência (Primária, Secundária e Terciária) em particular. De carácter informativo define-se como um serviço telefónico especial, prestando esclarecimentos imediatos, despistagem de problemas e seu encaminhamento para os serviços adequados. De forma complementar entendeu-se criar um serviço apartado, com idênticos objectivos, distinguindo-se pela oportunidade que oferecia àqueles que pretendiam o contacto escrito ou telefónico.

Após a criação do SPTT, em 1990, a Prevenção das toxicodependências passou a ser realizada através dos Centros de Informação e Aconselhamento (CIAC´s). Os CIAC´s constituíam-se como um pilar e um suporte complementar à restante intervenção clínica e psicossocial do SPTT, nomeadamente na área da formação desenvolvida para técnicos de instituições públicas e privadas que articulavam com os serviços do SPTT. Tendo como área de intervenção a Prevenção de comportamentos de risco na adolescência, nomeadamente do consumo nocivo de drogas psicoactivas, tinham por objectivo fortalecer os factores protectores dos jovens, procurando facilitar a sua integração social e o seu desenvolvimento psicossocial.

Dando continuidade ao leque de actividades e estratégias políticas de actuação em

Prevenção Primária, foram criados, em 1997, os Programas Quadro Prevenir e Reinserir, tendo por objectivo envolver toda a sociedade civil no combate à droga,

apoiando programas nos domínios da Prevenção Primária e Terciária.

O Programa Quadro Prevenir (PQP) destinou-se a apoiar técnica e financeiramente entidades públicas ou privadas, sem fins lucrativos, com intervenção na área da

Prevenção Primária das toxicodependências. Este apoio resultou da pretensão de

melhorar a qualidade de intervenção no âmbito da Prevenção Primária, identificando como grupos-alvo prioritários as crianças/jovens, jovens adultos, professores, famílias e técnicos ligados a esta área de intervenção.

Na continuidade dos objectivos delineados para o PQPI, o PQPII destinou-se a apoiar e a promover o desenvolvimento de projectos no domínio da Prevenção Primária das

toxicodependências. A sua concessão e apoio financeiro/técnico foi concedido através

de concurso promovido pelo IPDT salientando, deste modo, uma nova abordagem na área da Prevenção das drogas e das toxicodependências. Puderam candidatar-se ao

PQPII as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), misericórdias,

mutualistas e outras entidades particulares sem fins lucrativos cujas finalidades estatuárias incluíram a promoção da saúde, o desenvolvimento social, a cultura e o desporto. Este programa visou, sobretudo, apoiar iniciativas que pretendessem informar, educar e formar, a nível pessoal e social, os cidadãos, especialmente crianças e jovens, com vista a desenvolver estilos de vida positivos, saudáveis e autónomos, envolvendo e implicando a participação activa dos envolvidos no projecto de mudança.

A tendência de organização das políticas em Portugal, em matéria de drogas e

toxicodependências, observou uma tendência para o incremento de planos de acção e

sistemas de coordenação. No sentido de dar cumprimento ao estipulado no Plano de

Acção de Luta Contra a Droga e a Toxicodependência – Horizonte 2004, coube ao IPDT a tarefa de assumir uma atitude proactiva em matéria de Prevenção Primária,

dotando os serviços regionais e autarquias locais de responsabilidade na promoção e articulação das intervenções em toxicodependência, a nível local. Desta forma, o IPDT

estabeleceu parcerias e assinou protocolos com diversas autarquias constituindo-se desta forma os designados Planos Municipais de Prevenção Primária das

Toxicodependências (PMP´s).

Os Planos Municipais resultaram de uma articulação conjunta entre o poder central e o

poder local, num reconhecimento da necessidade de se atingir um maior grau de eficácia, eficiência e equidade das intervenções preventivas na área das

toxicodependências. Os PMP´s vieram, deste modo, assegurar o envolvimento e

responsabilização das autarquias locais e da sociedade civil na definição das áreas prioritárias e estratégias de intervenção, no âmbito da Prevenção Primária das

toxicodependências, em articulação com outras entidades, nomeadamente associações

privadas sem fins lucrativos. Na sua concretização, os Planos Municipais tiveram em conta as especificidades locais, definidas em função da elaboração inicial de um diagnóstico local, que remetia para as necessidades de implementação de estratégias preventivas, intrínsecas a cada realidade local. Face ao diagnóstico local, a autarquia estabelecia parcerias com entidades que possibilitassem o desenvolvimento de projectos de Prevenção Primária nas áreas detectadas pelo diagnóstico local, como prioritárias. O objectivo geral dos Planos Municipais de Prevenção Primária das Toxicodependências consistiu em incentivar o envolvimento da sociedade civil no sentido de se desenvolver um trabalho articulado na área da Prevenção Primária, em parceria com as autarquias. Os Planos Municipais definiram, prioritariamente, quatro áreas de intervenção:

Prevenção em meio familiar, Prevenção em meio escolar, Prevenção em espaços recreativos de lazer e desportivos e Prevenção junto de jovens em situação de abandono escolar. As áreas prioritárias de intervenção trouxeram consigo perspectivas

estruturantes que constituem a base sobre a qual um novo modelo de desenvolvimento foi sendo desenvolvido. De facto, os Planos Municipais vieram a revelar-se como instrumentos estratégicos fundamentais e essenciais à política da Prevenção Primária

das toxicodependências, constituindo-se como os projectos que mais requereram, das