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CAPÍTULO 5 – SOCIEDADE E CULTURAS

2. A S R ELAÇÕES I NTERCULTURAIS

2.2 Políticas de imigração e integração dos imigrantes

Os países confrontados com problemas surgidos pelas mudanças das estruturas sociais, culturais e económicas têm procurado redefinir não só as suas políticas sociais para uma melhor integração dos imigrantes, redução de fluxos migratórios, combate à discriminação, nos vários grupos étnicos dentro dos seus territórios, como também nas políticas educativas, através de regulamentação legislativa e numa perspectiva intercultural.

Embora as políticas sobre migrações sejam específicas em cada Estado – Membro, a União Europeia, alargada a 25 países, desde 1 de Maio de 2004, tem apelado à promoção da igualdade de oportunidades, quer no plano educativo e de formação, quer no acesso à habitação, ao emprego e aos serviços sociais dos imigrantes, valorizando a sua participação na sociedade de acolhimento, inclusivamente nas questões de foro político e social.

Tal como os vários países da União Europeia, o Estado Português tem procurado introduzir nova legislação sobre a imigração (Decreto-Lei nº 244/98), alargando os direitos de cidadania; introduzindo novas medidas legislativas relativas às diversas

formas de discriminação nos sectores: educacional, laboral, social, político, de habitação e da liberdade religiosa, como também em critérios de origem e etnia, como é referido no art. 13º, nº2 da Constituição da República Portuguesa. “…ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de descendência, sexo, raça, língua, território de origem, convicções políticas e ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”. No campo educativo, os príncipios da igualdade e da universalidade encontram-se consagrados e regulamentados na Constituição da República Portuguesa (artº 74.1) e na Lei de Bases do Sistema Educativo.

Através do Despacho Conjunto nº 304/98, de 24 de Abril, foram apoiados, no ano lectivo de 1989/1999, 17 mediadores culturais ciganos para a educação, tendo sido regulamentado o Programa Educação/Emprego, através do Despacho Conjunto nº 942/99, onde se prevê a mediação cultural orientada para a integração social de jovens pertencente a minorias étnicas que frequentam o ensino secundário (Conceição Ramos, 2003a).

No que se refere às medidas sociais, a Resolução do Conselho de Ministros nº 38/93 de 08/04, cria o programa de integração social e profissional de imigrantes e minorias étnicas.

Também em 1993, é criada a Comissão Interdepartamental para a integração de minorias étnicas, envolvendo os Ministérios da Educação, da Segurança Social, da Administração Interna, das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, da Saúde e do Emprego (Despacho Conjunto, de 23/9/93).

A partir de 2001, assiste-se a uma política de restrições e de controlo apertado da imigração.

A legalização dos imigrantes bem como as condições de entrada, permanência e saída de estrangeiros do território nacional foram regulamentadas através do D. L. nº 4/2001, de 10 de Janeiro, procurando dar resposta, não só ao elevado número de estrangeiros que procuram Portugal na busca de um emprego, como também para satisfazer a crescente necessidade do mercado de trabalho em diversos sectores de actividade económica, sendo as redes de angariação de mão-de-obra ilegal punidas com penas de prisão (Conceição Ramos, 2003a).

Por outro lado, a criação de novos canais institucionais, como sejam: o Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), o Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração e o Regime Jurídico e de Apoio às Associações de Imigrantes têm contribuído para a integração das minorias e também contrariado a arbitrária discriminação de seres humanos apenas na base da diferença cultural, étnica, geográfica ou de qualquer outra ordem.

Para além dos incentivos à implementação de políticas de desenvolvimento das relações interculturais, os Estados-Membros da União Europeia têm tomado medidas jurídicas no combate à discriminação, ao racismo e à xenofobia.

A maioria das leis anti-racismo e anti – discriminação dos Estados – Membros inspiraram-se na Convenção dos Direitos do Homem e também na Convenção das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1976).

O Relatório da Comissão Europeia, publicado em Fevereiro de 2005, sobre igualdade entre mulheres e homens, refere a questão das mulheres imigrantes e a necessidade de integrar uma perspectiva de género nas politicas de imigração e integração, no que concerne ao reforço da posição das mulheres no acesso ao emprego, à formação, à valorização profissional e às condições de trabalho e também à melhoria dos serviços sociais e de acolhimento de crianças, principalmente na faixa etária dos 0 aos 3 anos, por forma a conciliar a vida profissional e privada de ambos os progenitores (http:// www.oi.acime.gov.pt).

Nos últimos anos, temos assistido à proliferação de associações e grupos, que formal ou informalmente, “combatem” as formas de discriminação, não só representando os interesses dos indivíduos lesados, como dando assistência e apoio, denunciando atitudes discriminatórias dos vários países europeus e outros, através da Internet.

Entre outros grupos, destacamos a Liga dos Direitos do Homem; o Movimento contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos (M.R.A.P.); e o S.O.S. – Racismo. Em Portugal, esta Associação tem promovido actividades, tais como: ciclo de cinema sobre o racismo, debates nas escolas, exposições, publicações, actividades culturais nos Estabelecimentos Prisionais, no sentido de criar harmonia nas relações sociais e de amenizar e aceitar as diferenças entre os diversos grupos sociais e a sociedade receptora. Segundo Conceição Ramos, cerca de 50 associações já viram a sua representatividade reconhecida pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), “depois da aprovação do seu regime jurídico desde 1999, actuando em áreas como a formação profissional, organização de actividades culturais que permitem a integração dos imigrantes, bem como a disponibilização de informação aos sócios sobre o direito à segurança social, os processos de legalização, o acesso à educação…(2003a:265).