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CAPÍTULO 5 ENSINO SUPERIOR EM ANGOLA: SURGIMENTO,

5.2. Desenvolvimento do ensino superior em Angola (1975-2008)

5.2.1. Políticas públicas de desenvolvimento e reforma do ensino superior (1975-2008):

Após a proclamação da independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, as autoridades governamentais lideradas pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) procuraram transformar a universidade num “agente de luta revolucionária por uma nova sociedade” (Silva, 2004: 184). Neste sentido, a universidade surge como um instrumento de mudança da sociedade, visando o maior acesso dos indivíduos oriundos de distintos estratos sociais que, outrora, não acediam ao ensino superior. O principal objetivo era “produzir quadros para o socialismo de que a sociedade muito carecia”62 (Silva, 2004: 184).

A preocupação com a necessidade de transformar a universidade em um agente de mudança pode ser constatada nos principais documentos que orientavam a política educativa nacional. Assim, em 1976, é criada a Universidade de Angola. Passados 9 anos (1985), a Universidade de Angola passou a denominar-se Universidade Agostinho Neto, manteve e se como única universidade pública do país até 2009 (Carvalho, 2012: 52).

Como se desenvolveu o processo de regulamentação do ensino superior em Angola, no período que sucedeu à proclamação da independência? Que importância teve este processo de regulamentação na expansão do ensino superior? Estas questões merecerão particular atenção nas linhas que se seguem.

No quadro do processo de regulamentação do ensino superior em Angola, é aprovado, em 1980, pela primeira vez, o Estatuto Orgânico da Universidade de Angola pelo Decreto nº 37/80 de 17 de Abril, e o Estatuto da Carreira Docente, através do Decreto nº31/80 de 10 de Abril (Siva, 2004). Estes documentos, considerados basilares para o desenvolvimento do ensino superior em Angola, são novamente revistos e atualizados em 1989, pelos Decretos nº17/89, de 13 de Maio e 55/89, de 20 de Setembro, ambos do Conselho de Ministros (Buza, 2012). É no âmbito desta atualização do estatuto orgânico que são definidos os objetivos, a natureza e funções da universidade. Assim, a Universidade Agostinho Neto é definida como:

62 Com a proclamação da independência, o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola

(MPLA), no quadro da sua política social, implementou para o setor da educação um modelo de orientação marxista-leninista, com uma forte aposta na massificação do ensino, o que permitiu um maior acesso por parte dos grupos sociais menos favorecidos aos Subsistemas de Ensino de Base Regular (estruturado em três níveis) e Ensino Médio e Pré-Universitário (atual 2º ciclo do ensino secundário) (Santo, 2000 e Vieira, 2007).

118 Uma instituição dependente do Ministério da Educação, dotada de personalidade jurídica e de autonomia administrativa, financeira, científica e pedagógica destinada à formação de quadros superiores, a qual, através do seu trabalho técnico-científico, desenvolve a ciência e o ensino, contribuindo assim para o desenvolvimento económico, social e cultural do país (Silva, 2004: 192).

Este estatuto orgânico continha as marcas da realidade política, social e económica que Angola vivia no momento, caraterizadas pela “natureza ideológica inerente à via socialista de desenvolvimento preconizada pelo Estado” (Silva, 2004: 191).

De acordo com Buza (2012), nesta nova atualização do estatuto orgânico é clarificada a dependência da Universidade Agostinho Neto, tendo como tutela o Ministério da Educação. É dirigida por um Reitor63, coadjuvado por Vice-Reitores, todos eles nomeados pelo Presidente da República. No entanto, refere o autor, apesar de estar definida a tutela, ainda assim, todas as questões do ensino superior continuavam sendo tratadas no âmbito da Universidade Agostinho Neto, em consequência da inexistência por parte da estrutura orgânica do Ministério da Educação de um “serviço executivo encarregue da promoção e do acompanhamento do subsistema do ensino superior” (Buza, 2012: 191). 64

No início da década de 1990, o ensino superior, e mais concretamente a Universidade Agostinho Neto, conhece um novo processo de profundas reformas, resultantes da abertura do país ao multipartidarismo e à opção por uma economia de mercado. Deste modo, surgem as primeiras universidades privadas em Angola (Carvalho et al., 2003; Silva, 2004; MED, 2008). Em Agosto de 1992 é criada a Universidade Católica de Angola (UCAN), o que obriga a Universidade Agostinho Neto a rever os seus estatutos, por deixar de ser a única instituição do ensino superior no país (Buza, 2012).

Apesar de todos os progressos até então registados no processo de regulamentação do ensino superior, a Universidade Agostinho Neto ressentia-se das dificuldades contextuais pelas quais o país passava e que afetavam o seu regime de autonomia e gestão (Silva, 2004). Estas dificuldades caraterizavam-se por: paralisação dos cursos; greves dos professores, que reivindicavam melhores salários e melhores condições de trabalho; bem como, “guerrilha

63 Segundo Silva (2004), o reitor era equiparado a Vice-Ministro da Educação, tendo frequentemente

assento em reuniões do Conselho de Ministros.

64 Esta situação foi alterada com a criação da Direção Nacional do Ensino Superior, isto já no ano de

119 institucional entre a Universidade e o Ministério da Educação, no que respeita aos termos do exercício da tutela”65 (Silva, 2004: 215).

Perante este cenário de “crise”, é aprovada pela Assembleia Nacional a “Lei de Bases do Sistema de Educação (Lei N.º 13/01)66”. Segundo o referido diploma legal, o ensino superior angolano subdivide-se em graduação e pós-graduação. A graduação compreende dois níveis: o primeiro nível é o bacharelato, com duração de 3 anos; segue-se a licenciatura realizada em 4 ou 6 anos conforme as áreas de formação.

A pós-graduação subdivide-se em duas categorias: académica e profissional. A primeira categoria compreende os níveis de mestrado (com duração de 2 a 3 anos), e doutoramento (realizado em 4 ou 5 anos). A segunda categoria (pós-graduação profissional) abrange os mais variados cursos de especialização com duração variada.

A par da lei 13/01, foram publicados outros diplomas que visavam sobretudo organizar o ensino superior, designadamente: o Decreto-lei nº 2/01, que estabelece as normas reguladoras do ensino superior; Decreto nº 35/01 de Junho, que regulamentava o processo de criação, funcionamento, desenvolvimento e extinção das instituições de ensino superior, públicas e privadas.

O progresso legislativo que se operava no ensino superior despertava por parte de instituições privadas o interesse pela abertura de universidades. Deste modo, na estrutura do Ministério da Educação é criada uma Direção Nacional de Ensino Superior, e nomeado um Vice-Ministro da Educação para o Ensino Superior e, posteriormente (2004), cria-se uma Secretaria de Estado para o Ensino Superior (Buza, 2012: 9).

Por forma a consolidar os progressos já alcançados é apresentada pela Secretaria de Estado para o Ensino Superior, em 2005, uma proposta sobre as “Linhas Mestras” para a melhoria da gestão do subsistema de ensino superior67. Neste documento, constava um conjunto de ações a serem realizadas pela tutela a nível político, económico, sociocultural e académico.

65 Apesar da publicação do regime de autonomia da Universidade Agostinho Neto, constatava-se ainda

uma certa ingerência abusiva por parte do Ministério da Educação na vida interna da Universidade (Silva, 2004).

66 Diário da República de Angola (2001), Lei de Bases do Sistema de Educação nº. 13/01 (1º Lei de

Bases).

67 Para a elaboração deste documento foram consideradas as opiniões de diferentes atores do subsistema

do ensino superior e de membros e dirigentes de várias instituições da sociedade angolana nomeadamente: docentes e discentes das distintas instituições do Ensino Superior, dirigentes da Assembleia Nacional, Governo Central e Provincial, bem como membros das principais Associações e Ordens Profissionais e outros.

120 É importante realçar que, em consequência da implementação desta proposta, é aprovado o Decreto nº 90/09, de 15 de Dezembro, que estabelece as normas gerais reguladoras do ensino superior68.

Concluindo, pode-se considerar que este processo de regulamentação do ensino superior contribuiu significativamente para o desenvolvimento deste subsistema e sua consequente expansão. A regulamentação deste subsistema permitiu o surgimento de várias instituições privadas que puderam mitigar a crescente procura pelo ensino superior por parte da população. Assim, de 1992 a 2008, o país passou a contar com 12 instituições privadas de ensino superior, para além da já existente Universidade Agostinho Neto. Deste total de instituições, 8 foram criadas em 2007, tal como se pode observar no quadro 5.4.

Quadro 5.4 - Instituições privadas de ensino superior, criadas em Angola entre 1992 e 2008*

68 Com a aprovação deste decreto foram revogados os decretos nºs 35/01, de 8 de Junho, e 65/04, de 22

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5.2.2. Evolução e crescimento do ensino superior em Angola (1977-2008)