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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A HIPERTENSÃO ARTERIAL

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A HIPERTENSÃO ARTERIAL

Os portadores de agravos crônicos não transmissíveis fazem parte de um segmento populacional que se encontra inserido no contexto das políticas públicas de saúde no Brasil. A hipertensão arterial, um desses agravos, é importante fator de risco que tem relação com a etiologia multifatorial das doenças isquêmicas do coração e do Acidente Vascular Encefálico, além de estar relacionada com danos vasculares periféricos. A cada ano, contribuiu para o elevado número de óbitos entre a população. Esta multiplicidade de consequências coloca a hipertensão arterial na origem das doenças crônico-degenerativas, o que a caracteriza como uma das causas de maior redução da qualidade e expectativa de vida das pessoas.

O Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Agravos não Transmissíveis, estudo realizado nos anos 2002 e 2003, apresentou as estimativas da prevalência de vários fatores de risco em 15 capitais brasileiras e Distrito Federal. O referido estudo tem representado a linha de base necessária à constituição do Sistema de Vigilância de Comportamentos de Risco para DANT, ação estratégica para o controle desses agravos. Os resultados desse estudo dão subsídios aos programas de prevenção primária e detecção precoce de DANT que vêm sendo conduzidos pelo Ministério da Saúde. Além do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, outros programas (Programa Nacional de Controle do Tabagismo; Programa Viva Mulher; Política Nacional de Alimentação e Nutrição; Agita Brasil, entre outros), estão sendo viabilizados no sentido de direcioná-los ou redirecioná-los para grupos

mais vulneráveis e orientar o enfoque das políticas e ações educativas, legislativas e econômicas, hoje desenvolvidas, aumentando sua efetividade e eficiência. (BRASIL, 2004b).

Atualmente o Sistema VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), é um sistema de vigilância que atua desde o ano de 2006. Foi implantado em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. O sistema monitora a frequência e distribuição dos principais determinantes das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) em nosso meio, descrevendo a evolução anual desses indicadores. Com isto, o Ministério da Saúde cumpre a tarefa de monitorar os principais determinantes das DCNT no Brasil, contribuindo na formulação de políticas publicas que promovam a melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2010a).

Consideramos como um dos principais desafios dos países em desenvolvimento a definição e a implementação de estratégias efetivas para a prevenção e controle das doenças e agravos não transmissíveis (DANT), entre elas a hipertensão arterial, uma vez que esses agravos passaram a predominar nas estatísticas de saúde, constituindo problemas emergentes nos países em desenvolvimento e nos grupos sociais menos privilegiados. Pelo fato de o perfil epidemiológico no Brasil ter-se modificado, ao longo das décadas, as transições para os agravos não transmissíveis resultaram em elevados gastos em tratamento ambulatorial, internações hospitalares e reabilitação pelo SUS. Assim sendo, sabemos que ações de prevenção primária e detecção precoce de doenças são capazes de reduzir a mortalidade, melhorar o prognóstico e qualidade de vida da população afetada. Isto representa uma relação custo/benefício muito favorável. O planejamento e implementação de políticas de saúde, como ação estratégica e indispensável nesta área, requerem a estruturação de sistemas de vigilância de fatores de risco. Para tanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está envolvida no esforço de priorizar a vigilância das doenças não transmissíveis, com foco nos principais fatores de risco, dentre eles, a hipertensão arterial e outros como o tabagismo, a alimentação inadequada, a obesidade, o sedentarismo, entre outros (BRASIL, 2004b).

No Brasil, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo várias ações programáticas que têm por objetivo prevenir e controlar os agravos não transmissíveis. O Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus é um exemplo dessas ações. Este tem como propósito vincular as pessoas portadoras de tais agravos às unidades de saúde, onde é garantido o acompanhamento e tratamento

sistemático. Ações de capacitação dos profissionais e reorganização dos serviços fazem parte deste propósito. Assim sendo, o objetivo do Plano é instrumentalizar e estimular os profissionais envolvidos na atenção básica para que estes promovam ações de prevenção primária (redução e controle de fatores de risco); identificar, cadastrar e vincular às equipes de atenção básica as pessoas portadoras de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus; implantar na atenção básica o protocolo de assistência a essas pessoas; garantir-lhes o acesso aos medicamentos incluídos no elenco mínimo definido pelo Ministério da Saúde; e realizar ações de vigilância epidemiológica para o monitoramento sistemático da ocorrência dessas doenças, dentre outros objetivos. O referido Plano foi definido pelo Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, em parcerias com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretários Municipais da Saúde (CONASEMS), Organização Pan-Americana (OPAS) e sociedades brasileiras de Cardiologia, Hipertensão, Diabetes, além de federações nacionais de portadores de hipertensão e diabetes. Ações de implantação deste plano incluíram a realização da “Campanha Nacional de Detecção da Hipertensão Arterial (CNDHA)” que, apesar da baixa adesão e cobertura, foi capaz de mobilizar a população, identificar casos suspeitos e estimular a confirmação diagnóstica (BRASIL, 2004a).

Sabemos que o rastreamento da hipertensão em adultos, dados os benefícios do tratamento precoce, é fundamental para contribuir com a saúde da população. Além disso, a ênfase no controle da hipertensão arterial, associada a outros fatores de risco, vem sendo preconizada. Identificados esses fatores de risco, quantificada sua magnitude e estabelecida sua distribuição pela população, o desafio é desenvolver e avaliar ações de controle desse agravo, associados à manutenção dos indivíduos ao tratamento oferecido pelas instituições.

Quanto ao tratamento farmacológico, no ano de 2002, o Ministério da Saúde editou a Portaria nº 371/GM, instituindo o Programa Nacional de Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, parte integrante do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, no qual o tratamento gratuito é garantido aos pacientes portadores desses agravos. O programa é financiado pela União, Estados e Municípios e tem como objetivos, dentre outros, os seguintes: ofertar de maneira contínua, para a rede básica de saúde, os medicamentos para hipertensão arterial que são definidos e propostos pelo Ministério da Saúde, tais como a hidroclorotiazida 25 mg, o propanolol 40 mg e o captopril 25 mg;

também acompanhar e avaliar os impactos na morbi-mortalidade para estas as doenças relacionadas (hipertensão arterial e diabetes mellitus), decorrentes da implementação do Programa Nacional. A Portaria também define as responsabilidades de cada um dos seus executores (BRASIL, 2002b).

Junto com as políticas públicas de saúde, entretanto, há de pensarmos sempre em um processo de formação de mentalidades, de consciência comprometida com a mais justa aplicação dos benefícios e recursos disponíveis. Outro fator importante no uso adequado desses recursos nas políticas públicas é a abrangência dos benefícios gerados, assim sendo, é fator fundamental, segundo Lucchese et al. (2004, p. 4), “uma transformação qualitativa dos processos de gestão”, tanto para a efetividade das políticas públicas, como também no sentido de alcançar os objetivos mais amplos orientados ao desenvolvimento social, tais como “reduzir as enormes desigualdades sociais e de saúde cada vez mais evidenciadas nos processos simultâneos de globalização e descentralização”.

No que se refere aos aspectos educacionais das políticas públicas para hipertensão arterial, considerar a educação permanente é parte essencial de uma política de formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde para a qualificação destes. A intenção resultará em atendimento de qualidade às pessoas, estimulando a participação ativa destas em todos os aspectos do tratamento. Certamente que a adesão ao tratamento terá mais estímulo, gerando resultados satisfatórios e mudando o cenário atual. Entretanto, para que aumente a possibilidade da ocorrência desses resultados, as redes sociais e o apoio social promovido certamente podem ser importantes aliados no estabelecimento de vínculos necessários entre aqueles que promovem as políticas públicas e os que são alvo das mesmas.