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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 REDES SOCIAIS E SAÚDE

A rede de apoio social tem sua importância nos múltiplos aspectos que circundam as pessoas em seus vários contextos, entre eles o da saúde. Para atender adequadamente às necessidades de saúde de uma população, Meirelles; Erdmann (2006) consideram importante uma aproximação que contemple as múltiplas interconexões socioculturais existentes entre as pessoas portadoras dos agravos à saúde, os profissionais de saúde e os membros da comunidade. É básico considerar que o estado de “enfermidade/doença” é determinado pela experiência subjetiva dessas pessoas e dos membros da comunidade em sobreposição aos aspectos clínicos e físicos percebidos. Para tanto, é necessário considerar tanto esses aspectos pessoais como os comunitários, culturais, sociais e econômicos que interferem nas redes de apoio para o enfrentamento de múltiplas situações.

A relevância das redes sociais para as pessoas que estão vivenciando situações de saúde e doença é reconhecida, inclusive em situações mais drásticas como as relacionadas ao suicídio entre os diversos grupos sociais. Alguns estudos mostram a importância das relações sociais e os resultados da inconsistência dessa relação na vida das pessoas.

Griep et al. (2003), ao discutir as relações sociais entre as redes em saúde, informam que esta associação foi primeiramente descrita pelo filósofo e sociólogo Émile Durkheim, que demonstrou aumento do risco de suicídios entre pessoas socialmente isoladas, evidenciando que as relações sociais exercem uma função protetora frente aos obstáculos que o cotidiano apresenta. Sluzki (1997, p. 68) cita esse mesmo estudo como exemplo para suas considerações a respeito dos círculos viciosos, considerando-o como “provavelmente a primeira evidência incontestável sobre a correlação fornecida por uma pesquisa que abriu as portas da sociologia empírica”.

Souza et al. (2002), estudando a violência entre adolescentes no Brasil, nos anos de 1978 a 1998, mostraram que a taxa de suicídio neste

grupo etário foi elevada. Cidades como Curitiba, Porto Alegre e Belém apresentaram as maiores taxas por 100.000 habitantes, sendo 8.6, 10.4 e 11.8, respectivamente, ficando Belém como tendo apresentado o maior número de casos no período em estudo. Como causas para a ocorrência dos suicídios nessas capitais, consideraram-se fatores socioculturais específicos como baixo nível educacional, oportunidades limitadas do trabalho, pobreza e risco da violência doméstica, entre outras. Tais fatores socioeconômicos, políticos e culturais originam sentimentos de desespero e da falta da esperança para o futuro. É importante, segundo as autoras, considerar como esses fatores macrossociais agem no consciente e no aspecto subjetivo de nossos adolescentes. Também se devem considerar as influências genéticas e fatores psicológicos individuais, uma vez que nem todos que estão nas mesmas condições agiram da mesma forma, dando fim às suas vidas.

Griep et al. (2003) mostram resultados de estudos epidemiológicos mais recentes de associações consistentes entre baixos escores de rede social e maiores taxas de mortalidade por doença coronariana, acidente vascular cerebral e neoplasias malignas. Além disso, sugerem que o fato de as pessoas estarem envolvidas em uma rede social de apoio está associado ao aumento da sobrevida após diagnósticos de doenças cardíacas, câncer e acidente vascular cerebral, entre outros agravos.

No que se refere às doenças crônicas, Silva (2007) afirma que, através da rede social, é possível promover o suporte necessário para capacitar pessoas a viverem independentemente. Essa possibilidade pode constituir uma alternativa efetiva em termos de custos decorrentes de constantes internações e/ou necessidades de intervenções em consequência de complicações.

A mesma autora informa que as redes sociais de apoio às pessoas com doenças crônicas no Brasil parecem ser ainda incipientes, numa perspectiva mais formal. A própria pessoa com doença crônica é o elo que mobiliza diferentes pessoas e instituições, que de maneira não integrada apoiam esses indivíduos de diversas formas. Tais redes têm um papel determinante como mediadoras e facilitadoras no início e nos passos subsequentes da busca de ajuda, uma vez que seus membros proporcionam apoio contínuo aos indivíduos para aderir ao tratamento até a sua recuperação, ou controle da doença, que é o caso dos portadores de doenças crônico-degenerativas (SILVA, 2007).

Meneses; Ribeiro (2000), ao discutirem aspectos sobre como uma pessoa pode ser saudável sendo portadora de uma doença crônica, consideram que esta condição pode, ou não, ser acompanhada por uma

sensação de doença (esfera psicossocial em destaque) e comportamento de doente (consideram a designação social que implica em direitos e deveres). Para tanto, é possível implementar determinadas ações, visando anular ou diminuir o impacto da doença sobre a pessoa. Este tipo de prevenção varia de doença para doença, já que cada uma exige diferentes modos de ação. Entretanto, no que se referem às redes sociais de apoio, os referidos autores afirmam que as cognições e afetos relativos à condição da pessoa, capacidades, limitações e cuidados inerentes são passos importantes na gestão dessas redes.

A intervenção das redes dirige-se: a) à melhoria da utilização do apoio existente; b) ao desenvolvimento e manutenção das redes sociais de apoio; c) à oferta, elicitação e aceitação de comportamentos de apoio; e d) à alteração das avaliações da rede ou do apoio. Considerando a articulação entre os elos existentes, é possível à pessoa com doença crônica obter melhores benefícios que contribuirão para um viver saudável em seu cotidiano, sempre percebendo que condições físicas, emocionais e familiares, assim como história de vida, podem interferir no enfrentamento da doença (ibidem).

O outro foco importante dentro do contexto de redes sociais é considerar de onde parte o apoio oferecido e como este outro elo da rede se percebe ao realizar as ações necessárias ao apoio. Budó et al. (2009) consideram que as pessoas com doenças crônicas se encontram imersas numa rede social que pode proporcionar um cuidado fundamental, por essa razão é necessário, realmente, considerar as singularidades e complexidades dos contextos.

Estudos de Biffi; Mamede (2004) identificaram os tipos de apoio que são oferecidos pelos parceiros sexuais de mulheres com câncer de mama tais como afeto, compreensão da situação vivenciada por elas, mesmo que de forma silenciosa, incentivo às estratégias de autocuidado e auxílio nos afazeres domésticos. Verificaram também que, através do apoio oferecido, os parceiros se perceberam como importantes elementos de suporte social para elas. Quanto às dificuldades encontradas, estavam relacionadas à esfera sexual, aos canais de comunicação, à sensação de impotência e insegurança para lidar com as implicações do diagnóstico e reorganizar as atividades domésticas. Segundo os autores, fica evidente que, para compreender como os parceiros sexuais, mesmo apresentando dificuldades, apreciam e oferecem apoio, é necessário analisar a lógica das dificuldades encontradas por eles ou a lógica do apoio oferecido combinando as três dimensões: o apoio esperado, o apoio recebido e a relação do parceiro com a doença da esposa. Todo esse contexto de aspectos positivos é

importante e contribui para um viver saudável da pessoa com doença crônica.

A revisão de literatura permitiu mostrar os aspectos tanto epidemiológicos quanto clínicos e sociais que envolvem a hipertensão arterial, englobando as produções nacionais e algumas internacionais. Dado ao volume extenso da literatura produzida nas últimas duas décadas sobre os temas pertinentes, não cabe e tampouco pretendemos dizer que aqui se esgotaram as discussões sobre o tema. A relação entre hipertensão arterial e o apoio social ainda produzirá diversidades de discussões em vista dos inúmeros aspectos que envolvem o tema.

Mesmo na diversidade de autores, de pesquisas e de temas relacionados ao assunto, ainda notamos uma predominância dos estudos que mostram a prevalência da doença, envolvendo principalmente aspectos epidemiológicos. Os métodos predominantes também ainda são os de caráter quantitativos, entretanto, podemos afirmar que as pesquisas qualitativas também já têm uma frequência capaz de sustentar algumas discussões sobre o assunto em questão, mesmo que em intensidade menor, o que poderia ser apontado como uma lacuna que precisa ser atendida, uma vez que não é mais motivo de dúvidas que a hipertensão arterial tem suas origens também nos aspectos sociais vivenciados no dia a dia das pessoas, bem como relacionados aos processos de interação que acontecem nos cenários experimentados por cada pessoa que vivencia a cronicidade desta doença. Cabe enfatizar que nessa experiência vivida é que surgem as possibilidades de formação de redes de apoio que podem ser talvez uma das mais viáveis opções, dentre outras, para ajudar no tratamento das pessoas com hipertensão arterial.

3 O MÉTODO

A eleição do método de investigação depende basicamente da natureza do problema que se investiga. Esse é um dos primeiros desafios com que se depara o pesquisador. A ciência exige método e a sua escolha não é um ato de plena liberalidade. O caráter do fenômeno a ser estudado impõe por si limites ao pesquisador (MELLO, 2005, p. 8).

onsiderando o caráter interativo do objeto de estudo ao escolher o método para esta pesquisa, optamos pelo uso da Teoria Fundamentada nos Dados (Grounded Theory) que, para Falcon (2007), é uma teoria indutiva e dedutiva baseada na análise sistemática dos dados, cuja intenção é desenvolver uma teoria sobre um fenômeno, trazendo conhecimentos à área do fenômeno estudado. “Uma teoria geralmente é mais do que um conjunto de resultados; ela oferece uma

explicação sobre os fenômenos” (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 35). Através de métodos variados de coletas de dados, reúne-se um volume de informações sobre o fenômeno observado. Comparando-as, codificando-as, extraindo as regularidades, dissonâncias, enfim, seguindo detalhadas etapas de extração de sentido destas informações coletadas, o pesquisador apresenta uma teoria que emergiu desta análise rigorosa e sistemática, razão pela qual a metodologia intitula-se Teoria Fundamentada nos Dados – TFD – (Grounded Theory = teoria apoiada, fundamentada, sustentada pelos dados). O método empregado compreende um conjunto de procedimentos que tem como ponto principal a Análise Comparativa, processo central para a construção da teoria (ibidem).

3.1 A TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS – GROUNDED