• Nenhum resultado encontrado

2.4. Plataforma Eleitoral do marechal Hermes da Fonseca

2.4.3. Pontos em comum com Rui Barbosa

Se Rui Barbosa propôs a revisão da Constituição de 1891 e o marechal Hermes da Fonseca se bateu pela manutenção da mesma, isso não impediu que as plataformas eleitorais de ambos apresentassem pontos em comum. Um desses pontos diz respeito à

116 Sobre o anti-revisionismo dos castilhistas ver: Love, Joseph. O Regionalismo Gaúcho e as Origens da

Revolução de 1930. São Paulo: Editora Perspectiva, 1975, pp. 94/95.

117 É bem verdade que os outros grandes Estados, pelos mesmos motivos do Rio Grande do Sul, também não

queriam a revisão da Constituição. O Estado de São Paulo somente aceitou a revisão durante a eleição de 1910 quando, para combater a candidatura do marechal Hermes da Fonseca, se aliou a Rui Barbosa que defendia a revisão da Carta de 1891.

questão da representação das minorias, que também foi vista pelo marechal Hermes da Fonseca como necessária.

“Na verdade do sufrágio se resume o ideal do regime representativo. O princípio liberal da representação das minorias, inserido no estatuto federal, deve ser observado positiva, insofismável e honestamente.” (Ibid.)

É interessante notar que a questão da representação das minorias foi bastante debatida durante a primeira República. Como observado anteriormente, a própria Lei Rosa e Silva tinha como propósito promover a satisfatória representação das minorias, mas isso nunca foi conseguido na prática, porque - mesmo com as garantias fornecidas pela Constituição de 1891 e pelas constantes reformulações da lei eleitoral - as falhas, dubiedades e fraudes eram freqüentes ao longo da primeira República e contribuíam, como informa Edgar Carone, para o predomínio dos grupos oligárquicos.118

Por mais que reclamassem contra o predomínio das oligarquias, as oposições pouco faziam para reverter a situação, pois se um dia chegassem ao poder lançariam mão dos mesmos estratagemas. Porém, os oposicionistas tinham mínimas chances de ocupar o Poder, porque o processo era dominado pelas lideranças estaduais que comandavam a escolha dos candidatos e estavam prontas para suprimir quaisquer divergências.

118 “Existe ligação orgânica entre formas jurídicas e realidade política; é verdade que as Constituições e leis

eleitorais dão uma série de garantias a todos, e que se corrigem, com as diversas revisões, algumas das falhas existentes. Mas falhas, dubiedades e possibilidade de fraude ainda predominam, ajudando a ascensão e consolidação de grupos oligárquicos.” (Carone, 1978, p. 298)

“A escolha e a votação não dependem, grande parte das vezes, do candidato nem do eleitorado: os chefes políticos indicam os seus preferidos, havendo casos em que os Estados pequenos são obrigados a ceder vagas para candidatos que tem a simpatia do governo federal.” (Carone, 1978, p. 299)

Quando este controle das indicações não era suficiente, utilizava-se de instrumentos legais como a nomeação de juízes substitutos federais que tinham função decisiva nas eleições e apurações; o controle da distribuição dos livros eleitorais; a utilização do voto a descoberto que, como colocado acima, possibilitava às lideranças controlar o voto dos eleitores, pois podiam exigir desses a cédula como prova do voto dado.

Em outras oportunidades, como informa ainda Edgar Carone, era possível utilizar até mesmo da violência para se controlar o processo eleitoral.

“... na eleição de 1896, em Sergipe, o coronel Valadão proíbe a entrada no recinto eleitoral de pessoas que não o apóiam; na de 1899, em Curitiba, forças armadas rondam os locais da votação; na de julho de 1895, o Partido Republicano Federal proclama absoluta liberdade para todos, mas nas seções em que os eleitores são contrários à candidatura oficial não há mesários, e existe pressão para que os funcionários públicos votem em determinado candidato.” (Ibid., p. 303)

Estas práticas inviabilizavam, portanto, a representação das minorias políticas. Contudo, não se trata de entender a presença, tanto na plataforma eleitoral do senador Rui Barbosa quanto na do marechal Hermes da Fonseca, da proposta de representação adequada das minorias como um mote retórico, pois, como exposto acima, o senador baiano, desde a

redação do projeto que gerou a Lei Saraiva (1881), combatia as distorções do sistema eleitoral brasileiro; e o marechal Hermes, percebendo, depois de assumir o governo, a impossibilidade de se combater os grupos oligárquicos via simples transformação da legislação eleitoral, deixou-se levar por militares como o general Dantas Barreto, que promoveram, com o intuído de remover as oligarquias, as intervenções nos Estados, contrariando inclusive interesses do senador Pinheiro Machado.

Outra questão que apareceu nas plataformas de ambos os candidatos diz respeito à organização do Judiciário. Como vimos anteriormente, o senador baiano defendeu o fortalecimento e a centralização do Poder Judiciário, o que tiraria das Magistraturas Estaduais a responsabilidade pela interpretação das leis.

O marechal Hermes da Fonseca, por sua vez, falou da necessidade de se constituir um sistema judiciário que fosse capaz de promover a distribuição imparcial da “justiça, escopo de quantos compreendem a difícil missão dos governantes, pois regula e consolida as relações entre os cidadãos e os que, estranhos, colaboram no bem comum pelo exercício da sua atividade e pelo emprego de seus capitais”. (O Estado de S. Paulo, 27/12/1909) Mas, o marechal, assim como o senador baiano, também expressou certa preocupação de se estabelecer um determinado controle das Magistraturas Estaduais, e isso ficou claro quando Hermes da Fonseca pediu uma maior atenção quanto à representação da Justiça Federal nos Estados.

“A atenção refletida sobre a representação da justiça federal nos Estados traria, sem dúvida, uma orientação segura, dando-nos a garantia de sua eficácia e tornando maior o seu prestígio.” (Ibid.)