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População e renda

No documento Territorio Sociedade v3 Pnld2018 Pr (páginas 172-176)

Capítulo 7 Sociedade e economia

7. População e renda

os recursos econômicos, a capacidade tecnológica e a produção de alimentos nunca foram tão grandes em qualquer outra época histórica como são atualmente. Se fossem igualmente distribuídos, não faltariam recursos para suprir toda a população da terra. No entanto, para parcela expressiva da população mundial falta o mínimo necessário para sobreviver com dignidade.

Em 2015, a oNU estimava que cerca de 836 milhões de pessoas vivessem abaixo da linha de pobreza no mundo, ou seja, tinham renda individual diária inferior a

US$ 1,258. Apesar de o número ser preocupante, a pobreza extrema diminuiu

significativamente ao longo das últimas duas décadas. Em 1990, atingia quase metade (47%) da população do mundo em países em desenvolvimento e caiu para 14% em 2015 (figura 16).

figura 16. Mundo: número global da pobreza extrema

1990

1,93 bilhão 1,75 bilhão 836 milhões Número global de pobreza extrema Taxa de pobreza extrema nos países em desenvolvimento

1990 2015

47% 14%

1999 2015

o contraste econômico e social entre os países que se colocam nos polos extremos de desenvolvimento deverá se acentuar ainda mais – e rapidamente. Isso porque os países desenvolvidos viveram um período de progresso e intensas transformações, enquanto os países bem mais pobres permaneceram estagnados em uma economia de subsistência, sem condições de competir no comércio internacional.

É importante salientar, porém, que os países desenvolvidos começaram a passar por dificuldades quando a crise de 2007/2008 abalou a estrutura econômica e financeira mundial. o rápido progresso de décadas passadas sofreu uma desaceleração nesses países, com reflexos no nível de emprego. Isso afetou o poder de compra dos cidadãos, levando ao aumento da pobreza também no mundo desenvolvido (figura 17).

8 O Banco Mundial, em seu relatório de 2015 (Global Monitoring Report 2015/2016), atualizou o valor da linha de pobreza para renda inferior a US$1,90 por dia. Com o novo critério, projetava que, em 2015, menos de 9,6% da população mundial (702 milhões) estivesse vivendo na pobreza extrema.

Fonte: ONU. The Millennium

Development Goals Report 2015. p. 4.

Disponível em: <www.un.org>. Acesso em: mar. 2016.

Figura 17. Pedinte em dia chu- voso em rua de Munique (Ale- manha), 2016. M A ttHIAS B A lK /D P A /Co R B IS /FotoAR EN A B IS

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dISTrIBuIção da rEnda

Quando o crescimento da população é maior que a produção de riqueza, a renda média da população (renda per capita) tende a diminuir. No entanto, a questão da renda deve ser analisada considerando a forma como a riqueza produzida é distribuída entre os diversos grupos sociais.

É a análise da distribuição de renda que permite avaliar as diferenças sociais e quantificar a pobreza e o grau de justiça social de uma sociedade. Nesse sentido, a concepção de pobreza é relativa. É preciso avaliar os padrões de cada sociedade e as diferenças entre os indivíduos que dela participam. Quanto mais acentuada é a distância entre as classes sociais, maior a pobreza geral da sociedade.

Na primeira década do século XXI, ocorreu uma melhoria na renda de uma parcela

significativa da população brasileira. Milhões de brasileiros migraram das classes9

pobres e extremamente pobres, classificadas como D e E, para integrarem a classe C (com capacidade de consumo além dos produtos básicos de subsistência). Esses dados refletem um período de crescimento econômico e de adoção de políticas sociais que promoveram transformações na sociedade brasileira.

A melhora das condições de vida de parcela significativa da população promoveu a ampliação da capacidade do consumo e, consequentemente, a expansão do mercado interno e das atividades produtivas. Contribuíram para o avanço na distribuição de renda no Brasil a redução do desemprego, o aumento da formalização da mão de obra, a valorização do salário mínimo e os programas voltados à população em situação de

extrema pobreza, como o Fome zero e o Bolsa Família10, entre outros. leia o Entre aspas.

O coeficiente de Gini O coeficiente de Gini, ou índice de Gini, é um parâme- tro estatístico para medir as desigualdades existentes em um país, estado ou município, como a desigualdade na dis- tribuição de renda. Ele é indi- cado por um número de 0 a 1, onde 0 corresponde à igual- dade perfeita, em que todos têm a mesma renda; e 1, à desigualdade plena, em que uma única pessoa fica com toda a renda e o restante nada recebe. Portanto, quanto mais próximo de zero for o índice de Gini de uma sociedade, menos desigual ela é.

Brasil: índice de gini da distribuição do rendimento médio mensal de todas as fontes de renda – 2001-2014 20 0,50 0 0,55 0,60 01 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 0,45 0,40 0,569 0,569 0,560 0,548 0,555 0,545 0,531 0,526 0,521 0,505 0,504 0,501 0,497

*Em 2010 não houve Pnad.

Fonte: IBGE. Pnad: síntese de indicadores 2014. p. 76. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/> . Acesso em: fev. 2016.

• Papel do Estado

A distribuição da renda não pode ser analisada apenas a partir do valor monetário dos salários e dos lucros. Em alguns países desenvolvidos, após a Segunda guerra,

9 A classificação por classes, no texto, segue o conceito atribuído ao mercado, cujos critérios principais estão apoiados na renda e no acesso aos bens de consumo. Essa classificação é estipulada pela Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa) e, portanto, não deve ser confundida com o conceito de classes sociais, que possui outra conotação do ponto de vista sociológico.

10 As famílias do programa Bolsa Família têm que cumprir determinadas condições, como manter as crianças na escola, manter seus acompanhamentos médicos e a carteira de vacinação em dia.

o aumento da inflação e do desemprego, a diminuição do crédito e dos investimentos na educação, na saúde e em programas sociais, a partir da crise de 2015, refletiram uma mudança na tendência de queda da desigualdade aqui apresentada.

BI

foi estabelecido um modelo de Estado que, entre outras atribuições, passou a ter a função de garantir saúde, educação, emprego e moradia (atualmente, considerados direitos essenciais) aos cidadãos.

trata-se do Estado do Bem-Estar Social (Welfare State, em inglês), que ocorre com mais eficácia na Noruega, na Suécia e na Dinamarca. Esses países aparecem anualmente na lista da oNU como os que apresentam melhor Índice de Desenvol- vimento Humano (IDH). Assim, a assistência médico-odontológica e a educação gratuita e de bom nível podem ser consideradas formas de salário indireto e também uma maneira de distribuir renda.

A partir da década de 1980, no entanto, a conjuntura econômica provocou mudan- ças em vários países desenvolvidos. A elevação do déficit público e a consequente diminuição da capacidade de investimento levaram a uma profunda reestruturação do papel do Estado, no que se refere às suas atribuições em termos de benefícios sociais. É o caso dos Estados Unidos e do Reino Unido, que optaram, na década de 1980, pelo Estado neoliberal. Houve uma redução nas atribuições do Estado, com privatização de atividades produtivas, acompanhada de cortes de gastos públicos em setores como saúde, educação, seguridade social (seguro-desemprego, por exemplo).

Na década de 1990, boa parte da União Europeia tinha realizado reformas em seu sistema de seguridade social, em razão da busca de maior competitividade e da redução do déficit público elevado. Essa situação ficou conhecida como crise do Estado do Bem-Estar Social.

os que defendem as ideias neoliberais pregam que as questões econômicas – e muitas das questões sociais – sejam resolvidas no âmbito do mercado e apoiam a ideia de um Estado Mínimo. Segundo a visão neoliberal, o custo de sustentação do Estado do Bem-Estar Social apoia-se em impostos elevados, o que impede a ampliação dos investimentos privados em atividades econômicas geradoras de emprego. E o aumento do número de postos de trabalho é o principal caminho para a resolução das questões sociais. Entretanto, o Estado tem papel fundamental na regulação dos mercados, no

sistema capitalista, e na intervenção em caso de crise. Na crise de 2007/200811,

o socorro às instituições privadas (bancos, seguradoras, corporações industriais) consumiu centenas de bilhões de dólares dos governos dos países mais ricos e de diversos emergentes.

o corte dos benefícios sociais provocado pela crise gerou manifestações em todo o mundo contra a desigual- dade de renda, a influência do mercado financeiro nos rumos da política, as políticas de austeridade e o modelo econômico neoliberal. o movimento Occupy Wall Street (ocupe wall Street), que se espalhou por diversas cidades dos Estados Unidos, e os Indignados, na Espanha, são alguns exemplos da insatisfação popular em relação ao papel do Estado frente aos grandes problemas sociais (figura 18). Movimentos semelhantes ocuparam espaços públicos de outros países europeus.

11 Sobre a crise econômico-financeira de 2007/2008 e o movimento Occupy Wall Street, veja Capítulo 3 do Volume 2.

Figura 18. Policial monitora manifestantes, em setembro de 2013, em Nova york (Estados Unidos). Eles carregam cartazes com os dizeres: “fim da desigualdade, curar Nova york e taxar wall Street”, o centro financeiro sediado na cidade. Reivindicam que seja aplicada uma taxa de 0,5% a empresas de serviços financeiros para ser utilizada nos serviços sociais. Isso ocorreu dois anos depois de o movimento ocupe wall Street mobilizar a atenção internacional.

A N D R Ew B U R to N /g Etty IM A g ES

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É importante lembrar que protestos contra o neoliberalismo ocorrem desde a década de 1990, principalmente nas rodadas da oMC e do Fórum Econômico Mundial, onde estão presentes as principais lideranças empresariais e políticas de todo o mundo.

A outra face da distribuição de renda refere-se às distorções tributárias, ou seja, ao recolhimento de impostos. Em boa parte dos países, em especial nos países em desenvolvimento (entre eles, o Brasil), os impostos indiretos (que incidem sobre a produção e a comercialização de mercadorias) são, muitas vezes, excessivos, tanto em valores quanto em número de tributos. No conjunto, são maiores do que os impostos diretos (que incidem sobre as propriedades, as rendas obtidas com as propriedades – aluguéis –, os rendimentos salariais e as aplicações financeiras).

Isso eleva o preço dos produtos e obriga todos os consumidores a pagarem os tributos de forma equitativa, independentemente de sua classe social. Dessa forma, quando uma pessoa com rendimento mensal de um salário mínimo compra um quilo de arroz, o valor dos impostos indiretos que ela paga sobre o produto é proporcionalmente maior do que o valor pago por outra pessoa que ganha vinte salários mínimos.

A redistribuição de renda é muito mais do que uma política de justiça social. A concentração de renda leva o setor produtivo da sociedade a voltar-se para um pequeno segmento de consumidores com maior poder aquisitivo. A desconcentração da renda gera novos consumidores, dinamiza a economia e cria empregos.

Língua Portuguesa

Impostos no Brasil

Observe o cartum do desenhista Luiz Fernando Cazo (1982-).

• O pai do garoto, representado ironicamente por um animal de carga, retrata a realidade da sociedade brasileira.

Explique essa realidade.

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