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Urbanismo e planejamento urbano

No documento Territorio Sociedade v3 Pnld2018 Pr (páginas 89-93)

Capítulo 4 Urbanização mundial

3. Urbanismo e planejamento urbano

Na segunda metade do século XIX, quando a industrialização e a urbanização se tornaram um fenômeno mundial, os problemas urbanos ficaram evidentes nos países industrializados. Pairava sobre esses países uma contradição: o crescimento econômico conquistado pela industrialização não havia melhorado a vida de grande parte da população urbana.

Ao mesmo tempo em que a Revolução Industrial se desenvolvia em diversos países da Europa, revoltas populares desencadeavam-se por todo o continente, diante das pre- cárias condições de vida em que viviam as camadas mais pobres da população urbana. O proletariado urbano, cada vez mais numeroso, amontoava-se em habitações deterioradas às margens de ruas estreitas, sem saneamento básico nem serviço de coleta de lixo – situações que constituíam ameaças permanentes de convulsão social (figura 4). Os movimentos socialistas acreditavam que a insatisfação latente das camadas populares, causada pela situação precária em que viviam, levaria à Revolução Socialista, o único caminho capaz de reverter a situação desumana criada pelo capitalismo industrial.

O desenvolvimento econômico, baseado nas forças do mercado, por si só não modi- ficaria as condições em que vivia a maior parte da população das cidades industriais europeias no século XIX. Por isso, o Estado procurou, por meio do planejamento urbano, soluções para remediar os problemas sociais, controlando, assim, as revoltas populares.

A remodelação de cidades como Viena, Londres, Florença e Paris, levadas a cabo pelo Estado, atendeu a problemas comuns: promover a melhoria sanitária, preservar e criar espaços públicos, alargar ruas e avenidas, reempregar operários da construção civil, mas também minimizar as tensões sociais que poderiam provocar uma revolução socialista. No entanto, nem todas as intervenções urbanas ocorridas

na Europa ao longo do século XIX, que marcaram a origem do urbanismo, partiram

de objetivos e concepções idênticos.

A cidade de Paris é um dos exemplos de intervenção urbana, através de um projeto de remodelação, implementado pelo prefeito George Eugène Haussmann (1809-1891), incumbido de realizar uma transformação urbana sem precedentes à época para resolver as dificuldades de uma cidade superpovoada, insalubre, repleta de problemas sociais e com criminalidade crescente.

A abertura de largas avenidas com calçadas generosas (bulevares), ao mesmo tempo em que criava uma nova estética para a cidade, tinha função estratégica: conter as convulsões sociais. Leia o Entre aspas e observe a figura 5, na página seguinte.

Urbanismo

Refere-se ao planejamento e à remodelação do espaço urbano, por meio de um conjunto de medidas técnicas, administrativas, econômicas e sociais que visam ao desenvolvimento racional e humano das cidades.

Figura 4. Conjunto de habitações precárias em Paris (França), cerca de 1878.

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Y/KEYSTONE BRASIL

O sistema de bulevares implantado por G. E. Haussmann facilitava o rápido deslocamento das tropas de cavalaria e artilha- ria, além de dificultar a formação de barricadas pelo movimento operário em confronto com a polícia.

Figura 5. Vista aérea do Arco do Triunfo, em Paris (França), 2015.

URBANISMO CULTURALISTA

O urbanismo culturalista pensou a cidade pela sua importância cultural e o valor estético que apresenta. Ressalta que a estética, no sentido de belo, do espaço urbano é fundamental para satisfação das necessidades espirituais dos cidadãos: o espaço público deve valorizar o lazer e as atividades culturais, e as edificações devem ser pau- tadas pela harmonia e beleza, pelas emoções positivas que provocam na vida cotidiana. O austríaco Camilo Sitte (1843-1903) foi um dos seus precursores, ressaltando a importância do espaço público (praças, monumentos e edificações históricas) para a vida na cidade. No início do século XX, essas concepções influenciaram interven- ções urbanísticas em diversas cidades do mundo, inclusive do Brasil, como Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. No Reino Unido, o urbanismo culturalista baseou-se no modelo das cidades-jardins. Concebida pelo arquiteto Ebenezer Howard (1850-1928), propunha uma solução para que os indivíduos pudessem compartilhar uma relação harmônica com a natureza em pleno ambiente urbano (figura 6).

Figura 6. As cidades-jardins, pro- dutos do urbanismo culturalista, foram planejadas para abrigar um número limitado de habitan- tes, sendo servidas por amplas áreas verdes, serviços públicos, boas vias de circulação e ativi- dades sociais. Sua concepção urbanística marca ainda hoje a paisagem de muitas cidades no Reino Unido, nos Estados Uni- dos e em outros países. Na ima- gem, cidade-jardim em Milton Keynes (Inglaterra), 2010.

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ROBIN WEA

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URBANISMO NO SÉCULO XX

No século XX, com as tecnologias promovidas pela Revolução Industrial, o concreto armado, o ferro, o aço, o alumínio e o vidro, entre outros materiais, criaram novas possibilidades de instalação urbana e assentamento da população. O arranha-céu possibilitou o crescimento verticalizado e ampliou o adensamento populacional, principalmente nas grandes cidades.

O urbanismo da primeira metade do século XX foi marcado pelo funcionalismo ou

racionalismo. Cada espaço da cidade seria, assim, destinado a uma forma específica

de uso do solo, com o zoneamento urbano respondendo a necessidades utilitárias.

Isso resultou na criação de bairros residenciais, comerciais e de serviços interligados por extensas vias de circulação. Observe a figura 7.

No Brasil, a cidade de Brasília, projetada no final da década de 1950 por Lúcio Costa (1902-1998) – responsável pela concepção urbanística – e Oscar Niemeyer (1907-2012) – responsável pelo projeto arquitetônico –, é o exemplo mais importante da influência do urbanismo racionalista. Esse projeto incorporou os princípios do urbanismo moderno e os ingredientes próprios da conjuntura econômica do país à época, marcada pelo desenvolvimento da indústria automobilística. Brasília foi cons- truída durante o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), de 1956 a 1961. Brasília se transformou num símbolo mundial do urbanismo racionalista e da arquitetura moderna (figura 8, na página seguinte). A cidade já foi chamada de capital estratégica, por afastar o centro decisório do poder político das grandes áreas de aglomeração humana; de cidade do automóvel; de cidade fria, que não acumula tradições; e de cidade monumento, pelo arrojo de suas obras arquitetônicas – o que a levou a ser reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Atualmente, a realidade dessa cidade planejada é outra, sobretudo no seu entorno e particularmente nas cidades-satélites (leia o Entre aspas, na próxima página). O crescimento populacional das últimas décadas foi acompanhado pelo aumento de favelas. As residências destinadas à população de maior poder aquisitivo se expandem sobre as áreas de mananciais e remanescentes de áreas verdes.

Figura 7. Projeto desenvolvido entre 1922 e 1925 pelo arquiteto suíço Le Corbusier (1887-1965), um dos principais expoentes do urbanismo racionalista europeu, para reestruturar parte do centro de Paris, à margem esquerda do Rio Sena. Podem-se observar na maquete algumas característi- cas dessa corrente urbanística: os arranha-céus e avenidas orto- gonais e as linhas geométricas.

FONDA

Figura 8. Vista aérea de superqua- dras residenciais do bairro nobre Asa Norte, área tombada pela Unesco, em Brasília (DF), 2013.

Ao trabalhar os aspectos arquitetôni- cos de Brasília é possível acessar o site da Unesco (disponível em: <http:// whc.unesco.org/en/list/445>), que apresenta diversas imagens e informa- ções sobre Brasília como Patrimônio Histórico da Humanidade. O site está em língua inglesa, possibilitando uma integração com a disciplina de Inglês. A integração pode ser facili- tada pelo fato de os estudantes terem algum conhecimento sobre determi- nadas características da cidade. Além disso, as imagens tornam a atividade atraente. Outro site interessante é o do Museu Virtual de Brasília (disponível em: <www.museuvirtualbrasilia.org. br/PT/plano_piloto.html>). Nele é possível também acessar imagens da cidade, além de obter uma explicação detalhada sobre a estrutura e caracte- rística do Plano Piloto.

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AL GLOBE/GOOGLE EAR

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RUBENS CHA

VES/FOLHAPRESS

Brasília: Plano Piloto e cidades-satélites

O Plano Piloto, que tem um formato de avião, ou nos dizeres de Lúcio Costa, “uma libélula, uma borbo- leta, um arco e flecha”, abriga as edificações do governo federal e do DF, que se estendem ao longo do Eixo Monumental (de leste a oeste). O principal centro comercial, com lojas, hotéis, bancos, consultórios, centros de diversões, escritórios, está próximo do cruzamento do Eixo Monumental com o Eixo Rodoviário-Residencial, ao longo do qual se estendem os setores residenciais, na Asa Norte e na Asa Sul, nos quais também foram projetados pequenos centros comerciais para atender à população residente. Apenas na porção central, de intersecção dos Eixos, estão edifícios altos, os residenciais são formados por prédios de poucos andares.

Em toda área do Plano Piloto estendem-se amplas áreas gramadas e arborizadas e canteiros orna- mentais. As casas de elevado padrão socioeconômico estão nas proximidades do lago Paranoá: Lago Norte e Lago Sul, sendo que algumas foram construídas em áreas de preservação ambiental.

As cidades-satélites estão no entorno do Plano Piloto, dentro do território do Distrito Federal (DF). Elas são administradas pelo Governo do DF, mas não são municípios, são Regiões Administrativas. A origem das cidades-satélites é diversa: algumas já existiam antes mesmo da construção de Brasília, caso de Brazlândia; umas foram estruturadas no momento da construção, como Taguatinga; e a maior parte surgiu depois da cons- trução, com o crescimento populacional no Distrito Federal, como Samambaia, Ceilândia e Núcleo Bandeirante.

Imagem aérea do Plano Piloto de Brasília (DF), 2008.

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