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Trabalho no Brasil

No documento Territorio Sociedade v3 Pnld2018 Pr (páginas 166-169)

Capítulo 7 Sociedade e economia

5. Trabalho no Brasil

o desemprego e outros problemas relacionados ao trabalho, como a baixa remuneração, os trabalhos escravo e infantil, constituem nos dias atuais gran- des desafios ao Brasil. Essas questões tornam-se ainda mais complexas se considerarmos as dimensões do país, as desigualdades entre as regiões e a instabilidade econômica provocada pela crise econômica e política desenca- deada em 2014/2015.

InforMalIdadE no MErCado dE TraBalho

Apesar de ainda apresentar elevado grau de informalidade em sua economia, o Brasil, na última década, mostrou uma melhora expressiva na formalização do mercado de trabalho (figuras 8 e 9), incluída a formalização do emprego doméstico. Contudo, essa melhora no período foi revertida a partir de 2015, em função da crise econômica e política iniciada naquele ano. Em situação de crise e aumento do desemprego, parte da população busca estratégias de sobrevivência na informalidade.

figura 8. Brasil: trabalho formal e informal (% da população ocupada) – 2004

Trabalho informal – 54,3% Trabalho formal – 45,7%

Fonte: Síntese dos indicadores sociais 2015: uma análise das condições de vida da população brasileira. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: jan. 2016.

figura 9. Brasil: trabalho formal e informal (% da população ocupada) – 2014

Trabalho formal – 57,7% Trabalho informal – 42,3%

SITuação do EMPrEgo

Em meados dos anos 1990, as taxas de desemprego aumentaram significa- tivamente no Brasil. Contribuíram para tal situação a abertura econômica e a consequente concorrência dos produtos importados, que provocaram a falência ou a queda da produção de muitas empresas brasileiras; a política de juros altos, responsável pelas dificuldades de novos investimentos; os baixos investimentos do Estado em infraestrutura e em outros setores da economia e na esfera social. Contribuíram, ainda, a automação e a robotização na produção de mercadorias e serviços.

A partir da primeira década de 2000, o Brasil, favorecido pelo dinamismo da economia mundial e especialmente da China, retomou o crescimento econômico, priorizou investimentos em programas sociais (como o Bolsa Família) e melhorou a distribuição de renda. Essas medidas foram fundamentais para diminuir as taxas de desemprego. A ascensão social de milhões de brasileiros permitiu a ampliação do mercado interno e do nível de crescimento econômico.

Embora a crise de 2007/2008 tenha enfraquecido o ritmo do crescimento eco- nômico, as taxas de desemprego permaneceram em queda até meados de 2014.

Consulte a Síntese dos indicadores sociais para acompanhar o provável crescimento da informalidade no Bra- sil a partir de 2015. g R á FIC o S: M AR Io yoSH ID A

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O Brasil enfrentou por um tempo a crise mundial através da desoneração de impostos a determinados setores produtivos, esforçou-se para manter os investimentos e os gastos públicos e os programas sociais. Com essa fórmula as despesas superaram as receitas federais e as finanças públicas deterioraram-se rapidamente. Contribuíram para isso a desaceleração da economia chinesa, nossa principal parceira comercial, e a queda do valor das commodities, os produtos que mais vendemos no mercado mundial.

A partir de 2015 a crise estava instalada e o desemprego começou a elevar-se em ritmo acelerado (figura 10).

Figura 10. Brasil: taxa de desemprego anual (em %)* – 2003-2015

2003 14 8 2 11 5 2009 2012 2014 2015 2006 12,3 MŽdia anual (em %) 10,0 8,1 5,5 4,8 6,8

* A pesquisa considera Recife (PE), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS).

Fonte: IBGE. PNAD Contínua. In: Folha de S.Paulo, 29 jan. 2016. Caderno Mercado, p. 4.

TRABALHO ESCRAVO

O trabalho escravo ou forçado ainda é uma realidade em pleno século XXI. O regime de trabalho análogo à escravidão contemporânea (figura 11) se manifesta de diversas formas e em diferentes atividades, nas áreas urbanas e rurais do país.

Nas áreas rurais, a escravização por dívida ocorre quando o agricultor é contra- tado para trabalhar em local muito distante do seu município, e dele são cobrados custos referentes à viagem e à alimentação feita dia-

riamente na própria fazenda, à compra de ferramentas para a realização do trabalho e ao alojamento. A dívida cresce em valores superiores ao salário contratado, e o trabalhador é impedido de deixar a fazenda até saldar a dívida mediante trabalho. Seus documentos são confis- cados e, muitas vezes, eles são vigiados por capangas armados para impedir qualquer tentativa de fuga. Vários casos de torturas foram relatados em algumas fazendas, indiciadas pela prática de trabalho escravo.

Nas áreas urbanas, muitos jovens são seduzidos pela oferta de trabalho em cidades distantes, com o compromisso de pagar as despesas de viagem e de hospedagem. Quando chegam, são obrigados a trabalhar em empresas que fun- cionam clandestinamente, sem receber remuneração e em jornadas longas e extenuantes ou, ainda, na prostituição, em casas noturnas e bordéis. Uma vez envolvidas em situações como essas, poucas pessoas conseguem voltar para casa.

Consulte a Síntese dos indicadores sociais para acompanhar o crescimento do desemprego no Brasil a partir de 2015.

Figura 11. Agentes da Receita Federal flagram oficina de costura clandestina, com bolivianos trabalhando, em São Paulo (SP), 2013.

No Brasil, assim como na maioria dos países do globo – sobretudo nos países em desenvolvimento –, o grupo etário mais atingido pelo desemprego é o de jovens (entre 15 e 24 anos).

LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHAPRESS

Nas últimas décadas, imigrantes bolivianos, paraguaios e haitianos acabaram submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão em oficinas de costura em áreas urbanas do Brasil, especialmente em São Paulo.

Brasil: quadro geral da erradicação de trabalho escravo

ano número de operações Trabalhadores resgatados

2015* 125 936 2014 170 1.674 2013 185 2.808 2012 141 2.771 2011 170 2.495 2010 142 2.634 2009 156 3.769 2008 158 5.016 2007 116 5.999

* Dado referente ao período de 1o de janeiro a 17 de dezembro de 2015.

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/Portal Brasil. Disponível em: <www.brasil.gov.br>. Acesso em: fev. 2016.

TraBalho InfanTIl

A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos. A partir dessa idade, até 16 anos, o trabalho é permitido, desde que na condição de aprendiz, com autorização dos pais e em atividades que não sejam degradantes, perigosas ou insalubres. No entanto, 554 mil crianças entre 5 e 13 anos trabalhavam no Brasil, em 2014, de acordo com o IBgE. Depois de

nove anos de queda, o trabalho infantil teve sua primeira alta na década, em 2014. observe a figura 12.

A pobreza é a principal causa do ingresso das crian- ças no mundo do trabalho. As famílias pobres são impe- lidas a utilizar os próprios filhos para complementar a renda familiar e garantir a sobrevivência. Essas crianças são impedidas de desenvolver uma infância saudável e de estudar, bloqueando por gerações a ascensão social de milhões de famílias. Além da aprendizagem, a convi- vência com outras crianças na escola promove a sociali- zação e o estabelecimento de relações sociais saudáveis.

Normalmente, o trabalho infantil no Brasil está rela- cionado à pobreza rural, mas existem casos, como na Região Sul, em que, por tradição, pequenos proprie- tários que exercem agricultura familiar contam com a ajuda dos filhos nas atividades da lavoura. Mas, de forma geral, a situação do trabalho infantil constitui um grave problema social.

Repórter Brasil www.reporterbrasil.com.br O site acompanha a situação do trabalho escravo no Brasil. Traz reportagens, vídeos e publicações que abordam o trabalho escravo em diversos setores da economia, além de uma relação de políticos eleitos que se comprometeram em combater o trabalho escravo e uma lista de confecções flagradas com trabalho escravo.

SITE

De acordo a Divisão de Fiscaliza- ção para Erradicação do traba- lho Escravo (Detrae), a principal vítima do trabalho escravo é o “jovem, do sexo masculino, com baixa escolaridade e que tenha migrado internamente no país”.

figura 12. Brasil: pessoas de 5 a 13 anos ocupadas (em milhares) – 2006/2014 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 0 500 1.000 1.500 1.436 1.257 506 554 712 561 1.015 930

Em milhares de pessoas ocupadas

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2006-2014. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: mar. 2016.

obs.: Em 2010, ano do recenseamento, não foi realizada a Pes- quisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

BIS

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Nas grandes cidades, são comuns as crianças que perambulam pelos lixões, vendem balas e doces nos cruzamentos de avenidas movimentadas, realizam acro- bacias pelas ruas em troca de qualquer quantia e exercem atividades domésticas, em especial no caso das meninas. Essa prática, além de limitar a infância, acaba comprometendo a vida futura. A deficiência escolar, além das limitações do sistema educacional, também está associada ao trabalho infantil (figura 13). A taxa de esco- larização de crianças e adolescentes que tiveram uma história de trabalho em idade precoce é mais baixa que as taxas dos que não foram obrigados a trabalhar.

Embora o número de crianças trabalhadoras seja muito elevado, a adoção de políticas visando à erradicação do trabalho infantil vem mostrando resultados. Um exemplo são os programas sociais voltados para a educação, que asseguram uma renda mensal às famílias pobres e miseráveis para manter os filhos na escola e ajudam a evitar o ingresso precoce no mercado de trabalho, como o Programa de Erradicação do trabalho Infantil (Peti) e o Bolsa Família.

Figura 13. Criança engraxate trabalha dentro do aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP), 2014.

No documento Territorio Sociedade v3 Pnld2018 Pr (páginas 166-169)