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Urbanização no mundo em desenvolvimento

No documento Territorio Sociedade v3 Pnld2018 Pr (páginas 102-108)

Capítulo 4 Urbanização mundial

7. Urbanização no mundo em desenvolvimento

EM DESENVOLVIMENTO

O aumento da população urbana foi mais acelerado nos países em desenvol- vimento do que nos desenvolvidos na segunda metade do século XX. Esse fator é decorrente da migração, em grande quantidade e num curto intervalo de tempo, da população do campo para a cidade, processo conhecido como êxodo rural.

A mecanização das atividades agrícolas nos países emergentes e o aumento das atividades econômicas dos setores secundário e terciário nas cidades contribuíram para esse processo. Mas, de modo geral, a estrutura fundiária concentradora no meio rural constituiu um fator relevante dessa migração acelerada, pois reduziu as possibilidades de permanência do trabalhador.

Entre os países em desenvolvimento há expressivas diferenças no que se refere à urbanização. Os maiores índices de população urbana nesse conjunto de países verificam-se na América Latina. Em 2014, alguns países já apresentavam índices de urbanização superiores a 80%, como Uruguai (95%), Venezuela (89%), Argentina (92%) e Brasil (85%). Observe a figura 18, na página seguinte.

INSTITUTO DE AR

TE DE CHICAGO, CHICAGO (EUA)

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Figura 18. Praça da Independência, no centro financeiro de Montevidéu (Uruguai), 2012. Assim como nos países desenvolvidos, alguns países em desenvolvimento apresentam áreas urbanas preservadas e valorizadas.

Os índices mais baixos de urbanização ocorrem na África e na Ásia, que abri- gam cerca de 90% da população rural do mundo. No entanto, essas regiões são as que apresentam o ritmo mais acelerado de urbanização atualmente. Para 2050, estima-se que sua taxa de urbanização estará em torno de 56% e 64%, respecti- vamente. Apesar de seus atuais baixos níveis de urbanização, a Ásia abriga 48% da população urbana mundial.

População total e taxa de urbanização em alguns países em desenvolvimento da Ásia e da África – 2014

País População total (em milhões) Taxa de urbanização (em %) Malásia 30,2 74 Irã 78,5 73 África do Sul 53,1 64 China 1.393,8 54 Indonésia 252,8 53 Nigéria 178,5 47 Filipinas 100,0 44

República Democrática do Congo 69,4 42

Paquistão 185,1 38

Índia 1.267,4 32

Uganda 38,8 16

Nos países em desenvolvimento, as possibilidades de emprego e de melhores condições de vida estão concentrados nas metrópoles. Elas foram o principal ponto de chegada de milhões de migrantes que deixaram o campo em busca de novas oportunidades. Ocorreu, dessa forma, uma urbanização concentrada nas metrópoles ou um processo de metropoliza•‹o.

Fonte: ONU. World Urbanization

Prospects: The 2014 Revision. p. 20-25.

Disponível em: <http://esa.un.org>. Acesso em: fev. 2016.

Cities and biodiversity  outlook

http://cbobook.org Por meio de imagens de satélite, mostra os diferentes níveis de urbanização nos continentes terrestres. A narração, em inglês, aborda os principais desafios e oportunidades de um desenvolvimento urbano sustentável. SITE DEPOSITPHOTOS/GLOW IMAGES

PLANEJAMENTO URBANO NOS PAÍSES

EM DESENVOLVIMENTO

Como você viu anteriormente, a partir da década de 1950, houve considerável ampliação das cidades nos países em desenvolvimento. Num primeiro momento, esse fenômeno foi mais intenso na América Latina, ocorrendo depois nos continen- tes asiático e africano. Essa urbanização deu-se praticamente sem orientação ou planejamento, agravando o quadro de exclusão social nas cidades.

O rápido crescimento populacional nas grandes cidades levou à expansão da superfície construída em áreas cada vez mais afastadas, ampliando a concentração populacional em bairros e zonas periféricas. Isso também foi consequência dos altos preços dos aluguéis nas áreas centrais e dos baixos rendimentos da população mais pobre, obrigada a se deslocar para a periferia, ao mesmo tempo que o número de imóveis vagos nas regiões centrais aumentava. Quando há revitalização /recupera- ção de áreas centrais degradadas das cidades, elas passam a abrigar residências destinadas às classes média e alta, além de serviços inacessíveis às populações de

baixa renda. Esse processo é chamado de gentrificação.

A expansão significativa da superfície construída das cidades criou e vem criando grandes dificuldades para a introdução de infraestrutura adequada, como transporte, saneamento básico e serviços sociais (postos de saúde, creches e escolas), nesses lugares mais afastados das áreas centrais (essa temática será retomada no próximo capítulo).

O crescimento exponencial da população nas cidades dos países em desenvol- vimento, como Cidade do México (México), São Paulo (Brasil), Cairo (Egito), Jacarta (Indonésia), Nova Délhi (Índia), Lagos (Nigéria) e Bangcoc (Tailândia), não teve correspondente histórico quando comparado com cidades como Nova York, Tóquio, Londres e Paris, que conheceram grande crescimento entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. A Cidade do México, por exemplo, estende-se por

uma mancha urbana de mais de 1.500 km2 (figura 19).

A gama de possibilidades oferecida pela metrópole, sobretudo no mundo em desenvolvimento, não é estendida a todos os seus habitantes. Muitos são excluídos dos serviços essenciais e das oportunidades de emprego, o que implica a deterioração da vida urbana. O aumento da urbanização em nível mundial, mas em maior ritmo nos países em desenvolvimento, impõe a essas cidades desafios para um modelo de desenvolvimento sustentável.

Figura 19. Vista aérea da Cidade do México (México), 2014.

FILME

Quem quer ser  um milionário? De Danny Boyle. EUA, 2008. 120 min.

O filme conta a história de Jamal Malik, um adolescente que trabalha servindo chá em uma

empresa de telemarketing

em Mumbai (Índia), uma das maiores cidades do mundo. A vida do rapaz muda completamente quando ele se inscreve num programa de TV e revive fatos da sua vida, tendo como pano de fundo as transformações e os problemas da sua cidade.

SUSANA GONZALEZ/BLOOMBERG VIA GETTY IMAGES

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Urbanização e meio ambiente

Observe as imagens de satélite de um trecho da costa leste dos Estados Unidos e responda às questões a seguir.

A imagem A mostra a vegetação variando de escassa (bege) para densa (verde-escuro). A imagem B mostra a temperatura variando de amena (azul) para quente (amarelo). O trecho mais bege da área continental da imagem A e o trecho mais amarelado da área continental da imagem B mostram parte da cidade de Nova York (Estados Unidos), 2006.

1. Compare as duas imagens de satélite. Qual é a relação que se pode estabelecer entre vegetação e temperatura?

2. Leia o texto abaixo.

“Em Nova York, a asma é a principal causa de hospitalização de crianças menores de 15 anos.

Pesquisadores da Universidade de Colúmbia estudaram a relação entre o número de árvores em ruas resi- denciais e a incidência de asma infantil. Descobriram que, quanto maior o número de árvores, menor a ocorrência de asma na infância, mesmo depois que os dados foram ajustados para características sociode- mográficas, densidade populacional e proximidade a fontes de poluição.

Como árvores poderiam reduzir o risco para a asma? Uma explicação é que elas ajudam a remover os poluen- tes do ar. Outra é que as árvores podem ser mais abundantes nas vizinhanças que são bem conservadas de outras maneiras, o que leva a reduzir a exposição a alérgenos que desencadeiam a asma. Outra, ainda, é que os bairros mais verdes incentivam as crianças a brincar ao ar livre, onde são expostas a microrganismos que ajudam o desenvolvimento adequado de seus sistemas imunológicos.

Novos estudos irão esclarecer melhor se as árvores nas ruas das cidades realmente ajudam as crianças a crescerem mais saudáveis. Mas os governantes e a população de Nova York já decidiram plantar um milhão de novas árvores até 2017.”

Cities and biodiversity outlook. Disponível em: <http://cbobook.org>. Acesso em: dez. 2015. Texto traduzido.

• Comente sobre alguma ação que você conheça que vise aliar urbanização e meio ambiente.

LANDSA

T 5 – TM/NASA

LANDSA

T 5 – TM/NASA

Um mesmo país, realidades opostas

Nos países em desenvolvimento e de industrialização tardia, o fenômeno da urbanização ocorreu – e ainda ocorre – de forma muito rápida e em geral desordenada. A falta de planejamento urbano contri- bui para o surgimento de graves problemas, como violência, carência de infraestrutura, proliferação de favelas, desemprego e poluição.

Essa realidade é visível de forma contundente na paisagem de algumas grandes cidades dos países em desenvolvimento. Observe a imagem 1.

IMAGEM 1

Bairro de Surco, em Lima (Peru), 2015.

1. No Brasil, observam-se desigualdades como as mostradas no Peru? Explique.

2. Em dupla ou em pequenos grupos, monte um cartaz com imagens do município onde você mora retratando

realidades socioeconômicas do lugar.

Mas essa realidade não é a única. Nesses paí- ses, há uma parcela da população que desfruta de condições de vida similares aos habitantes dos países desenvolvidos, vivendo com uma renda alta e habitando bairros com excelente infraestrutura, seguros e saudáveis (imagem 2).

À esquerda, bairro de Miraflores, em Lima (Peru), 2013. À direita, muro que separa Surco de Miraflores, em Lima (Peru), 2015. Com cerca de 10 km de comprimento e 3 metros de altura, o “muro da vergonha”, como é conhecido, é um espelho das desi- gualdades socioeconômicas no mundo em desenvolvimento.

IMAGEM 2

A convivência entre essas duas realidades, muitas vezes, gera tensões, preconceito, discri- minação e outras formas de violência. É o que ocorre na cidade de Lima (Peru), onde bairros com realidades socioeconômicas tão distintas foram separados por um muro (imagem 3).

IMAGEM 3

MARIANA BAZO/REUTERS/LA

TINSTOCK

KLAUS ULRICH MÜLLER/ALAMY STOCK PHOTO/FOTOARENA SEBASTIAN CAST

ANEDA/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES

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1. Diferencie, em linhas gerais, a urbanização ocorrida nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento.

2. Explique a relação entre urbanização e estrutura fun-

diária nos países em desenvolvimento.

3. Em algumas cidades brasileiras existem movimentos

organizados que procuram despertar a atenção da sociedade civil e do Estado para problemas como a falta de moradia e de segurança, entre outros.

a) Há algum tipo de movimento organizado em seu

município? Cite exemplos.

b) Comente a importância desses movimentos para

a elaboração de propostas e a solução de proble- mas existentes nos municípios, inclusive no lugar onde você vive.

4. Observe a imagem e responda às questões.

Estação de metrô em Tóquio (Japão), 2013, em horário de grande circulação de pessoas. A explosão populacional e o alto custo do automóvel particular levaram os japoneses a preferir o transporte público, que, além de pontual, abrange uma vasta área das prin- cipais cidades. Apesar disso, as grandes cidades do Japão não estão livres de pesados congestionamentos.

a) O transporte público é uma solução social e

ambientalmente adequada para a realidade das grandes cidades. Você concorda com essa afirma- ção? Justifique sua resposta.

b) Descreva as vantagens e as desvantagens do sis-

tema de transportes de Tóquio. Compare-o com o do lugar onde você vive.

5. Leia o texto.

“Nas grandes cidades, hoje, é fácil identificar ter- ritórios diferenciados: ali é o bairro das mansões e palacetes, acolá o centro de negócios, adiante o bairro boêmio onde rola a vida noturna, mais à frente o dis- trito industrial, ou ainda o bairro proletário. Assim, quando alguém, referindo-se ao Rio de Janeiro, fala em Zona Sul ou Baixada Fluminense, sabemos que se trata de dois Rios de Janeiro bastante diferentes; assim como pensando em Brasília lembramos do Plano-Piloto, das mansões do lago ou das cidades- -satélites. Podemos dizer que hoje nossas cidades têm sua zona sul e sua baixada, sua “zona”, sua Wall Street e seu ABC. É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais. É a este movimento de separação das classes sociais e funções no espaço urbano que os estudiosos da cidade chamam de segregação espacial.”

ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 40-41.

a) As metrópoles e grandes cidades estão repletas de

contradições. De acordo com o texto, que contra- dições são essas?

b) Você observa essas contradições no espaço urbano

do município onde vive? Cite o nome dos bairros, os problemas socioambientais que observa e seus contrastes com outros bairros da cidade.

Faça no caderno

¥ (Enem 2013)

Embora haja dados comuns que dão unidade ao fenômeno da urbanização na África, na Ásia e na América Latina, os impactos são distintos em cada continente e mesmo dentro de cada país, ainda que as modernizações se deem com o mesmo conjunto de inovações.

ELIAS, D. Fim do século e urbanização no Brasil. Revista Ciência Geográfica, ano IV, n. 11, set./dez. 1988.

O texto aponta para a complexidade da urbanização nos diferentes contextos socioespaciais. Comparando a organização socioeconômica das regiões citadas, a unidade desse fenômeno é perceptível no aspecto

a) espacial, em função do sistema integrado que

envolve as cidades locais e globais.

b) cultural, em função da semelhança histórica e da

condição de modernização econômica e política.

c) demográfico, em função da localização das maio-

res aglomerações urbanas e continuidade do fluxo campo-cidade.

d) territorial, em função da estrutura de organização

e planejamento das cidades que atravessam as fronteiras nacionais.

e) econômico, em função da revolução agrícola que

transformou o campo e a cidade e contribui para a fixação do homem ao lugar.

TORU Y

ESPAÇO GEOGRÁFICO 

E URBANIZAÇÃO

UNIDADE

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URBANIZAÇÃO NO BRASIL

CAPÍ TULO

Ainda há um jeito de viver

“Antigamente até que se achava bonita a palavra megalópole e todas as suas implicações. Hoje é o grande vilão do mundo moderno. O que foi a Lon- dres imperial, a gigantesca Nova York, poderosa expressão de uma grandeza emergente, tornou- -se agora sinônimo de conflito e retrocesso. As megalópoles são […] são sintomas, não de força e riqueza de um país, mas de miséria e injustiça social. Pois que todas essas grandes metrópoles, passando algumas dos doze milhões de habitantes ou chegando perigosamente aos vinte milhões, representam uma maioria que é vítima da miséria

torçal1, do desemprego, do subemprego e mais

gradações da extrema pobreza.

No Rio de Janeiro de antigamente, a favela era uma referência lírica, inspiradora dos sambas como o imortal Chão de Estrelas: ‘A lua, penetrando o nosso zinco/semeava de estrelas o nosso chão…/ Tu pisavas nos astros distraída/sem saber que a ventura nesta vida/é a cabrocha, o luar, o violão…’. Mas disso já se foi no tempo. Hoje, favela não é mais símbolo de pobreza descuidosa e lírica; cada favela é miniatura de Chicago dos anos 20, enclave fora da lei, dominada pelas quadrilhas da droga, do assalto e do sequestro, onde a população submissa, vítima do medo, é forçada a cumprir a lei da Omertá – o

silêncio imposto pela camorra2 dos chefões. Aos

quais se acumplicia a polícia conivente, ou temerosa

também. Afinal, polícia não é super-herói, é gente de carne que nem nós, tem medo de metralhadora e é susceptível às tentações do dinheiro. Às vezes nem precisa fazer nada – basta só fechar os olhos.

Mas eu não queria falar em polícia colonial, mas nas cidades brasileiras. E por tudo que tenho visto, sinto que ainda existe, espalhado em quase todos os nossos estados, um tipo de cidade ideal para se morar. Cidades de porte médio, entre os 300 e os 500 mil habitantes. Com todos os confortos da moderna civilização e até mesmo os requintes: as maravilhas da informática, TV a cabo, telefone celular etc. […]

Tenho a impressão de que no futuro as grandes cidades de muitos milhões de habitantes, onde já não vale a pena nem ser rico, serão banidas dos mapas ou reduzidas ao seu núcleo mínimo, o resto derrubado, substituído por pomares e jar- dins. Esses ecologistas podem às vezes ser imper- tinentes, mas nos alertam para a impossibilidade de se viver aos montões, se entredevorando uns aos outros. Lembrou-me um deles o exemplo das abelhas: quando uma colmeia chega a um grau perigoso de superpopulação, as fontes de alimento escasseando, elas começam a emigrar, os enxames espessos criando colônias novas em outras áreas, aliviando a colmeia-mãe.

Os homens têm que começar a imitar as abelhas.”

QUEIROZ, Rachel de. Correio Braziliense, 24 jun. 2002.

1. Na sua opinião, quais as vantagens e as desvantagens de morar em uma grande cidade?

2. Imitar as abelhas é solução ou causa dos problemas urbanos?

3. O que você entende por megalópole ou metrópole?

1 Torçal: feixe de fios torcidos; aqui, referência à condição das pessoas que se veem espremidas, contorcidas, em situação de extrema penúria. 2 Camorra: associação secreta criminosa de origem napolitana.

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