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Por que ouro?

No documento livro-a-febre-do-ouro.pdf (páginas 32-35)

Inimigos do ouro são rápidos ao desacreditá-lo como o metal brilhante ou como uma pilha de pedras, como se ele não tivesse nenhum atrativo como um tipo de dinheiro. Mesmo economistas sofisticados, como o ex-presidente do Fed Ben Bernanke, descreveram a armazenagem de ouro nos cofres americanos apenas como uma tradição.

Na verdade, o uso do ouro como dinheiro, além de ser uma prática muito antiga, é muito funcional. Recentemente, Justin Rowlatt, do BBC

World Service, conduziu uma entrevista com Andrea Sella, professor

de química da University College London, em que o professor fez uma revisão aprofundada da tabela periódica para explicar por que o ouro, dentre todas as estruturas atômicas conhecidas no universo, é único e idealmente adequado para ser dinheiro no mundo físico.

Todos nos lembramos da tabela periódica das aulas de química do Ensino Médio. Parece uma matriz, com um quadrado para cada elemento. Há cerca de dezoito quadrados de largura e nove quadrados de altura, com uma forma irregular nas extremidades; hidrogênio (H) e hélio (He) ficam acima de seus pares. Cada quadrado contém o nome de um elemento e seu símbolo de uma ou duas letras, além de informações úteis, como o peso atômico, a massa atômica e o ponto de ebulição. Um total de 103 elementos estão representados dessa forma, do hidrogênio (número atômico 1) ao laurêncio (número atômico 103). Não há nada físico no universo conhecido que não seja feito desses elementos ou de uma combinação molecular deles. Se está procurando por dinheiro, você o encontrará aqui.

O professor Sella habilmente nos guia pela tabela. Ele mostra que a maior parte da matéria do universo é completamente inadequada

para ser dinheiro. E se concentra nos poucos elementos adequados, destacando o que é quase perfeito para o propósito – ouro.

Sella rapidamente dispensa dez elementos que ficam do lado direito da tabela, incluindo hélio (He), argônio (Ar) e neônio (Ne). O motivo é óbvio, são gases à temperatura ambiente e literalmente sairiam voando. Não servem para ser dinheiro.

Além dos gases, Sella rejeita elementos como mercúrio (Hg) e bromo (Br) porque são líquidos em temperatura ambiente e são tão impraticáveis quanto os gases. Outros elementos são rejeitados porque são venenosos, como o Arsênico (As).

Em seguida, ele se volta ao lado esquerdo da tabela, que inclui doze elementos alcalinos, como magnésio (Mg), cálcio (Ca) e sódio (Na). Eles também não são bons para serem utilizados como dinheiro porque ou se dissolvem ou explodem em contato com água. Economizar para um dia chuvoso é uma ótima ideia, mas não se o dinheiro se dissolver assim que começar a chover.

Os próximos elementos a serem descartados são aqueles como urânio (U), plutônio (Pu) e tório (Th), pelo simples motivo de serem radioativos. Ninguém quer carregar uma forma de dinheiro que pode causar câncer. Nesse grupo também estão trinta elementos radioativos criados apenas em laboratório para serem decompostos logo após sua criação, como o einstênio (Es).

A maioria dos outros elementos não é adequada como dinheiro com base em propriedades específicas. Ferro (Fe), cobre (Cu) e chumbo (Pb) são reprovados porque enferrujam ou são corroídos. É ruim o suficiente quando os bancos centrais desvalorizam o seu dinheiro. Ninguém quer que o dinheiro se desvalorize sozinho.

Rowlatt e Sella continuam em sua viagem pela tabela periódica. Alumínio (Al) é frágil demais para ser utilizado como moeda. Titânio (Ti) era duro demais para ser derretido com os equipamentos disponíveis nas civilizações antigas.

Assim que o processo de eliminação acaba, há apenas oito candidatos para uso como dinheiro. São os metais nobres, que ficam mais ou menos no centro da tabela. Irídio, ósmio, rutênio, platina, paládio, ródio, prata e ouro. Todos eles são raros, e apenas ouro e prata estão disponíveis em quantidades suficientes para proporcionar uma oferta de moeda viável. O resto é extremamente raro, raro demais para ser dinheiro, e de difícil extração por causa do alto ponto de fusão.

Rowlatt completa seu tour d’horizon da seguinte maneira: Sobram apenas dois elementos – prata e ouro. Ambos são escas- sos, mas não impossivelmente raros. Ambos têm um ponto de fusão relativamente baixo e, assim, é fácil transformá-los em moedas, lingotes e joias. A prata mancha – reage a pequenas quantidades de enxofre no ar. É por isso que o ouro tem tanto valor.

(Justin Rowlatt, “Why Do We Value Gold?,” BBC World Ser- vice Magazine, 8 de dezembro de 2013, www.bbc.com/news/ magazine-25255957.)

O ouro (Au) tem mais um atrativo – o dourado. Todos os outros metais têm coloração prateada, com exceção do cobre, que fica verde quando exposto ao ar. Beleza não é um pré-requisito do dinheiro, mas é um bom atributo do ouro considerando que ele passa em todos os outros testes com louvor.

Nossos ancestrais não utilizavam ouro apenas porque era brilhante ou belo, como sugerido pelos críticos modernos. O ouro é o único elemento que tem todas as características físicas necessárias – escassez, maleabilidade, inércia, durabilidade e uniformidade – para servir como uma confiável e prática reserva de valor. Sociedades mais sábias que tinham ciência do que faziam.

É claro que essa lista de virtudes não significa que ouro deve ser dinheiro. Hoje o dinheiro existe principalmente em forma digital. Elétrons que armazenam dígitos não enferrujam, mas também não são nada escassos.

Só porque dinheiro é digital não significa que não faz parte do mundo físico. Não há escapatória da tabela periódica de elementos. Dinheiro digital existe como partículas subatômicas armazenadas em chips de silicone (Si). Essas partículas podem ser “hackeadas” e apagadas. Átomos de ouro (número atômico 79) são estáveis e não podem ser apagados por ciberbrigadas russas ou chinesas. Mesmo na era cibernética, o ouro ainda é dinheiro sem igual.

No documento livro-a-febre-do-ouro.pdf (páginas 32-35)