CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DA PESQUISA
3.3 INTERAGIR PARA CONSTRUIR OS SABER-DIZER
3.3.1 Por uma apropriação dinâmica dos saberes e dos saber-dizer
Possuir flexibilidade comunicativa em turma de LE não significa deixar o curso se desenrolar pela livre iniciativa dos aprendentes. Estes também não querem isso. Eles esperam que o ensinante, enquanto organizador da aula, proponha-lhes atividades que lhes favoreçam a construção das competências orais desejadas.
Como já mencionamos, a construção de uma competência comunicativa não é possível sem as ferramentas, ou seja, os saberes linguísticos, sociolinguísticos e linguageiros, os saber- dizer e os saberes pragmáticos.
Quando questionamos os professores sobre o que constituiria o entrave maior ao processo de aprendizagem da PO (Questão nº 8 - “Em sua opinião, o que mais dificulta a produção oral de seus alunos/de suas alunas?”), esperávamos que eles assinalassem uma só alternativa. Porém, nas duas entrevistas, a maioria dos docentes (83% do CELCFDM em 2005 e 74% das três escolas em 2008) escolheu mais de uma das causas sugeridas pela entrevistadora, assinalando de 2 a 5 alternativas do questionário. A tabela que segue mostra os percentuais referentes à pesquisa de 2005.
TABELA 12: Causas das dificuldades de PO segundo os docentes do CELCFDM
CAUSAS DAS DIFICULDADES DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES DO CELCFDM
ANO: 2005 De duas a cinco
causas As lacunas linguísticas
O medo de errar e ser
censurado A insegurança
83% 9% 4% 4%
DADOS DOS PROFESSORES (83%) QUE ASSINALARAM MAIS DE UMA CAUSA
As lacunas linguísticas O medo de errar e ser censurado A timidez A falta de treino A insegurança A falta de materiais de CO de qualidade 40% 35% 35% 30% 30% 5%
Como podemos ver nessa tabela, a maioria dos entrevistados (83%) acredita que as dificuldades de PO dos alunos advém de um conjunto de fatores, com destaque para as
lacunas linguísticas, o medo de errar e ser censurado (Cf. 1.3.4), a timidez, a falta de treino e a insegurança. Na realidade, todos os fatores que figuram nessa tabela apresentam uma inter- relação. Por exemplo, a insegurança e o medo de errar podem estar associados às lacunas linguísticas e à falta de treino para a discursividade.
Na tabela que segue, apresentamos o resultado geral da entrevista dos professores e alunos das três escolas, realizada em 2008.
TABELA 13: Causas das dificuldades de PO segundo os entrevistados
CAUSAS DAS DIFICULDADES DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES E OS ALUNOS DAS 3 ESCOLAS
RESULTADO GERAL ANO: 2008
CAUSAS PROFESSORES ALUNOS
Mais de uma causa 74% 19%
A falta de treino 4% 29%
O medo de errar e ser censurado 9% 19%
A insegurança - 12%
A timidez - 11%
As lacunas linguageiras91 9% 2%
As lacunas linguísticas 4% 6%
Não apresenta dificuldade de PO - 1%
Não respondeu - 1%
Na tabela acima, podemos notar que, de modo semelhante aos professores, os alunos também apontam mais de uma causa para suas dificuldades orais. Porém, são apenas 19% dos discentes92 contra 74% dos docentes os que avaliam que há um conjunto de fatores interferindo nas aquisições discursivas da turma. Na entrevista dos alunos, o fator “A falta de treino” recebeu a maior votação, mas ele representa um percentual de apenas 29% dos fatores
91 Na pesquisa de 2005, a alternativa “As lacunas linguageiras” não figurava nos questionários dos professores e
alunos.
92 Esses alunos atribuem as dificuldades de PO aos seguintes fatores: a falta de treino (37%), a insegurança
apontados. As opinões dos estudantes se dividem entre várias causas, portanto: a falta de treino, o medo de errar, a insegurança etc.
De modo semelhante à pesquisa de 2005, a maioria dos professores entrevistados no ano passado (74%) continua atribuindo as dificuldades orais dos alunos a um conjunto de fatores, cujo detalhamento encontra-se na tabela que segue.
TABELA 14: Mais de uma causa das dificuldades segundo os docentes
CAUSAS DAS DIFICULDADES DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES (74%) DAS 3 ESCOLAS QUE
ASSINALARAM MAIS DE UMA ALTERNATIVA ANO: 2008
O medo de errar e ser censurado 53%
A timidez 47%
As lacunas linguísticas 35%
A falta de treino 29%
A insegurança 29%
As lacunas linguageiras 24%
Os dados da Tabela 14 nos autorizam a afirmar que, para a maioria dos ensinantes entrevistados em 2008 (74%), o medo de errar e a timidez são os principais fatores que interferem no desempenho oral dos aprendentes.
Na tabela comparativa que segue, procuramos mostrar de maneira mais detalhada os dados fornecidos pelos entrevistados das três escolas.
TABELA 15: Causas das dificuldades de PO – Resultados específicos
CAUSAS DAS DIFICULDADES DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES E OS ALUNOS DAS 3 ESCOLAS - RESULTADOS ESPECÍFICOS
ANO:
2008 CELCFDM ESCOLA A ESCOLA B CAUSAS Professores Alunos Professores Alunos Professores Alunos Mais de uma
dificuldade
O medo de errar e ser censurado 6% 5% 25% 24% - 35% As lacunas linguageiras 6% 3% 25% - - 1% A falta de treino 6% 35% - 20% - 28% As lacunas linguísticas - 11% 25% 5% - - A timidez - 2% - 18% - 20% A insegurança - 11% - 16% - 11% Não respondeu - - - 2% - - Não apresenta dificuldade de PO - 1% - - - -
Analisando a tabela acima, podemos observar que no CELCFDM concentra-se a maioria dos alunos que atribuem suas dificuldades orais a mais de um fator, ou seja, 32% dos entrevistados contra 15% na Escola A e 5% na Escola B. Entendemos que isso não significa que os alunos do CELCFDM enfrentem mais dificuldades que os das outras duas escolas, mas que, por serem mais velhos (Cf. 2.1.2.3), aqueles têm talvez um grau de maturidade maior para se autoavaliar. Além disso, os alunos do CELCFDM parecem ser mais exigentes consigo mesmos no que tange à competência oral, tanto por terem mais clareza da razão de estudar Francês – já que quase todos procuram o curso voluntariamente – como por visarem à conversação.
No que concerne ao grupo dos professores, vemos na Tabela 15 que, com exceção dos entrevistados da escola A, o número de docentes que atribuem as dificuldades de PO dos alunos a vários fatores é muito mais significativo que o dos discentes: 100% na Escola B e 82% no CELCFDM.
Os dados fornecidos pelos informantes nessa parte da pesquisa nos levam a acreditar que a maioria das dificuldades orais dos alunos se deve à falta de comportamentos autônomos dos atores envolvidos no processo. Professores e alunos deveriam, primeiramente, identificar as dificuldades; depois, buscar o “remédio” necessário. Se os alunos têm lacunas de aprendizagem a preencher, devemos ajudá-los a identificá-las e, com a participação deles, escolher as estratégias de ensino e de aprendizagem mais adequadas à construção dos saberes. Se o problema é a falta de treino, o ensinante pode abrir-lhes espaço para a prática da discursividade na sala de aula, bem como orientá-los no que concerne às estratégias possíveis
para se praticar a língua fora da sala de aula; por sua vez, o aluno precisa arriscar-se na prática das interações orais. Se os alunos têm medo de se expor ou se demonstram insegurança, o professor necessita rever suas atitudes frente a seus erros, mas também ajudar a turma a rever os seus.