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CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DA PESQUISA

3.6 UM DISCURSO ENRAIZADO NAS INTERAÇÕES SOCIAIS

3.6.2 A prática da discursividade

Sem treino para a discursividade, nada mudará em nossas turmas. Na questão 3 – “Qual é o tempo que você reserva ao trabalho de produção oral ?” –, 66% dos professores do CELCFDM entrevistados em 2005 responderam que trabalham a PO em todas as aulas, como podemos observar na tabela abaixo:

TABELA 17: Duração do trabalho de PO segundo os docentes do CELCFDM

TEMPO RESERVADO AO TRABALHO DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES DO CELCFDM

ANO: 2005

A PO é trabalhada em todas as aulas 66% Duas horas por semana 16% Uma hora por semana 4% Duas aulas a cada quinzena 4%

Para os 16% que responderam que realizam atividades de PO duas horas por semana, isso representa, portanto, 50% de sua carga horária semanal no CELCFDM. Conforme já explicamos, os aprendentes desse Centro têm quatro horas de aula por semana. Nós teríamos, assim, 82% de professores que buscam proporcionar a seus alunos um espaço de tempo significativo para a prática da PO.

Todavia, há aqui uma pergunta que precisaria ser respondida: Se as atividades orais são habituais em nossas turmas de FLE, qual o motivo das dificuldades conversacionais dos aprendentes, de seus esquecimentos, de seus bloqueios?

Na entrevista aos professores das 3 escolas no ano passado, obtivemos dados que se distanciam dessa pesquisa de 2005, como veremos na tabela que segue:

TABELA 18: Duração do trabalho de PO segundo os docentes

TEMPO UTILIZADO NO TRABALHO DE PO SEGUNDO OS PROFESSORES DAS 3 ESCOLAS ANO: 2008

Alguns minutos da aula 31% A PO se dá no decorrer das aulas 26% Duas aulas por semana 17% Uma aula por semana 13% Duas aulas a cada quinzena 9% Uma aula por mês 4%

Na Tabela 18, apenas 26% dos entrevistados afirmam que o trabalho de PO se realiza em todas as aulas. Os professores (todos do CELCFDM) que afirmam, na tabela acima, que o trabalho de PO se dá no decorrer das aulas, apresentaram as seguintes justificativas:

1) “É difícil mensurar em minutos, horas, um trabalho com a oralidade. Pois ela pode se fazer presente em várias situações de classe. Numa conversa informal para (sic) o professor, mas aproveitando o aprendizado do aluno. Numa explicação que o aluno precise, incentivando-o a utilizar a língua em estudo p/ se fazer compreender, e logicamente, nas atividades específicas para o trabalho de produção.” (professora)

2) “Em geral uma aula trabalha duas competencias (sic), seja oral ou escrita.” (professora) 3) “Metade da segunda aula da semana. Todos os dias (sic) tento estimulá-los à produção oral, mas em termos de atividade sistemática é mais na segunda aula da semana.” (professora)

4) “No decorrer da lição, mais (sic) a concretização se faz no final de cada lição, de acordo com o método TAXI, na rubrica Communiquer.” (professora)

5) “Do total de quatro horas semanais, pelo menos 30% porcento (sic) é dedicado (sic) à expressão oral, além da prática de intercalar as atividades orais durante todo o processo.” (professor)

6) “Todos os dias eu incentivo e trabalho a produção oral no início, no meio ou no fim das aulas. Acredito que a P.O deve ser incentivada, trabalhada e sistematizada todos os dias. O tempo suficiente (20 ou 25 min). Pode ser a partir de um dialogo (sic), de uma reportagem (sic) de uma entrevista ou de um tema interessante para a turma, e sempre devem ser acompanhados (sic) de fotos, ilustrações para facilitar a comunicação global.” (professora)

Nas justificativas acima, identificamos duas concepções: uma em que o professor acredita que o trabalho de PO tem “data e hora marcada” para começar e acabar, e outra na qual se compreende que, além das atividades orais sistematizadas, a qualquer momento da aula podemos ensinar o discurso aos alunos, num processo interativo constante. Na justificativa nº 6, por exemplo, a professora parece conceber que bastam 20/25 minutos da aula para se trabalhar a comunicação oral, enquanto que na nº 1, a professora entende que ensinar uma competência discursiva oral é realizar atividades sistemáticas para tal, mas também aproveitar todos os momentos da aula para incentivar os alunos a interagirem oralmente em LE, inclusive aceitando os momentos de “desplanejamento” (“Numa conversa informal para (sic) o professor”).

Da entrevista aos alunos das 3 escolas, em 2008, obtivemos os dados que mostraremos na tabela que segue.

TABELA 19: Duração do trabalho de PO segundo os discentes

TEMPO UTILIZADO NO TRABALHO DE PO RESPOSTAS DOS ALUNOS DAS 3 ESCOLAS ANO: 2008

Duas aulas por semana 47% Alguns minutos da aula 21% Uma aula por semana 16% Em todas as aulas há interação 5%

Uma aula por mês 2%

Em quase todas as aulas há interação 2% Alguns minutos da aula a cada quinzena 2% Não responderam/não especificaram/anularam 2% Uma aula a cada quinzena 1% Duas aulas a cada quinzena 1% Duas aulas por mês 1%

O que mais nos chama a atenção nas respostas dos alunos (Tabela 19) é que 47% deles afirmam que os professores utilizam duas aulas por semana no trabalho de PO, mas apenas

5% afirmam que há interação em todas as aulas em sua turma. Sabemos que é difícil para os estudantes avaliar o tempo gasto nas atividades de PO. Isso é difícil até mesmo para os professores. Porém, os dados que eles nos fornecem ajudam a responder à pergunta que nos fizemos ainda a pouco (Se as atividades orais são habituais em nossas turmas de FLE, qual o motivo das dificuldades conversacionais dos aprendentes, de seus esquecimentos, de seus bloqueios?). Uma das respostas possíveis seria que as interações verbais deveriam ser incentivadas em todas as aulas; outra resposta é que as atividades ditas orais nem sempre favorecem uma fala autêntica. Por exemplo, decorar um diálogo pronto, que é uma atividade muito comum em muitas de nossas turmas de FLE, não seria “produção” de texto, mas “re- produção” de texto, pois o texto não possui nenhuma marca do aluno. É apenas um modelo discursivo, do qual se pode lançar mão, mas que não substitui as atividades em que os alunos constroem seus próprios textos. Em suma, a qualidade da atividade de PO que se propõe à turma influencia na qualidade dos discursos que os aprendentes (co)constroem (Cf. 1.2.2).