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ANEXO I – Técnica 4 – Acrescentando Informações

2. Bases teóricas para a aprendizagem da escrita

2.1 A proposta de trabalho

2.1.3 Portfólio

Mesmo uma breve revisão da literatura existente mostra que os portfólios podem ser de natureza bem variada, neste espaço, porém a revisão literária concentra-se em Portfólios de Ensino, organizados de forma a revelar evidências sobre a (re)elaboração de estratégias de produção textual.

Segundo Harp e Huinsker (1997), portfólio é uma espécie de coletânea de trabalhos, que objetivam demonstrar o desenvolvimento, as competências e as habilidades de um indivíduo, durante um determinado período de tempo. Kish et al (1997) referem-se ao portfólio como uma possibilidade de nutrir o pensamento reflexivo do estudante, facilitando a análise e o debate, promovendo dessa forma um processo de conscientização através do autoquestionamento sobre os registros de uma ação empreendida e catalogada, organizadamente.

O Portfólio Cronológico (doravante PC), instrumento do projeto em questão, é explicado por Coelho & Matos (2002) a partir da maneira como ele se organiza: “este tipo de portfólio organiza-se por datas, mantendo-se um registro de todos os artigos incluídos cronologicamente. Este método permite ver a evolução do aluno ao longo do ano. É também o modo mais simples de organizar o material” ( s.p.)

A partir dessas considerações teóricas, é possível perceber o PC como uma coleção de textos produzidos pelas pessoas envolvidas e catalogados sequencialmente em uma pasta, o que proporciona uma visão longitudinal

sobre a evolução do processo, tanto por parte do professor orientador, como pelo acadêmico-produtor. Assim, permite uma avaliação constante pelo professor, o que possibilita contínua (re)organização da interferência professoral e atividades propostas.

Sob o ponto de vista do acadêmico, construir um PC é um recurso que permite uma avaliação sobre o próprio processo de aprendizagem. Segundo Santos (1997) “alunos são motivados a pensar sobre suas necessidades , objetivos , fraquezas , e pontos fortes em linguagem; eles são frequentemente convidados a selecionar o seu melhor trabalho e explicar o motivo do trabalho ter valor para ele. Aprender a refletir com um portfólio traz importantes contribuições à triangulação de informação na avaliação do processo”13 (p.1) Essa autorreflexão é um princípio fundamental para aumentar o grau de autonomia em relação à produção escrita já que, ainda conforme Santos (1997), alguns estudantes não têm muitas oportunidades para desenvolver e expressar idéias sobre a própria aprendizagem. Tendo oportunidade de refletir retrospectivamente sobre os próprios resultados, o acadêmico é provocado a avaliar o conhecimento de pontos frágeis ou fortes na escrita, atitude que pode transformá-lo em agente principal de sua autoqualificação com auxílio de um gênero não tão convencional no ensino-aprendizagem de produção textual. De acordo com Bakhtin (2003), “gêneros do discurso são tipos relativamente estáveis de enunciados” (p.262) e envolvem elementos como “o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional”, os quais são elementos ligados e determinados por dado campo comunicacional.

Antes de classificar o portfólio como um gênero, é preciso visitar alguns autores que sustentam a linha de raciocínio que fortaleceu essas reflexões. Bronckart (2003), respaldado em outros teóricos, reflete no capítulo 1 sobre “ação e linguagem”, afirmando que a ação possui duplo estatuto:

...pode ser definida, de um lado, como esta “parte” da atividade social imputada a um ser humano particular (ponto de vista do observador externo) e, de outro, como o conjunto das representações construídas por esse ser humano sobre sua participação na atividade, representações essas que o erigem em um organismo consciente de seu fazer e de suas

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No original, lê-se:“ students are asked to think about their needs, goal, weaknesses, and strengths in language learning; they are often asked to select their best work and to explain why the work is valuable to them. Learner reflection in a portfolio makes an important contribution to the triangulation of information in the assessment process.” (p.1)

capacidades de fazer, isto é, em agente (ponto de vista interno)”. (p.39)

Tal reflexão serve para que se registre, aqui, considerações sobre a natureza do Portfólio, o qual possibilita um encontro produtivo e positivo desse duplo estatuto: aquele motivado por interferência externa – no caso do professor - e o de caráter interno – as reflexões do acadêmico-agente. Tal constatação permite considerar os resultados obtidos com a organização de um Portfólio, como autênticos reflexos de um encontro dialógico entre os sujeitos envolvidos no processo, isto é, professora e acadêmicos, sejam estes considerados como grupo ou individualmente.

Essa concepção dialética encontra respaldo em Vygotsky (1984), o qual afirma que, através das relações produzidas socialmente, o homem não só transforma, mas é transformado, interação que resulta no processo de aprendizagem. O Portfólio pode ser considerado um meio para essa transformação, já que o professor precisa interferir na Zona de Desenvolvimento Proximal, que segundo Vygotsky (1984) consiste num estágio em que a pessoa ainda necessita da contribuição de indivíduos mais capazes, pois não possuem autonomia para solucionar sozinhos determinadas questões. Facilitaria, ainda, o papel de mediador do professor (Vygotsky, 1984), interferência fundamental na interação do indivíduo com qualquer objeto de conhecimento.

De acordo com Machado (2005), em artigo publicado na coletânea organizada por Meurer e Motta-Roth (2005), muitos pesquisadores brasileiros preocupam-se em investigar gêneros como possibilidade de intervenção no campo educacional, seja em língua materna ou estrangeira. Respeitando o foco, a autora divide os gêneros em cinco grupos, mas não é de interesse deste trabalho discorrer sobre as características de cada um, para maior conhecimento sobre esta divisão conferir bibliografia citada. Da referida classificação, interessa, apenas, o grupo cujo foco de pesquisa refere-se às ferramentas de ensino e envolve, segundo Machado (2005), “os artigos de opinião, os diários reflexivos de professores, os resumos, as resenhas críticas, a construção de modelos didáticos de gêneros ou a análise e avaliação de materiais de ensino”. (p.238)

É, justamente, como parte desse grupo, que se pensa o Portfólio como um gênero didático que permite acompanhar a evolução de uma ação sobre os, anteriormente citados “pontos de vista” (externo e interno), favorecendo uma mediação positiva por parte da professora orientadora e um avanço na habilidade de produção textual por parte do aluno. Dessa forma, é possível retornar a Bakhtin (2003), seu conceito14 de gênero e os elementos que o determinam, para ratificar o Portfólio como um modelo didático de gênero, que permite propor, acompanhar e analisar a ação de quem o organiza e de quem propõem sua organização, através de um diálogo com muitos dados à disposição do pesquisador.

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