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CAPÍTULO 3 ABORDAGEM DE INTERACÇÃO E REDES 26

3.3. A Abordagem das Redes Industriais 36

3.3.3. Posição da Empresa 42

As empresas não prosperam unicamente através dos seus esforços individuais, dependem também do comportamento e relações que mantêm com outras e da natureza das relações directas e indirectas que com elas desenvolvem (Wilkinson e Young, 2002). A performance de uma organização depende, em larga medida, de como e com quem ela interage (Häkansson e Snehota, 1989; Baraldi et al., 2007).

Os actores que interagem com uma organização atribuem-lhe uma posição que depende do conjunto de relacionamentos que esta desenvolve (Johanson e Mattsson, 1992). Qualquer organização ocupa uma posição na rede. A posição de uma empresa é, contudo, um conceito relativo atribuído exteriormente. Assim, não existirão duas posições iguais atribuídas por diferentes actores à mesma organização focal (Häkansson e Snehota, 1989).

A posição de uma empresa poderá ser entendida como um recurso, um activo intangível que influencia a sua capacidade de actuação e que, simultaneamente, como qualquer recurso, facilita e limita a sua actuação estratégica (Turnbull et al., 1996; Duysters et

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al., 1999; Wilkinson e Young, 2002). Dentro desta perspectiva Turnbull, Ford e

Cunningham (1996, p. 47) definem posição como “os relacionamentos da empresa e os direitos e obrigações que deles decorrem”. Empresas com uma posição mais central terão benefícios decorrentes do seu acesso a mais informação e oportunidades, comparativamente aos actores mais periféricos (Gulati et al., 2000). A posição tem também influência sobre a teoria de rede, na medida em que esta é amplamente formada através da informação proveniente das relações entre actores (Johanson e Mattsson, 1992).

A posição de uma empresa na rede é resultado da sua utilização passada de recursos e constitui uma plataforma relacional para o aproveitamento de oportunidades futuras (Mattsson, 1985). Reflecte o acesso que a empresa tem aos recursos de outras empresas e a importância que os actores da rede lhe atribuem por essa capacidade de acesso. O aumento da importância atribuída, e logo o reforço da posição, depende do ajustamento dos recursos da empresa aos recursos e actividades das contrapartes. Da mesma forma, quando os recursos e actividades oferecidas pela empresa já não forem compatíveis com aqueles procurados pela rede, o poder advindo da sua posição diminuirá (Low, 1997). A posição de cada actor poderá assim ser diferente em cada rede em que esteja inserido, pelo facto de que os recursos a que o mesmo tem acesso serem valorizados de maneira distinta em cada uma dessas redes (Anderson et al., 1998). Deste modo, um actor poderá ter uma posição de destaque numa rede onde as suas características gerem valor e ter uma posição modesta numa outra rede que não confira importância significativa aos seus recursos.

Para Johanson e Mattsson (1985), o conceito de posição traduz a situação do actor relativa a quatro componentes: (1) a identidade das empresas conectadas, (2) o papel da empresa na rede, (3) a importância da empresa na rede (4) e a força das relações empresariais.

Turnbull, Ford e Cunningham (1996) propõem que, além do portfólio de relacionamentos da empresa, a análise da posição exige a observação de recursos adicionais que foram construídos através da interacção, como sejam (1) o acesso aos

44 recursos das contrapartes, (2) a reputação (que é dependente da experiência dos outros membros da rede), (3) e as expectativas face ao seu comportamento.

Segundo Mattsson (1985), a posição da empresa pode ser aferida numa dupla perspectiva: a micro-posição, ao nível de cada relacionamento, e a macro-posição, ao nível da rede. Estes dois níveis estão claramente conectados, já que a posição na rede afecta cada relacionamento individual, e o conjunto dos relacionamentos individuais traduzem a sua macro-posição.

Johanson e Mattsson (1992, p. 211) diferenciam ainda o conceito de posição restrita e posição alargada. A posição restrita refere-se ao nível da rede, dependendo das relações de troca do actor e com quem essas relações acontecem. A definição alargada refere-se ao papel que os actores desempenham no sistema de produção. De acordo com este conceito alargado, “a posição de um actor inclui também o processo produtivo no qual está envolvido e as suas interdependências directas e indirectas” (Johanson e Mattsson, 1992, p. 212). Este papel produtivo tem para os autores duas dimensões: a dimensão qualitativa e a dimensão quantitativa. A função qualitativa traduz a função que o actor tem no sistema de produção, enquanto a função quantitativa traduz a importância relativa que os recursos do actor têm para os restantes.

O desenvolvimento de novas relações por parte da empresa altera a forma como a sua identidade é percebida na rede, ou seja, a sua posição. Devido ao carácter dinâmico dos relacionamentos, a posição de uma organização na rede não será fixa, alterando-se continuamente ao longo do tempo (Henders, 1992; Snehota, 2004). Como todas as empresas estão interligadas, e como as posições são relativas e atribuídas por cada actor individual, a alteração da posição de uma empresa irá afectar a posição das demais (Low, 1997). Assim, as posições podem estar positiva ou negativamente relacionadas com outros actores, podendo, de acordo com a situação, o reforço da posição de um actor levar ao fortalecimento ou enfraquecimento da posição de outro (Johanson e Mattsson, 1992). Como as posições estão continuamente a ser redefinidas pelo processo de interacção existente na rede, a posição de uma empresa não está directamente sob o seu controlo (Wilkinson e Young, 2002). A empresa poderá, porém, influenciar a sua

45 posição, o que implica gerir relacionamentos, escolher parceiros privilegiados e desenvolver elos entre recursos (Low, 1997).

A posição de um actor revela o comportamento que dele é esperado por parte dos demais. Consequentemente, a alteração da posição de um actor provoca mudança nas expectativas em relação à sua actuação (Anderson et al., 1998). Contudo a mudança de posição de um actor na rede pode não ser fácil de alcançar já que as organizações com uma posição privilegiada desenvolvem recursos de maneira a defender e consolidar essa posição (Low, 1997). A alteração de posição está também relacionada com o grau de estruturação da rede, “se a estrutura da rede for concentrada as tentativas de iniciar uma relação por parte de outsiders é dificultada pelo facto de não terem relacionamentos com os membros da rede. As relações podem estar tão intrincadas que se tornam domesticadas. (…) Se pelo contrário a estrutura da rede for alargada as tentativas de estabelecimento de uma posição serão relativamente mais fáceis (…) porque as interdependências e relacionamentos são relativamente mais fracos” (Low, 1997, p. 192). Apesar da posição ocupada na rede não estar directamente sobre o controlo do actor tem um impacto directo na forma como este é percepcionado, afectando a sua teoria de rede e influenciando as suas interacções e actuação estratégica.