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CAPÍTULO 4 QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E MODELO DE

5.3. Determinantes 81

5.4.4. Recolha da Informação 95

Uma das vantagens dos casos de estudo é a possibilidade de utilizar múltiplas fontes de informação (Eisenhardt e Graebner, 2007). Estas diversas fontes permitem a triangulação de dados (Huberman e Miles, 1994; Stake, 1994; Yin, 2003b) o que faz com que as conclusões resultantes da investigação ganhem mais robustez já que “qualquer descoberta ou conclusão de um estudo será provavelmente mais convincente e precisa, se baseada em várias fontes de informação” (Yin, 2003b, p. 98). Para além da confirmação e verificação dos dados, a utilização de múltiplas fontes de informação permite revelar aspectos que, à partida, eram desconhecidos por parte do investigador, o que possibilita a descoberta de novas dimensões do problema de investigação (Dubois e Gadde, 2002).

O processo de recolha de informação serviu-se por isso de várias fontes: entrevistas, documentos internos das empresas, catálogos, planos de desenvolvimento locais, estatísticas regionais, catálogos, imprensa escrita e sítios na Internet. Das múltiplas fontes de informação utilizadas, as entrevistas tiveram uma clara predominância, revelando-se o meio mais adequado para acompanhar as interacções e os processos

96 dinâmicos que estão na base das correntes relacionais que estruturaram o modelo de análise (Dubois e Araújo, 2004). Como referem Ackroyd e Hughes (1992, p. 102) com a “utilização de relatórios verbais oferecidos pelos entrevistados o investigador tem acesso a uma quase infinita variedade de informação que seria impossível de gerar por outros meios”.

Procurou-se identificar, dentro de cada empresa, informantes com grande conhecimento sobre a organização e que permitissem analisar o fenómeno em estudo sobre diversas perspectivas (Eisenhardt e Graebner, 2007). Devido à singularidade organizacional das empresas focais e das regiões onde as mesmas estão instaladas, cada caso de estudo deu origem a um painel de entrevistados heterogéneo comparativamente aos restantes (Anexo 1). Contudo, de um modo geral foram entrevistados os responsáveis da área de marketing de cada empresa e os actores locais com os quais a empresa focal desenvolve os seus principais relacionamentos. Estes actores foram na maior parte dos casos as administrações locais, fornecedores, clientes e parceiros estratégicos.

As entrevistas duraram entre uma e duas horas e meia, foram gravadas3, transcritas e seguidamente enviadas aos entrevistados para que pudessem ser feitas eventuais correcções. Este processo não deu origem a qualquer alteração ao conteúdo das entrevistas, mostrando-se os entrevistados plenamente identificados com as transcrições enviadas. A identificação verificada assegura uma maior objectividade nos relatos e contribui para o reforço da validade dos dados e da sua análise posterior. No total foram realizadas sessenta e seis entrevistas que totalizaram noventa e uma horas e quarenta e cinco minutos de gravação. A identificação dos entrevistados, das organizações a que os mesmos pertencem e dos cargos que desempenham é feita no Anexo 1. No mesmo anexo procede-se à atribuição de códigos aos entrevistados. Estes códigos serão utilizados ao longo do Capítulo 6 para identificar os entrevistados nas citações que se transcrevem na tese.

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A entrevista com a Dr.ª Elizabete Rita, directora da Associação Industrial do Distrito de Aveiro, foi a única que não seguiu este protocolo. Devido a sucessivas dificuldades de agenda da entrevistada, as questões foram enviadas por correio electrónico e respondidas por escrito pela mesma via.

97 Todas as entrevistas foram realizadas no local de trabalho dos entrevistados em hora própria agendada por estes. Na maior parte dos casos as entrevistas foram seguidas de uma visita às instalações da empresa durante as quais, num ambiente mais informal, foram recolhidas proveitosas considerações para a análise. À semelhança destas visitas, também o processo que mediou a chegada às instalações da organização até ao início da entrevista deu origem a várias evidências observadas e anotadas que se revelaram úteis para a investigação. Esta estadia no ambiente da organização, que em alguns casos ultrapassou as quatro horas (entre a chegada, espera, entrevista e visita), gerou uma grande proximidade face ao contexto da organização, o que se revelou de grande importância para a interpretação dos dados.

Pretendeu-se que as entrevistas decorressem de um modo fluido e não demasiadamente rígido, tendo as mesmas sido configuradas como conversações guiadas e não como perguntas estruturadas (Rubin e Rubin, 1995). Desta forma, as questões colocadas foram maioritariamente utilizadas para manter a discussão dentro do domínio de interesse do investigador. Pretendeu-se também que os entrevistados assumissem em larga medida um papel de informantes e menos de respondentes (Yin, 2003b), valorizando-se desta forma as suas percepções sobre as questões em discussão.

Estes factores levaram a que as entrevistas seguissem um modelo semi-estruturado, sendo utilizados três guiões de entrevista (cf. Anexos 2, 3 e 4). A utilização de guiões diferenciados deve-se à natureza muito distinta dos entrevistados e das perspectivas, também elas distintas, que se pretendiam captar. Assim, no caso das empresas focais o guião orientou maioritariamente a entrevista para a organização (Anexo 2), tentando-se obter uma compreensão dos fundamentos da sua actuação estratégica e da consequente rede de relacionamentos e efeitos na estrutura e dinâmica territorial que surgiram à luz dessa actuação. Já no caso dos responsáveis territoriais, para além de se pretender apurar da importância da empresa focal para a dinâmica das suas regiões, foi dado um enfoque às características territoriais e respectivo ambiente territorial (Anexo 3). No que diz respeito aos outros relacionamentos locais pretendeu-se maioritariamente apurar a importância e os efeitos da empresa focal nas características e valor do relacionamento em causa (Anexo 4).

98 A utilização de guiões revelou-se adequada para orientar as entrevistas sem no entanto obedecer a uma sequência pré-determinada. A formulação das questões e a ordem seguida não foi sempre a mesma já que a particularidade de cada entrevistado, e o carácter dinâmico da entrevista, obrigaram a ajustes, no sentido de recolher a máxima informação possível. Os guiões permitiram, desta forma, centrar a entrevista na agenda da investigação e evitar um excesso de estruturação, que poderia resultar numa eventual perda de informações que o entrevistado pretendesse introduzir na investigação.

As primeiras entrevistas com os responsáveis das empresas foram menos estruturadas. Sendo este o primeiro contacto com a organização, existia ainda um desconhecimento significativo sobre as trajectórias e orientações estratégicas das empresas. Procurou-se por isso, neste contacto inicial, um entendimento da realidade global da organização, o que obrigou a que a formalização das entrevistas fosse menor.

Durante o processo das entrevistas e do tratamento dos dados obtidos foi observada uma dimensão ética, garantindo-se aos entrevistados que nenhuma das declarações obtidas seria utilizada de forma a prejudicar a sua componente relacional com outros actores. Desta forma, e a pedido de alguns entrevistados, não se reproduziu nem fez uso de algumas declarações consideradas delicadas. Estas declarações foram prestadas quando o gravador digital se encontrava desligado e geralmente eram acompanhadas da expressão “agora que já desligou o gravador, também seria bom saber que …”.

Esta garantia permitiu gerar uma maior confiança e segurança nos entrevistados e traduziu-se na transmissão de um maior número de detalhes e informações e, consequentemente, num conhecimento mais intenso sobre os casos em análise.