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Posição da Laringe

No documento Voz e postura (páginas 105-108)

A laringe, órgão primariamente envolvido na produção vocal humana, está localizada na região anterior do pescoço, suspensa entre o crânio e a traqueia por músculos e li- gamentos, o que a torna particularmente vulnerável a mudanças de posição12. A posição

da laringe é directamente dependente do movimento do osso hióide e indirectamente dependente dos movimentos da cabeça, da mandíbula, da articulação temporo-mandi- bular, da coluna cervical e da cintura escapular294.

Vários estudos mostraram que a posição da laringe é importante para uma boa qua- lidade vocal e que qualquer alteração na sua posição pode influenciar a performance vocal, especialmente na voz cantada295-297. A posição vertical da laringe está relacionada com a

frequência (pitch) vocal296,298, com a intensidade (loudness) vocal295 e com o volume pulmo-

nar299, estando uma posição alta da laringe associada a esforço fonatório299.

A posição neutra da cabeça é a posição de equilíbrio da cabeça em relação ao pes- coço, com esforço muscular mínimo300. Rubin et al12,290 fazem a descrição detalhada dos

grupos musculares envolvidos no alinhamento postural e sua relação com a função vocal e levantam a hipótese de um mau alinhamento da cabeça com o pescoço resultar em

alterações adaptativas nos músculos que elevam a laringe e, assim, em alterações no con- trolo da frequência e da ressonância.

Blake12, por observações feita nos seus doentes, especula que a contractura crónica

adaptativa do músculo estilo-hioideu possa levar a alterações na translação anterior do osso hióide e da cartilagem tiróide durante o canto, comprometendo o comprimento e tensão das pregas vocais, com consequente perda das frequências altas e voz soprada. Este facto, foi corroborado por Johnson e Skinner301, num estudo realizado em cantores

clássicos após cirurgia da coluna cervical.

Angsuwarangsee e Morrison302 defendem que o movimento do queixo para a frente

aumenta o esforço vocal e causa aumento da tensão dos músculos extrínsecos da laringe durante a fonação. A persistência desta postura viciosa leva a sobrecarga dos músculos extralaríngeos e aumento da tensão laríngea, com consequências a nível da produção vocal302.

Respiração

Segundo Gould303, a produção vocal no humano devia ser definida como uma função se-

cundária do mecanismo postural global, que inclui a actividade respiratória, e não como uma função secundária do sistema respiratório, como classicamente era considerada. De facto, os músculos torácicos, abdominais e pélvicos têm um papel quer na respiração, quer na produção vocal, e são profundamente influenciados pela postura corporal.

A postura tem assim, um papel fundamental na respiração e na produção do volume pulmonar necessário para iniciar a fonação303.

O papel dos músculos inspiratórios (diafragma e músculos intercostais externos) inicia-se com a contracção involuntária do diafragma e com a simultânea expansão la- teral da caixa torácica inferior, permitindo a inspiração de ar, e prolonga-se pela primeira parte da expiração304,305.

Os músculos expiratórios (músculos abdominais e intercostais) estão activos du- rante a respiração normal, durante o exercício físico, na tosse e na fonação, contraindo principalmente nas fases tardias da expiração304,305.

Hoit et al304,305, ao estudarem a actividade electromiográfica da região abdominal,

mostraram que os músculos abdominais estão activos durante a produção vocal e que o padrão de actividade muscular abdominal é influenciado pela postura corporal, en- tre outros factores. Nestes estudos304,305, os autores mostraram que, em ortostatismo, os

músculos laterais do abdómen (músculo abdominal oblíquo externo, músculo abdo- minal oblíquo interno e músculo transverso abdominal) estão activos na respiração em repouso, e que a sua actividade electromiográfica aumenta durante a produção vocal,

também um papel importante durante a fase inspiratória do discurso, na posição em pé, permitindo o ajuste mecânico do diafragma, mantendo o seu comprimento e servindo de suporte contra o qual o diafragma contrai, o que é essencial para que as inspirações sejam rápidas e não comprometam a fluência do discurso304,305.

Em contraste, na posição supina, não há actividade electromiográfica abdomi- nal304,305. Nesta posição, a força da gravidade empurra o conteúdo abdominal na direcção

da cabeça e mecanicamente coloca o diafragma em vantagem para criar uma alteração do volume inspiratório304,305. Assim, a gravidade é uma força expiratória nesta posição. No

entanto, os músculos abdominais estão activos, na posição deitado, quando o discurso é feito num volume muito alto ou quando a conversação é feita com baixos volumes pul- monares304,305.

O controlo vocal é em grande medida determinado pela capacidade do tórax ex- pandir lateralmente. Assim, posturas que restrinjam a livre expansão do tórax limitam necessariamente o ar disponível para a produção vocal303. Por exemplo, num indivíduo

na posição de sentado, com o tronco torcido ou flectido sobre a cintura pélvica, vai haver diminuição do espaço para a expansão torácica e a eficácia das trocas de ar estará limita- da, com consequente compromisso da eficácia fonatória303.

Ao avaliar o papel da postura na respiração e na fonação tem de se ter em consider- ação, não apenas os músculos abdominais e torácicos, mas também a posição da pélvis, membros inferiores, membros superiores e pescoço. Vários estudos mostraram a relação entre a actividade dos músculos pélvicos e os músculos expiratórios306-310. Os autores sa-

lientam a necessidade de uma boa função da cintura pélvica para a normal função dos músculos abdominais, nomeadamente o músculo transverso abdominal306-310. A cintura

pélvica tem, portanto, uma função respiratória e postural306-310. Por outro lado, a con-

tracção dos músculos abdominais profundos e dos músculos pélvicos em conjunto per- mite a estabilização da coluna e o aumento lateral da caixa torácica, com melhoria do suporte respiratório, especialmente no canto311.

Iwarsson e Sunderberg299 mostraram que a posição da laringe também é significati-

vamente influenciada pelo volume pulmonar em indivíduos não treinados. O aumento do volume pulmonar resulta num abaixamento do diafragma e consequentemente de todas as estruturas da árvore traqueo-brônquica que lhe estão anatomicamente conecta- das, incluindo a laringe299.

Sundberg et al312, num estudo cujo objectivo era estabelecer a relação entre a acti-

vidade dos músculos cricotiroideus e o diafragma em cantores, mostraram que a descida do diafragma e a consequente aproximação traqueal da laringe, favorece a abdução das pregas vocais. Demonstraram ainda que, este efeito abdutor é aumentado se os músculos elevadores da laringe estiverem activados compensatoriamente, no sentido de manter a posição da laringe312.

No documento Voz e postura (páginas 105-108)