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2. O CIPM, uma associação revolucionária

2.2. Acção do CIPM

2.2.6. Propaganda da Revolução e combate à “reacção”

2.2.6.9. Posição face ao 11 de Março de 1975

Após a demissão de António Spínola do cargo de Presidente da República, em Setembro de 1974, ele próprio e os seus partidários não desistiram de reocupar o poder. A estes, aliaram-se outros oficias de extrema-direita, bem como vários conspiradores exilados em Espanha, também, sedentos de recuperar o mando perdido com o 25 de Abril. Planeada, a partir de Janeiro de 1975, a acção central teve lugar no dia 11 de

819 Diário de Notícias, Funchal, 29 de Outubro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular

de Machico, datado de 28 de Outubro de 1974, C. PMCM.

820Comércio do Funchal, Funchal, de 5 a 12 de Dezembro de 1974, Festas Populares com Tino Flores,

Fausto e Vitorino, C. PMCM.

821 Diário de Notícias, Funchal, 29 de Outubro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular

de Machico, datado de 28 de Outubro de 1974, C. PMCM.

822 Diário de Notícias, Funchal, 29 de Outubro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular

de Machico, datado de 28 de Outubro de 1974, C. PMCM. e Diário de Notícias, Funchal, 1 de Novembro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular de Machico, C. PMCM.

823 Diário de Notícias, Funchal, 29 de Outubro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular

de Machico, datado de 28 de Outubro de 1974, C. PMCM.

824 Diário de Notícias, Funchal, 1 de Novembro de 1974, Comunicado do Centro de Informação Popular

Março do mesmo ano, expressa no ataque aéreo, por parte da Base de Tancos, ao RALIS, então considerada a base revolucionária das unidades militares. Mas o MFA, que já tinha conhecimento dos objectivos dos spinolistas e vinha vigiando a sua acção, permitiu o seu ataque e depois, conforme previsto, conseguiu neutralizar a ofensiva de direita, beneficiando da desorganização desta, a exemplo do que sucedera com o 28 de Setembro. Face à derrota, o general Spínola e outros 18 oficiais fugiram para Espanha.

Este acontecimento afastou os elementos spinolistas e de outras tendências de direita, reforçou o papel do COPCON, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho, nascendo o Conselho da Revolução (substituindo a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado), abriu as portas a uma maior afirmação da esquerda portuguesa, nomeadamente do PCP e possibilitou o avanço de transformações sociais, como a reforma agrária e as nacionalizações (banca, seguros e transportes)825. Neste contexto, o socialismo passou a ser, oficialmente, a meta da revolução portuguesa, afirmando-se os valores do “poder popular” e do “poder dos trabalhadores”826.

Apesar de este movimento ter acontecido no Continente, o CIPM esteve atento ao mesmo, e a exemplo do que sucedeu no 28 de Setembro de 1974, também fez a sua leitura política, considerando que, novamente, assistiu-se a “intenções negras e sujas

dos reaccionários”, em que alguns generais – “até o general Spínola” – e “outros ricos burgueses tentaram enganar os pobres soldados da Força Aérea para atacarem os seus irmãos das Forças Armadas” e provocaram o incêndio o quartel do Regimento de

Artilharia de Lisboa e depois, fugiram para Espanha. No entendimento do Centro de Informação, estes “criminosos (…) Queriam que o país voltasse à antiga ditadura, ao

fascismo, à escravidão do Povo”827.

Perante estes factos, o CIP convocou, em 12 de Março, e para as 7 horas da tarde do mesmo dia, uma concentração no Largo da Vila, para manifestar o apoio dos trabalhadores às Forças Armadas, a exemplo do que se verificou nas várias cidades do

825 Cervelló, Josep Sánchez (2002), A Revolução portuguesa – o 11 de Março, Medina, João, dir. (2002),

História de Portugal – dos tempos pré-históricos aos nossos dias, Vol. XIV, Madrid, Editora S.A.P.E,

pp. 81 – 86.

826Moreira, Vital (1998), A instituição da democracia. A Assembleia Constituinte e a Constituição de

1976, Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976), Rosas, Fernando, coord. (1999), I Curso Livre de História Contemporânea, Lisboa, de 23 a 28 de Novembro de 1998, organizado pela Fundação Mário Soares e Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Edições Colibri / Fundação Mário Soares / Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, pp.193-209.

país, de forma a “desmascarar mais uma vez os reaccionários, todos da mesma igualha

daqueles que ontem queriam matar o Povo Trabalhador.”828

Tal como ocorrera com o 28 de Setembro de 1974, também esta associação estabeleceu uma ligação deste acontecimento nacional com a situação local, designadamente com a ocupação do edifício da Câmara de Machico, que tivera lugar em Fevereiro de 1975. Assim, o CIPM declarou que a população machiquense compreendia bem essa agitação registada no Continente, pois

Foi uma coisa parecida com a contra-manifestação que se deu no terceiro dia da ocupação da Câmara: senhores ricos, burgueses e comerciantes conseguiram enganar pobres pessoas do Povo, na maioria crianças, para lutarem contra os operários, camponeses e pescadores que ocupavam a Câmara.829

Segundo o Centro, os objectivos dos reaccionários eram os mesmos: “A mesma

coisa que os de Machico: matar o povo trabalhador, rebentar com o poder do Povo.”

Noutra passagem, fazia-se um paralelo local com a situação nacional, identificando os reaccionários, como “os senhores bem vestidos, os senhores gordos, os funcionários da

Câmara, os que ganham à custa do povo Trabalhador, os comerciantes que escondem o açúcar, os senhorios e até alguns bem fardados, tudo senhores da alta”830.

Outra comparação foi feita, quanto a quem salvou a nação, no 11 de Março. Se em Lisboa, foram os operários da Lisnave, do Porto de Lisboa, também, em Machico, teria de ser “o Povo Trabalhador (…) os operários, os camponeses, os pescadores e os

soldados.”831

Entretanto, a 19 do mesmo mês, realizou-se, no Funchal, uma manifestação organizada pelo Sindicato da Construção Civil. O CIPM associou-se a esta acção, considerando-a “um importante passo na caminhada que o Povo do concelho de

Machico tem feito para conquistar o poder.”832 Acrescentava um panfleto divulgado pela mesma agremiação, na véspera da manifestação, que esta era “contra o capitalismo

828 Panfleto 11 de Março – Um dia negro, 12 (?) de Março (?) de 1975 (?), C. A. 829 Panfleto 11 de Março – Um dia negro, 12 (?) de Março (?) de 1975 (?), C. A. 830 Panfleto 11 de Março – Um dia negro, 12 (?) de Março (?) de 1975 (?), C. A. 831 Panfleto 11 de Março – Um dia negro, 12 (?) de Março (?) de 1975 (?), C. A.

832 Diário de Notícias, Funchal, 19 de Março de 1975, Comunicado do Centro de Informação Popular de

e os seus responsáveis, sobretudo o Rebelo que tanto tem prejudicado o Povo de Machico.”833

Neste sentido, o CIP procedeu à realização de esclarecimentos públicos, na Ribeira Seca, Caniçal e Bairro da Queimada (Água de Pena), nessa data, bem como recebeu nomes dos interessados para participarem na aludida manifestação. E aqui, importa referir que os acontecimentos do 11 de Março de 1975 foram reportados como elementos mobilizadores da população para o encontro do dia 19, na cidade madeirense. Então, o CIPM disse: “Temos de encostar à parede todos aqueles que no nosso meio

fazem as vezes de banqueiros e generais que, há oito dias atrás, queriam destruir a democracia portuguesa.”834