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2. O CIPM, uma associação revolucionária

2.2. Acção do CIPM

2.2.6. Propaganda da Revolução e combate à “reacção”

2.2.6.10. Posição face ao 25 de Novembro de 1975

No Verão de 1975, viveu-se um período muito agitado, com confrontos entre diferentes segmentos sócio-políticos, tumultos nas ruas, assaltos e destruição de sedes partidárias. Estávamos em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso). Este “verão quente” pôs em contraponto dois grupos: os moderados e os revolucionários. Na ala moderada, pontificavam nomes como Melo Antunes, Vasco Lourenço, Jaime Neves e Pinheiro de Azevedo, a que se associavam diversos partidos, como o PS, PPD e o CDS e ainda o Grupo dos Nove. Do outro lado, encontravam-se personalidades, como Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves, Rosa Coutinho, Varela Gomes e Diniz de Almeida, apoiados, entre outros, pelo PCP, UDP, MDP e pelo COPCON. Este último bloco, no entanto, apresentava-se dividido, reflectindo-se tal no seio militar, onde veio a notar-se falta de homogeneidade e de unidade de comando.

Embora os dois agrupamentos comungassem dos ideais da Revolução dos Cravos, a verdade é que se mostraram inconciliáveis, quanto ao rumo político do país e só pela tomada do poder, por uma das partes, poderia resolver a delicada situação do país.

No crescendo da violência na rua e dos episódios mais marcantes, como a destruição do emissor da Rádio Renascença, a nomeação de Vaco Lourenço para

833 Panfleto Grande manifestação, Centro de Informação Popular de Machico, 18 (?) de Março (?) de

1975 (?), C. A.

834 Panfleto Grande manifestação, Centro de Informação Popular de Machico, 18 (?) de Março (?) de

comandante da Região Militar de Lisboa, em lugar de Otelo, a tentativa de sequestro do V Governo, chefiado por Pinheiro de Azevedo e o cerco à Assembleia Constituinte, e apesar de cada um dos sectores em disputa encontrar-se a evitar tomar a iniciativa de ataque, a verdade é que a ala mais revolucionária, no dia 25 de Novembro, lançou uma ofensiva, através da ocupação do Comando da Região Aérea de Monsanto e de outras bases aéreas, por parte dos paraquedistas da Base Escola de Tancos. Depois de já ter detido Otelo, em Belém, e colocado o COPCON sob as suas ordens, o Presidente da República, Costa Gomes, declarou o estado de emergência em toda a Lisboa e proclamou que as tropas deveriam obedecer-lhe ou ao tenente-coronel Ramalho Eanes. Por outro lado, o mais alto magistrado da nação conseguiu desmobilizar a acção do PCP e da Intersindical, garantindo ao primeiro que não seria ilegalizado, e à segunda organização que os trabalhadores não sofreriam represálias. Terminava a tentativa de ocupação do poder pela ala revolucionária, triunfando o movimento moderado. Para muitos, este momento marca a “normalização” política do país.835 Regista-se uma contenção do processo revolucionário, através do qual a legitimidade revolucionária cede lugar à legitimidade das urnas, na linha de uma democracia parlamentar e também assiste-se à liquidação política do MFA, ao regresso das Forças Armadas ao seu papel tradicional no Estado, agora sob a alçada do poder político e à neutralização, gradual da esquerda político-militar836.

A nível regional, assistia-se, de forma pacífica, às movimentações em Lisboa, tendo Carlos Azeredo apelado à serenidade e garantido a continuidade da revolução portuguesa837.

Ao contrário do que sucedera no 28 de Setembro de 1974 e no 11 de Março de 1975, não se descortinou qualquer posição pública do Centro de Informação Popular de Machico, relativamente aos acontecimentos ora em apreço.

No entanto, a acção do CIPM continuara, a par de outras organizações com quem tinha ligação associativa. Assim, foi visível o apoio desta agremiação, nomeadamente, à Cooperativa Povo Unido, à União das Bordadeiras de Machico e à

835 Cervelló, Josep Sánchez (2002), A Revolução portuguesa – o 25 de Novembro, Medina, João, dir.

(2002), História de Portugal – dos tempos pré-históricos aos nossos dias, Vol. XIV, Madrid, Editora S.A.P.E, pp. 87 – 94.

836 Rosas, Fernando (2004), Pensamento e Acção política, Portugal século XX (1890-1976), Lisboa,

Editorial Notícias.

837 Diário de Notícias, Funchal, 27 de Novembro de 1975, Brigadeiro Carlos Azeredo: Mensagem breve

actividades dos caseiros, em prol da extinção da colonia, a qual aconteceria, legislativamente, pela Assembleia Regional, em 1977.

Apesar do 25 de Novembro de 1975 afrouxar a intensidade política dos movimentos associativos ligados ao 25 de Abril, cedendo espaço aos partidos políticos, que ganharam maior visibilidade com as eleições legislativas nacionais e regionais, realizadas em 1976, o certo é que o CIP prosseguiu o seu caminho. A diminuição da sua missão aconteceu com a ligação e até a candidatura de alguns dos seus membros em agremiações partidárias, como Martins Júnior, que foi eleito deputado, como independente, na lista da UDP para a Assembleia Regional da Madeira, em 1976 e uma grande parte dos activistas do Centro nas listas dos GDUPs para a autarquia de Machico, em Dezembro do mesmo ano, tendo outros elementos optado por partidos diferentes, como João Escórcio, que aproximou-se do Partido Socialista.

Por um lado, poderíamos dizer que esta separação partidária teve impacto no decrescer da unidade dos membros do CIP e, inclusivamente, no seu fim associativo. A propósito, Martins Júnior, dissera, em 1977: “O que retalhou Machico foram mesmo os

partidos. Foi uma pena! Machico estava muito unido, muito forte, e sabia o que queria nas suas lutas. Depois meteram-se os partidos.”838 Por outro, também é possível interpretar que a acção do CIPM transferiu-se para as instituições representativas e eleitas, na Madeira e no concelho, como a Assembleia Regional e os órgãos autárquicos. Assim, o desaparecimento desta associação foi lento e gradual, mas os seus ideais diluíram-se em novos organismos de intervenção, vestindo os seus fundadores, activistas e colaboradores a pele de deputados e autarcas. Mas notou-se que, na sua acção, constituíram-se portadores dos ideais do 25 de Abril de 1974 e das “bandeiras” que fizeram nascer e viver o Centro de Informação Popular de Machico.