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4 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ARRANJOS PRODUTIVOS

4.1 INTRODUÇÃO

4.1.3 Possíveis projetos e ações a serem implementadas

Conforme supracitado, não existe uma política padrão que possa ser aplicado em Arranjos Produtivos Locais uniformemente, haja vista que cada território e atividade produtiva têm suas particularidades.

As possibilidades de ações a serem desenvolvidas são extremamente diversas e muitas vezes podem chegar de forma desordenada ao território; assim sendo, a política pública nacional buscou definir um padrão metodológico de implementação, começando pelo processo de identificação e diagnóstico anteriormente mencionado.

Schmitz e Nadvi (1999 apud TOLEDO e GOLDSTEIN, 2004, p. 6) identificaram medidas para três tipos de agrupamentos: ―(1) clusters sobreviventes de micro e pequenas empresas; (2) clusters mais avançados de empresas diferenciadas de produção em massa; e (3) clusters de corporações transnacionais e seus fornecedores próximos‖. Cada um desses agrupamentos, portanto requer políticas públicas específicas.

Uma vez que o APL esteja identificado e feito o diagnóstico, o acesso às políticas públicas se dá pela elaboração por consultor externo ao agrupamento de um Plano de Desenvolvimento Preliminar (PDP):

cuja função é expressar, em um único documento, o esforço de reflexão e de articulação local que contemple informações a respeito dos desafios dos APLs e suas oportunidades de negócio; das ações que estão sendo implementadas ou que precisam ser desenvolvidas com vistas a transformar essas oportunidades em investimentos e; dos investimentos que precisam ser fortalecidos para o desenvolvimento sustentável das localidades (BRASIL, 2008, a. p. 18).

Esta é uma orientação emanada pelo Grupo de Trabalho Permanente sobre Arranjos Produtivos Locais, que é encabeçado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). A descrição da política nacional será abordada posteriormente. O ponto a se ressaltar é que a diversidade de ações também se reflete na diversidade de plano que são elaborados.

Entretanto, uma reflexão adicional acerca da metodologia é trazida pelos pesquisadores da RedeSist: ―as políticas para sua promoção são incompatíveis com modelos genéricos que utilizam ideias de benchmarking e best practices”

(CASSIOLATO e LASTRES, 2003, p. 31).

Assim sendo, é importante expor, a partir de então, as modalidades de ações possíveis de serem executadas. De acordo com Toledo e Goldstein (2004, p. 5):

Um dos principais objetivos da política pública deve ser promover os laços de confiança e estimular a cooperação entre os atores locais, ―principalmente como suporte à formação de uma rede em clusters sobreviventes ou iniciantes, de forma a facilitar a cooperação local‖. Em clusters mais avançados, se promove principalmente o ―aprendizado técnico e inovação‖.

Esta diferenciação é importante, pois no caso brasileiro a grande maioria dos APLs identificados faz parte do primeiro tipo, ou seja, ainda necessitam desenvolver economias externas que propiciem o desenvolvimento do agrupamento. Esta orientação converge com as principais diretrizes emanadas pelo MDIC. De acordo com Erber (2008, p. 25), ―revendo as políticas de apoio aos APLs, à luz da análise precedente, pode-se interpretá-las como destinadas principalmente a gerar ativos de uso coletivo pelos participantes do arranjo, notadamente as PMEs‖.

Segundo Suzigan (2005, p. 316), ―todas as ações criadoras de externalidades devem ser apoiadas‖. Diniz et. al. (2006, p. 114) apresenta três tipos de ações comumente encontradas em APLs, a saber: ―(1) o marketing coletivo da especialização industrial do arranjo; (2) [...] a ação governamental no sentido de disseminar conhecimento; (3) identificar as fraquezas em sua cadeia produtiva e incentivar a atração de investidores para suprir suas lacunas‖.

Uma última estratégia de intervenção deve ser observada: a agente que promoverá as ações e fará a gestão da governança do APL é um elemento fundamental para o sucesso da política pública.

A identificação de oportunidades de intervenção pública, em parceria com ações coletivas, exige das próprias políticas públicas uma capacidade prospectiva. Esta, por sua vez, requer a combinação de dois insumos. O primeiro é um indivíduo ou uma instituição local que possam estar mergulhados no ambiente, sem, no entanto, ter uma visão ofuscada pelas atividades de produção, diretamente. O segundo é uma instituição externa capaz de acompanhar o desenvolvimento de cada um dos clusters, mas mantendo sempre uma perspectiva comparativa (SUZIGAN, 2005, p. 319).

Para Erber (2008, p. 25), ―tais ativos têm de estar organizados em instituições específicas, que se tornam fornecedoras de externalidades para os membros do APL, especialmente quando a precificação dos serviços prestados pelos ativos é problemática‖. O autor continua:

Assim, recomenda-se frequentemente a intervenção pública para a criação e manutenção de instituições, como centros de pesquisa, de assistência técnica, de formação de empreendedores, de apoio à exportação etc., operando com preços administrados (ERBER, 2008, p. 25).

Para melhor compreender a diversidade de ações possíveis, apresenta-se a seguir uma agregação da contribuição de diversos autores como Toledo e Goldstein (2004), Suzigan (2005), Brandão et. al. (2006), Cassiolato e Lastres (2003):

 Desenvolvimento tecnológico ou crescimento ambiental;  Formação profissional, em etapas, em diversos níveis;

 A contratação de profissional externo, capaz de introduzir no tecido local o elemento diferenciado;

 Disponibilização de equipamento para uso coletivo para normatização, padronização, certificação, testes de qualidade de produtos e de materiais e outros serviços tecnológicos;

 Disponibilização de pessoal qualificado para o estabelecimento de padrões e normas técnicas, obtenção de certificados, registro de patentes;

 Subvenção decrescente à contratação de pessoal técnico, sobretudo no quadro de ações coletivas;

 Crédito diferenciado, em que as garantias deveriam ser oferecidas por um sistema compartilhado com foco em financiamento das atividades que promovam mudanças em processo e produtos;

 Estímulos a P&D, desenvolvimento de produtos, capacitação em design, treinamento de mão de obra, suprimentos de serviços industriais localizados (informações sobre mercados, tecnologias, normas e padrões técnicos, regulamentações governamentais, métodos gerenciais modernos, certificação de qualidade, registro de marcas e patentes e outras), e a atividades de promoção comercial e de marketing.

A consolidação dessas ideias é apresentada por Suzigan et. al. (2003, p. 82): ―A idéia norteadora deve ser a de estimular – direta e indiretamente – as iniciativas empresariais ou coletivas de caráter diferenciado, sobretudo àquelas que introjetam no sistema local o elemento tecnológico como estratégia competitiva‖.

Enfim, qualquer política pública de desenvolvimento deve estar atenta ao entorno do Arranjo Produtivo Local, de forma que os benefícios advindos possam gerar ―transbordamentos virtuosos sobre sua vizinhança próxima ou distante‖ (BRANDÃO et. al., 2006, p. 199). O autor recomenda:

Nesse sentido, é importante que a política pública atue em três frentes estratégicas para o desenvolvimento de APL´s. Em primeiro lugar deve promover o desenvolvimento local, não apenas o crescimento econômico setorial. Em segundo lugar, deve fazer com que o desenvolvimento local transborde para a hinterlândia do aglomerado. E em terceiro lugar, deve, a partir de inter-relações entre vários aglomerados, lograr a ativação de toda economia mesorregional da qual participa enquanto elo integrante, sobretudo de suas cadeias (retrospectivas e prospectivas) de produção (BRANDÃO et. al., 2006, p. 199).