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POSSIBILIDADES DE REFLEXÃO E REORGANIZAÇÃO DE SABERES E

Para um professor com um senso investigativo cada momento de sua vida profissional, quer seja surgido no cotidiano da escola ou buscado pelo docente em outros espaços não formais, se configura em uma chance de aprender e contribuir com sua formação. Trata-se de uma busca constante de novas possibilidades, novos saberes que irão reorganizar o seu olhar sobre a educação e a prática do ensino, transcorrendo na autoformação. Destarte, para Loss (2015, p. 4):

Autoformar-se em espaços educativos formais ou não-formais significa vivenciar as experiências do eu individual e coletivo para projetar-se a novas possibilidades para ser, conhecer, fazer, conviver e viver plenamente. É dialogando e refletindo sobre o que somos e fazemos que é possível a projeção para o que desejamos ser e fazer durante a existência.

Assim, a autoformação nos oferece autonomia suficiente para desenvolvermos competências e posteriormente transformar nossas práticas caso necessário. É uma

experiência em sua maior parte solitária que, porém se manifesta não só na identidade profissional do sujeito mais em todo seu contexto de convívio. É no diálogo consigo mesmo, na reflexão e na autoanálise que elucidamos o significado da ação pedagógica e buscamos estabelecer uma vontade constante em saber sempre mais, a fim de contribuir com nosso espaço de atuação.

Desse modo, questionamos aos professores: Em sua opinião, a autoformação

possibilita ao professor refletir sobre sua prática e reorganizar suas ações e saberes? Por quê? Identificamos nessa questão a existência de 03 categorias de análise, apresentadas no

quadro 2.

Quadro 2 – Autoformação, possibilidades de reflexão e reorganização de saberes e práticas docentes.

CATEGORIAS DE ANÁLISE Nº DE RESPOSTAS DOS PROFESSORES

Resposta afirmativa. A autoformação possibilita ao professor ter autonomia para reavaliar sua prática e transformá-la, buscando novas informações, transformando e criando saberes para atender as necessidades da sala de aula.

11 Resposta afirmativa. A autoformação possibilita

construir novos saberes para atender as mudanças/avanços do mundo que influenciam o processo de ensino-aprendizagem na escola.

04

Não soube responder coerentemente. 02

Fonte: Questionário aplicado em março de 2019

Analisando a primeira categoria presente no quadro 2, realçamos que os 11 professores responderam afirmativamente, enfatizando a autonomia que o professor dispõe na autoformação para reavaliar sua prática e transformá-la por meio da

autoaprendizagem. Consideremos algumas justificativas dos docentes.

Professor 05: Sim, pois ele terá que repensar sua prática, quais as transformações que ele terá que passar para acompanhar as novas necessidades e superar as dificuldades e como vai projetar as novas possibilidades ou metodologias para o processo de ensino e aprendizagem.

Professor 07: Com certeza! Rever o que foi aprendido, reavaliar-se analisar suas ações e seus conhecimentos... Tudo é positivo e colabora no aperfeiçoamento profissional.

Professor 08: Sim. A autoformação acontece como uma prática de autoaprendizagem, isto é, se o professor desejar e tiver visão de se tornar um profissional capacitado, competente e capaz de responder e corresponder com seu trabalho com autonomia.

Professor 10: Indiscutivelmente! A autoformação acontece quando o docente tem a necessidade de uma autotransformação. É necessário vivenciar conflitos, inquietações, que surgem no cotidiano escolar. Por vezes é necessário transformar práticas e percepções da escola. Não existe receita, pois cada realidade age sobre e no docente de maneira distinta.

Professor 14: Sim, onde o mesmo vai lidar com seus limites e possibilidades para refletir na sua formação docente além das regras, teorias, redescobrindo que será capaz de criar e recriar, construir e reconstruir novos saberes.

É notório que esses professores relacionam frequentemente o processo de

autoformação com o pensamento reflexivo e, também, com a busca constante de renovação dos saberes e das práticas de ensino. Para eles, a reflexão docente no contexto da autoformação parte das necessidades do cotidiano escolar em que refletir é o “motor” que possibilita o pensar e o agir. Assim, “[...] é no exercício da profissão que o indivíduo observa os fatos do cotidiano, considerando-os como situações problemáticas, onde a reflexão oportuniza interpretar as vivências e reorientar sua ação” (JUSTINO, 2013, p. 65).

Segundo Perrenoud (2000) em muitos casos o adjetivo reflexivo tem sido utilizado confusamente, pois se considerarmos que para agir temos que pensar no que vamos fazer, de certo modo realizamos uma ação reflexiva. Entretanto, o autor nos sensibiliza a pensar sobre um ato reflexivo mais profundo e significativo para o profissional.

Uma parte da nossa vida mental consiste em pensar no que vamos fazer, no que fazemos, no que fizemos. Todo ser humano é um prático reflexivo. Insiste-se nisso para convidar a uma reflexão mais metódica que não seja movida apenas por suas motivações habituais – angústia, preocupação de antecipar, resistência do real, regulação ou justificativa da ação –, mas por uma vontade de aprender

metodicamente com a experiência e de transformar sua prática a cada ano. [...] A

diferença é que nossa maior inclinação é pôr esses mecanismos a serviço de uma adaptação às circunstâncias, de um aumento de conforto e de segurança, ao passo que o exercício metódico de uma prática reflexiva poderia tornar-se uma alavanca essencial de autoformação e de inovação e, por conseguinte, de construção de novas competências e de novas práticas (PERRENOUD, 2000, p. 160).

A princípio, uma reflexão metódica visa desenvolver no indivíduo uma autoformação centrada na vontade de saber e conhecer, independentemente de suas necessidades. Certamente, Perrenoud não desconsidera as necessidades ocasionais que os professores sentem no decorrer de sua atuação, pois é através delas que eles buscam clareza para as práticas que desenvolvem, por outro lado devem fortalecer o seu “espírito” investigativo e a capacidade de ser receptivo a novos conhecimentos. Portanto, podemos afirmar que os

docentes desta categoria se encontram a caminho dessa evolução reflexiva e que, partindo das necessidades do dia a dia, estão moldando o próprio processo de autoformação.

Considerando a segunda categoria, temos a manifestação de uma preocupação dos docentes em atender as constantes transformações da humanidade que influenciam o

processo de ensino e aprendizagem. Todos afirmaram que no decorrer da autoformação o

professor tem a capacidade de refletir, na busca de um “engrandecimento” profissional que possibilite a inserção destes em conhecimentos mais atuais, como por exemplo, em relação às tecnologias. Observemos algumas respostas a seguir:

Professor 06: Sim. Temos que esta sempre procurando crescer profissionalmente e adequar nossa prática aos avanços existentes tanto na teoria, como na prática da docência.

Professor 13: Sim, porque cada dia existe mudanças de paradigmas impostas pela comunidade escolar, o avanço tecnológico entre outros.

É evidente que os profissionais incluídos nessa categoria tentam desenvolver novas competências para lidar com alunos que se encontram imersos em uma sociedade perpassada por constante transformação. Como exemplo, hoje uma quantidade significativa de discentes tem acesso às tecnologias digitais e, por isso, acesso infinito a inúmeras fontes de informação. Alarcão (2011, p. 33) enfatiza que “[...] primeiro de tudo, os professores têm de repensar o seu papel. Se é certo que continuam a ser fontes de informação, têm de se conscientizar que são apenas uma fonte de informação, entre muitas outras.” Dessa forma, a busca por compreender essa realidade e tornar-se um diferencial no processo de ensino e aprendizagem tem se destacado também no cotidiano das escolas.

Na perspectiva da reflexão-na-ação e reflexão sobre a ação, definidas por Schon (2000), se discute como os profissionais desenvolvem suas competências e as reorganizam para atender a novos contextos educativos. Trata-se de um talento artístico profissional, termo definido por ele como a capacidade de desenvolvimento de algumas competências, aprendidas em situações práticas incertas e únicas. É uma espécie de readaptação de nossos saberes e ações, de modo que possamos atuar de forma singular, muitas vezes “improvisando” situações de aprendizagem, criando novas competências para atender a uma realidade inédita.

O paradoxo de aprender uma competência realmente nova é este: um estudante não pode inicialmente entender o que precisa aprender; ele pode aprendê-lo somente educando a si mesmo e só pode educar-se começando a fazer o que ainda não entende (SCHON, 2000, p. 79).

Transpondo essa afirmação para o aluno-professor, destacamos a importância que a autoformação tem no desenvolvimento de competências e de aprendizagens novas. Mesmo com um curso de graduação e pós-graduação, o docente aprende com as situações do cotidiano desde que, como afirma Schon, comece a fazer aquilo que não entende e empreenda uma reflexão no decorrer de sua ação assim como ao final dela, avaliando o progresso de saberes e práticas de acordo com objetivos pré-definidos.

Conforme a última categoria apenas 02 professores não responderam de forma coerente e, observando as respostas que se seguem acreditamos que os mesmos não compreenderam a questão aplicada.

Professor 09: Sem dúvidas! É na vivência que aprendemos com nossos erros e melhoramos com nossos acertos.

Professor 15: Com certeza. É fundamental conduzir seus alunos, mas acima de tudo, respeitar o tempo de cada um, compreendendo que o desenvolvimento humano é constante e contínuo. E se “tal” aprendente não está avançando com uma certa metodologia. Pare, reflita e mude sua maneira de transmitir.

Podemos constatar que a maior parte dos docentes acredita que a autoformação é o momento ideal para que a reflexão sobre a prática possibilite ao profissional rever suas ações e saberes. Isso ocorre porque nela o professor tem autonomia para se autoavaliar, pensar e transformar a si mesmo, considerando a necessidade constante de pesquisar sobre os mais variados temas.

O professor torna-se capaz de desenvolver a competência de reorganizar a sua ação pedagógica com base nas experiências e nos saberes científicos já adquiridos ou não, portanto não é somente consumidor de informações, pois além de conseguir utilizar os recursos para o estudo consegue transpor para a sala de aula quando julgar necessário. Assim, ele próprio consegue desenvolver o seu ritmo de aprendizagem e organizar o seu plano de estudo para atender aos objetivos que lhe propiciam refletir sobre a ação pedagógica e sua implicação no ambiente da escola.

4.3 VIVÊNCIAS COM A AUTOFORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA E

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