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5. A UNIÃO EUROPÉIA E SEUS PRINCÍPIOS

7.1 Povo

População, nação e povo são, muitas vezes, termos utilizados como sinônimos. Entretanto, a partir da análise do sentido de cada um para a Teoria Geral do Estado, percebe-se que não o são, o que torna fundamental a verificação de suas semelhanças e diferenças.

De início, é evidente que não se pode conceber o Estado sem indivíduos, nem tampouco um Estado com uma quantidade insignificante deles; ao contrário, eles devem apresentar-se em número razoável. O Estado da Cidade do Vaticano (Stato della Città Del Vaticano), por exemplo, possui um território de de 0,44 Km² e uma população de 880 pessoas.235 A importância da questão demográfica reside no fato de que, em primeiro

lugar, sem indivíduos não há sociedade e, em segundo lugar, é esse número que permite estabelecer qual ou quais necessidades e objetivos deverão ser atendidos.

231

KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. 3 ed. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 339.

232

JELLINEK, Georg. Teoría general del Estado. Granada: Comares, 2000, p. 393.

233 SILVA, Maria Manuela Magalhães e ALVES, Dora Resende. Noções de Direito Constitucional e Ciência Política. Lisboa: Rei dos Livros, 2000, p. 344.

234

ROBERT, Cinthia e MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Teoria do Estado, democracia e poder local. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 7.

Para Menezes,236-237 a população, como elemento vivo do Estado, é dinâmica e

submete-se à jurisdição estatal. Trata-se, pois, de um conceito de expressão censitária, de alcance estatístico e aritmético. É puramente genérico, não levando em consideração relações sociais, jurídicas ou políticas, tampouco exprimindo um vínculo entre a pessoa e o Estado.238

O número de indivíduos numa população, todavia, não permanece invariável; é dinâmico não somente no que diz respeito à diferença entre a quantidade de nascimentos e de mortes, mas também em relação ao desmembramento ou anexação de territórios, com os respectivos habitantes, movimentos migratórios e outros.239

Sua composição também não é homogênea, havendo a presença de nacionais e estrangeiros. Esses últimos, porém, já não são mais vistos como inimigos, ao contrário do que ocorria na Antigüidade. Contudo, sua aceitação é feita com certas cautelas, sendo concedido ao nacional, o máximo de direitos e ao não nacional, um mínimo de direitos.240

Os estrangeiros poderão, todavia, submeter-se à naturalização, após a observação de determinados requisitos, ampliando-se o rol de direitos ao estrangeiro, após naturalizado.241

Já a nação conjuga motivos de ordem social, moral e histórica e também ideais, hábitos, tradições, aspirações, religiões e língua. Os elos formados por esses elementos determinam a unidade grupal, e apenas a diversidade de idiomas e/ou de crenças não são capazes de desconfigurá-la.

O povo de um Estado nacional surge com a formação de um sentimento de adequação a determinado Estado.242 Nesse sentido, Mancini243 afirma que a nação é uma

sociedade natural de homens, na qual a comunidade de vida e a unidade de origem, costumes, raça, e língua, criam uma consciência social. Todavia, pode ocorrer que nem

236 MENEZES, Anderson de. Teoria Geral do Estado. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 132. 237 Idem, p. 136.

238

ROBERT, Cinthia e MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Teoria do Estado, democracia e poder local. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 8.

239

MENEZES, Anderson de. Teoria Geral do Estado. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 135. 240 Idem, ibidem.

241

A exemplo dos direitos políticos.

242 ROBERT, Cinthia e MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Teoria do Estado, democracia e poder local. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 8.

243

sempre se encontre, dentro de uma população, uma nação. O certo é que questões meramente raciais não são determinantes para formá-la.

Sua homogeneidade, ainda na análise de Menezes,244 fortalece o Estado, firmando

sua existência e duração. A sociedade estatal é gerada, assim, com as vantagens decorrentes da unidade, permanência e identidade.

Finalmente, ao traçar a diferença entre povo e nação, Azambuja245 assinala que o

primeiro é uma entidade jurídica, enquanto a segunda, uma entidade moral. O povo é um grupo humano integrado numa ordem estatal e, nessa condição, cidadãos de um mesmo Estado; a nação é uma sociedade de indivíduos, unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, de forma especial, por ideais e aspirações comuns.

Jellinek246 concorda com a idéia de que só existe um significado jurídico para a

palavra povo, que é o conjunto dos membros do Estado. Por outro lado, em seu sentido político, povo é, para esse autor, a submissão dos súditos à vontade estatal, expressada por meio das leis.

Para Bonavides,247 o conceito pode ser visto sob três prismas: o político,

denotando os indivíduos que se politizaram, ou seja, o corpo eleitoral; o jurídico, sendo um grupo de pessoas associadas a um determinado ordenamento jurídico, de forma institucional e estável, e o sociológico, que conjuga motivos de ordem social, moral e histórica.

Zimmermann,248 por sua vez, acrescenta que o povo compreende o somatório

dos indivíduos cujas identidades culturais e espaço territorial do Estado são comuns. O povo está sujeito ao Estado, adquirindo direitos e deveres específicos. Conforme entendimento do autor, o conceito de povo difere do de população, pois inclui nacionais e estrangeiros, constituindo, inclusive, grupos étnicos e culturais diferentes. Nesse sentido, consideram-se multinacionais os Estados com mais de um povo.

244

MENEZES, Anderson de. Teoria Geral do Estado. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 137-138. 245 AZAMBUJA, DARCI. Teoria Geral do Estado. 38 ed. São Paulo: Globo, 1998, p. 22.

246

JELLINEK, Georg. Teoría general del Estado. Granada: Comares, 2000, p. 398. Tradução livre. 247

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 75-76. 248

Kelsen249 ressalta que o Estado possui apenas um povo, que é constituído pela

unidade jurídica válida para cada indivíduo, cuja conduta é disciplinada pela ordem jurídica nacional. Conclui-se, que se o Estado abarca somente uma parte do espaço, ele também abrange apenas uma parte da humanidade.

Por fim, em linhas gerais, pode-se afirmar que a população é um conceito genérico, nação é um conceito sociológico e povo é um conceito jurídico-político.250