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Como O Povo percebe a estratégia de Cid: fanpage como ambiente de

5.6 ANÁLISE DO DISCURSO de textos que fazem juízo de valor sobre as

5.6.1 Como O Povo percebe a estratégia de Cid: fanpage como ambiente de

Iniciemos a análise pelo texto intitulado “O carro, o Facebook e Chico Buarque”, publicado na Coluna Política no dia 29 de agosto de 2013, três dias após a inauguração da

fanpage. O texto, assinado pelo jornalista Érico Firmo, faz referência a duas postagens de Cid:

na primeira, o líder político publica uma fotografia em que aparece dentro de um carro, no banco do motorista, com o filho pequeno no colo, sem cinto de segurança. Após repercussão negativa na fanpage e em portais de notícias – questionou-se suposta violação das leis de trânsito –, Cid publica uma segunda foto, minutos depois, desta vez com o filho no banco de trás do veículo, em uma cadeira apropriada para sua idade, como se observa na Figura 10:

Figura 10 – Printscreen de postagem em que Cid mostra o filho no banco de trás do carro.

Fonte: Timeline de Cid no Facebook. Disponível em: <fb.me/PE2OrzFe>. Acesso em: 8 nov. 2016.

A seguir, reproduzimos os principais trechos publicados na Coluna Política que faz referência a essas duas postagens do ex-governador:

O CARRO, O FACEBOOK E CHICO BUARQUE

Tudo bem que, assoberbado de coisa para lhe azucrinar o juízo, o governante, vez por outra, perde mesmo o senso de realidade. Mas não haveria alguém com ao menos meio neurônio capaz de perceber o previsível estrago decorrente da publicação no Facebook da foto do governador com o filhinho no colo ao volante? [...] É possível que não se perceba o tamanho do inconveniente? A dimensão da trapalhada? O despropósito, no mínimo? A repercussão negativa que causará? Foi o marco da reestreia do perfil de Cid Gomes na rede social. A família não tem dado lá muita sorte no Facebook (FIRMO, 2013b).

Os trechos acima dão uma dimensão da opinião do jornalista a respeito do uso do Facebook por Cid no episódio. A publicação da primeira foto é apontada como desastrada, inconsequente, uma vez que o então governador não tivera a capacidade de antecipar seus possíveis efeitos negativos. O arremate do texto da Coluna também expressa um juízo negativo

acerca da estratégia de comunicação on-line de Cid e de outros membros de sua família63, que

“não tem dado lá muita sorte no Facebook”. O uso da fanpage, portanto, é emoldurado em um contexto controverso, contraproducente, sugerindo suposta estratégia equivocada de comunicação via SRS.

Dois dias depois de escrever a referida coluna, o mesmo jornalista volta a utilizar seu espaço no jornal O P ovo para comentar o uso do Facebook por Cid. Trata-se do texto “Os

caminhos de Cid no PSB”, publicado em 31 de agosto de 2013, no qual emite opinião sobre os

rumos do ex-gestor na sigla, em um cenário de especulações sobre a migração de Cid para outro partido, o Pros. Destacamos passagem na qual sua opinião sobre o assunto é mais evidente:

Ao fim de uma das mais animadas primeiras semanas de uma página no Facebook que já vi, o governador Cid Gomes resolveu acrescentar à lista de polêmicas ingredientes marcadamente políticos. A investida teve como alvo o próprio partido que preside no Estado (FIRMO, 2013a).

No trecho destacado, o colunista volta a apresentar ao leitor um juízo de valor específico sobre a estratégia comunicativa no Facebook. Primeiro, trata a fanpage de Cid como

“animada”, termo que poderia fazer supor um julgamento positivo, não fosse a expressão usada

em seguida: o jornalista destaca que há uma “lista de polêmicas” envolvendo a página, um histórico – embora não dito – de confusões, logo em sua primeira semana de uso. Mais uma vez, portanto, notamos a associação da fanpage com a polêmica, com a controvérsia.

É interessante notar que, nos dois casos citados, vemos o Jornalismo cumprir uma de suas funções mais comuns: a de fazer a crítica do mundo político e destacar pontos fora da curva na ordem do poder. Antes de analisar o conteúdo propriamente dito da postagem de Cid

– seus reflexos na conjuntura político-partidária, seus significados etc. –, o colunista adota um discurso típico da profissão jornalística e dá destaque ao que considera incomum, “a lista de polêmicas”, o que, de certo modo, vai de encontro às supostas intenções de Cid ao utilizar

aquele canal, quais sejam, a de gerenciar sua imagem pública e valorizar sua gestão.

Em outros textos do corpus, o leitor depara com enfoque semelhante a respeito da

fanpage. Em duas notícias, ao utilizar a página como elemento de contextualização dos assuntos

tratados na pauta, o jornal destaca apenas o caráter polêmico das iniciativas do ex-governador

no Facebook, ignorando outros aspectos. Em janeiro de 2015, notícia secundária sobre a estreia do prefeito de Fortaleza nesse SRS deu espaço às seguintes considerações:

A criação de perfis de gestores nas redes sociais não é novidade na fauna política cearense: desde 2009, o então governador Cid Gomes já se aventurava no Twitter. Depois, mais recentemente, migrou para o Facebook. Durante este período, se notabilizou nacionalmente por publicações “inusitadas” – desde fotos dirigindo com um bebê no colo até sorteio de ingressos para show da cantora Beyoncé (PREFEITO..., 2015).

Outro texto noticioso, também de janeiro de 2015, que trata do nascimento do terceiro filho de Cid, repete esse tipo de retrospecto. O repórter escreve o seguinte trecho:

Cid Gomes estreou conta no Facebook no dia 26 de agosto de 2013. Desde a estreia, o ex-chefe do executivo estadual protagonizou polêmicas com seus seguidores da página, anunciou mudanças na Secretaria da Segurança e mandou indiretas para adversários políticos (MENDES, 2015).

É possível perceber, desse modo, que a fanpage é lembrada pelo jornal como um ambiente de polêmicas, de postagens inusitadas, de troca de farpas políticas, destacando-se

sempre os eventos considerados “incomuns”. Não aparecem, nessas contextualizações,

menções àquele que foi o principal tipo de conteúdo publicado por Cid, pelo menos numericamente: as divulgações de ações da gestão, dados sobre obras e projetos, decisões administrativas, eventos da agenda institucional etc. Isso nos dá indícios sobre a forma como O Povo percebe o uso do Facebook por Cid, ou pelo menos sobre o modo como ele enquadra essa estratégia de comunicação.

5.6.2. Como O Povo reage à estratégia de Cid: fanpage como ambiente de informalidade e