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CAPÍTULO II. SUA ALTEZA REAL EM AÇÃO: O”FICO”

2.6. O Príncipe se faz Regente

Qual o poder de D. Pedro, no Rio de Janeiro, no início de janeiro de 1822? Ele se arrogava a condição de Regente, em função da designação feita por seu pai, ao partir para a Europa, em abril de 1821. Porém, na prática, seu espaço de influência, como já visto, era bastante restrito.

Seu ministério, praticamente imposto pelo movimento de tropas de 05 de junho de 1821, encontrava sérias dificuldades para governar. Desde junho de 1821, uma Junta de Governo provisória para a Província do Rio de Janeiro havia sido eleita, sem, entretanto, conseguir ter suas funções esclarecidas. A ambigüidade quanto às suas atribuições persistia até mesmo no decreto de sua instituição, parecendo que a ela caberia fiscalizar tanto o

248GOUVEA, Maria de Fátima Silva. Redes de poder na América Portuguesa: o caso dos homens bons do Rio de Janeiro, 1790-1822. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 18, n. 36, p.297-330, 1998.

ministério quanto o Príncipe, enquanto a Constituição para a nação portuguesa não fosse elaborada.

No entanto, a eleição dos representantes, que deveriam participar dos debates nas Cortes pelas Províncias do Brasil, era complicada. Escolhidos os deputados pelas províncias, ainda era necessária uma longa viagem a Lisboa. A presença de representantes do Brasil nas Cortes, até o final de 1821, era restrita. Além disso, persistiam as dúvidas de como seria possível fazer valer os interesses da deputação americana, no jogo de forças do Congresso lisbonense.

Os decretos 124 e 125, chegados ao Rio em dezembro de 1821, indicavam a anulação iminente da Regência. A situação de Sua Alteza Real, na Corte, aparentemente era muito frágil. No entanto, desde outubro de 1821, D. Pedro vinha atuando buscando aparecer como estratégia para diversos agentes, de lá e de cá. Sua permanência, no Brasil, atendia a grupos em Portugal e no Brasil, ainda que de modos diferentes. Aparentemente, tanto a preservação da nação portuguesa como a continuidade da monarquia constitucional poderiam ser satisfeitas se preservada a força do Príncipe, no Reino do Brasil. Com habilidade, D. Pedro contemplava diferentes projetos, sem dar as costas a nenhum, desde que conferissem a ele o exercício do poder executivo, no Rio de Janeiro.

As iniciativas lideradas pelo Príncipe, especialmente entre dezembro de 1821 e janeiro de 1822, remetiam a uma tomada de posição que implicaria num enfrentamento, a ser sustentado em arranjos políticos cuidadosamente delineados, como confirmam os termos da Memória, que ele teve em mãos, mais ou menos neste período. Nela, configurava-se um dos projetos em torno de Sua Alteza Real. Os planos eram bastante ambiciosos: a afirmação da regência no âmbito da monarquia portuguesa. Era, assim, pretensão de partidários de D. Pedro, retomar a autoridade do Rio de Janeiro, no âmbito do Império português e expandi-la para toda a monarquia, preservando os direitos da casa de Bragança, ainda que em ordem constitucional.

As justificativas para a atuação de D. Pedro deveriam, portanto, ser configuradas, tanto por aliados em Portugal como no Brasil, por uma “representação”, que lhe seria encaminhada pelo Senado do Rio de Janeiro. O primeiro passo estava em garantir, no Rio de Janeiro, a autoridade do Príncipe, como regente. Posteriormente, assumir o governo no lugar do pai. Se sustentada por argumentação convincente – nos termos da Memória, o rei

seria um “prisioneiro” das Cortes - não seria uma usurpação, mas um ato legítimo de “amor filial” e de responsabilidade para com o passado e com o presente da nação.

Ao se retomar a obra de Silva Lisboa, especialmente “Reclamação do Brasil”, encontram-se estes argumentos transmutados em “fatos”, mas despidos de suas características de instrumentos minuciosamente elaborados, num contexto de luta política, onde as possibilidades eram múltiplas249 .O evoluir do tempo a revelar a figura ideal para conduzir a nação250, que respondia a uma espécie de “desígnio” ou destino para liderar, dará lugar a um tortuoso processo de afirmação de uma configuração política, onde a monarquia constitucional instituiu-se como projeto vencedor, entre diferentes opções, na articulação das forças políticas. Em quadro bastante indefinido, a permanência de D. Pedro no Rio de Janeiro, interpretada por agentes específicos como preservação da soberania do Brasil e união das partes integrantes da nação portuguesa, ganhou força. Foram mobilizadas em torno de S.A.R a habilidade e a força econômica representada tanto por burocratas a serviço da monarquia, a exemplo de Silva Lisboa, quanto por setores proprietários que, além de atuar na administração, eram negociantes de grosso trato e donos de sesmarias especialmente na região do Vale do Paraíba Fluminense, a exemplo de Manoel Jacintho Nogueira da Gama e Fernando Carneiro Leão, articulados com o sul de Minas e Vale do Paraíba paulista, por relações de parentesco e negócios. Naquele momento, num habilidoso construir de argumentos, a soberania do Reino do Brasil e a importância do Rio de Janeiro foram sobrepostas e estimularam manifestações em torno do Príncipe.251

Um desafio estava em envolver, a partir de diferentes considerações, setores sociais que viam nas relações com as Cortes uma aliança para combater privilégios concedidos pela administração joanina aos “grandes” e buscavam, ao obstaculizar o governo

249LISBOA, José da Silva. Reclamação do Brasil. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1822. Publicação em 14 partes, que circulou no Rio de Janeiro entre 06 de janeiro e 22 de maio de 1822. Consultada em CD, disponibilizado pela Biblioteca Nacional.

250Conforme já apontado, especialmente nas obras dos escritores do XIX – Silva Lisboa, Pereira da Silva e Varnhagen – no capítulo I.

251Os interesses dos grupos em luta, no Rio de Janeiro, especialmente o reunido em torno de Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira e as condições que levaram os redatores do Reverbéro Constitucional Fluminenese a participar da formulação do “Fico” foram analisados, detalhadamente, por OLIVEIRA, Cecília Helena L. Salles de. Astúcia Liberal. Op. cit., p. 171 e ss.

do Príncipe, mecanismos de renovação das práticas econômicas, a surgir da eliminação de privilégios, em discussão nas Cortes. Portanto, era importante estabelecer nexos entre a presença do Príncipe no Brasil e a defesa da propriedade, assim como das relações estabelecidas pela presença da Corte entre o Rio de Janeiro e as demais Províncias. Caberia ao Príncipe ostentar a sua fé constitucional, de forma a tranqüilizar quanto aos direitos do cidadão, que deveriam estar sempre protegidos.

Passou também a atuar de forma a sustentar uma reivindicação de permanência de Sua Alteza Real, no Brasil, junto a diferentes segmentos da população, o “Clube da Resistência”, organizado em torno do capitão-mor José Joaquim da Rocha. O magistrado Francisco da França Miranda, filiado ao Clube, fez circular O Despertador Brasiliense que incentivava o Príncipe a resistir a uma “medida ilegal, injuriosa e impolítica”.

(...)Era ilegal por faltar-lhe o voto unânime dos representantes do Brasil; injuriosa porque decidia da sorte dos brasileiros, como se eles fossem escravos; impolítica porque a união do Brasil era vantajosa para Portugal.(...)252

O debate em torno da permanência do Príncipe no Brasil ganhava, a cada dia, uma premência maior.

Assim que a Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro, do dia 11 de dezembro de 1821, chegou a São Paulo, em 19 do mesmo mês, foi aprovada uma proposição do vereador Antonio Cardoso Nogueira para que se representasse contra os decretos 124 e 125 e que o ato da Câmara paulistana fosse enviado às demais Câmaras da Província a convidá-las a se unirem nas reivindicações pela permanência de D. Pedro, no Rio de Janeiro253. No dia 21, reunido o governo da província, constituído por proprietários e negociantes, mais clérigos, magistrados, militares e comerciantes, acordou-se a seguinte resolução:

(...) o governo acordou unanimemente que se escreva a sua alteza real, e se rogue suspenda a execução de tais decretos.(...) Acordou-se mais que se oficie ao governo de Minas Gerais para que de mãos

252Apud: MONTEIRO, Tobias. Op. cit., p 442.

253FORJAZ, Djalma. Senador Vergueiro: sua vida e sua época, 1778-1858. São Paulo: Officinas do Diario Official, 1924.

dadas por este governo represente a sua alteza real sobre esta matéria.254

A iniciativa de Antônio Cardoso Nogueira ampliava estratégias de sustentação da autoridade do Príncipe, sugerindo a participação das Câmaras, através de representações, que lhe eram encaminhadas. Nogueira vinha, desde o governo joanino, atuando no abastecimento da Corte e, muito provavelmente, estivesse ligado a interesses de negociantes de grosso trato que apoiavam a monarquia constitucional, com sede no Rio de Janeiro, mas que não pretendiam o desmembramento do Império. A aprovação da moção do respeitado comerciante paulista pela Câmara revelava, também, a pluralidade de interesses na Província de São Paulo, uma vez que Cardoso Nogueira não era aliado dos Andrada. No entanto, a representação sugerida só foi encaminhada em 31 de dezembro, após ser avaliada pela Junta provisória de Governo.

Três documentos, elaborados em São Paulo – Representação da Junta Provincial de São Paulo, Representação da Câmara de São Paulo e a Representação do Bispo de São Paulo, respectivamente de 24 de dezembro, 31 de dezembro e 1º de janeiro – foram dirigidas ao Rio de forma a explicitar o apoio da Província e partilhar de manifestações semelhantes, em elaboração na Corte. Desde a proposição em discussão pela Câmara, optou- se por fazer chegar o documento às mãos do Príncipe, através de uma delegação. A definição destes emissários de São Paulo deve ter sido objeto de disputas, uma vez que, a deputação primeiramente estaria constituída por Martim Francisco e o coronel Gama Lobo. Na

Representação da Câmara, enviada em 31 de dezembro, constam o nome dos três “cidadãos”,

em deputação, para participar dos sucessos políticos que se desenvolviam no Rio de Janeiro. Apenas Gama Lobo, citado desde as primeiras deliberações, permaneceu no grupo. Martim Francisco foi substituído por José Bonifácio e Toledo Rondon foi incluído.255

A Câmara, e os cidadãos abaixo assinados, persuadidos de que da resolução de V.A.R. dependem os destinos deste reino, resolveram

25473ª sessão extraordinária, 21 de dezembro de 1821. Actas das sessões do Governo Provisório de São Paulo. In: Documentos interessantes. São Paulo: Arquivo do Estado de S. Paulo, 1913. V. 2.

255Ver Actas das sessões do Governo Provisório de São Paulo. Documentos interessantes. São Paulo: Arquivo do Estado de S. Paulo, 1913. V. 2.

enviar à augusta presença de V.A.R. uma deputação, composta de três cidadãos, o conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, o coronel Antônio Leite Pereira da Gama Lobo, e o marechal José Arouche de Toledo Rondon, cujo objeto é representar a V.A.R. as terríveis conseqüências, que necessariamente se devem seguir de sua ausência, e rogar-lhe, haja de deferir o seu embarque até nova resolução do Congresso Nacional; pois é de esperar que ele, melhor ilustrado sobre os recíprocos e verdadeiros interesses dos dois reinos, decrete outro sistema de união fundado sobre bases mais justas e razoáveis, a principal será certamente a conservação de V.A.R. neste reino, sem a qual jamais os brasileiros consentirão em uma união efêmera.256

Também já em 20 de dezembro de 1821, uma Representação do povo do Rio de Janeiro, pela permanência de D. Pedro havia sido encaminhada a José Clemente Pereira257, presidente do Senado da Câmara da cidade, requisitando uma tomada de posição frente ao debate que se desenrolava.

A se considerar a data da proposição de Cardoso Nogueira, em São Paulo – 19 de dezembro – percebe-se a rápida mobilização a indicar que já se acompanhava, por fontes extra-oficiais, os debates nas Cortes e, frente a eles, definiam-se estratégias de atuação.

Transparecia certa urgência em constituir um arco de sustentação ao governo de D. Pedro e em se definir a situação no Rio de Janeiro, uma vez que não se ignorava que calorosos debates persistiam nas Cortes, em Lisboa, e se desdobravam no Brasil, quanto às

256BONAVIDES, Paulo e AMARAL, Roberto. Op. cit. A leitura das Actas das Sessões do Governo Provisório de São Paulo permite esclarecer que, primeiramente, cogitou-se em Martim Francisco para compor a deputação. Apenas em decisão registrada em 3 de janeiro, decidiu-se pela sua substituição pelo irmão, José Bonifácio. Apesar de controvérsias entre os estudiosos de São Paulo, não é possível determinar, com segurança, sobre a causa da substituição, a menos que se aceite o argumento de que D. Pedro já havia optado por incorporar José Bonifácio ao governo, no Rio de Janeiro.

257 Documento extraído de Suplemento n. 11 da Gazeta do Rio de Janeiro, de 24.01.1822. P. 297-301. A publicação pela Gazeta apenas em 24 de janeiro, sugere conflito que o próprio Príncipe referiu e que comentarei mais à frente. Apud: BONAVIDES, Paulo e AMARAL, Roberto. Op. cit. P. 528-533.

relações a serem implementadas no âmbito da nação portuguesa. Uma possível revisão das decisões expressas em 1º. de outubro (o que parcialmente veio a ocorrer em julho/agosto do ano seguinte, como veremos), poderia comprometer a movimentação política que se iniciara e esvaziar de justificativa o enfrentamento entre D. Pedro, no Rio de Janeiro e as Cortes, em Lisboa, importante argumento para embasar os embates, no interior da nação portuguesa. Por outro lado, os termos do debate procuravam assegurar que a continuidade do Príncipe, como regente do Reino do Brasil era a garantia para a preservação da ordem constitucional.

Conhece-se qual é o estado de oscilação, e divergência em que estão todas as províncias do Brasil: o único centro para onde parece que se encaminham suas vistas, e suas esperanças, é a Constituição: e a primeira vantagem que se espera deste plano regenerador é a conservação inalienável das atribuições, de que se acha de posse esta antiga colônia, transformada em Monarquia, menos para autorizar a residência do augusto chefe da nação, do que pelo grande peso, que o seu comércio de exportação lhe dava na balança mercantil da Europa, pelas diferentes relações com os diversos povos desse antigo hemisfério, e pelo progressivo desenvolvimento de suas forças físicas e morais.

O Brasil, conservado na sua categoria, nunca perderá de vista as idéias de seu respeito para com a ilustre e antiga metrópole: nunca se lembrará de romper esta cadeia de amizade, e de honra, que deve ligar os dois continentes através da mesma extensão dos mares que os separam.(...) O povo do Rio de Janeiro, conhecendo bem que estes são os sentimentos de seus co-irmãos brasileiros, protesta à face das nações pelo desejo que tem de ver realizada esta união, tão necessária, e tão indispensável para consolidar as bases da prosperidade nacional: entretanto o mais augusto penhor da infalibilidade destes sentimentos é a pessoa do Príncipe Real do Brasil, porque nele reside a grande idéia de toda a aptidão para o

desempenho destes planos, como o primeiro vingador do sistema constitucional258[grifos meus]

Sinalizava-se para a necessidade de conservar a condição de Reino – interesse do Rio de Janeiro, como capital, para que permanecesse uma ordem constitucional. Talvez houvesse possibilidade de, a persistir as orientações das Cortes sobre a partida de D.Pedro e o conseqüente retorno à condição de Província para o Rio de Janeiro, de uma secessão, com forças rivais encontrando apoio para defender a presença de D. Pedro à frente da Monarquia, no Brasil, separado de Portugal, e privilegiando o poder do monarca. A polissemia em torno da permanência do Príncipe, se o tornava figura proeminente nas gestões que se faziam, sugere, também, as diferenças entre os projetos políticos.

Um conjunto de manuscritos259, datados de dezembro de 1821, do acervo do Museu Imperial, revelou os esforços de Sua Alteza Real para se pronunciar adequadamente, frente às representações que se aprontavam, sem que seja possível determinar se ele já conhecia ou não a Memória que, como já visto, apontava o diálogo com o Senado da Câmara como uma estratégia a ser implementada.

Foram preparadas três versões260 (minutas) a serem encaminhadas ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro. As respostas do Príncipe diferiam, entre si, atestando a imponderabilidade dos movimentos da política e a presença de projetos em articulação.

Manda SAR o PR pela secretaria S.Sa. participar ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro que tendo lhe sido apresentadas por ele representações em nome dos habitantes desta Cidade ou Província mui respeitosas e que muito obrigarão a SAR espatentear o seu reconhecimento pelo amor que lhes mostram ter, e tem os habitantes desta cidade na qual pediam a SAR e tendo-as SAR visto com muito agrado me ordenou que eu em seu nome participasse a V.S. para que

258Representação do Povo do Rio de Janeiro ao Senado da Câmara. 20 de dezembro de 1822. In: BONAVIDES, Paulo e AMARAL, Roberto. Op. cit., p.533.

259I – POB [1821] PI.B.po – M.47. D. 2129. Museu Imperial

260Este conjunto de documentos foi transcrito em nota, por Tobias Monteiro em A elaboração da Independência, p. 443-445. Há pequenas diferenças nas transcrições que fiz, diretamente dos documentos, consultados no Museu Imperial.

o façam constar aos habitantes desta Cidade a resposta fielmente transcrita que é a seguinte. Eu jurei obediência a El Rey, e às Cortes elas decretaram meu Pai ordenou resta-me obedecer. Agradeço aos Brasileiros o seu afeto, e as suas representações mas não tenho autoridade de derrogar leis porque é poder do Soberano Congresso nem tão pouco devo desobedecer a El Rei meu Pai o Senhor D. João 6º. Se querem mandar representações mandem-as mas por elas desobedecer eu depois de ser o primeiro que jurei no dia 26 de fevereiro e 5 de junho por minha livre vontade cumprir ninguém deve estranhar o meu modo de proceder de este porque se eu fizesse o contrário ninguém se devia fiar em mim e muito menos os habitantes desta cidade que me viram e ouviram jurar portanto executo a Lei por dever e por honra indo e ao momento dela chegar me intimarei ordem de voltar com todo o gosto viver aonde fui criado e aonde casei e aonde nasceram os meus filhos prezados que a todo o momento me estarão motivando saudades de um Povo tão fiel a quem eu estou muito agradecido por todos o obséquio que voluntariamente comigo tem praticado e estou bem certo que dando-me sempre os Brasileiros sobejas provas de afeto e verdadeiro interesse pela minha honra e glória não deixarão de aprovar esta minha cega obediência.

Nesta versão, a resposta do Príncipe era não fico. Ele obedeceria ao Decreto 125, apesar de protestar amor ao Brasil e aos Brasileiros.

Em segunda minuta, os termos eram os seguintes:

Muito sensível às maneiras respeitosas com que os habitantes desta Cidade me tem tratado e com que acabam de me expressar os seus sinceros e verdadeiros sentimentos de estima e afeto para a minha pessoa, eu agradeço a esta nobre Cidade tantos testemunhos de amizade e o pesar que manifesta pela minha retirada para Portugal. Porém, tendo sido sempre um filho respeitoso e obediente a Leis não vejo meio nenhum pelo qual satisfaça os nossos desejos, sem

comprometer a minha honra e me fazer indigno aos olhos da Nação e do Mundo por me opor as determinações do Soberano Congresso, mandadas executar por meu Augusto Pai a quem eu e vós juramos obedecer. E vós mesmos associando-se à minha desonra iríeis dar ao Brasil o sinal da rebelião e da separação da Mãe Pátria. Esta lembrança gela de horror o meu coração; e estou bem persuadido que refletindo vós com madureza e circunspeção atentando decerto vos conformareis com os meus sentimentos. Um povo generoso e de sublimes qualidades como vós sois, não pode nem deve ser governado por um Príncipe desobediente e perjuro. Certo deste predicado e espero que vos convençais da necessidade da minha retirada, como único meio de salvar a minha reputação e de conservar a nossa estima, o que eu sempre ambicionei e ambicionarei até o último momento da minha vida. Entretanto, podeis dirigir-vos às Cortes e fazerdes as representações que achardes necessárias, na certeza, que aquele que empreende esta viagem com tanto incômodo, pelo respeito e obediência que presta as soberanas ordens voltará com os mesmos e ainda com riscos de sua vida, para o centro destes para logo que o mesmo Congresso lhe determinar. Eu sou leal e verdadeiro, acreditai-me e estimai-me.[grifos meus]

Nas palavras desta segunda minuta, o Príncipe remetia à autoridade das Cortes e incitava o “povo” a se dirigir ao Congresso de Lisboa, declarando-se obediente às