Pelas funções que o administrador terá que desempenhar, inicialmente, a Lei buscou dar preferência a sujeitos que possuam alguma qualificação técnica. No caso de nomeação de pessoas físicas, há uma preferência por advogados, economistas, administradores de empresas ou contadores, que decorre da própria natureza das funções de administrador judicial. Ele irá administrar a massa falida ou fiscalizar a gestão do devedor em recuperação, logo, ele deve saber o que pode e o que não pode ser feito em tais casos. Os conhecimentos técnicos de tais profissões permitem, em tese, o melhor desempenho das funções.14 Todavia,
nada garante que o desempenho seja adequado. O melhor seria exigir experiência em relação a empresas em crise.15
Ressaltese, porém, que se trata de simples preferência, isto é, não é essencial que o administrador judicial seja advogado, contador, economista ou administrador de empresas, porém, devese tratar sempre de um profissional
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idôneo. A realidade do local, a disponibilidade e interesses dos profissionais é que irão determinar a escolha do juiz. Em outros países, há um regime profissional específico para os administradores judiciais, como na França16 e em
Portugal.17
Da mesma forma, para as pessoas jurídicas exigese, além da regularidade, a especialização na mesma atividade do devedor, na reestruturação de empresas ou em alguma dessas áreas do conhecimento (Direito, Economia, Contabilidade e Administração de empresas).18 Não há a obrigação de ser uma pessoa jurídica
especializada em recuperação judicial, pois é difícil, mesmo em grandes centros econômicos, criar pessoas jurídicas que tenham esse fim específico. Assim, pessoas jurídicas especializadas em auditorias ou consultorias empresariais são as mais indicadas para assumir tal posição. Em todo caso, no termo da posse da pessoa jurídica deverá ser qualificado o profissional responsável pela condução do processo, o qual deverá atender aos requisitos de idoneidade impostos ao administrador judicial.19 A substituição desse profissional dependerá de
autorização do juiz.
Idoneidade
Além da preferência por alguém dotado de qualificação técnica, a legislação exige que o administrador judicial seja uma pessoa idônea, sem, contudo, explicar o que vem a ser essa idoneidade.
Alguns autores afirmam que essa idoneidade deve ser moral e financeira,20
tendo em vista a função a ser exercida e a eventual responsabilidade pelos danos causados. Apesar da ausência de menção expressa, a necessidade da idoneidade financeira decorreria implicitamente da responsabilidade do administrador judicial pelos danos causados.
Outros, porém, veem tal idoneidade apenas sob o aspecto moral, dado o silêncio da Lei e a falta de influência do aspecto financeiro sobre o exercício das funções.21 A nosso ver, efetivamente tratase apenas de idoneidade moral, pois
este é o sentido da expressão. A idoneidade financeira que constava expressamente do Decretolei no 7.661/45 (art. 60) não pode mais ser exigida, por
ausência de previsão legal.
Imparcialidade
Para garantir o bom exercício das suas funções, a lei impõe certo grau de imparcialidade na sua escolha, isto é, proíbe também a nomeação como administrador judicial de pessoas que tenham relação de parentesco ou afinidade até o 3o (terceiro) grau com o devedor, seus administradores, controladores ou
representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. Também se trata de impedimento similar ao que havia na Lei anterior, contudo, melhor detalhado, na medida em que agora se refere expressamente também aos administradores e controladores da sociedade, além do próprio devedor e dos seus representantes legais. Há por outro lado uma imprecisão terminológica na medida em que a afinidade é uma das espécies de parentesco, nos termos do artigo 1.595, § 1o, do
Código Civil de 2002, e não uma forma diferente de relação familiar.
Nesse impedimento, incluemse os parentes até o terceiro grau (pais, avós, bisavós, filhos, netos, irmãos, tios, sobrinhos, sogros, cunhados), bem como todos os dependentes economicamente (incluídos os empregados) e as pessoas que mantenham laços de amizade ou inimizade com o devedor, com os administradores da sociedade empresária, com os sócios ou acionistas controladores ou com os seus representantes legais. Não há extensão desses impedimentos a quem mantenha tais laços com o sócio não controlador, que não exerça função de administração.
Quem tem laços familiares, afetivos ou de dependência com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais não tem condições de fiscalizar a atuação dessas pessoas nem de apurar as responsabilidades, mostrandose incompatível com a função de administrador judicial. A possibilidade de influência na atuação dessas pessoas é extremamente grande e, por isso, a lei presume que elas não têm a imparcialidade necessária para exercer a função.
No caso de o administrador judicial ser uma pessoa jurídica, devese aferir a existência dos mesmos impedimentos para os administradores, controladores ou representantes legais da pessoa jurídica nomeada como administradora, bem como em relação àquele que será indicado como responsável pela condução do processo, nos termos do artigo 21, parágrafo único, da Lei no 11.101/2005.
Embora tais impedimentos não sejam decorrência do texto expresso da Lei, a finalidade buscada pela imposição de tais impedimentos só será atendida se eles forem estendidos para tais situações também.22
Os impedimentos citados envolvem apenas as pessoas próximas – parentes, amigos, inimigos, dependentes – ao devedor, ao seu representante legal, bem
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como aos seus controladores ou administradores. Não há nenhuma menção expressa ao cônjuge desses sujeitos, mas não há dúvida de que o impedimento também se estende a estes. Também não há nenhuma menção a pessoas próximas dos sócios minoritários. A princípio, como as proibições devem ser interpretadas restritivamente, não haveria nenhum óbice para a nomeação de tais pessoas. Todavia, não é recomendável que haja proximidade do administrador judicial com nenhum sócio, na medida em que pode haver uma influência do sócio minoritário na atuação do administrador judicial, o que lhe retiraria sua imparcialidade e sua credibilidade. Sempre pairaria sobre o administrador judicial nomeado, nesses casos, uma aura de desconfiança, na medida em que ele poderia estar sujeito a influências, decorrentes dessa sua relação com o minoritário.
De outro lado, é certo que o minoritário deve ser protegido nas suas relações dentro da sociedade, mas tal proteção ao minoritário não deve ser exagerada. Não se pode, sob o pretexto de proteger o minoritário, garantir a ele mais direitos do que àqueles por sua condição. Em outras palavras, não é possível dar ao minoritário direitos que lhe assegurem o controle da sociedade. Uma medida de tal tipo acabaria por subverter a lógica de poder dentro da sociedade e, por isso, não seria de modo algum recomendável permitir a nomeação de pessoas próximas aos minoritários para o cargo de administrador judicial.
Confiabilidade
Além da imparcialidade, idoneidade e da preferência por alguma qualificação técnica, a Lei impõe alguns impedimentos a serem observados na nomeação do administrador judicial, especialmente para resguardar de forma mais específica sua confiabilidade para a função.
Nos termos do artigo 30 da Lei no 11.101/2005, não podem servir como
administrador judicial as pessoas que, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foram destituídas, deixaram de prestar contas dentro dos prazos legais ou tiveram a prestação de contas desaprovada. Tratase de impedimento similar ao que havia no regime da lei anterior, apenas com a limitação temporal dos últimos 5 anos, para evitar que o impedimento perdure por toda a vida da pessoa, como uma espécie de pena perpétua, vedada pela Constituição Federal de 1988.23
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porquanto quem já exerceu esse mister e não o exerceu bem não mostra a idoneidade suficiente para tal função. Quem foi destituído, não prestou contas no prazo ou teve as contas desaprovadas não se mostra uma pessoa digna de confiança para exercer o papel que a Lei atribui ao administrador judicial. Se já falhou uma vez, tudo indica que possa vir a falhar de novo, não sendo por isso aconselhável sua nomeação.
Nos primeiros anos de vigência da Lei no 11.101/2005, numa interpretação
teleológica, tal impedimento deve abranger também os síndicos e comissários que, nos últimos 5 anos, foram destituídos, não prestaram contas no prazo ou as tiveram rejeitadas, porquanto em tal situação também resta demonstrada a mesma inidoneidade para o exercício da função de administrador judicial.24
Nomeação
Com os parâmetros acima citados, o juiz escolherá o administrador judicial e fará sua nomeação. Na recuperação judicial, o administrador judicial exercerá suas funções a partir do deferimento do seu processamento, pois, desde o ingresso no processo, o devedor deverá ser fiscalizado. No caso da falência, o administrador judicial exercerá suas funções desde a decretação, pois é nesse momento que o devedor será privado da gestão de seus bens. Assim sendo, o juiz deve nomeálo na sentença que decreta a falência ou na decisão que defere o processamento da recuperação judicial. Eventualmente admitese a nomeação em outro ato do juiz, especialmente quando o administrador nomeado não aceita o encargo ou deixa de exercer a função.