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CAPÍTULO I – O QUE É AMAZÔNIA?

1.6. Preocupações

Na Amazônia, as cinco maiores hidrelétricas são: Tucuruí (PA), Balbina (PA), Samuel (RO), Santo Antônio (RO) e Jirau (RO). Há outras em construção ou em planejamento. O cientista Philip Fearnside (2015, p.10) aponta vários impactos dessas construções para a Amazônia: reassentamento de povos indígenas e de residentes de áreas urbanas e rurais, perda das atividades de subsistência dos moradores adjacentes, impactos na saúde com proliferação de mosquitos e a metilação do mercúrio (transformação do metal em material tóxico), perda da

6 Informações obtidas no site da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O site não informa de qual ano é o dado

do total de terras indígenas. Disponível em http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas Fonte: Amigos da Terra, Atlas do Trabalho Escravo, 2009

vegetação por inundação direta ou por desmatamento antrópicos (construção de estradas até as barragens, moradores deslocados, imigrantes) e emissão de gases de efeito estufa. Estudo recente publicado na revista científica Nature aponta a existência de 140 barragens (funcionando ou em construção) e outras 428 planejadas comprometem o curso do rio Amazonas e a retenção de seus sedimentos, importantes para a nutrição da planície e para variedade dos ecossistemas amazônicos7.

Outra atividade que causa transtornos para os ecossistemas da Amazônia Brasileira é a mineração. Os principais minerais encontrados nos garimpos são: ouro, diamante, cassiterita, wolframita, gemas, pedras preciosas, cobre e nióbio (ENRÍQUEZ, 2015).

O estado do Pará tem intensa atividade mineradora. No estado, tem-se reservas de cobre, bauxita metalúrgica, caulim, manganês, bauxita refratária, ouro, gipsita e ferro, etc. Em Rondônia, há reservas de estanho, manganês e nióbio.

O estado do Mato Grosso possui reservas de manganês, ouro, chumbo, cobre, estanho, calcário e pedras preciosas. No Amazonas, tem-se reservas de fluorita, zircônio, estanho, tungstênio, gás natural, petróleo, ferro, nióbio. O Maranhão possui reservas de ouro, gipsita, calcário e granito. No Tocantins, há estanho, ouro, calcário, gipsita, mica e potássio. Nos estados do Acre e Roraima não há reservas comprovadas (ENRÍQUEZ, 2015; ANUÁRIO MINERAL BRASILEIRO: PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS METÁLICAS, 2016).

As críticas as atividade mineradora na Amazônia são em função dos impactos no meio ambiente, principalmente nos rios, por causa de novos métodos de extração utilizados nos garimpos. Os garimpos utilizam escavadeiras hidráulicas, flutuantes (dragas, balsas chupadeiras e balsinhas).

“A retirada da mata ciliar e as escavações nas margens dos rios provocam assoreamento e geram um verdadeiro mar de lama O meio hídrico certamente tem sido um dos mais impactados, ao ponto de a maioria dos estados imporem restrições ao garimpo com uso de equipamentos com alto potencial de devastação, a exemplo do Amazonas e Rondônia e mais recentemente o Pará” (ENRÍQUEZ, 2015, p. 163- 164).

Dados preocupantes em relação à Amazônia são o aumento da área desmatada. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitora por satélite os registros de desmatamentos na Amazônia Legal. As origens do desmatamento na região são a extração

7 CRIADO, M. A. “500 barragens ameaçam sufocar o Amazonas”. El País Brasil, 15 jun 2017. Disponível em:

ilegal de madeira, a produção de soja e a agropecuária. Em 2016, o INPE8 registrou 7.989 km² de área desmatada. O Pará é o estado com maior área desmatada com 3.025 km².

Uma área crítica na região é o chamado Arco do Desmatamento, que vai do leste do estado do Pará, passa por Mato Grosso, até o oeste de Rondônia. Essa área apresenta os maiores registros de trabalho escravo no Brasil (ver Figura 6), principalmente na pecuária e no desmatamento (REPÓRTER BRASIL, 2015).

Vários estudos constatam os danos do desmatamento ao bioma amazônico, como os seguintes: aumento na temperatura do solo, redução da evapotranspiração, alteração na qualidade da água, mudança na qualidade do ar, redução da biodiversidade, etc. (FERREIRA, 2012). Esses impactos, e tantos outros, causam problemas não somente para a região amazônica, mas para outros biomas.

Embora seja consideravelmente grande o conhecimento científico sobre a Amazônia, ainda há muito o que se pesquisar nessa região tão grande. O Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), formado por pesquisadores de diversos países, divulga, em seus relatórios, cenários de como determinados biomas se comportariam submetidos a certos tipos de situações. E, segundo relatório do IPCC, se as ações humanas continuarem como estão, as projeções para a Amazônia não são nada animadoras.

Como visto, certas atividades econômicas praticadas de maneira ilegal ocasionam danos ambientais e também para suas populações. Infelizmente, dados que não podemos deixar de apresentar neste capítulo são os altos registros de trabalho escravo na região. Um levantamento da ONG Repórter Brasil (figuras 5 e 6) apresentou as atividades econômicas e os municípios onde há mais registros de trabalhos escravos. Nove municípios do Pará estão entre os dez municípios de maiores casos de trabalho escravo, sendo a pecuária a atividade responsável por grande parte desses registros.

8 O INPE disponibilizou as taxas anuais de desmatamento de 1988 até 2016. Os dados estão disponíveis em

Fonte: Repórter Brasil, Amazônia: trabalho escravo e dinâmicas correlatadas, 2015 Figura 5 - Atividades econômicas com registro de trabalho escravo

Como visto, a complexidade da Amazônia se estende além do funcionamento dos seus ecossistemas. Há questões e problemáticas que demandam grandes estudos e discussões, além, claro, de políticas públicas. Os pontos abordados neste capítulo foram para situar o leitor quanto à diversidade da região amazônica. Nosso objetivo é mostrar as várias amazônias existentes dentro desta região, que a tornam tão diversificada e de tamanha dimensão que os estudos existentes ainda não foram suficientes para descrevê-la em sua totalidade.