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CAPÍTULO IV – AMAZÔNIA(S) NA PERSPECTIVA DE CADA VEÍCULO

4.1. Visibilidade da região pela Amazônia Real

4.2.2. Quem fala sobre Amazônia?

Sobre as fontes de informações consultadas na produção das matérias, os jornalistas entrevistados citaram pesquisadores, professores, biólogos, geógrafos, etc 24. Na explicação da coordenadora, a característica do portal é a prática do jornalismo científico. “Se você for ler as matérias do Portal Amazônia, vai ver que dificilmente temos uma matéria com personagens,

uma pessoa do povo. Nosso conteúdo é realmente pautado na produção científica, no jornalismo científico” (grifos nosso).

O portal se identifica como produtor de jornalismo científico sobre a região amazônica, cujas fontes principais são cientistas. É por meio do discurso científico que se fala de Amazônia. Mediante todas as editorias que mencionamos acima, a presença do jornalismo científico está restrita a duas ou três editorias Cidades, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia. Mesmo nessas três editorias, muito conteúdo não era de produção própria, durante o período observado. Há

24 Citados nessa ordem e com essa diferenciação entre pesquisadores, geógrafos e biólogos.

contradição na afirmação da coordenadora em relação à sua própria explicação das editorias. Não é possível classificar que todo conteúdo do portal seja jornalismo científico, nem se restringíssemos somente ao material de produção própria. O que nos parece que a coordenadora denomina jornalismo científico são as notícias e reportagens produzidas cujas fontes de informação reproduzam o discurso da ciência, daí a justificativa de consultar pesquisadores, professores, biólogos, geógrafos.

Destacamos outra contradição, Izabel Santos recomenda aos jornalistas ou veículos de comunicação interessados em cobrir assuntos relacionados à região que eles ouçam os “amazônidas”, pessoas que estão na região e que a estudam. Apesar da afirmação da ausência de “uma personagem pessoa do povo” em suas reportagens.

“De que adianta falar com um pesquisador lá de Sorbornne [na França] e eu não ouvir a pessoa que está há 20 anos no INPA? Falar a respeito de ervas medicinais com o pesquisador lá da Universidade de Salamanca [na Espanha] e não vou ouvir o Juan Revilla [pesquisador do INPA] que está estudando esse assunto na região? Tem que ouvir as pessoas que estão aqui na região, que fazem ciência, que vivem e moram aqui e que fazem a Amazônia” (SANTOS, 2017, grifo meu).

No entendimento do portal, pessoas que não detenham esse conhecimento científico não podem ser fontes nas reportagens ou notícias, pois elas não legitimam a informação; tal função é atribuída ao cientista de alguma instituição de pesquisa. No máximo, essas pessoas podem trazer informações complementares (de sua vivência, de sua experiência) ou sugerirem assuntos para pautas por meio de seus meios de contatos (email, telefone ou redes sociais); é como se o portal anulasse o conhecimento dos indivíduos não cientistas e das sociedades locais.

Sobre temas frequentes, Izabel Santos revela que um dos mais abordados pela equipe é sobre indígenas. “Uma insistência que eu tenho aqui é que temos que falar de indígenas. Porque a Amazônia é tudo, mas, principalmente, indígena. Temos que dar oportunidade dessa visão abrangente que a Amazônia nos dá”. Contudo, com a forte presença do discurso científico, admitida pelos jornalistas entrevistados, quem fala dos indígenas? Eles mesmo? Respostas que esperamos encontrar nas análises das reportagens do portal.

Também houve críticas dos jornalistas do portal sobre o espaço dedicado para cobertura sobre a Amazônia nos veículos de comunicação locais e nacionais. Oliveira afirma que somente quando “algo maior” acontece na região é que a mídia se interessa em cobrir. Exemplo citado por ele é a crise no sistema carcerário em Manaus. Os dois veículos de comunicação trabalhados nesta pesquisa expuseram essa crítica.

Izabel Santos destaca que o serviço de contextualização dos fatos em seu portal é diferente dos demais veículos de comunicação. “A gente contextualiza; não ficamos limitados. Dificilmente a gente foca só num estado. Sempre que entrevistamos os pesquisadores, pedimos para focar em Amazônia”. E para exemplificar o modo de produção do portal, ela cita uma reportagem sobre o bicho-preguiça25 onde abordaram os hábitos, a reprodução, as ameaças e as curiosidades sobre o animal que talvez sejam desconhecidas de muitos e, não focando somente em um aspecto.

A distância e a dimensão da região amazônica são os principais desafios citados pelos entrevistados e, por isso, a necessidade de abrangência, uma cobertura para além das divisas do estado.

“Quando trabalhamos com jornalismo especializado, principalmente com a Amazônia, eu acho que com o tempo é inevitável que você perceba que ela [Amazônia] não está limitada a definições geopolíticas. A Amazônia não é só o Amazonas, não é só o Pará. O que se faz em Rondônia tem impactos nos estados [...] O que acontece no Amazonas não é um fenômeno isolado, a mineração no Pará não atinge só o Pará, está tudo interligado” (SANTOS, 2017).

A ideologia do Portal Amazônia é capitalista, não difere das demais empresas jornalísticas que precisam de lucro para se manterem. Por isso, quanto mais produção (matérias jornalísticas), legitimadas pelo discurso científico, melhor audiência e, isso, é a justificativa da coordenadora do portal para classificar o veículo como aquele que faz uma boa cobertura sobre Amazônia, dado o volume de informação. Desta forma, para se ter audiência, é preciso ter bastante conteúdo; quanto mais assuntos sobre a região melhor, daí se justifica o grande número de editorias e subeditorias, mas que não se restringem somente à cobertura de assuntos relacionados à Amazônia, abrangem assuntos nacionais, de forma a atrair o mais diverso público, o que é confirmado na fala do repórter Diogo Oliveira: “a gente sabe que o público muda constantemente e a gente está em busca disso, de alcançar essas pessoas”.

25 Reportagem disponível no endereço http://portalamazonia.com/noticias/10-fatos-sobre-a-miss-simpatia-da-