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5 REGULAMENTAÇÃO DE GÁS DE FOLHELHO NOS EUA

5.2 Regulamentação estadual de gás de folhelho nos EUA

5.2.1 Preparação e desenvolvimento do local

O desenvolvimento de gás de folhelho nos EUA é regulado desde o início do processo, antes de qualquer construção ou perfuração começar. A regulação em muitos estados restringe o local onde os poços podem ser instalados ou exige testes de águas subterrâneas antes do início das operações de perfuração. A natureza local da maioria dos estados, os riscos da produção de gás de folhelho – e a imobilidade de poços e de infraestrutura, uma vez posicionados - fazem a escolha do local um importante foco de regulamentação (RICHARDSON, 2013). Isto explica o fato de a maioria dos estados ter algum tipo de regulamentação que limita a proximidade dos poços em relação a corpos hídricos.

5.2.1.1 Restrições de recuo para corpos hídricos

O recuo do poço em relação a corpos hídricos é amplamente regulado.

O Colorado adotou um esquema complexo no qual o recuo é exigido a partir de determinadas fontes de água, com restrições mais severas para atividades relacionadas à perfuração em áreas mais próximas de corpos hídricos. As novas regras de recuo foram implantadas em todo o seu território do estado em 2013. Anteriormente, o recuo estabelecido pela regulação estadual dos poços em relação a edifícios era de 350 pés (106,68 m) em áreas de alta densidade. Com as alterações, o recuo passou a ser de 500 pés (152,4 m) em todo o estado (2 CR 404-1:317B). A Comissão de Conservação de Petróleo e Gás do Colorado também propôs melhores práticas de gestão para mitigar os danos ambientais gerados pela atividade do poço, entre outras alterações nos transtornos e conflitos entre a atividade do poço e as populações humanas.

Na Pensilvânia, o recuo do poço em relação a poços de água ou edifícios deve ser de 500 pés (152,4 m) (58 PENNSYLVANIA STATUTES 3215). A exigência anterior era de 200

pés (60,96 m) (58 PENNSYLVANIA STATUTES § 601.205). O estado também ampliou a distância necessária entre os poços de gás natural e o abastecimento público de água de 200 para 1.000 pés (60,96 m para 304,8 m) e entre os poços e córregos ou áreas alagadas de 100 pés (30,48 m) para 300 pés (91,44 m) (58 PENNSYLVANIA STATUTES 3215; 58 PENNSYLVANIA STATUTES § 601.205).

A Pensilvânia exige um recuo de 300 pés (91,44 m) da água de superfície a partir do poço vertical, ou 100 pés (30,48 m) a partir da borda da plataforma de perfuração, o que for maior. Esta exigência constitui-se em uma alternativa para as restrições de recuo e difere-se da prática usual, que é medir os recuos de construção a partir do poço. Recuos medidos a partir de outros pontos podem ter igual ou maior importância do mundo real, no entanto, essas medidas podem ser complexas (58 PA. CODE § 3215).

O Texas tem a abordagem mais branda para proteger os recursos hídricos, uma vez que parece não exigir qualquer tipo de recuo de abastecimento público de água, poços privados, ou córregos [TEXAS ADMINISTRATIVE CODE § 3.8(d) (4)].

A melhor prática do API é, sempre que possível, que os sítios sejam localizados longe de áreas sensíveis, como as águas superficiais e poços de água doce. O instituto também recomenda que os poços utilizados para o armazenamento de longo prazo de líquidos devem ser colocados a uma distância adequada da água de superfície para evitar que transbordamentos atinjam algum corpo hídrico (API HF2, 2010). Como com recuos de construção, não é possível comparar este padrão diretamente às normas estabelecidas na maioria dos estados. A norma API pode ser interpretada como mais “rigorosa” do que aquela estabelecida pelo Texas, que não regula recuo de água.

Segundo Richardson et al. (2013), as restrições de recuo (em relação a edifícios, água ou outros recursos) geralmente não são abordadas nas licenças. Todos os estados exigem que os operadores declarem a localização exata (latitude e longitude) do poço em pedidos de licenciamento, e exigem também descrições detalhadas relevantes para o campo ou outras linhas de fronteira. Esta informação é usada para confirmar a conformidade com as regulamentações do espaçamento do poço. Em princípio, ela também poderia ser utilizada para a regulação de recuo via licença – os reguladores estaduais poderiam se recusar a aprovar licenças para poços situados muito perto de determinados recursos, mesmo na ausência de um requisito regulamentar específico de recuo (justificado pela autoridade geral da licença), mas não foi encontrada nenhuma evidência disso (RICHARDSON et al., 2013).

5.2.1.2 Laudo para corpos hídricos pré-perfuração

As preocupações com a contaminação das águas subterrâneas são fundamentais para a apreensão pública sobre a extração de gás de folhelho. Em particular, tem havido grande controvérsia sobre a origem e a causa de metano ou químicos contaminantes detectados no abastecimento de água próximo a locais de sua perfuração. Em alguns casos, os testes realizados pelas autoridades do estado indicaram que o metano ou os contaminantes químicos pré-datavam o início da perfuração de gás de folhelho. Concluíram que a contaminação tinha outra origem, mas os moradores locais duvidaram destes resultados por diversas razões (KANSAL, 2012). Neste contexto, os testes de pré-perfuração são necessários, visto que estabelecem o nível da qualidade da água em uma área determinada antes da atividade de perfuração. Se a água subterrânea for encontrada mais tarde contaminada, os resultados dos testes de pré-perfuração são provas importantes para determinar se a contaminação está relacionada à atividade de perfuração.

Nos estados em que tais testes são solicitados, a regulação geralmente exige que eles sejam realizados em pelo menos dois poços de água dentro de um raio específico a partir da localização proposta do poço de gás. Este raio varia significativamente entre os estados, que podem exigir testes de pré-perfuração somente em determinadas áreas. O Colorado, por exemplo, no passado exigia testes no campo Wattenberg, mas atualmente a exigência de amostragem de águas subterrâneas foi estendida para maioria dos poços de petróleo e gás (COGCC, S.D.a). O estado, a partir de 2013, mudou suas regras para exigir que até quatro poços de água sejam testados num raio de meia milha (aproximadamente 805 m) de distância de poços de petróleo e gás (COGCC, S.D.a).

Os testes de qualidade da água pré-perfuração geralmente se aplicam a poços de água pré-existentes, mas alguns estados exigem testes de águas subterrâneas sem especificação ou discriminam um aquífero ou outros corpos hídricos que devem ser testados antes da perfuração [2 COLORADO CODE REGULATIONS § 404-1:318A (e)].

A Pensilvânia tem uma abordagem única – a legislação de responsabilidade. O estado não exige formalmente, testes de pré-perfuração. Entretanto, sob a lei estadual, se os testes não forem realizados antes do desenvolvimento, os operadores ficam proibidos de reclamar em futuras ações legais que qualquer suposta contaminação das águas subterrâneas era preexistente. Com efeito, esta é uma regra de mudança de carga. Embora os demandantes preservem o ônus da prova da existência de alguma contaminação, se esta estiver a 2500 pés

(762 m) de um poço e no prazo de um ano após a perfuração assume-se que a responsabilidade seja atribuída ao réu operador a menos que ele apresente um teste pré- perfuração que comprove a prévia contaminação (58 PA. C.S. § 3218).

Ainda que os testes de água pré-perfuração não sejam obrigatórios, a norma adotada pela Pensilvânia torna os testes atraentes para os operadores do estado (RICHARDSON et al., 2013). Na prática, os operadores locais testam a maioria dos poços de água que são cobertos pela regulação. Um estudo calculou que 90% dos poços de água da Pensilvânia situados a 1000 pés (304,8 m) de poços de gás na Bacia de Marcellus foram testados antes da perfuração (BOYER, 2012). Este número, no entanto cai para 41%, para poços situados a 3000 (914,4 m) pés dos poços (BOYER, 2012). Vale ressaltar que a Pensilvânia alterou a sua legislação, ampliando o recuo de 1000 pés (304,8 m) para 2500 (762 m) e o prazo de seis meses para um ano (58 P.S. 601.208, 2009; 58 PA. C.S. § 3218).

A Pensilvânia também requer que em caso de contaminação ocorrida em virtude da operação de gás de folhelho o operador forneça um abastecimento de reposição de água. Os regulamentos estaduais articulam uma série de critérios pelos quais o fornecimento de substituição deve ser equivalente ao fornecimento anterior, incluindo confiabilidade, custo, manutenção, controle, qualidade, quantidade e facilidade de manutenção (25 PA. CODE §78.51).

O estudo não encontrou regras exigindo laudo para corpos hídricos pré-perfuração na regulação do estado do Texas.

A melhor prática do API sugere o teste de amostras de água a partir de qualquer fonte hídrica localizada perto do poço antes da perfuração ou antes do fraturamento hidráulico (API HP2, 2010). A indicação do instituto mostra-se mais rigorosa do que a prática do estado do Texas, por exemplo, que não exige laudo. No entanto, a comparação direta com os estados, novamente, não é possível porque, sob a norma do API, a definição de “próximo” é deixada a critério do operador.